1. Mensagem do António Manuel Sucena Rpdrigues [, foto à esquerda, em Ortigosa, Monte Real, no 3º Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 17/5/2008]
Data: 21 de dezembro de 2014 às 19:37
Assunto: Obrigado, Luís
Obrigado, Luís Graça pela importantíssima ajuda que deste no texto que enviei e que foi já publicado (*). Nunca, antes nem depois, tinha ouvido falar do tal missionário Padre António [Grillo].
Fico agora com um peso de consciência, por não ter descrito este episódio ainda em vida desse missionário. Gostava que ele soubesse do respeito que me pareceu merecer, por parte desse guerrilheiro. Agora compreendo por que razão, passados 11 anos de guerra, ele se lembrou do padre António.
Também gostaria de saber um pouco mais sobre este guerrilheiro. Se pelas fotos fosse possível algum camarada identificá-lo... Fico na expectativa.
Obrigado, Luís.
Um abraço e Boas Festas.
A.M. Sucena Rodrigues
Ex-Fur Mil da CCaç 12 (72-74)
2. Comentário de L.G.:
Meu caro camarada Sucena Rodrigues; Eis o que eu sei do tal padre missionário António Grillo, recentemente falecido, e sobre o qual já temos alguns postes. (Quanto ao guerrilheiro com quem foste a Samba Silate, será por certo mais difícil identificá-lo, no caso de ainda ser vivo; mas pode ser que alguém, na Guiné-Bissau, o reconheça... Afinal, o Mundo é Pqueno e a nossa Tabanca... é Grande!).
Data: 21 de dezembro de 2014 às 19:37
Assunto: Obrigado, Luís
Obrigado, Luís Graça pela importantíssima ajuda que deste no texto que enviei e que foi já publicado (*). Nunca, antes nem depois, tinha ouvido falar do tal missionário Padre António [Grillo].
Fico agora com um peso de consciência, por não ter descrito este episódio ainda em vida desse missionário. Gostava que ele soubesse do respeito que me pareceu merecer, por parte desse guerrilheiro. Agora compreendo por que razão, passados 11 anos de guerra, ele se lembrou do padre António.
Também gostaria de saber um pouco mais sobre este guerrilheiro. Se pelas fotos fosse possível algum camarada identificá-lo... Fico na expectativa.
Obrigado, Luís.
Um abraço e Boas Festas.
A.M. Sucena Rodrigues
Ex-Fur Mil da CCaç 12 (72-74)
2. Comentário de L.G.:
Meu caro camarada Sucena Rodrigues; Eis o que eu sei do tal padre missionário António Grillo, recentemente falecido, e sobre o qual já temos alguns postes. (Quanto ao guerrilheiro com quem foste a Samba Silate, será por certo mais difícil identificá-lo, no caso de ainda ser vivo; mas pode ser que alguém, na Guiné-Bissau, o reconheça... Afinal, o Mundo é Pqueno e a nossa Tabanca... é Grande!).
O missionário António Grillho de visita à sua querida Bambadinca, em 22/2/2008. (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)
Acerenza, comuna italiana da região da Basilicata,
província de Potenza (Fonte: Wikipedia)
António Grillo (1925-2014):
(i) Faleceu no passado 18 de junho de 2014, em Acerenza, Itália, com a idade de 89 anos;
(ii) tinha nascido no dia 10 de junho de 1925, naquela cidadezinha, do sul de Itália (c. de 2500 habitantes em 2011);
(iii) foi ordenado sacerdote no dia 25 de junho de 1950;
(iv) partiu para a missão da Guiné-Bissau, então território sob administração portuguesa, aonde chegou em 16 de Novembro de 1951, como missionário do PIME ((Pontifício Instituto para as Missões Exteriores);
(v) esteve sempre muito ligado à Missão Católica de Bambandinca, que hoje faz parte do território da Diocese de Bafatá;
(vi) foi detido pela então polícia política portuguesa, a PIDE, a 23 fevereiro de 1963, sob a acusação de atividades subversivas;
(vii) esteve preso em Bissau e depois em Lisboa;
(viii) acabou por ser libertado em 4 de julho de 1963 em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI (1898-1978), que em 21 de junho de 1963 tinha sucedido a João XXIII, na cátedra de São Pedro;
(x) voltou, entretatanto, à Itália;
(xi) doze anos, com a independência da Guiné-Bissau, volta a Bambadinca, onde trabalha, de 1975 a 1986, associado ao PIME;
Guiné-Bissau > Bambadinca > 22 de fevereiro de 2008 > Na inauguração do Liceu ( Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)
(xii) no dia 22 de Fevereiro de 2008, foi inaugurado, em Bambadinca, o Liceu em autogestão Pe. António Grillo; a cerimónia contou com a presença de vinte amigos da Arquidiocese de Acerenza, entre os quais o Pe. António Grillo bem como o Arcebispo Dom Giovanni Ricchiuti; a diocese de Acerenza, que fez uma geminação com Bambadinca e por extensão com a diocese de Bafatá, colaborou na construção deste liceu, ajudando na conclusão de um pavilhão de 3 salas de aulas;
Visita a Bambadinca em 2010 (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)
(xiii) o Pe. Antonio Grillo visita, pela uma última vez, a Guiné.Bissau e, mais propriamente, a sua querida Bambadinca, de 21 a 28 de Janeiro de 2010 em companhia de Dom Giovanni Ricchiuti, familiares e amigos de Acerenza; a sua preocupação de sempre foi a cristianização dos balantas
(xiv) está sepultado em Acerenza.
Visita a Bambadinca; Pe. Antonio com o tradicional barrete balanta, em 23 de fevereiro de 2008 (Fonte: blogue "Igreja Católica na Guiné-Bissau > 19 de junho de 2014 > Faleceu Pe. António Grillo, com a devida vénia)
3. Mais informações sobre o Padre António Grillo
3.1. Recorro aqui ao sítio de Paolo Grappasonni que, em finais de 1988, fez uma visita às missões italianas na Guiné-Bissau e evoca a figura do padre Anmtónio Grillo. Reproduzem-se excertos do texto "Notas de viagem à Guiné-Bissau", a partir de tradução minha do italino para português:
(...) "O Padre Antonio Grillo, de Acerenza, viveu durante vários anos e em diferentes períodos entre os Balantas de Bambadinca. Publicou um opúsculo em Maio de 1988 intitulada: "Os Meus Balantas" de que retiro algumas das suas experiências mais significativas.
Tinha 26 anos quando a 12 de setembro de 1951, partiu do PIME de Milão, com três missionários num jipe americano, a caminho de Portugal e depois da Guiné, em África. Fazia parte da segunda expedição missionário do PIME à Guiné. Bambadinca é a região missionária para a qual o padre Grillo é enviado juntamente com o padre Biasutti, em 31 de Janeiro de 1952. Depois um ano de espera para obter visto do Governo Português, e depois de uma viagem aventurosa por terra e mar, finalmente podiam começar.
"Infelizmente - escreve o padre Grillo - nós tivemos que aceitar estabelecer a nossa residência em Bambadinca, a povoação onde estavam também as autoridades administrativas portuguesas, porque eles queriam manter-nos sob o seu controle constante. Já naquele tempo não nos permitiam com facilidade, mesmo a nós, missionários, que entrássemos na floresta para contactar as várias tribos. Teríamos preferido uma grande aglomerado populacional de Balantas como Samba Silate porque estes eram animistas, enquanto quase todos os habitantes de Bambadinca eram muçulmanos. "
Em língua madinga, "Bamba" significa "crocodilo", "Dinga" significa "cova": e na verdade, nos anos 50 o vizinho rio Geba estava cheio de crocodilos.
A aldeia de Samba Silate, em 1955, já tinha 1750 habitantes, na sua maioria do grupo étnico Balanta, com poucos Papéis e alguns muçulmanos. Samba Silate, que significa "campo de arroz", foi a primeira estação missionária na zona de Bambadinca. O motivo que levou o padre Grillo a optar por esta aldeia, foi apenas o número dos seus habitantes que, se se convertessem, poderiam atrair as outras aldeias mais aldeias. (...)
3.2. De um outro site, italiano, sobre os 150 anos do PIME (Pierio Gheddo - PIME 1850-2000: 150 Anni dei Missione) retirei, em tempos, a seguinte informação sobre o conflito do Padre Grilo com as autoridades portugueses, em 1963, bem sobre as crescentes dificuldades dos missionários italianos na sequência da escalada do conflito político-militar naquele território.
[Curiosamente, o meu atual programa de segurança não me deixa lá voltar, a este "site", devido ao seu "conteúdo potencialmente perigoso"]...
(...) O PIME debaixo de fogo: a prisão do padre Grillo (1963)
O Superior Geral, padre Augusto Lombardi visita a Guiné (10 de Dezembro de 1959 -26 fevereiro 1960), e incita os missionários a empenharem-se mais para ajudar o povo da Guiné, mas evitando cuidadosamente qualquer gesto ou opinião política: o imperativo é permanecer no local sem se fazerem expular: os missionários estrangeiros podiam desempenhar um papel importante na defesa do homem.
No início dos anos sessenta, a Guiné entra significativamente em clima de guerra. A primeira vítima é a padre Antonio Grillo, o apóstolo dos Balantas em Bambadinca, sob a acusação, que se soube mais tarde ser completamente falsa, de ser amigo de um líder da guerrilha.
Detido pela polícia política portuguesa (Pide), a 23 fevereiro de 1963, encarcerado primeiro em Bissau e depois em Lisboa, acabou por ser libertado em 4 de julho em homenagem de Portugal, ao novo pontífice, o Papa Paulo VI.
As missões do PIME nas regiões mais remotas, estão na primeira linha da frente. A de Suzana ], no chão felupe, região do Cacheu] é ocupada pelo exército Português, os missionários têm que retirar-se para evitar ficar comprometidos aos olhos da população local (os cristãos passam a ser visitados todos os meses a partir de Bafatá).
Farim, por seu lado, permanece isolada durante longos meses, as estradas estão cortadas e só se pode viajar em colunas militares; ataques noturnos dos guerrilheiros e represálias do Exército, com incêndios de aldeias, tortura, massacres.
Em 10 de junho de 1963 um novo Prefeito Apostólico: Monsenhor João Ferreira, jovem, entusiasta e com bons projetos, mas infelizmente resistiu apenas dois anos e meio ao clima da Guiné: Regressa a Portugal em Agosto de 1965. O seu sucessor, Mons. Amândio Neto, também está numa linha moderadamente inovadora: deixar trabalhar os missionários, defendendo-os sempre a suspeita dos militares e da Pide. (...)
3.3. De 21 a 28 de Janeiro de 2010, o octagenário Padre António Griillo (vd. foto à direita, com a devida vénia ao citado blogue ) voltou a Bambadinca, com uma delegação da sua diocese de Acerenza para inaugurar uma escola a que foi dado o nosso nome... Voltou a Samba Silate, aos seus balantas. Foi recebido com grande entusiasmo, alegria e espírito ecuménico.
É doloroso para a nossa memória, mas não podemos ignorar, esquecer, branquear, desculpar o que se terá passado em Samba Silate (e noutros locais do CTIG) em 1961, 1962, 1963, "anos de chumbo" que abntecederam a guerra...
Não sabemos exactamente qual foi o envolvimento dos militares portuguesesi, antes da guerra, envolvidos em ações que eram mais de polícia do que propriamente de natureza militar... A PIDE costuma ficar com o odioso destas ações (bem como a polícia administrativa local que fazia o "trabalho sujo")... Era importante ter acesso aos arquivos da PIDE para se poder saber, mais em detalhe, as acusações ou suspeitas que recaíam sobre o missionário italiano... Sabe-se que as relações entre os missionários italianos e as autoridades portuguesas não eram das melhores, nomeadamente an Guiné e em Moçambique.
Sobre o que se passou em Samba Silate (e noutros sítios do setor de Bambadinca como o Poindon) não posso quem quero generalizar, prefiro que apareçam outros testemunhos e relatos, documentados, circunstanciados, com datas e factos, sobre violência exercida tanto pelas NT como pelo PAIGC (ou a FLING, em 1961) sob as populações indefesas, ou sob prisioneiros... É importante haver várias fontes, idóneas.
No Arquivo de Amílcar Cabral / Casa Comum, apenas encontrei uma única referência a Samba Silate onde, em 15 de maio de 1962, teria sido morto, pelas NT, "o chefe da tabanca de Samba Silate".
Em 1969, seis anos depois, os meus soldados da CCAÇ 12 falavam-me destes acontecimentos, com "naturalidade" e sem qualquer "pejo"... E eles eram insuspeitos, eram fulas, nossos aliados (**)... LG
Guiné > Zona letse > Região de Bafatá > Bambadicna > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil ) (1955) > Posição relativa de Samba Silate e de Nhabijões, os dois grandes núcleos balantas....
Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2014)
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Notas do editor:
(*) 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14055: Memória dos lugares (278): Samba Silate, no pós 25 de abril de 1974: As saudades que a guerra não conseguiu apagar mesmo nos guerrilheiros do PAIGC (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambdaionca e Xime, 1972/74)
(**) Último poste da série > 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14057: (Ex)citações (255): O Marcelino, que foi um militar valoroso, não precisa que se inventem, e lhe atribuam episódios desse género (Domingos Gonçalves)
Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2014)
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Notas do editor:
(*) 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14055: Memória dos lugares (278): Samba Silate, no pós 25 de abril de 1974: As saudades que a guerra não conseguiu apagar mesmo nos guerrilheiros do PAIGC (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambdaionca e Xime, 1972/74)
(**) Último poste da série > 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14057: (Ex)citações (255): O Marcelino, que foi um militar valoroso, não precisa que se inventem, e lhe atribuam episódios desse género (Domingos Gonçalves)