1. A minha amiga Marília de Sousa, engenheira agrónoma reformada, natural de Angola, e a viver em Portugal desde 1975, mandou-me este convite que quero partilhar com mais amigos de Angola. Trata-se do lançamento do livro "Estudos Gerais Universitários de Angola: 50 anos, história e memórias". A iniciativa é de um conjunto de Antigos Alunos dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Marília de Sousa é coordenadora de uma equipa de seis e autora de alguns textos. A edição é da Colibri. A apresentação, a cargo da jornalista Helena Matos, é na Fundação Calouste Gulbenkian, Sala 1, no próximo dia 27, 5ª feira. A minha amiga fez o curso de agronomia no ISA, Lisboa, mas começou o ensino superior em Luanda.
2. Sobre a evolução do ensino superior universitária em Angola,
leia-se aqui este excerto do sociólogo angolano Paulo de Carvalho, uma voz crítica mas respeitada no seio da sociedade angolana de
hoje [ Fez a licenciatura e o mestrado em sociologia pela Universidade de Varsóvia, Polónia, e o doutoramento em Lisboa, no ISCTE -IUL, em 2004, com uma tese sobre "Exclusão Social em Angola. O caso dos deficientes físicos de Luanda"]
(...) O ensino superior foi implantado em Angola (então colónia portuguesa) somente no ano de 1962, com a criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola. A Igreja Católica tinha, porém, criado em 1958 o seu Seminário, com estudos superiores em Luanda e no Huambo (...). À criação dos Estudos Gerais Universitários de Angola seguiu-se a criação de cursos nas cidades de Luanda (medicina, ciências e engenharias), Huambo (agronomia e veterinária) e Lubango (...) (letras, geografia e pedagogia).
/...) Em 1968, os Estudos Gerais Universitários de Angola foram transformados em Universidade de Luanda, tendo em 1969 sido inaugurado o Hospital Universitário de Luanda. A Igreja Católica havia, entretanto, criado em 1962 o Instituto Pio XII, destinado à formação de assistentes sociais.
(...) No período colonial, o acesso ao ensino superior destinava-se somente a quem integrava as camadas superiores da hierarquia social, podendo mesmo dizer-se que, nos primeiros anos de implantação em Angola, era difícil que alguém pertencente às camadas médias da hierarquia social tivesse acesso ao ensino superior. O local de nascimento, o local de residência e a posição social determinavam claramente o acesso a este nível de ensino, que reproduzia para as gerações seguintes a estratificação social da Angola colonial. (...)
/...) Em 1968, os Estudos Gerais Universitários de Angola foram transformados em Universidade de Luanda, tendo em 1969 sido inaugurado o Hospital Universitário de Luanda. A Igreja Católica havia, entretanto, criado em 1962 o Instituto Pio XII, destinado à formação de assistentes sociais.
(...) No período colonial, o acesso ao ensino superior destinava-se somente a quem integrava as camadas superiores da hierarquia social, podendo mesmo dizer-se que, nos primeiros anos de implantação em Angola, era difícil que alguém pertencente às camadas médias da hierarquia social tivesse acesso ao ensino superior. O local de nascimento, o local de residência e a posição social determinavam claramente o acesso a este nível de ensino, que reproduzia para as gerações seguintes a estratificação social da Angola colonial. (...)
(...) Com a proclamação da independência política de Angola, em 1975, foi criada a Universidade de Angola (em 1976), mantendo-se uma única instituição de ensino superior de âmbito nacional. No ano de 1985, a Universidade de Angola passou a designar-se Universidade Agostinho Neto, que se manteve até 2009 como única instituição estatal de ensino superior no país. Neste ano, a Universidade Agostinho Neto (UAN) foi “partida” em 7 universidades de âmbito regional, mantendo-se a UAN a funcionar em Luanda e na província do Bengo, enquanto as faculdades, institutos e escolas superiores localizados nas demais províncias passaram a ficar afectos às demais seis novas universidades estatais. (...)
(...) Os Estudos Gerais Universitários de Angola, instalados em 1963 em Luanda e Huambo, possuíam em 1964 um número de 531 estudantes. No final do período colonial, esse número tinha evoluído para 4.176, com um aumento médio de 22,9% ao ano (...). Com o processo de descolonização, o número de estudantes diminuiu para 1.109 no ano de 1977, o que equivale a uma diminuição drástica, em 73,4%. Só por aqui se comprova a tese apresentada acima, segundo a qual o acesso ao ensino superior estava no período colonial vedado aos angolanos, cuja maioria se enquadrava nas camadas sociais mais desfavorecidas. (...)
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13921: Agenda cultural (359): Convite para a apresentação do livro "Da Guiné Portuguesa à Guiné-Bissau: um Roteiro", da autoria de Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos, dia 26 de Novembro, pelas 18h30, na Livraria Barata, em Lisboa
4 comentários:
Os "estudantes do império" sempre foram poucos mas bons.
Os estudantes do império sempre deram lições aos estudantes metropolitanos, e continuam.
Haverá estudantes do império durante imensos anos e de certa maneira não sobreviveremos (o Puto)bem sem a sua presença.
Os estudantes do império sabem que sem eles em Portugal, a "Bola é quadrada".
O que vale é que alguns dos genes ultramarinos já há muitos anos estão cá disseminados.
Esperemos que os estudantes do império não abandonem totalmente África ao seu destino.
O sociólogo angolano Paulo de Carvalho afirma que no tempo colonial só as camadas superiores da sociedade tinham acesso a estudos superiores na Universidade de Luanda. Estranho que após a independência, quando os colonialistas deixaram de ditar as regras de acesso, e que, portanto as novas autoridades não limitaram a ninguém esse acesso, a diminuição de frequência ao ensino superior, tenha decrescido 70,4%.
Desculpa Sacôto, mas deixa eu traduzir "pra tu" (angolês à Luandino Vieira)
Paulo de Carvalho, quer dizer com descrecimento de universitários em Luanda com a independência, é que eram brancos estudantes que deram o cavanço (retornados) e que ficaram só os pretos.
Paulo de Carvalho quer dizer que não eram angolanos aqueles que abandonaram a Universidade.
Eram brancos colonialistas, imperialistas a maioria dos Universitários.
Penso J. Sacôto, que te estou a interpretar bem aquilo que Paulo de Carvalho quer dizer.
Camarada Sacôto Fernandes: Antes de mais, obrigado pelos camaradas que tens trazido para o blogue, a começar pelo teu sobrinho, João Martins (que é uma joia de pessoa).
Quantoaos números da discórdia... O Rosinha já deu a explicação, que é óbvia, para a quedra de 70% na população do ensino superior em 1977... Angola perdeu em 1975 os seus melhores quadros, e centenas milhares de pessoas que procurarm destinos mnais seguros opara refazer as suas vidas (Portugal, Brsail, África do Sul)...
Portugal, em contrapartida, cresceu cerca de 5% em termos populacionais nesse ano.
O Paulo de Carvalho, que eu não conheço pessoalmente, embora dê conta do crescimento exponencial da população que frequenta o ensino superior em Angola, sobretudo depois do fim da guerra civil, é muito crítico em relação à qualidade do ensiino, dos alunos e dos professores (Le~até ao fim o artigo dele, dispon+ivel em formato pdf)...
Mas Angola está a fazer o seu caminho e é um país lusófono que temos de acarinhar, sem falsos paternalismos. Hoje tratamo-nos de igual para igual, e isso é que importa, natuarlmente tentando compreender os fatos históricos... Um abraço. Luis
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