Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 24 de março de 2017
Guiné 61/74 - P17175: Notas de leitura (940): “Capital Mueda”, de Jorge Ribeiro, Campo das Letras, 2003 (Mário Beja Santos)
Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Janeiro de 2016:
Queridos amigos,
Deste poderoso relato, escreveu Luandino Vieira: "Capital Mueda é excelente e merecia um desenvolvimento em romance, tão boa matéria e tanto necessária sobre esses anos e factos que se incrustaram no imaginário português sem que os escritores lhe tenham dado - até à data - o tratamento que os Zurara, Couto e Mendes Pinto deram à outra época dramática da vossa nacionalidade".
Uma coluna desloca-se entre Mueda e Nangololo, a viagem é um calvário que um repórter de guerra capta em cheio, as conversas ciciadas, os comentários desbragados, as angústias e os pesadelos, os estrondos e as evacuações, uma via-sacra de centenas de homens que levam à carga os materiais para o telhado da Igreja de Nangololo.
É impensável que alguém fique indiferente a esta pequena tragédia que um grande repórter transforma na imagem perfeita daquela viagem absurda.
Um abraço do
Mário
Capital Mueda, por Jorge Ribeiro
Beja Santos
Asseguro que este relato não deixará ninguém indiferente, mergulhamos na coluna entre Mueda-Nangololo, e vamos fazer parte daquela viagem alucinante de uns escassos quilómetros que demoram penosos dias a percorrer. “Capital Mueda”, de Jorge Ribeiro, Campo das Letras, 2003, é mesmo uma viagem de alucinação descrita com grande mestria por um repórter de guerra (Jorge Ribeiro chefiou a Secção de Reportagem do Destacamento Fotocine).
Mergulhamos logo no sábado, 3 de Fevereiro, a coluna está quase pronta para sair de Mueda:
“Uma companhia com dez secções de combate, três pelotões de sapadores, doze Berliets, quatro baterias de morteiros, dois granadeiros, duas Panhard, uma Fox, dez Unimogs, dois Caterpilars, outra companhia completa de atiradores para rendição, e um número calculado em cerca de 30 camiões civis, estão alinhados ao longo de dois quilómetros”.
Quem comanda é um capitão de ar de aterrado, anda por ali um coronel a vistoriar a partida da coluna. Os fotocines vão no camião dos sapadores:
“Ponho um pé no pneu da Berliet, as mãos no taipal e subo. O camião está repleto, mas cabe sempre mais um. Por entre cunhetes de balas e morteiros 60 e 81, consigo encaixar o meu material de guerra – as bobinas de Gevapan, os canhões das objetivas, a utilíssima Pan-Cinor”.
Os militares vão conversando, estima-se a duração da viagem, não há ninguém que desconheça as minas, as antipessoais e anticarro. “No primeiro dia não nos devemos ter afastado de Mueda mais de três quilómetros”. Por ali se andou a desbastar mato, a cortar árvores, a afastar troncos da picada, as silvas resistem à catana. Ao escurecer, toda a gente desceu das viaturas e escavaram trincheiras. As conversas prosseguem, ciciadas, com o habitual jargão de caserna. Já estamos em 5 de Janeiro, a coluna avançou 500 metros, o calor abrasa, a malta começa a despir os camuflados, de um aparelho de cassetes saem sons estridentes solos de Jimi Hendrix. A coluna começa a subir o lendário Vale Miteda. Súbito, ergue-se uma espessa bola de fogo por entre a folhagem, ouvem-se gritos lancinantes, uma mina antipessoal apanhou José Pinto, 23 anos, minhoto de Barcelos, pede-se evacuação. Alguém vocifera:
“O Hospital de Mueda é mais do que um hospital. É uma verdadeira escola e um local de prática cirúrgica como nunca mais haverá nenhum. Os médicos que vêm para aqui saem imberbes das faculdades, sem saber fazer um curativo. Eu bem os vejo os primeiros tempos a desmaiar, quando olham para umas tripas de fora, ou sacodem miolos da mão, parece ranho…”.
Começam os preparativos para mais uma noite, a coluna não sai do sítio, tudo se está a complicar ao terceiro dia de mato. Estamos a 6 de Fevereiro, ao acordar, o autor espreita para fora e vê o pessoal todo empoleirado e desnudado, estão a sacudir a roupa e a catar qualquer coisa, então ele apercebe-se que alguns deles imploram para que alguém lhes arranque da pele as cabeças de talaca. “Talaca é a designação local de uma formiga gigantesca, que possui a particularidade de nunca mais largar a presa onde uma vez enterrou as mandíbulas, quando se lhes puxa pelo corpo deixam lá ficar a cabeça”. É tratada uma mina anticarro. Um sapador observa:
“Eles agora põem três ou quatro num correr. Só que a primeira é de efeito retardado; para além de serem anticarro. Pode regular-se para o segundo, terceiro ou quatro rodado que lhes passar por cima”.
Fazem explodir a mina. É então que se ouve o estampido de uma bazucada contra o focinho do rebenta minas, responde-se à emboscada. Foi sol de pouca dura, quem vai na coluna sabe que está a ser vigiado. A 7 de Fevereiro, a meio do caminho, a coluna volta a encravar. Apareceu uma bomba dos nossos Fiats que não deflagrou e que os guerrilheiros aproveitaram encostando-lhe apenas uma mina anticarro. Novo rebentamento. Chega um helicóptero para recolher feridos, rajadas de metralhadora deixam picotado um “vidro” do heli. Há guerrilheiros dos dois lados. “São duas horas da tarde. Até às quatro não há tempo para cortar troncos, abrir terreno e voltar à picada. Vamos tratar dos feridos, comer, e preparar o arranque para amanhã”. Os do helicóptero foram generosos, trouxeram um saco de pão e algum correio. Estamos a 8 de Fevereiro, o motor do Caterpilar lá vai procurando limpar a estrada, a motosserra vai cortando as árvores, a coluna move-se, os flanqueadores parecem verdes de agonia, homens possantes parecem-se agora como velas a estiolar. Há picadores feridos. Quando o rebenta minas regressa à picada, ouve-se um estrondoso rebentamento de uma mina anticarro, mais feridos, a coluna está agora muito perto da Base Miteda.
Estamos a 9 de Fevereiro, a coluna avança mas para quando rebenta intenso tiroteio. Os de Nangololo captaram os pedidos de socorro e prometem vir em auxílio. Pelas três da tarde, chegam os de Nangololo. Sábado, 10 de Fevereiro, a coluna prossegue, dois T-6 andam lá no alto, vem um helicóptero buscar feridos. Pelo meio-dia, avista-se a Igreja de Nangololo, o clima de emoção é extraordinário, as tensões acumulados descarregam-se. É então que o autor descobre a razão desta coluna: todas aquelas viaturas transportam materiais para o telhado da igreja, cimento, vigas de ferro, tijolos, tudo para construir a cobertura anti-morteirada da igreja. “Sento-me, lentamente, na terra. Estendo a vista e o pensamento para longe, muito longe daqui. Fixo para sempre na rotina o admirável matiz de um porto sol no planalto. Amanhã, regressamos a Mueda”.
Um conjunto de personalidades irá pronunciar-se sobre este livro: Luandino Vieira, José Emílio-Nelson, João Paulo Borges Coelho, Pezarat Correia. Jorge Ribeiro fez reportagem de guerra durante 27 meses em Moçambique. No regresso, selecionou a coluna Mueda-Nangololo como um dos trabalhos que mais o marcaram – acima de tudo pela importância dimensão, significado e resultados da operação, desencadeada na mítica capital da guerra em Moçambique, Mueda, e este relato é hoje uma das referências na literatura da guerra colonial.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17159: Notas de leitura (939): "Irmãos de Armas", por António Brito, Clube de Autor, 2016 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P17174: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VIII: A estafeta "Chama da Pátria", em 9 de abril de 1942, ligando Pedra Lume até Vila Maria, na ilha do Sal
[37]
[34]
[35]
1. Continuação da publicação da brochura "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do Capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagem da capa, à esquerda].(*)
José Rebelo, capitão SGE reformado, foi em plena II Guerra Mundial um dos jovens expedicionários do RI 11, que partiu para Cabo Verde, em missão de soberania então com o posto de furriel (1º batalhão, RI 11, Ilha de São Vicente, ilha do Sal e ilha de Santo Antão, junho de 1941/ dezembro de 1943).
Não sabemos se ainda hoje será vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão. E, se já morreu, estamos a honrar a sua memória e a dos seus camaradas, onde se incluíram os pais de alguns de nós.
O nosso camarada Manuel Amaro diz do José Rebelo:
(...) "Por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e, após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa." (...)
A brochura, de grande interesse documental, e que estamos a reproduzir, é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1.º cabo da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73).
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, dos antigos expedicionários ainda vivos, tem 76 páginas, inumeradas.
O batalhão expedicionário do RI 11, Setúbal, partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.
Era comandante do RI 11, na altura, o coronel inf Florentino Coelho Martins, combatente da I Guerra Mundial, e que, ao que parece, não escondia as suas simpatias republicanas, o que na época, no auge do Estado Novo de Salazar, pagava-se caro. Pouco tempo depois foi substituído.
Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do Governador Civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, dos antigos expedicionários ainda vivos, tem 76 páginas, inumeradas.
O batalhão expedicionário do RI 11, Setúbal, partiu de Lisboa em 16 de junho de 1941 e desembarcou na Praia, ilha de Santiago, no dia 23. Esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.
Era comandante do RI 11, na altura, o coronel inf Florentino Coelho Martins, combatente da I Guerra Mundial, e que, ao que parece, não escondia as suas simpatias republicanas, o que na época, no auge do Estado Novo de Salazar, pagava-se caro. Pouco tempo depois foi substituído.
As páginas que publicadas [de 34 a 37] não vêm numeradas no livro. Ficamos a saber, pelo autor do livro, que a baía da Murteira era um dos "covis" dos submarinos alemães, durante a II Guerra Mundial. Nas barbas das nossas tropas, ali estacionadas, mas não dispondo de artilharia, os alemães rondavam a ilha do Sal e outras ilhas do arquipélago, administrados por um país que praticavam a "neutralidade colaborante"... Na baía da Murteira há hoje um empreendimento turístico mas também mas tem uma zona protegida, a Reserva Natural da Baía da Murdeira
__________________
__________________
Nota do editor:
(*) Último poste da série 16 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17147: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VII: Quando o Onze foi castigado, por portaria de 26/6/1941, por alegada falta de galhardia e aprumo na marcha para o embarque, ficando inibido de poder ostentar a bandeira do exército...
(*) Último poste da série 16 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17147: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte VII: Quando o Onze foi castigado, por portaria de 26/6/1941, por alegada falta de galhardia e aprumo na marcha para o embarque, ficando inibido de poder ostentar a bandeira do exército...
Guiné 61/74 - P17173: Parabéns a você (1226): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17167: Parabéns a você (1225): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 22 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17167: Parabéns a você (1225): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1972/74)
quinta-feira, 23 de março de 2017
Guiné 61/74 - P17172: Blogpoesia (500): "Vivo perdido entre a gente", um poema de amizade para um grande amigo (Fernando de Jesus Sousa)
Rio Corubal no Saltinho - Guiné-Bissau
Com a devida vénia a Guinea Bissau Turismo
1. Mensagem do nosso camarada Fernando de Jesus Sousa (DFA), (ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, Bedanda, 1970/71, autor do livro de poemas "Sussurros Meus"), com data de 20 de Março de 2017, com um poema de sua autoria, dedicado a um grande amigo.
Vivo perdido entre a gente
Sou como a água dum rio,
Que livre passa a correr.
Tão alegre tão genuíno…
Sigo em paz o meu caminho
Nesta vontade de viver!
Sou um prado verdejante,
Nestas campinas da vida,
Onde as flores são uma constante!
O gosto de viver é permanente,
Mesmo com a felicidade perdida!
Sou a ave que no céu vai,
Plena liberdade em movimento!
Grito de voz que do peito sai,
Sonho que nunca se esvai…
Em expressões dum sentimento!
Sou um mar sou um continente,
Um velho livro que ninguém lê.
Sou a aragem que mal se sente,
Vivo perdido entre a gente,
Grão de areia que mal se vê!
Sou água do rio com lamentos…
Como elas sigo o meu destino!
A vida são breves momentos,
Com alegrias ou desencantos.
Tal como a água dum rio!…
Fernando Sousa
26/2/2017
____________
Nota do editor
Último poste da série de 19 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17158: Blogpoesia (499): "Oração ao sol..."; "Viver é arte..." e "O camião do lixo...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P17171: Convívios (789): 40.º Encontro do pessoal da CCAÇ 3547 - "Os Répteis de Contuboel", dia 27 de Maio de 2017 na Vila do Bombarral (Manuel Oliveira Pereira)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Oliveira Pereira (ex-Fur Mil da CCAÇ 3547 - "Os Répteis de Contuboel", Contuboel, 1972/74), com data de 16 de Março de 2017, solicitando a divulgação do 40.º Encontro/Convívio da sua Unidade, coincidente com o 43.º aniversário do regresso da Guiné.
Amigos, ex-camaradas,
Solicito a divulgação do Encontro/Convívio da CCaç 3547 "Os Répteis de Contuboel"´, a ter lugar na Vila do Bombarral próximo dia 27 de Maio.
Se estiver por cá, penso também fazer-vos companhia a 29 de Abril; Amieira já vai longe.
Logo que tenha definida a minha agenda de "obrigações familiares", informar-vos-ei.
Continuo a procurar nos meus arquivos - um pouco espalhados - mas também a encetar contatos com elementos da CCS (Bafatá), C.Caç. 3547 (Contuboel), CCaç 3548 (Geba) e CCaç 3549 (Fajonquito), todas do BCaç 3884, a fim de "arranjar" a fotografia do nosso Comandante de Batalhão, Ten. Cor. Correia de Campos.
Abraço,
Manuel OLIVEIRA PEREIRA,
ex-Fur. Mil.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 21 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17165: Convívios (788): XX Encontro do pessoal da CCAÇ 4150 - "Os Apaches do Norte", dia 14 de Maio de 2017, na Senhora da Aparecida, Lousada (Albano Costa)
quarta-feira, 22 de março de 2017
Guiné 61/74 - P17170: Os nossos seres, saberes e lazeres (204): Central London, em viagem low-cost (6) (Mário Beja Santos)
Interior do Museu de Fitzwilliam, em Cambridge
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 10 de Novembro de 2016:
Queridos amigos,
Era o último dia, reservei para ele toda a energia disponível para percorrer jardins, voltar à King's College Chapel, percorrer horas a fio uma portentosa exposição em iluminura, nunca vi coisa com tal dimensão e grandiosidade, foi despedir-me dos colégios, sentei-me em frente à ponte de Silver State, andei a cheirar nas livrarias.
Há anos que uma semana não tinha uma dimensão de um mês, tal a diversidade de sítios, tal o comprazimento com a beatitude das formas, o agrado que permite visitar uma cidade universitária no início do ano letivo.
Despeço-me com saudade de Cambridge e um dia destes dou-vos notícia de uma nova viagem.
Um abraço do
Mário
Central London, em viagem low-cost (6)
Beja Santos
O viandante confessa que se está a despedir do seu leitor em estado de nostalgia, tivesse o dom da ubiquidade e neste exato momento passeava-se por Cambridge para rever o que tanto lhe agradou e procurar conhecer mais, a cidade universitária oferece muitíssimo. O que se vê neste estacionamento de bicicletas parece pura banalidade, mas atenda o leitor à profusão de mensagens apensas ao gradeado: concertos, espetáculos de toda a índole, conferências, troca de informações, por aqui se pode medir o pulso da vibração cultural entre exposições, récitas de teatro, apelos à solidariedade.
Todos os colégios têm cunho próprio, identificam-se por emblemas, o vestuário capricha pela sua própria simbologia, quem estuda em Peterhouse, Pembroke, Queens, Clare ou Christ’s tem a sua própria indumentária, os seus brasões. E há estabelecimentos comerciais para satisfazer a questão da identidade.
Esta região chama-se os Backs, ou seja, seis dos colégios mais antigos de Cambridge dão para o rio, possuem prados, jardins, são fundos com alamedas que permitem passeios de barco, de contemplar a magnífica arquitetura dos colégios. Na gíria turística, uma visita a Cambridge fica incompleta sem pôr o pé numa destas bateiras, muitas vezes conduzidas pelos alunos. Na primeira imagem desfruta-se uma vista do King’s College vizinho da mais esplendorosa capela que o viandante conhece.
Este é o Clare, o segundo colégio em, antiguidade de Cambridge, a sua ponte que liga para os Backs é magnífica, daqui também se pode avistar a fachada principal da King’s College Chapel.
O viandante sente-se atraído pelo colorido das bateiras, felizmente que uma nesga de sol modificou a paisagem, alterou as cores do rio Cam e dá perfeitamente para ver como o ambiente incita à contemplação, pega-se num livro e aqui se desfruta a natureza, é um aprazimento ouvir relógios e sinos, a cidade ganha mística, percebe-se como estes estudantes que acabam de chegar se sentem tão maravilhados pelo recolhimento e o vigor destes monumentos do passado ao serviço do presente e do futuro.
O museu mais importante de Cambridge chama-se Fitzwilliam, prende logo a atenção a solidez do edifício neoclássico com um vestíbulo magnificamente decorado. O seu património em coleções de arte é deveras impressionante. Para comemorar os 200 anos do museu, na altura em que o viandante por lá passou, decorria uma exposição sobre a arte e a ciência dos manuscritos iluminados, era um festival de iluminuras de incalculável valor. Estavam patentes manuscritos excecionais e o visitante tinha à sua disposição um itinerário entre os séculos XIII e XVII, percorrendo o Reino Unido, a Pérsia e o Nepal, e muito mais. Subestimamos a iluminura, há quem por ignorância a trate por arte decorativa. Ora estes manuscritos são as melhores fontes para estudar as técnicas da pintura, a arte do fabrico das cores, os materiais e poder estudar a história, usos e costumes, enfrentar uma dada realidade nestas belíssimas cores, como a imagem mostra.
Sim, Cambridge é uma cidade de colégios, onde prima a vida estudantil e afã cultural, mas o seu monumento número um é a King’s College Chapel, Henrique VI lançou a primeira pedra em 1441, as obras terminaram sete décadas depois, no reinado de Henrique VIII. Entra-se e fica-se aturdido com a sua abóbada em leque, nas paredes laterais há vitrais fabulosos construídos por flamengos e ingleses, a meio um grande órgão, e não se visita Cambrigde sem ouvir neste ambiente o coro juvenil do King’s, atenção a quem por ali viaja, habitualmente pelas seis da tarde tem-se entrada gratuita no ofício religioso, o viandante teve esse privilégio podendo estar constantemente a olhar o quadro “A adoração dos reis magos” por Rubens.
Acabou a viagem? A viagem nunca acaba, o viajante é que desanda para outras paragens. Nada como despedida desta viagem a Londres e Cambridge falando de uma exposição que estava patente na National Portrait Gallery sobre a presença dos negros na Grã-Bretanha antes de 1948, fixa-se esta imagem como se um menino dissesse ao outro: “Toma atenção pá, o que se vai passar nesta fotografia é uma coisa séria, ficarás para a posterioridade, alguém te recordará por teres ficado congelado no que vamos fazer”.
É assim um relato de viagem, como aqui se pretendeu fazer, deixei a minha saudade e aprazimento partilhando-os convosco.
Até à próxima.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 15 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17141: Os nossos seres, saberes e lazeres (203): Central London, em viagem low-cost (5) (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P17169: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVIII Parte: Cap IX - Guerra 2: O primeiro Lassa a morrer em combate, o sold at inf Marinho
Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCç 763 (1965/67) > T6 com motor gripado, a aterrar na pista de Cufar, depois de alvejado em Caboxanque.
Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCç 763 (1965/67) > 1965 > Dakota afocinhando, na pista de Cufar, quando transportava motor do T6 alvejado em Caboxamque. O Mário Fitas é o 1º da direita-
Fotos ( e legendas): © Mário Fitas (2016). Todo os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Fotos ( e legendas): © Mário Fitas (2016). Todo os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.
Mário Fitas foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô. [Foto em baixo, à direita, março de 2016, Tabanca da Linha, Oitavos, Guincho, Cascais.]
Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > XVIII Parte > Cap IX - Guerra 2 (pp. 58-61)
por Mário Vicente
Sinopse:
(i) Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8),
(ii) o "Vagabundo" faz o curso de "ranger" em Lamego;
(iii) é mobilizado para a Guiné;
(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra");
(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;
(vi) chegada a Bissau a 17:
(vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965;
(viii) experiência, inédita, com cães de guerra;
(ix) início da atividade, o primeiro prisioneiro;
(x) primeira grande operação: 15 de maio de 1965: conquista de Cufar Nalu (Op Razia):
(xi) a malta da CCAÇ 763 passa a ser conhecida por "Lassas", alcunha pejorativa dada pelo IN;
(xii) aos quatro meses a CCAÇ 763 é louvada pelo brigadeiro, comandante militar, pelo "ronco" da Op Saturno;
(xiii) chega a Cufar o periquito fur mil Reis, que é devidamente praxado;
(xiv) as primeiras minas, as operações Satan, Trovão e Vindima; recordações do avô materno;
(xv) "Vagabundo" passa a ser conhecido por "Mamadu"; primeira baixa mortal dos Lassas, o sold at inf Marinho: um T6 é atingido por fogo IN, na op Retormo, em setembro de 1965.
Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVII Parte: Cap IX: Guerra 2 (pp. 58-61)E voltamos ao Cantanhez agora para fazer a {Op] Retorno a 17 de Setembro [de 1965]
Flaque Injã é o objectivo e o novo acampamento IN. Os Lassas a três grupos de combate embarcam em duas LDM, no cais de Impungueda pelas 24h00, desembarcando na bolanha a oeste de Caboxanque, progredindo rapidamente, ultrapassando esta tabanca e a de Flaque Injã, internando-se na mata a leste desta última.
Como primeiro objectivo teríamos a visita ao antigo acampamento, destruído na operação Satan, no entanto foram emboscados cinco elementos tendo sido aprisionados dois, que conduziram a CCAÇ ao novo acampamento existente. A recepção foi forte por parte do pessoal do PAIGC, utilizando armas ligeiras e pesadas, com balas tracejantes. Apesar dessa forte resistência, os Lassas assaltaram o acampamento desalojando o IN a quem causaram seis baixas confirmadas, apreendendo diverso material.
Dirigem-se depois para Caboxanque em cujo cais deveriam reembarcar. Na frente da coluna em primeiro escalão, vai a secção do Chico Zé, comandada pelo Carlos Manuel, da secção de cães, levando como guias, Alfa Nan Cabo, Gibi Baldé e Carlos Queba. Seguem-se as secções de Tambinha e Vagabundo. Há que atravessar um túnel arbustivo, onde se encontra uma cobra verde enroscada. A malta vai passando a palavra para trás, para as precauções necessárias pois uma picada desta bonita e simpática coisinha, de vinte e cinco centímetros no máximo é morte certa entre três, quatro minutos.
Quando a cabeça da coluna atinge as proximidades da mata, de acesso ao cais de Caboxanque, há umas rajadas e uns tiros de G3 isolados. Malta para o chão, seguindo-se uns segundos sepulcrais. Que terá acontecido? Carlos Manuel e os seus homens lá na frente tinham desfeito dois indivíduos, capturado uma metralhadora ligeira, uma pistola e vários cunhetes de munições É aqui que Alfa torce o nariz, vem atrás e fala com Carlos.
– Ali na frente, manga de chatice! Pessoal não pode passa lá!
Inquieto, nariz no ar como que animal adivinhando catástrofe da natureza, rinoceronte perscrutando o perigo, não deixando de fazer o seu vocal som característico de “tchee… tchee…”.. Manga de chatice são as únicas palavras que sabe dizer. Almeida e Vagabundo chegam à frente, Alfa e Gibi apontam o chão. A experiência de escuteiro leva o furriel a verificar a erva levemente inclinada e a concluir também que por ali passaram dezenas de indivíduos.
Almeida leva os três guias e conferenciam com Carlos e Paolo. Carlos manda os Lassas abandonarem a mata em ziguezague e entrarem na bolanha, afastando o máximo possível.
É impressionante! O festim estava preparado com toda a ciência, uma emboscada com uma técnica fora do vulgar.
Quando os comandos do PAIGC se aperceberam que lhes tínhamos morto a detecção à retaguarda, fazer a diversão para terreno aberto, escamoteando a entrada na zona de morte, papando-lhe as migas na cabeça, ficaram fulos. Desvairado, o pessoal do PAIGC veio também para terreno aberto. Então começou o lindo espectáculo das bazucas e dos RPG a digladiarem-se. Estamos um pouco em vantagem porque as granadas dos RPG ao caírem na bolanha enterrando-se na lama, grande parte não rebentava. O céu mantinha-se encoberto e não tínhamos apoio aéreo. Verifica-se que são mais do que nós e que sem medo avançam em terreno descoberto.
Dá-se um milagre!... O sol desponta e ouve-se o roncar dos velhos T6. Damos a nossa posição no terreno com granadas de fumo. O “Mais Audaz” localiza tudo e faz duas picagens. Vagabundo, rádio sintonizado com o ar, ouve nitidamente o tenente piloto dizer:
– Só vejo malta a rebolar… estou a atingir em cheio… vou picar novamente e gastar os últimos roquetes!
E assim faz, aparecendo sobre o tarrafo do lado do cais de Caboxanque, faz nova picagem. Ficamos suspensos por momentos, o piloto informa que a aeronave foi atingida e que ia tentar aterrar na pista de Cufar. Corações pequeninos, ouvimos que tinha conseguido. Quando regressados a Cufar soubemos, o T6 tinha sofrido bastantes impactes que lhe causaram dezassete furos, um dos quais no depósito do óleo que esvaziara por completo, o avião a tocar na pista de terra batida e o motor a gripar.
Entretanto o festival em Caboxanque continuava. Alertadas, as lanchas e a vedeta da Marinha tinham subido o Cumbijã. Com a sua ajuda e mais uma parelha de T6, as forças do PAIGC foram reduzidas ao silêncio e os Lassas embarcaram, regressando a Cufar.
Passados dias soube-se e ficará gravada na história da CCAÇ 763, tínhamos tido à nossa espera uma Companhia do Exército Popular, comandada, nada menos nada mais, do que pelo comandante 'Nino', a qual sofreu das mais avultadas perdas em termos humanos averbadas pelo PAIGC.
Obrigado Alfa, FAP e Marinha, pois estaríamos metidos numa enorme e indefinida encrenca se não fosseis vós. A sorte também conta, sendo de uma importância extraordinária nesta guerra.
Nunca será pouco enaltecer os amigos fuzos e marinheiros, e aquilo que por nós fizeram com as suas lanchas e vedetas. Aos pilotos, e às enfermeiras páras, bastará o conhecimento e forma como são recebidos em Cufar para saberem como lhes estamos gratos por tudo.
É claro que nem tudo foram rosas.
Havendo uma grande operação dos fuzos na zona de Cabedu, foi montado o posto de comando e evacuação em Cufar, derivado da sua bela pista e segurança. Hospital de campanha montado do lado esquerdo junto à entrada do aquartelamento. Por escala os Vagabundos de piquete. O seu chefe furriel já alcunhado de Mamadu, vestido ou despido à maneira do mato, calção e camisa de caqui, bota de lona e boina preta, pistola caindo do cinturão à “pistoleiro” em vez de carregar com a G3. Malta almoçada, segurança montada às aeronaves na pista, um calor de rachar, toca de espreguiçar numa maca, instalada no improvisado Hospital de Campanha.
Foram-se juntando alguns soldados em redor do furriel, começando as anedotas e histórias da vida de cada um. Mamadu delirando contar e ouvir uma anedotazinha, contava aquela do dramático caso do patrício que se queria suicidar por infidelidade de sua companheira e que, subindo ao quinto andar do prédio, de lá gritava estar farto da vida e que se iria mandar dali abaixo. O povoléu juntava-se todo à espera do desfecho do drama, quando apareceu a mulher do infeliz e que em desespero gritou:
– Oh!, a homem, não faças isso, porque eu só te pus os cornos, não te pus asas!
– Ali na frente, manga de chatice! Pessoal não pode passa lá!
Inquieto, nariz no ar como que animal adivinhando catástrofe da natureza, rinoceronte perscrutando o perigo, não deixando de fazer o seu vocal som característico de “tchee… tchee…”.. Manga de chatice são as únicas palavras que sabe dizer. Almeida e Vagabundo chegam à frente, Alfa e Gibi apontam o chão. A experiência de escuteiro leva o furriel a verificar a erva levemente inclinada e a concluir também que por ali passaram dezenas de indivíduos.
Almeida leva os três guias e conferenciam com Carlos e Paolo. Carlos manda os Lassas abandonarem a mata em ziguezague e entrarem na bolanha, afastando o máximo possível.
É impressionante! O festim estava preparado com toda a ciência, uma emboscada com uma técnica fora do vulgar.
Quando os comandos do PAIGC se aperceberam que lhes tínhamos morto a detecção à retaguarda, fazer a diversão para terreno aberto, escamoteando a entrada na zona de morte, papando-lhe as migas na cabeça, ficaram fulos. Desvairado, o pessoal do PAIGC veio também para terreno aberto. Então começou o lindo espectáculo das bazucas e dos RPG a digladiarem-se. Estamos um pouco em vantagem porque as granadas dos RPG ao caírem na bolanha enterrando-se na lama, grande parte não rebentava. O céu mantinha-se encoberto e não tínhamos apoio aéreo. Verifica-se que são mais do que nós e que sem medo avançam em terreno descoberto.
Dá-se um milagre!... O sol desponta e ouve-se o roncar dos velhos T6. Damos a nossa posição no terreno com granadas de fumo. O “Mais Audaz” localiza tudo e faz duas picagens. Vagabundo, rádio sintonizado com o ar, ouve nitidamente o tenente piloto dizer:
– Só vejo malta a rebolar… estou a atingir em cheio… vou picar novamente e gastar os últimos roquetes!
E assim faz, aparecendo sobre o tarrafo do lado do cais de Caboxanque, faz nova picagem. Ficamos suspensos por momentos, o piloto informa que a aeronave foi atingida e que ia tentar aterrar na pista de Cufar. Corações pequeninos, ouvimos que tinha conseguido. Quando regressados a Cufar soubemos, o T6 tinha sofrido bastantes impactes que lhe causaram dezassete furos, um dos quais no depósito do óleo que esvaziara por completo, o avião a tocar na pista de terra batida e o motor a gripar.
Entretanto o festival em Caboxanque continuava. Alertadas, as lanchas e a vedeta da Marinha tinham subido o Cumbijã. Com a sua ajuda e mais uma parelha de T6, as forças do PAIGC foram reduzidas ao silêncio e os Lassas embarcaram, regressando a Cufar.
Passados dias soube-se e ficará gravada na história da CCAÇ 763, tínhamos tido à nossa espera uma Companhia do Exército Popular, comandada, nada menos nada mais, do que pelo comandante 'Nino', a qual sofreu das mais avultadas perdas em termos humanos averbadas pelo PAIGC.
Obrigado Alfa, FAP e Marinha, pois estaríamos metidos numa enorme e indefinida encrenca se não fosseis vós. A sorte também conta, sendo de uma importância extraordinária nesta guerra.
Nunca será pouco enaltecer os amigos fuzos e marinheiros, e aquilo que por nós fizeram com as suas lanchas e vedetas. Aos pilotos, e às enfermeiras páras, bastará o conhecimento e forma como são recebidos em Cufar para saberem como lhes estamos gratos por tudo.
É claro que nem tudo foram rosas.
Havendo uma grande operação dos fuzos na zona de Cabedu, foi montado o posto de comando e evacuação em Cufar, derivado da sua bela pista e segurança. Hospital de campanha montado do lado esquerdo junto à entrada do aquartelamento. Por escala os Vagabundos de piquete. O seu chefe furriel já alcunhado de Mamadu, vestido ou despido à maneira do mato, calção e camisa de caqui, bota de lona e boina preta, pistola caindo do cinturão à “pistoleiro” em vez de carregar com a G3. Malta almoçada, segurança montada às aeronaves na pista, um calor de rachar, toca de espreguiçar numa maca, instalada no improvisado Hospital de Campanha.
Foram-se juntando alguns soldados em redor do furriel, começando as anedotas e histórias da vida de cada um. Mamadu delirando contar e ouvir uma anedotazinha, contava aquela do dramático caso do patrício que se queria suicidar por infidelidade de sua companheira e que, subindo ao quinto andar do prédio, de lá gritava estar farto da vida e que se iria mandar dali abaixo. O povoléu juntava-se todo à espera do desfecho do drama, quando apareceu a mulher do infeliz e que em desespero gritou:
– Oh!, a homem, não faças isso, porque eu só te pus os cornos, não te pus asas!
Encontrava-se Mamadu e aquela malta toda nesta bagunçada, quando de repente aparece a alferes pára enfermeira. Ao ver a malta por ali sentada, correu com a soldadesca toda. O furriel continuou agora sentado na maca, mas também ele teve ordem para se pôr a andar. Verificando o protagonismo que a sra. alferes estava a tomar, o chefe dos Vagabundos resolveu manter o seu. Deu-se então um diálogo interessante. Mamadu levantou-se e informou:
– Saiba Vossa Senhoria, meu alferes, que eu não vou abandonar esta posição, se há alguém que tenha de solicitar autorização para permanecer neste local, não serei eu, pois quem é aqui o responsável neste momento é este maltrapilho do mato que se apresenta a vossa senhoria!...
Perfilando-se, na posição de sentido, o furriel pronunciou:
– Apresenta-se o furriel miliciano Mamadu, comandante do piquete com a responsabilidade total pela segurança desta tenda, bem como de todas as aeronaves que se encontram na pista. Não tenho as divisas nos ombros, porque no mato é adorno que não usamos e a boina preta está superiormente autorizada.
Grande discurso!... A alferes enfermeira [, Maria Ivone Reis, foto à esquerda,] sorriu e repostou:
– São todos iguais!... Têm todos a escola do vosso capitão! Mas pelo menos deveria estar com roupa em condições!
– Saiba sra. meu alferes, que a minha lavadeira Miriam está em Catió com montes de roupa à espera de portador, pelo que não tenho o prazer e a honra de lhe satisfazer esse desejo. Mas como sabe e muito melhor do que eu, para morrer tanto faz estar de smoking como de camisa rota, o importante é estar lavada!
– Machistas de merda!
Foi a resposta que o furriel recebeu. Tinha razão a alferes enfermeira!?... Sim! Tinha razão, mas a CCAÇ não pode parar com estas ninharias pois o caminho a percorrer é longo. Reentramos nos cercos e limpeza e bate-se toda a tabanca de Cubaque, dando forma à operação Rissol. Voltamos a Camaiupa e Cantumane para efectuar a [op] Rastilho, reconhecendo toda a mata. Uns tiros sem importância para comunicação e reunião, nós sabemos que eles continuam lá, é vital para dar seguimento ao corredor de Guilege.
Quando entrávamos em Cantumane aconteceu precisamente o mesmo que na operação Trovão. No mesmo local e da mesma forma, fomos emboscados e atacados com o sistema de abelhas. O grupo de combate que seguia em primeiro escalão é obrigado a recuar. Só depois do envolvimento dos outros dois grupos e após uma hora de fogo intenso, a CCAÇ consegue repelir o IN causando-lhe nove mortos e pelo menos um ferido. Pela nossa parte um morto e vários feridos com picadas de abelhas. O soldado Marinho regressou à sua terra para nela repousar eternamente. Alguém irá ao Terreiro do Paço, receber a medalha postumamente atribuída. Os feridos no total de oito tiveram de ser evacuados alguns para Bissau, resultante das picadas das abelhas, pelo que nos tivemos de deslocar para a bolanha para serem levados pelos helicópteros.
Com a morte do primeiro militar da CCAÇ 763, houve que definir coisas muito importantes. Tendo em atenção, a construção da nossa identidade, com o direito à identificação e localização, de um ente que faz intrinsecamente parte do nosso génese, ou agregação espírito-matéria. Sendo um direito adquirido, fazendo parte da nossa complexa estrutura cultural, o cultivar o culto dos mortos, e fazermos o nosso luto. Nunca um combatente poderá ficar no campo de batalha, local da sua morte, mas sim onde as suas cinzas façam parte de um todo, de uma vontade una daqueles a quem estão ligados.
É Cultura Portuguesa, caso contrário não teríamos ninguém nos Jerónimos.Todos devem ter direito aos seus sentimentos!
É importante que as nossas famílias saibam o que lhes é entregue. Quem não dignificou o valente soldado português, vindo dos mais recônditos lugares deste país? Não são considerados e respeitados por quem devia.
Carlos manda formar a Companhia e é assumido o compromisso:
Com a morte do primeiro militar da CCAÇ 763, houve que definir coisas muito importantes. Tendo em atenção, a construção da nossa identidade, com o direito à identificação e localização, de um ente que faz intrinsecamente parte do nosso génese, ou agregação espírito-matéria. Sendo um direito adquirido, fazendo parte da nossa complexa estrutura cultural, o cultivar o culto dos mortos, e fazermos o nosso luto. Nunca um combatente poderá ficar no campo de batalha, local da sua morte, mas sim onde as suas cinzas façam parte de um todo, de uma vontade una daqueles a quem estão ligados.
É Cultura Portuguesa, caso contrário não teríamos ninguém nos Jerónimos.Todos devem ter direito aos seus sentimentos!
É importante que as nossas famílias saibam o que lhes é entregue. Quem não dignificou o valente soldado português, vindo dos mais recônditos lugares deste país? Não são considerados e respeitados por quem devia.
Carlos manda formar a Companhia e é assumido o compromisso:
– Qualquer elemento da CCAÇ 763 que tenha a infelicidade de aqui falecer, a família receberá o seu corpo. Todos contribuirão para o efeito, em função do seu vencimento. Assim acontecerá!
Não abrandamos o controlo a sul. Num golpe de mão a Cantone, Quepul Na Cuenha, chefe de partido de Mato Farroba, e Go Na Ialá, enfermeiro do PAIGC, são feitos prisioneiros. Go Na Ialá é abatido por uma sentinela ao tentar a evasão, saltando o arame farpado. Mas também não temos meios para fazer tudo na noite de 26 para 27 de Novembro, elementos do PAIGC aparecem nas tabancas a sul tentando aliciar a população, raptando alguns blufos que conseguiram fugir e se apresentaram no aquartelamento informando do acontecido.
Confirmamos as dificuldades do PAIGC com a população, e no recrutamento interno, mas chegam-nos informações de que o Exército Popular está a ser reforçado por pessoal estrangeiro que não se limita a dar instrução, entrando também em combate. Verificamos que a guerra começa a internacionalizar-se. Não é novidade, já haviamos abatido uma ave estranha.
Continua a cobrança!... Hoje pagas tu, amanhã pago eu!
Primeiro de Dezembro, uma data que ainda diz qualquer coisa a este povo português. Inauguramos uma escola para as crianças nativas. A sua actividade é iniciada com a frequência de uma centena de alunos das povoações a sul e por nós controladas. É-lhes igualmente distribuída diariamente a primeira refeição, tendo-lhe sido fornecidos livros e outro material, tudo a expensas da CCAÇ 763. Desempenha as funções de professora Dª. Glória, tendo como assistente na parte de desporto Jata, o nosso amigo Micaelense, sargento Luís Tavares de Melo.
Não param os Lassas, apesar dos mortos e dos feridos que já sofreram, é necessário aproveitar a maré alta e por isso já fomos para o outro lado do Cumbijã, estamos cá para quê?... Fazer a guerra? Faça-se!
__________
Não abrandamos o controlo a sul. Num golpe de mão a Cantone, Quepul Na Cuenha, chefe de partido de Mato Farroba, e Go Na Ialá, enfermeiro do PAIGC, são feitos prisioneiros. Go Na Ialá é abatido por uma sentinela ao tentar a evasão, saltando o arame farpado. Mas também não temos meios para fazer tudo na noite de 26 para 27 de Novembro, elementos do PAIGC aparecem nas tabancas a sul tentando aliciar a população, raptando alguns blufos que conseguiram fugir e se apresentaram no aquartelamento informando do acontecido.
Confirmamos as dificuldades do PAIGC com a população, e no recrutamento interno, mas chegam-nos informações de que o Exército Popular está a ser reforçado por pessoal estrangeiro que não se limita a dar instrução, entrando também em combate. Verificamos que a guerra começa a internacionalizar-se. Não é novidade, já haviamos abatido uma ave estranha.
Continua a cobrança!... Hoje pagas tu, amanhã pago eu!
Primeiro de Dezembro, uma data que ainda diz qualquer coisa a este povo português. Inauguramos uma escola para as crianças nativas. A sua actividade é iniciada com a frequência de uma centena de alunos das povoações a sul e por nós controladas. É-lhes igualmente distribuída diariamente a primeira refeição, tendo-lhe sido fornecidos livros e outro material, tudo a expensas da CCAÇ 763. Desempenha as funções de professora Dª. Glória, tendo como assistente na parte de desporto Jata, o nosso amigo Micaelense, sargento Luís Tavares de Melo.
Não param os Lassas, apesar dos mortos e dos feridos que já sofreram, é necessário aproveitar a maré alta e por isso já fomos para o outro lado do Cumbijã, estamos cá para quê?... Fazer a guerra? Faça-se!
__________
Nota do editor:
(*) Ultimo poste da série > 13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17130: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVII Parte: Cap IX - Guerra 2: Em pleno Cantanhez, relembrando o meu companheiro, o meu avô materno, que dizia, quando o almoço se atrasava: "Doze horas é meio dia, / Quem não almoça enfraquece! / Já a água não me mata a sede, / Já o meu amor não me esquece!"
(*) Ultimo poste da série > 13 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17130: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVII Parte: Cap IX - Guerra 2: Em pleno Cantanhez, relembrando o meu companheiro, o meu avô materno, que dizia, quando o almoço se atrasava: "Doze horas é meio dia, / Quem não almoça enfraquece! / Já a água não me mata a sede, / Já o meu amor não me esquece!"
Marcadores:
Bibliografia de uma guerra,
Cantumane,
Carlos Alberto da Costa Campos (cor inf),
CCAÇ 763,
Dakota,
FAP,
Maria Ivone Reis,
Mário Fitas,
mortos,
Op Retorno,
T-6
Guiné 61/74 - P17168: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (41): Pedido de ajuda para tese de doutoramento sobre "o papel dos negros que combateram nas tropas especiais" (Sofia da Palma Rodrigues)
1. Mensagem da nossa leitora Sofia Rodrigues, doutorando pela Universidade de Coimbra:
Data: 4 de março de 2017 às 11:47
Assunto: Ajuda para tese de doutoramento
Caro Luís Graça,
Estou neste momento a começar a pesquisa para o meu trabalho de doutoramento. A minha tese analisará o papel dos negros que combateram nas Tropas Especiais portuguesas na Guiné-Bissau.
Estarei de partida, por um ano, para a Guiné em Outubro. Antes, gostaria de fazer uma recolha o mais exaustivas possível da bibliografia e documentação existente.
Queria pedir-lhe se me pode ajudar com referências bibliográficas de que se recorde, escritas sobre este tema. Conheço o seu blogue e já lá encontrei algumas preciosidades. Mas nunca é demais perguntar.
Muito obrigada e fico a aguardar uma resposta da sua parte.
Sofia da Palma Rodrigues
www.sofiadapalmarodrigues.wordpress.com
Telef +351 96 862 08 10
2. Comentário de LG:
Sofia, obrigado pelo seu contacto. Vou estar fora do país até ao princípio de abril próximo, mas não quis deixar de publicar a sua mensagem, na esperança de que alguns dos meus/nossos camaradas, que lidaram com soldados guineenses, a possam ajudar, com bibliografia e sobretudo com documentação, escrita ou oral.
A Sofia vai ter que esclarecer, com mais precisão, o que entende "por tropas especiais portuguesas": refere-se apenas aos paraquedistas, fuzileiros e comandos ? Se sim, ficam de fora, as milícias, os pelotões de caçadores nativos, as companhias de caçadores formadas por soldados do recrutamento local (como era a minha, a CCAÇ 12 e outras que formavam a "nova força africana"...), os pelotões de artilharia, etc. Fica de fora o "grupo especial" do Marcelino da Mata, ficam de fora muitos milhares de guineenses que colaboraram com as nossas tropas durante a guerra coloniial na antiga Guíné portuguesa...
Por outro lado, convém termos critérios claros de inclusão / exclusivão em relação aos "negros" que estavam nas nossas fileiras: são só guineenses ? são também os cabo-verdianos ? são também alguns guineenses de origem sírio-libanesa ?
Deixo aqui os seus contactos, que podem ser úteis para receber eventualmente respostas ao seu pedido. Mande um email ao nosso coeditor Carlos Vinhal a esclarecer a questão de lhe pus... Pode igualmente deixar aqui a sua resposta na caixa de comentários.
Também era bom podermos saber um pouco mais sobre si, a sua motivação para estudar este tema, a universidade por onde vai fazer o doutoramento, os seus orientadores e equipa tutorial, os contactos que eventualmente precisa na Guiné-Bissau, etc. Se não erro, vive em Lisboa, está ligada ao Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e tem-se interessado por questões como cidadania global e pós-colonialismo nos países lusófonos, segundo informação da sua página no Facebook. Além disso, pelo que pesquisámos na Net, a Sofia adora histórias/estórias e tem uma paixão pela Guiné e as suas gentes,
Vamos, concerteza, poder ajudá-la, para além da informação e conhecimento que já adquiriu da leitura do nosso blogue, como de resto temos ajudado outros investigadores, nacionais e estrangeiros. Esteja à vontade para nos contactar. Boa sorte para o seu projeto académico.
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17045: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (40): O jornalismo e a guerra colonial: contactos precisam-se de pessoas (civis ou militares) que tenham trabalhado na imprensa da Guiné portuguesa: O Arauro, Notícias da Guiné, Voz da Guiné... (Sílvia Torres, ex-oficial da FAP, doutoranda)
Data: 4 de março de 2017 às 11:47
Assunto: Ajuda para tese de doutoramento
Caro Luís Graça,
Estou neste momento a começar a pesquisa para o meu trabalho de doutoramento. A minha tese analisará o papel dos negros que combateram nas Tropas Especiais portuguesas na Guiné-Bissau.
Estarei de partida, por um ano, para a Guiné em Outubro. Antes, gostaria de fazer uma recolha o mais exaustivas possível da bibliografia e documentação existente.
Queria pedir-lhe se me pode ajudar com referências bibliográficas de que se recorde, escritas sobre este tema. Conheço o seu blogue e já lá encontrei algumas preciosidades. Mas nunca é demais perguntar.
Muito obrigada e fico a aguardar uma resposta da sua parte.
Sofia da Palma Rodrigues
www.sofiadapalmarodrigues.wordpress.com
Telef +351 96 862 08 10
Luís Graça |
Sofia, obrigado pelo seu contacto. Vou estar fora do país até ao princípio de abril próximo, mas não quis deixar de publicar a sua mensagem, na esperança de que alguns dos meus/nossos camaradas, que lidaram com soldados guineenses, a possam ajudar, com bibliografia e sobretudo com documentação, escrita ou oral.
A Sofia vai ter que esclarecer, com mais precisão, o que entende "por tropas especiais portuguesas": refere-se apenas aos paraquedistas, fuzileiros e comandos ? Se sim, ficam de fora, as milícias, os pelotões de caçadores nativos, as companhias de caçadores formadas por soldados do recrutamento local (como era a minha, a CCAÇ 12 e outras que formavam a "nova força africana"...), os pelotões de artilharia, etc. Fica de fora o "grupo especial" do Marcelino da Mata, ficam de fora muitos milhares de guineenses que colaboraram com as nossas tropas durante a guerra coloniial na antiga Guíné portuguesa...
Por outro lado, convém termos critérios claros de inclusão / exclusivão em relação aos "negros" que estavam nas nossas fileiras: são só guineenses ? são também os cabo-verdianos ? são também alguns guineenses de origem sírio-libanesa ?
Deixo aqui os seus contactos, que podem ser úteis para receber eventualmente respostas ao seu pedido. Mande um email ao nosso coeditor Carlos Vinhal a esclarecer a questão de lhe pus... Pode igualmente deixar aqui a sua resposta na caixa de comentários.
Também era bom podermos saber um pouco mais sobre si, a sua motivação para estudar este tema, a universidade por onde vai fazer o doutoramento, os seus orientadores e equipa tutorial, os contactos que eventualmente precisa na Guiné-Bissau, etc. Se não erro, vive em Lisboa, está ligada ao Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e tem-se interessado por questões como cidadania global e pós-colonialismo nos países lusófonos, segundo informação da sua página no Facebook. Além disso, pelo que pesquisámos na Net, a Sofia adora histórias/estórias e tem uma paixão pela Guiné e as suas gentes,
Vamos, concerteza, poder ajudá-la, para além da informação e conhecimento que já adquiriu da leitura do nosso blogue, como de resto temos ajudado outros investigadores, nacionais e estrangeiros. Esteja à vontade para nos contactar. Boa sorte para o seu projeto académico.
_____________
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17045: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (40): O jornalismo e a guerra colonial: contactos precisam-se de pessoas (civis ou militares) que tenham trabalhado na imprensa da Guiné portuguesa: O Arauro, Notícias da Guiné, Voz da Guiné... (Sílvia Torres, ex-oficial da FAP, doutoranda)
Guiné 61/74 - P17167: Parabéns a você (1225): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1972/74)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 17 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17149: Parabéns a você (1224): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 17 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17149: Parabéns a você (1224): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)
terça-feira, 21 de março de 2017
Guiné 61/74 - P17166: In memoriam (280): Manuel Fernandes Oliveira, ex-sold aux coz, CART 2716 / BART 2917 (Xitole, 1970/72): o funeral é amanhã,. 22 de março, 16h30,. em Serzedelo, Vila Nova de Famalicão
1. Mensagem de Benjamim Durães, ex-fur mil op esp, CCS/ BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com data de hoje, às 17h24:
Boas Tardes,
Acabo de receber a triste notícia de mais um nosso camarada, o Manuel Fernandes Oliveira, ex-Soldado Auxiliar de Cozinheiro, que faleceu ontem, dia 20 de março, e vai ser sepultado amanhã, dia 22, em Serzedelo, Vila Nova de Famalicão. O Oliveira era de 1948.
Paz à sua alma.
Um abraço de pesar para a família e para os ex-camaradas da CART 2716, Xitole, 1970/72, que pertenciam ao meu batalhão, o BART 2917.
Benjamim Durães
___________________
Nota do editor:
Último poste da série > 13 de março de 2017 >Guiné 61/74 - P17134: In Memoriam (279): Inácio José Carola Figueira (1950-2017), ex-Fur Mil Art da CART 34njam94/BART 3873 (Xime e Mansambo, 1972/74) (Jorge Araújo)
Guiné 61/74 - P17165: Convívios (788): XX Encontro do pessoal da CCAÇ 4150 - "Os Apaches do Norte", dia 14 de Maio de 2017, na Senhora da Aparecida, Lousada (Albano Costa)
Em mensagem do dia 14 de Março de 2017, o nosso camarada Albano Costa (ex-1.º Cabo da CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74), pede-nos a divulgação do XX Encontro dos "Apaches do Norte", a levar a efeito no próximo dia 14 de Maio, em Lousada.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 19 de Março de 2017 > Guiné 61/74 - P17156: Convívios (787): XIX Encontro do pessoal da CCAV 2748, dia 3 de Junho de 2017, em Almeirim (Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto Rodas)
Guiné 61/74 - P17164: Manuscrito(s) (Luís Graça) (114): No Dia Mundial da Poesia... Quem não faz 69, não chega aos 100!
1. Os portugueses (e as portuguesas) não gostam de fazer 69...Dizem: "Ah!, faço 68 + 1"...
Confesso que não sei por que é que eles (e elas), os portugueses (e as portuguesas) não gostam de fazer 69!...
Não conheço ninguém que chegue aos 100, sem fazer 69!...
Hoje, 21 de março de 2017, Dia Mundial da Poesia, lembrei-me de um soneto que fiz ainda há umas semanas atrás, em homenagem a um amigo, camarada e parente que fazia justamente 69,.,. Não o vou identificar, por razões óbvias, não sendo ele nosso grã-tabanqueiro, nem me tendo dado autorização para isso. Mas faço questão, até como apreço e homenagem a todos os que fazem 69, este mês, de reproduzir aqui o "manuscrito" que lhe fiz e li, em voz alta, num almoço de uma tertúlia a que ele pertence (e eu também, por afinidade...), e onde nos juntámos para comer um delicioso arroz de lampreia,
O soneto era antecedido por uma extensa dedicatória:(que o leitor do blogue pode passar por cima).
Parabéns, Rogério, quem não faz 69, não chega aos… 100!
Um soneto natalício,
uma brincadeira poética,
uma singela homenagem a ti,
que és a ave canora
da tertúlia dos caminheiros
da Quinta das Conchas…
Tu não quiseste dizer nada a ninguém,
mas no sábado fizeste 69…
Este é o pretexto para a gente te cantar os parabéns,
com amor e humor…
Além do mais,
tu és meu primo, conterrâneo, amigo e camarada…
É também,
juntamente com outros caminheiros e amigos oeste-estremenhos,
membro da nossa tertúlia da Praia da Areia Branca.
Contigo partilha um bom pedaço do ADN dos Maçaricos,
incluindo uns comuns tetravôs,
nados e criados em Ribamar da Lourinhã,
e que conheceram o terror das invasões napoleónicas, em 1807…
Sabemos que fá foste quase tudo na vida,
filho de pescador e de poeta,
tu próprio pescador na juventude, antes da tropa,
exímio tocador e competente professor de viola,
baladeiro,
cantautor
Tens o mar no teu ADN,
és um lídimo representante da tribo dos Maçaricos
de Ribamar da Lourinhã,
gente que andou desde Quinhentos
a abrir a autoestrada da globalização
sem cobrar portagem…
Como Pedro, foste escolhido pelo Senhor
para ser seu representante na Terra,
mas não passaste nos testes…
Em contrapartida, foste engenheiro agrónomo,
com diploma passado pelo ISA,
competências que puseste ao serviço da banca nacionalizada, nossa…
Foste banqueiro do povo
sem nunca teres posto a mão na massa (leia-se: no cofre),
razão por que, no fim da carreira,
nunca poderias ter apanhado a comenda
da república de Belém.
Não és comendador,
com muito orgulho,
mas és casado com a Leonor.
com muitas bênçãos de amor…
Dizem que te enamoraste dela
quando ela, ainda adolelescente, ia para a fonte dos amores,
descalça, formosa, mas pouco segura,
com o cântaro à cabeça….
Não consta que tu, nosso trovador ,
tal como o Camões,
tenhas sido acusado de pedofilia…
Para já tens a sorte,
quando chegares aos 100 anos,
de ter uma babá, só para ti,
a teu lado…
Foste soldado contra a tua própria guerra,
fizeste a guerra em Angola,
e no peito ostentas com orgulho,
não uma cruz de guerra do 10 de junho,
mas um porrada que te deu um general,
por, sendo tu oficial miliciano,
estares a acamaradar com o Zé Soldado…
Parabéns, Rogério,
por teres chegado até aqui,
ao km 69
da tua autoestrada da vida!
Obrigados, dizemos todos nós,
por seres nosso caminheiro,
por caminhares ao nosso lado,
obrigados pelo privilégio da tua companhia e amizade
e pelos momentos de canto e encanto
que já nos proporcionaste,
e vais por certo continuar a proporcionar…
E eu acrescento:
“Força, parente,
que até aos 100
é sempre em frente!”...
Ontem como hoje,
cuidado apenas com as minas e armadilhas,
não só as dos inimigos mas também as dos amigos…
Como diz o povo,
“Que Deus me proteja dos meus inimigos,
que dos amigos cuido eu”…
E agora vamos lá ao soneto,
que é uma paródia a um dos mais belos e lancinantes poemas da língua portuguesa,
escrito pelo Elmano Sadino,
mais conhecido por Bocage,
e que morreu há 211 anos…
Pelas minhas contas, ele nunca fez 69,
morreu aos 40 anos, em 1805.
Só uma nota de circunstância:
constou-nos que tinhas posto a viola no saco…
Os teus amigos ficaram, naturalmente, alarmados…
Vejo agora, com regozijo,
que a notícia foi um bocado exagerada…
Já Rogério não sou, o baladeiro…
Já Rogério não sou, o baladeiro,
Minha voz emudeceu, aos sessenta
E oito mais um, pró ano setenta,
E até me esqueci que sou… engenheiro!
Confuso, pus no saco a viola,
E, no prego, as minhas partituras;
Mas, pior que nos dedos as tremuras,
São as brancas que me lixam… a tola!
Que raio – grito ! – foi este aniversário,
Que até a vela apaguei à socapa,
Com medo de voltar ao infantário ?!
“Come a papa, Rogério, come a papa”!,
Essa… guardem-na pró meu centenário,
Se não ‘tiver' choné, tirem-me… uma chapa!
Luís Graça
Tertúlia dos caminheiros da Quinta das Conchas,
Almoço de lampreia, "Tasca do João", Lumiae, Lisboa, 21/2/2017
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 12 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17128: Manuscrito(s) (Luís Graça) (113): Não há mortes grátis!
Confesso que não sei por que é que eles (e elas), os portugueses (e as portuguesas) não gostam de fazer 69!...
Não conheço ninguém que chegue aos 100, sem fazer 69!...
Hoje, 21 de março de 2017, Dia Mundial da Poesia, lembrei-me de um soneto que fiz ainda há umas semanas atrás, em homenagem a um amigo, camarada e parente que fazia justamente 69,.,. Não o vou identificar, por razões óbvias, não sendo ele nosso grã-tabanqueiro, nem me tendo dado autorização para isso. Mas faço questão, até como apreço e homenagem a todos os que fazem 69, este mês, de reproduzir aqui o "manuscrito" que lhe fiz e li, em voz alta, num almoço de uma tertúlia a que ele pertence (e eu também, por afinidade...), e onde nos juntámos para comer um delicioso arroz de lampreia,
O soneto era antecedido por uma extensa dedicatória:(que o leitor do blogue pode passar por cima).
Parabéns, Rogério, quem não faz 69, não chega aos… 100!
Um soneto natalício,
uma brincadeira poética,
uma singela homenagem a ti,
que és a ave canora
da tertúlia dos caminheiros
da Quinta das Conchas…
Tu não quiseste dizer nada a ninguém,
mas no sábado fizeste 69…
Este é o pretexto para a gente te cantar os parabéns,
com amor e humor…
Além do mais,
tu és meu primo, conterrâneo, amigo e camarada…
É também,
juntamente com outros caminheiros e amigos oeste-estremenhos,
membro da nossa tertúlia da Praia da Areia Branca.
Contigo partilha um bom pedaço do ADN dos Maçaricos,
incluindo uns comuns tetravôs,
nados e criados em Ribamar da Lourinhã,
e que conheceram o terror das invasões napoleónicas, em 1807…
Sabemos que fá foste quase tudo na vida,
filho de pescador e de poeta,
tu próprio pescador na juventude, antes da tropa,
exímio tocador e competente professor de viola,
baladeiro,
cantautor
Tens o mar no teu ADN,
és um lídimo representante da tribo dos Maçaricos
de Ribamar da Lourinhã,
gente que andou desde Quinhentos
a abrir a autoestrada da globalização
sem cobrar portagem…
Como Pedro, foste escolhido pelo Senhor
para ser seu representante na Terra,
mas não passaste nos testes…
Em contrapartida, foste engenheiro agrónomo,
com diploma passado pelo ISA,
competências que puseste ao serviço da banca nacionalizada, nossa…
Foste banqueiro do povo
sem nunca teres posto a mão na massa (leia-se: no cofre),
razão por que, no fim da carreira,
nunca poderias ter apanhado a comenda
da república de Belém.
Não és comendador,
com muito orgulho,
mas és casado com a Leonor.
com muitas bênçãos de amor…
Dizem que te enamoraste dela
quando ela, ainda adolelescente, ia para a fonte dos amores,
descalça, formosa, mas pouco segura,
com o cântaro à cabeça….
Não consta que tu, nosso trovador ,
tal como o Camões,
tenhas sido acusado de pedofilia…
Para já tens a sorte,
quando chegares aos 100 anos,
de ter uma babá, só para ti,
a teu lado…
Foste soldado contra a tua própria guerra,
fizeste a guerra em Angola,
e no peito ostentas com orgulho,
não uma cruz de guerra do 10 de junho,
mas um porrada que te deu um general,
por, sendo tu oficial miliciano,
estares a acamaradar com o Zé Soldado…
Parabéns, Rogério,
por teres chegado até aqui,
ao km 69
da tua autoestrada da vida!
Obrigados, dizemos todos nós,
por seres nosso caminheiro,
por caminhares ao nosso lado,
obrigados pelo privilégio da tua companhia e amizade
e pelos momentos de canto e encanto
que já nos proporcionaste,
e vais por certo continuar a proporcionar…
E eu acrescento:
“Força, parente,
que até aos 100
é sempre em frente!”...
Ontem como hoje,
cuidado apenas com as minas e armadilhas,
não só as dos inimigos mas também as dos amigos…
Como diz o povo,
“Que Deus me proteja dos meus inimigos,
que dos amigos cuido eu”…
E agora vamos lá ao soneto,
que é uma paródia a um dos mais belos e lancinantes poemas da língua portuguesa,
escrito pelo Elmano Sadino,
mais conhecido por Bocage,
e que morreu há 211 anos…
Pelas minhas contas, ele nunca fez 69,
morreu aos 40 anos, em 1805.
Só uma nota de circunstância:
constou-nos que tinhas posto a viola no saco…
Os teus amigos ficaram, naturalmente, alarmados…
Vejo agora, com regozijo,
que a notícia foi um bocado exagerada…
Já Rogério não sou, o baladeiro…
Já Rogério não sou, o baladeiro,
Minha voz emudeceu, aos sessenta
E oito mais um, pró ano setenta,
E até me esqueci que sou… engenheiro!
Confuso, pus no saco a viola,
E, no prego, as minhas partituras;
Mas, pior que nos dedos as tremuras,
São as brancas que me lixam… a tola!
Que raio – grito ! – foi este aniversário,
Que até a vela apaguei à socapa,
Com medo de voltar ao infantário ?!
“Come a papa, Rogério, come a papa”!,
Essa… guardem-na pró meu centenário,
Se não ‘tiver' choné, tirem-me… uma chapa!
Luís Graça
Tertúlia dos caminheiros da Quinta das Conchas,
Almoço de lampreia, "Tasca do João", Lumiae, Lisboa, 21/2/2017
________________
Nota do editor:
Último poste da série > 12 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17128: Manuscrito(s) (Luís Graça) (113): Não há mortes grátis!
Guiné 61/74 - P17163: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte V: Caraíbas: Granada e Aruba... Já ouviram falar ?
Parte V (pp. 14-17)
Texto, fotos e legendas: © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 175 referências.
É casado com a médica chinesa Hai Yuan e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.
Partida do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016. Duas semanas depois o navio Costa está nas Caraíbas. Grenada (im inglês e francês), Granada em português, tem pouco mais de 100 mil habitantes e é metade da ilha da Madeira... Aruba ainda é mais pequena, mas tem um PIB "per capita" 3 vezes superior ao dos granadinos, graças às "contas do pitróleo"... As fotos de Aruba têm a data de 16/9/2016. Antes de entrar no canal do Panamá e depois no Oceano Pacífico, ainda há uma paragem em Cartagena de las Indias.
___________
Nota do editor:
Subscrever:
Mensagens (Atom)