Caros amigos:
Luís Graça, Carlos Vinhal, restantes editores e camaradas em geral.
Vivendo-se já tempos de advento e, faltando apenas quatro dias para o Natal, é pois altura de, através deste meio, enderessar meu desejo de que todos tenhais um Natal cheio de amor e alegria na companhia de quem vos é mais querido.
Infelizmente para mim e para quem me é mais próximo, este Natal não será como dantes, porque notar-se-á um lugar à mesa por preencher.
Sinto e, sentirei mais nesse dia, a ausência da minha esposa, Maria Teresa, que durante 38 anos me fez companhia.
Quis o destino ou a lei da natureza o ordenou, que no dia 11 do passado mês de outubro nos deixasse partindo para outro mundo. Faltaram apenas 9 dias para o seu quinquagésimo nono aniversário.
Lá, onde estiver, que tenha eterno descanso.
À parte, envio estes versos que são fruto das minhas angustiadas memórias da Guiné, ano de 1972/74.
É o primeiro poema, (se assim se pode chamar), que escrevo, pedindo desde já desculpa aos poetas pela minha ousadia, pois reconheço que não o sou nem pretendo obter tal título, apenas é uma forma de ocupação de tempos livres.
O Pilão e Grão
Tum tom, tum tom
De parte incerta chega o som
Longe ou perto, estou certo,
É o bate que bate do pilão
Bem aprumado
Por mãos agarrado
Sobe e desce e sem paixão
Com sua forte batida
Vai moendo e remoendo
O doirado grão
E o grão coitado
Tão mal tratado
Relado, esmagado
perde seu nome
De milho passa a farinha
E desta ao pão que se come
Da desfeita não se queixa
É grande a sua nobreza
Tudo aceita nada enjeita
Desde o campo até à mesa
Ei-lo chegado aqui
Acabado de cozer
Tem gosto e dará gosto
A quem o puder comer
E ao grãozinho doirado
Só uma coisa o consome
Ver tanto pão estragar-se
E haver crianças com fome
Joaquim Cardoso
Ex-Soldado TRMS
Nova Lamego
Guiné, 1972/74
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Comentário do Editor:
Obrigado caro amigo Joaquim Cardoso, por, apesar de estares a sofrer pela recente perda da tua esposa, vires até nós para, generosamente, desejares a todos nós aquilo que tu não vais ter, uma noite de Natal com alegria.
Embora com atraso, aqui deixamos a nossa solidariedade e a certeza de que na noite do dia 24, muitos de nós irão dedicar uns momentos de introspecção em memória da tua esposa.
Recebe um abraço amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13920: Blogoterapia (263): O Homem entre o Amor e a Guerra (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)
6 comentários:
Caro Camarigo Cardoso
O que nos contas é um fel difícil de tragar, espero não ser obrigado a tal sacrifício, mas nunca se sabe sem desejar a morte, para mim o ideal seria partirmos os dois na mesma hora para a dor ser suave.
Um abraço
Colaço.
Olá Camarada
Nestas alturas não se diz nada. Não se faz nada.
Um abraço para ajudar a curar a ferida.
António J. P. Costa
Há acontecimentos que, por muito que esperados, nunca os conseguiremos aceitar.
Nada há mais certo que a “partida”, para outros horizontes, daqueles de quem nunca nos queremos separar.
Que dizer nestas situações. Só cada um é que sabe avaliar e, de acordo com essa avaliação, tomar a “decisão” mais correcta.
Todos nós temos “datas” que ficarão indelevelmente marcadas na nossa memória, por acontecimentos “improváveis” para esses dias, sejam eles aniversários de familiares ou, até, dias festivos de família, como a véspera e o próprio dia de Natal: alguém recebeu “guia de marcha” que teve que cumprir.
Sei que tu e os teus mais próximos, sejam eles quem forem, conseguirão honrar a memória de quem, apesar de não estar fisicamente convosco, estará sempre no vosso pensamento.
Quanto a mim, apenas posso solidarizar-me convosco, enviando o meu fraterno abraço e desejar-vos uma época cheia de paz, amor e concórdia.
Caro Amigo Joaquim Cardoso
Pois é, estas 'coisas' batem sempre forte no nosso ânimo e, como já disseram, nunca estamos preparados para tal, mesmo sabendo que nascer, crescer, viver e morrer, são etapas normais do nosso percurso.
Fará neste dia de Natal 2 anos que a minha mãe 'partiu'. Esperou pela minha visita no hospital e depois de agarrar na minha mão 'apagou-se'. Procuro afastar essas recordações mas quando chega esta altura verifico que 'ainda não passou'.
Por isso acho que percebo muito bem o teu estado de espírito e não posso dizer-te nada de substancial para ajudar a superar essa ausência a não ser que deves guardar as boas memórias e os bons pensamentos, pois eles ajudarão a recordar com menos dor.
Abraço
Hélder S.
Camarada Joaquim Cardoso:
Sinto muito a solidão em que te deixou a morte da tua companheira de tantos anos, a ti meu amigo que demonstras ter uma alma tão sensivel, pela leitura do poema que nos envias.
Que as palavras dos teus familiares, amigos e camaradas ajudem a suavizar a tua dor por uma tão grande perda.
Um grande abraço e o melhor Natal possivel, atendendo às saudades que sentirás.
Francisco Baptista
Caro Joaquim:
Hoje és tu, amanhã seremos nós.
Um abração.
carvalho de Mampatá
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