sábado, 29 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13957: Bom ou mau tempo na bolanha (77): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (17) (Tony Borié)

Septuagésimo sexto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Dia 9 de Julho de 2014

Resumo do décimo nono dia

Lavámos os vidros do Jeep, não muito bem, mas a condução já oferecia alguma segurança, era manhã. Depois de andar alguns quilómetros pela estrada número 2, seguimos pela número 3 e, depois de percorrer a cidade de Lethbridge, que dizem que é uma importante cidade da província de Alberta, sendo a terceira em área e a quarta em população e, no século passado, as suas minas de carvão, fizeram dela uma próspera cidade, onde ainda hoje é bom local para se viver.


Ainda dentro da cidade, seguimos pela estrada número 4, onde passado algum tempo, nos aparece um cenário de quintas, muitos celeiros para armazenar cereais, pastagens com muitas vacas, tudo em funcionamento, nada abandonado, que nos levou à fronteira com os USA, na povoação de Sweet Grass, onde termina a famosa auto estrada número 15, que atravessa os USA desde o México ao Canadá e cuja povoação tem um posto fronteiriço que abriu no ano de 2004, onde em tempos viveu um tal Earl W. Bascom, que era um famoso cowboy, artista, escultor, actor e inventor, que fazia as mais deliriantes “cowboyadas” num rancho que era propriedade do seu primo, em Kicking Horse Creek, muito próximo de Sweetgrass Hills.



Para nós, que entrámos pelo norte, a estrada começou onde um funcionário da alfândega nos fez quase as mesmas perguntas, continuando nós a responder que sim, levávamos ainda algumas garrafas de vinho, que tinham vindo de nossa casa, na Florida, ao que ele sorriu, levantando a mão e, com um sorriso ainda maior, desejou-nos um “Welcome Room”.

Estávamos nos USA, no estado de Montana, onde já passámos na viagem de ida, quando explicámos um pouco da sua história, no entanto podemos acrescentar, só por curiosidade, que em alguns lugares a gasolina é mais cara que o gasóleo e, contam-se centenas de histórias. Quando por volta do ano de 1850, o estado era escassamente povoado, descobriram ouro, rapidamente as pessoas afluíram, todos queriam ficar ricos, o ouro passou a ser o principal motor da economia da região, era tanto, que os empregados “chineses”, que eram os que lavavam a roupa dos mineiros, encontravam quilos de ouro nos ribeiros, onde iam buscar a água para lavar a roupa. Naquela altura, o que existia a mais em ouro, faltava em cumprimento da lei, os ditos “xerifes”, eram a lei, mas eles próprios a violavam, pois o ouro andava de mão em mão, comprava tudo, ignoravam assaltos, assassinatos, que eram frequentes na região, muitas pessoas, sentindo-se desprotegidas, decidiram tomar as leis em suas próprias mãos, surgindo assim, os ditos “vigilantes”.

Bem, já chega de história, nós seguimos pela autoestrada número 15, direcção sul, agora um trajecto que ainda não tínhamos trilhado, portanto diferente, podíamos viajar bem nesta larga e, em alguns locais deserta estrada, passámos pela cidade de Great Falls, onde não parámos, seguimos até à capital, que é a cidade de Helena, onde também não parámos, aqui desviámo-nos pela estrada número 287, que é uma estrada com cenário, onde se podem ver alguns rios, lagos, montanhas, vales e planícies extensas, com o sol refletindo no verde escuro do terreno, com alguns búfalos pastando, longe uns dos outros em algumas áreas e, pequenas manadas em outras zonas, parecendo grandes extensões de terreno de uma só propriedade, talvez animais perdidos, não sabemos, mas o cenário era encantador, convidava a parar, sentar-se numa cadeira e admirar por horas, talvez dias, anos, ou pelo resto das nossas vidas.





Nestas planícies notava-se a ausência do célebre arame farpado, que foi uma invenção que nasceu na década de 1870, permitindo ao gado viver em áreas confinadas e designadas, para evitar o pastoreio dos animais em áreas circunvizinhas, principalmente no estado do Texas. O aumento da população, no que dizia respeito aos agricultores que se dedicavam à produção e pastoreio de gado, queriam cercar as suas terras, para as fazerem individuais. Isso trouxe um drama inicial considerável para as outras pastagens. Esta invenção feita com cercas de enorme extensão, era muito mais barato do que a contratação de cowboys para lidar com o gado e mantê-lo fora das outras propriedades e, até das terras consideradas federais.

Na década de 1880 ocorreram muitos conflitos, muitas vezes sem qualquer relação à propriedade da terra ou outras necessidades públicas, pois tinha que haver corredores, ou seja vias públicas, onde se pudesse passar, tais como para a passagem de pessoas e bens, que seguiam nas “diligências”, entrega de correio ou movimentação de outros tipos de animais.

Diversas leis estaduais autorizaram os “vigilantes”, que tentaram impor-se à construção das cercas do arame farpado, mas esse combate teve um sucesso variável e o arame farpado, por volta da década de 1890, foi removido em algumas áreas.

Nos estados do norte, o pastoreio de animais era em escala aberta, ou seja, era livre de fronteiras, mesmo assim, a forragem de inverno era insuficiente para o gado e a fome, especialmente durante o rigoroso inverno de 1886-1887, quando centenas de milhares de animais morreram em todo o Noroeste, levando ao colapso da indústria do gado, assim, na década de 1890, a cerca do arame farpado, também foi padrão, nas planícies do norte, principalmente protegendo as ferrovias, construídas mais perto de grandes áreas de pecuária, fazendo movimentações do gado ao longo do Texas para os terminais ferroviários em Kansas.

Sem querer já ia outra vez com a história, bem continuando a nossa jornada, rumo ao sul, já era ao anoitecer, quando chegámos ao parque de campismo de Canyon Ferry Lake, na vila de Townsend, ainda no estado de Montana, à beira de um grande lago, onde chegavam e partiam pessoas, com barcos que atracavam num cais que ali existia, alguns contentes, mostrando peixes. Aqui preparámos alguma comida e, pela madrugada, houve um vento forte, chuva e trovoada, o que nos acordou e assustou, pois a nossa caravana abanava e a chuva entrou pela janela que estava só com a rede.


Neste dia percorremos 527 milhas, com o preço da gasolina a variar entre $3.78 e $4.12 o galão, que são aproximadamente 4 litros.

Tony Borie
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13928: Bom ou mau tempo na bolanha (75): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (16) (Tony Borié)

5 comentários:

Manuel Reis disse...

Da Florida ao Alaska

Caros camarigos

Tenho acompanhado a narrativa da vossa odisseia e fico agradado com a vossa escrita, acompanhada de imagens fabulosas. Seria interessante ver tudo em livro. Não é possível?
um abraço para todos vós.

Manuel Reis

Antº Rosinha disse...

Não perco uma reportagem do Tony.

Fabulosas as fotografias que nos dizem bastante de um país moderno, próspero, limpo, e daquilo que se dizia antigamente "América País de Deus".

Mas desculpa Tony, diz-me, na América não tem gente?

Quilómetros e quilómetros nem um indiozinho nem um cóbóizito à solta?

Nem uma palhota nem uma cabana do pai tomás?

Ainda um dia nos vais explicar.

No Brasil dizem que os portugas acabámos com os índios, e aí nos EUA não acusam os ingleses do mesmo?

Ou foi o excesso de controle de natalidade a causa do fenómeno?

Parabens pelas tuas reportagens

José Botelho Colaço disse...

Caro Tony
Como vez não sou só eu a pensar que seria interessante um livro teu desde a tua escola primária passando por Mansoa e USA.
Um abraço
Colaço.

Campelodesousa disse...

Sinceramente, estou em desacordo por este blogue postear e poblicar fotografias que não tem nada a ver com a Guerra Colonial da Guiné.
Tenho camaradas que estiveram comigo no posto de radio de Nova Lamego, que há muito tempo trabalham em Espanha, mas não mandam fotografias de madrid ou outra cidade qualquer para serem inceridas e poblicadas no blog.
Façam aquilo que entenderem, e eu quando achar que o blogue perdeu a sua genuinidade e identidade, deixo de o visitar.
Tudo aquilo que não seja relacionado com a guerra da guine, suas gentes e paisagens, é palha que estão a publicar no blog.
Mas eu nã sou nem quero ser dono da verdade.
Cumprimentos para todos vós. !

Tony Borie disse...

Olá companheiros.
Ao Manuel Reis e ao José Colaço, obrigado pelos vossos simpáticos comentários e, mais cedo ou mais tarde terá que ser editado um ou mais livros, pois por aqui dizem-me o mesmo, comentando a minha modesta colaboração, em outras publicações, tanto dirigidas à comunidade portuguesa, como em outras publicações em idioma inglês, para outras comunidades, mas vocês, que andaram por lá, comendo arroz e peixe da bolanha, vão ser os primeiros a saberem!.
Ao António Rosinha, profundo conhecedor do fenómeno emigração e, de deslocações de pessoas do lugar onde nasceram para outras paragens, pelo que por aqui tenho observado, ainda existem algumas aldeias, principalmente nos estados do interior e norte, do que nas películas de Hollywood chamam de "Índios e Cowboys", mas é muito raro cavalgarem "mustangues" ou viverem nas tendas feitas de paus e peles de bisons, pelo contrário, alguns guiam potentes carros, motos e pick-ups, são accionistas de "casinos", que se instalaram nas suas terras, que foram transformadas em centros de turismo, todavia ainda existem nessas aldeias pessoas mesmo pobres, onde o álcool e outros fenómenos, transformaram essas pessoas.
Um abraço e bem haja a todos,
Tony Borie.