quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14077: Conto de Natal (22): Uma bênção dos Céus (Domingos Gonçalves)

1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 17 de Dezembro de 2014:

Prezado Luís Graça
Para si, seus familiares e amigos, e para todos os que, colaboram, ou visitam, a TABANCA GRANDE, os mais sinceros votos de FELIZ NATAL, e de um ano de 2015 repleto de muitas coisas boas, em especial saúde.

Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves


CONTO DE NATAL

O senhor Joaquim era um homem pobre. Possuía, é certo, um pequeno casebre meio arruinado, que o abrigava da intempérie, e ao lado umas leiras estreitas, onde colhia, alguns produtos agrícolas, regados com suor, e lágrimas, que ajudavam a matar a fome à mulher, e aos filhos. Todavia, os cereais, - milho e centeio -, com que a mulher, em casa, fabricava o pão, tinha de os comprar aos lavradores da aldeia. Com o azeite, e com o vinho, passava-se a mesma coisa: tinha de os comprar.

Quando os proprietários da aldeia lhe davam a ganhar alguns dias, como jornaleiro, na época das colheitas, ou das sementeiras, vivia melhor. Quando isso não acontecia, a miséria em casa era uma realidade.

Possuía, também, algumas ovelhas, que ora pastoreava nas pequenas leiras, que eram terra sua, ora pelos montes da aldeia, nos terrenos dos lavradores mais tolerantes, pois havia alguns que não consentiam que a ovelha, ou a cabra, do pobre, comessem as ervas, ou o mato, que vicejavam nos seus terrenos.

Um dia reparou que uma das ovelhas andava prenhe, e ficou contente. Era uma bênção de Deus.
Em casa comentou com a mulher, e com os filhos:
- Que sorte a nossa! A cria vai nascer antes do Natal. Já temos garantido o dinheiro para comprar o bacalhau, e outras coisas boas. Mesmo que venda o anho mais tarde, lá para Janeiro, ou Fevereiro, o bendeiro fia de nós, pois sabe que temos um anho para vender.

Desabafava:
- Este ano até podemos dar uma esmolinha ao Menino Jesus.

O filho mais novo, que frequentava a catequese, para fazer a primeira comunhão, satisfeito, dizia para os pais, e para os irmãos:
- Quem leva a esmola para dar ao Menino, sou eu.

A ovelha que andava prenhe foi uma bênção caída do céu, um raio de esperança, prenúncio de uma ceia de Natal melhorada, para toda a pobre família.

Um certo domingo, no fim da missa da manhã, um rico lavrador da aldeia abordou o pobre homem, para lhe oferecer trabalho.
Disse-lhe:
- Queres-me roçar uns carros de mato, durante a semana que vem?
- Quero! – Respondeu-lhe, com ar feliz -. Posso-lhe roçar todo o que precisar.

Sempre que alguém lhe oferecia trabalho, não desperdiçava a oportunidade de ganhar algum dinheiro.

De seguida, foram os dois, - o lavrador e o jornaleiro -, ao monte ver o local onde crescia o mato que devia ser roçado.
Acertado o preço do trabalho a realizar, e a quantidade de mato que devia ser roçado, o jornaleiro pediu ao lavrador:
- Quando vier roçar o mato posso trazer as minhas ovelhas, e deixá-las a pastar aqui, nos seus terrenos, enquanto trabalho?
- Claro que podes. Deixa-as pastar, por aí, pois não me incomodo com isso.

Nos dias seguintes o homem levantou-se cedo, foi par o monte roçar o mato, e levou com ele as ovelhas. No fim da jornada de trabalho, conduzia-as para casa.
Porém, num certo fim de tarde, quando juntou os animais, para regressar a casa, reparou que lhe faltava a que andava prenhe.
Tinha desaparecido.

Desconsolado, chamou e voltou a chamar pelo animal, procurou à volta, mas da ovelha prenhe não havia rasto.

Quando chegou a casa, a chorar, disse para a mulher, e para os filhos:
- A ovelha prenhe desapareceu! Lá se foi a nossa ceia de Natal.

Uma onda de tristeza espalhou-se pelo rosto da mulher, e dos filhos. A esperança deu lugar ao desencanto. Todo o ambiente da família se alterou. Sem dinheiro, não podia haver ceia de consoada.
- Terá sido o lobo a comê-la? – Perguntou a mulher.
- O lobo, não, - disse-lhe -. Este ano ainda não apareceu por estes montes.

No meio de todo aquele desespero, apenas o filho mais pequeno, que ainda não tinha feito a primeira comunhão, repetia, confiante:
- Ela vai aparecer. O Menino Jesus vai trazê-la. Eu vou lhe pedir, e ele vai fazer o milagre.

No dia seguinte, pai e filhos foram, logo que alvoreceu, para o monte procurar a ovelha, cada vez para mais longe.
Mas, da ovelha prenhe não encontravam nenhum vestígio.
O pai, perdia a esperança. Só o pequerrucho insistia:
- Ela vai aparecer. O Menino Jesus vai fazer o milagre.

No dia seguinte, ajudado por alguns vizinhos, o pobre homem foi de novo procurar a ovelha, mas em vão.
Desanimado, por entre lágrimas, repetia:
- Lá se foi a minha ovelha, e o anho que trazia na barriga!

Onde antes reinava a esperança, agora imperava o desespero, e a tristeza.

Quando, ao fim da tarde, depois de muito procurar, já sem esperança regressavam a casa, o rapazito diz para o pai:
- Olha acolá uma ovelha! É a nossa, de certeza!

O pai olhou para o sítio que o filho lhe indicara, e exclamou satisfeito:
- Tens razão, filho! É a nossa ovelha!

E correu para ela cheio de esperança.

O dócil animal encontrava-se numa pequena leira, bastante perto da casa do pobre homem, onde nunca a tinham procurado.
Quando chegou ao local o homem verificou que a ovelha tinha dado à luz não um, mas dois lindos anhos, que estavam junto da mãe, que se entretinha a pastar algumas ervas.

Delirante, o pobre homem ergueu as mãos ao céu, e gritou agradecido:
- Graças a Deus! Graças a Deus!

Cheio de alegria, o filho mais pequeno gritou, também:
- Foi o Menino Jesus quem a trouxe! Foi ele que fez o milagre! Quem lhe vai dar a esmola, quando estiver no presépio, tenho de ser eu. Eu pedi-lhe, e ele trouxe-nos a ovelha.
- Está bem, filho! – Disse o pai -. Vais ser tu a agradecer-lhe.

E na casa do pobre homem, na noite de Natal, houve muita alegria, e ceia melhorada.

Domingos Gonçalves
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14056: Conto de Natal (21): Mãe, espero que vossemecê faça o presépio ao pé do forno de lenha (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

É um conto mas pode ter acontecido algo de muito semelhante. O cenário e os personagens são verosímeis.

um abraço

Carvalho de Mampatá