Septuagésimo nono episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Dia 12 de Julho de 2014
Resumo do dia vigésimo segundo dia
Contentes pelo dia anterior bem passado, seguimos na
estrada número 26, que em algumas distâncias se chama
89 ou mesmo 191, rumo ao sul, por pouco tempo, pois
desviámo-nos para oeste e, quando se entra no estado de
Idaho, esta estrada, se chama somente 26.
Estávamos no estado de Idaho, que há muitos anos
fazia parte do “Oregon Country”, um território disputado
entre os Estados Unidos e o Reino Unido, mas através de
um tratado assinado em 1846, os Estados Unidos
assumiram posse da região, que inicialmente fez parte do
Território de Oregon, mas que em 1853 se tornou parte
do Território de Washington. O Território de Idaho foi
formado em 1863, e elevado à categoria de Estado em
Julho de 1890, altura em que se tornou o 43.º Estado
americano a entrar na União.
Para não “perder o fio à meada”, como é costume dizer-se,
seguíamos na estrada número 26, que nos levou por
entre grandes plantações de batata, beterraba, ervilhas e
grão de bico, até à cidade de Idaho Falls, que dizem recebeu o seu primeiro nome de “Eagle Rock”,
devido a existir uma ilha coberta de pedras no meio do
Snake River, que passa mais ou menos a 7 milhas da
cidade, e que, naquela altura era habitada por mais de 20
águias.
Por volta do ano de 1874, aqui se foram estabelecendo
pessoas que criavam vacas e ovelhas, construíram
represas, abrindo canais para regar as suas terras, mais
tarde, o Union Pacific Railroad, construiu uma ponte em
madeira sobre o Snack River, para escoar o produto das
minas de cobre que existiam na cidade de Bute, no
estado de Montana. Com a construção da ponte e da linha
do caminho de ferro, aquela área depressa se tornou num
campo/aldeia de tendas, com “sallons”, dançarinas, casas
de jogo e hotéis. Por volta do ano de 1891, as pessoas
importantes da já pequena cidade, votaram para se trocar
o nome para Idaho Falls, em referência às “cataratas” que existiam por baixo da ponte.
Aqui parámos por algum tempo, comprando gasolina,
água e fruta, continuando rumo ao oeste pela estrada
número 20, entrando algum tempo depois pelo deserto
onde em tempos existiu o “National Reactor Testing
Station”, onde estava instalado um reactor nuclear, que
produziu electricidade pela primeira vez na história, e que
neste momento está desactivado.
Viajando pela estrada, com longas rectas, sempre plana,
vendo-se ao longe uma enorme montanha, que em outros
tempos serviu de marco de sinalização para os
pioneiros, que a caminho do oeste usavam a “Oregon
Trail”, que em português podemos designar, como a Rota
do Oregon ou o Trilho do Oregon, um itinerário histórico
com cerca de 3200 km de comprimento que segue a
direção leste-oeste, ligando o rio Missouri aos vales do
do Oregon.
Para não nos alongarmos muito com a sua história, a
“Oregon Trail” é uma das três “Emigrant Trails”, que em
conjunto com a “California Trail” e a “Mormon Trail”,
usados em meados do século XIX pelos que buscavam
terras a oeste das planícies interiores e das montanhas
rochosas, cuja parte oriental do itinerário percorria parte
do futuro estado do Kansas e, quase todo o território do
que são hoje os estados do Nebraska e Wyoming, mas a
parte ocidental, passava por aqui, cobrindo grande parte
dos futuros estados do Idaho e Oregon, pois quando nos
aproximávamos, embora passando a uma certa
distância, verificámos que nessa montanha não havia
árvores ou qualquer outra vegetação. Era “pelada”, com
enormes proporções, que de facto, não era mais que um
“marco” que foi usado como instrumento de navegação
por muitos milhares de pessoas, incluindo colonizadores,
rancheiros, agricultores, mineiros, homens de negócios e
suas famílias, que seguiam esta rota, onde se incluíam
militares, caçadores e comerciantes de peles, viajando
por estas terras, que eram apenas atravessáveis a pé ou
a cavalo, tudo isto, talvez num período que podia ser de
1810 a 1870, pois o uso da “Oregon Trail” decaiu quando
o primeiro caminho de ferro transcontinental ficou
terminado em 1869, tornando a viagem para oeste muito
mais rápida, barata e segura. Hoje, as estradas rápidas
modernas, seguem o mesmo percurso e passam pelas
localidades fundadas para servir a “Oregon Trail”.
Já chega de história. Uns quilómetros mais para oeste,
havia um Centro de Informação com umas agradáveis
instalações, onde se podia beber água, usar os quartos
de banho, tirar folhetos de informação das estantes, mas
não havia ninguém a atender e, no parque de
estacionamento, algumas pessoas dormiam dentro das
viaturas, com as janelas abertas.
Era deserto, a temperatura no Jeep marcava 114º Fahrenheit. Seguindo a rota do oeste, encontrámos de novo a estrada
número 26, seguia um pouco para norte, até se encontrar
com a estrada número 93, que seguia para sul, onde
entrámos no “Craters of the Moon National Monument and
Preserve”, que é um “campo de lava”, com mais de 1000Km2, onde existem restos da lava de
vulcões, onde podemos presenciar crateras de vulcões
adormecidos que formavam vales e pequenas
montanhas, onde só existia pedra negra, agreste, com a
formação de pequenas ondas, que em alguns lugares
estavam a detiriorar-se, porque estavam ali, a sofrer a
erosão, recebendo calor, frio ou chuva, por milhões de
anos.
Havia, no meio deste deserto, também um Centro de
Informação, este sim, com pessoas a atender, que
explicavam o fenómeno, mostrando um pequeno filme.
Com a temperatura alta, que era a nossa maior
preocupação, seguimos rumo ao sul, onde, umas horas
depois encontrámos um agradável parque de campismo,
com árvores, água e electricidade, onde depois de
cozinhar uma ligeira refeição, dormimos, com o ar
condicionado da caravana trabalhando, já próximo da
estrada rápida número 84, que ao outro dia nos havia de
levar rumo a leste/sul, para outras paragens.
Neste dia percorremos 668 milhas, com o preço da
gasolina a variar entre $3.68 e $3.70 o galão, que são
aproximadamente 4 litros.
Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 14 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14025: Bom ou mau tempo na bolanha (78): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (19) (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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