Confesso que não sei por que é que eles (e elas), os portugueses (e as portuguesas) não gostam de fazer 69!...
Não conheço ninguém que chegue aos 100, sem fazer 69!...
Hoje, 21 de março de 2017, Dia Mundial da Poesia, lembrei-me de um soneto que fiz ainda há umas semanas atrás, em homenagem a um amigo, camarada e parente que fazia justamente 69,.,. Não o vou identificar, por razões óbvias, não sendo ele nosso grã-tabanqueiro, nem me tendo dado autorização para isso. Mas faço questão, até como apreço e homenagem a todos os que fazem 69, este mês, de reproduzir aqui o "manuscrito" que lhe fiz e li, em voz alta, num almoço de uma tertúlia a que ele pertence (e eu também, por afinidade...), e onde nos juntámos para comer um delicioso arroz de lampreia,
O soneto era antecedido por uma extensa dedicatória:(que o leitor do blogue pode passar por cima).
Parabéns, Rogério, quem não faz 69, não chega aos… 100!
Um soneto natalício,
uma brincadeira poética,
uma singela homenagem a ti,
que és a ave canora
da tertúlia dos caminheiros
da Quinta das Conchas…
Tu não quiseste dizer nada a ninguém,
mas no sábado fizeste 69…
Este é o pretexto para a gente te cantar os parabéns,
com amor e humor…
Além do mais,
tu és meu primo, conterrâneo, amigo e camarada…
É também,
juntamente com outros caminheiros e amigos oeste-estremenhos,
membro da nossa tertúlia da Praia da Areia Branca.
Contigo partilha um bom pedaço do ADN dos Maçaricos,
incluindo uns comuns tetravôs,
nados e criados em Ribamar da Lourinhã,
e que conheceram o terror das invasões napoleónicas, em 1807…
Sabemos que fá foste quase tudo na vida,
filho de pescador e de poeta,
tu próprio pescador na juventude, antes da tropa,
exímio tocador e competente professor de viola,
baladeiro,
cantautor
Tens o mar no teu ADN,
és um lídimo representante da tribo dos Maçaricos
de Ribamar da Lourinhã,
gente que andou desde Quinhentos
a abrir a autoestrada da globalização
sem cobrar portagem…
Como Pedro, foste escolhido pelo Senhor
para ser seu representante na Terra,
mas não passaste nos testes…
Em contrapartida, foste engenheiro agrónomo,
com diploma passado pelo ISA,
competências que puseste ao serviço da banca nacionalizada, nossa…
Foste banqueiro do povo
sem nunca teres posto a mão na massa (leia-se: no cofre),
razão por que, no fim da carreira,
nunca poderias ter apanhado a comenda
da república de Belém.
Não és comendador,
com muito orgulho,
mas és casado com a Leonor.
com muitas bênçãos de amor…
Dizem que te enamoraste dela
quando ela, ainda adolelescente, ia para a fonte dos amores,
descalça, formosa, mas pouco segura,
com o cântaro à cabeça….
Não consta que tu, nosso trovador ,
tal como o Camões,
tenhas sido acusado de pedofilia…
Para já tens a sorte,
quando chegares aos 100 anos,
de ter uma babá, só para ti,
a teu lado…
Foste soldado contra a tua própria guerra,
fizeste a guerra em Angola,
e no peito ostentas com orgulho,
não uma cruz de guerra do 10 de junho,
mas um porrada que te deu um general,
por, sendo tu oficial miliciano,
estares a acamaradar com o Zé Soldado…
Parabéns, Rogério,
por teres chegado até aqui,
ao km 69
da tua autoestrada da vida!
Obrigados, dizemos todos nós,
por seres nosso caminheiro,
por caminhares ao nosso lado,
obrigados pelo privilégio da tua companhia e amizade
e pelos momentos de canto e encanto
que já nos proporcionaste,
e vais por certo continuar a proporcionar…
E eu acrescento:
“Força, parente,
que até aos 100
é sempre em frente!”...
Ontem como hoje,
cuidado apenas com as minas e armadilhas,
não só as dos inimigos mas também as dos amigos…
Como diz o povo,
“Que Deus me proteja dos meus inimigos,
que dos amigos cuido eu”…
E agora vamos lá ao soneto,
que é uma paródia a um dos mais belos e lancinantes poemas da língua portuguesa,
escrito pelo Elmano Sadino,
mais conhecido por Bocage,
e que morreu há 211 anos…
Pelas minhas contas, ele nunca fez 69,
morreu aos 40 anos, em 1805.
Só uma nota de circunstância:
constou-nos que tinhas posto a viola no saco…
Os teus amigos ficaram, naturalmente, alarmados…
Vejo agora, com regozijo,
que a notícia foi um bocado exagerada…
Já Rogério não sou, o baladeiro…
Já Rogério não sou, o baladeiro,
Minha voz emudeceu, aos sessenta
E oito mais um, pró ano setenta,
E até me esqueci que sou… engenheiro!
Confuso, pus no saco a viola,
E, no prego, as minhas partituras;
Mas, pior que nos dedos as tremuras,
São as brancas que me lixam… a tola!
Que raio – grito ! – foi este aniversário,
Que até a vela apaguei à socapa,
Com medo de voltar ao infantário ?!
“Come a papa, Rogério, come a papa”!,
Essa… guardem-na pró meu centenário,
Se não ‘tiver' choné, tirem-me… uma chapa!
Luís Graça
Tertúlia dos caminheiros da Quinta das Conchas,
Almoço de lampreia, "Tasca do João", Lumiae, Lisboa, 21/2/2017
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Nota do editor:
Último poste da série > 12 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17128: Manuscrito(s) (Luís Graça) (113): Não há mortes grátis!
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