segunda-feira, 15 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17360: (De) caras (64): Quando o Papa era outro, italiano, e se chamava Paulo VI... Em 1/7/1970 recebia, no Vaticano, 3 católicos africanos, Agostinho Neto, Amílcar Cabral e Marcelino dos Santos que, por acaso, eram dirigentes do MPLA, PAIGC e FRELIMO, respetivamente... Este acontecimento provocou na altura uma grave crise diplomática entre a Santa Sé e o Portugal de Marcelo Caetano (Recortes do "Diário de Lisboa", de 5/7/1970)

















 Recorte do Diário de Lisboa, nº  17075 Ano: 50  domingo, 5 de julho  de 1970, 1ª edição  (Director: Ruella Ramos)
Fonte; Portal Casa Comum / Fundação Mário Soares >  Pasta: 06615.153.24906 >  Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos

Fonte; (1970), "Diário de Lisboa", nº 17075, Ano 50, Domingo, 5 de Julho de 1970, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_6990 (2017-5-11)


1. No dia 1 de julho de 1970, um dia de semana, quarta-feira, o então Papa Paulo VI  recebeu Agostinho Neto, Marcelino dos Santos e Amílcar Cabral, na qualidade de dirigentes do MPLA, FRELIMO e PAIGC, respetivamente, reunidos em Roma por ocasião  da "Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas". 

No final da audiência, o Papa deu a cada um deles uma cópia em português da carta encíclica "Populorum Progressio" (1968) [Do esenvolvimento dos Povos], documento  que continha o pensamento da Igreja sobre a descolonização, a autodeterminação e o desenvolvimento dos povos.

Este acontecimento foi um série revés para a diplomacia portuguesa, embora a Santa Sé tenha procurado depois minizar o significado político da audiência, face aos protestos diplomáticos de Portugal, alegando que os três dirigentes nacionalistas africanos teriam sido recebidos, a título privado e na sua qualidade de católicos... 

O acontecimento desencadeou, na altura, uma crise nas relações entre o Governo português e o Vaticano. Anos mais tarde, a Rádio Vaticano vem falar de uma "histórica audiência" que tem que ser vista à luz do Concílio Vaticano II (concluído em 1965) e da Encíclica “Populorum Progressio”, publicada em 1967…

Submetidos à censura, os jornais portugueses da época, tais como o  "Diário de Lisboa" ou o "Diário de Notícias" (**), só deram a notícia quatro dias depois.

A Rádio Vaticano recordaria, em 2012,  34 anos depois da morte de Paulo VI, as palavras do cardeal Achile Silvestrini, que em 1970 colaborava com o então Secretário de Estado, o cardeal Agostinho Casaroli, e que, nessa qualidade, acompanhou de perto o processo que levou ao referido encontro do Papa com os três líderes africanos de língua portuguesa. Essas palavras foram proferidas num congresso sobre a figura e obra de Amílcar Cabral, realizado em Roma, na Rádio Vaticano, em 31/12/1999. Nele participaram, além do Cardeal Achile Silvestrini, outras personalides, "nomeadamente, Luís Cabral, primeiro Presidente da Guiné-Bissau independente e irmão do herói guineense" (sic)...  (O PAIGC, muito em particular, sempre teve na Itália fortes grupos de apoio à sua luta, incluindo comunidades e personalidades da Igreja Católica).

Achile Silvestrini ajuda-nos a perceber melhor o contexto em que se realizou o encontro do Papa com os 3 dirigentes nacionalitas lusófonos  (***):

"Tinha terminado não há muito o Concílio Vaticano e esta Encíclica veio como uma espécie de grande mensagem do interesse e do apoio da Igreja à promoção de todos os povos da África, da Ásia, e também da América Latina, que de algum modo estavam em condições de sujeição: ou de colonialismo, ou de subdesenvolvimento, ou de uma coisa e outra. Uma grande Encíclica que ainda hoje se lê com enorme admiração, porque foi um passo enorme. 

"Na minha experiência, que tive, se tivesse que dizer quais são os dois grandes acontecimentos da vida da Igreja nos últimos 50 anos, diria sem dúvida: o Concílio Vaticano II (sobre o qual estamos todos de acordo), mas o outro acontecimento paralelo é a descolonização.”

O Papa Paulo VI, o primeiro a vir a Portugal, em 1967, no 50º aniversário das aparições de Fátima,  não era das simpatias de Salazar, nomeadamente desde a sua visita a Bombaím, em 1963. Recorde-que em em finais de 1961 forças da União Indiana tinham invadido e ocupado os territórios de Goa, Damão e Diu.  A visita de Paulo VI a um congresso eucarístico a Bombaím foi vista pelo regime de Salazar, e o próprio Salazar, como uma grave ofensa a Portugal e ao catolicismo português. (****)

Para Amílcar Cabral, este terá sido um dos seus momentos de glória. Numa carta para Carmen Pereira, datada de Conacri, 13 de julho de 1970, comenta os sucessos da diplomacia do PAIGC nestes termos: "No plano internacional, acabamos de ter uma grande vitória contra o inimigo, com a conferência de Roma e com a entrevista com o Papa".
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P17359: Notas de leitura (956): “Portugal e as Guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,

A façanha de Al Venter deverá ser tida em conta: na atividade correspondente de guerra, cobriu as três frentes de batalha, andou mais de uma década em helicópteros, em operações, entrevistando os protagonistas. Coligiu em forma de livro todas essas notas pessoais e não esconde a sua perspetiva jornalística. Dirá, perto do final das suas quinhentas páginas, que Portugal, ao transferir para Ultramar o peso predominante do fornecimento de mão-de-obra, ganhou em quatro frentes: alargou a fonte de mão-de-obra militar; reduziu o custo das tropas em campo; ganhou uma grande medida de sustentabilidade; manteve o conflito dominado e em baixo ritmo. Este aspeto admirável como balanço de guerra não implica, como leremos neste primeiro texto, que o descontentamento atingia por tabela oficiais do quadro permanente e milicianos.

Os apêndices do livro são muitos importantes.

Um abraço do
Mário



Portugal e as Guerrilhas de África (1), por Al J. Venter

Beja Santos

“Portugal e as guerrilhas de África”, por Al J. Venter, Clube do Leitor, 2015, prefácio de John P. Cann, é uma detalhada viagem – reportagem de um jornalista que pisou as frentes da Guiné, Angola e Moçambique. O seu primeiro relato, intitulado "The Terror Fighters (1969)", respeita a Angola. A obra seguinte, já circunstanciadamente referida no blogue bem como no livro “Da Guiné Portuguesa à Guiné Bissau: Um Roteiro”, de que sou coautor intitulou-se "Portugal’s War in Guinea-Bissau". Para o prefaciador, “Al Venter combina descrições vividas dos combates, as vidas quotidianas dos soldados em combate e a perspetiva mais alargada da campanha através de uma série de entrevistas e observações como repórter de guerra experimentado”. E conclui: “Embora não tenha sido derrotado no campo de batalha, Portugal acabou por reconhecer em 1974 a futilidade da luta. A sua descolonização realizou-se a um ritmo rápido e mal ponderado, não tendo levado a paz a qualquer das suas antigas colónias. Ninguém ficou feliz com o resultado e, nas décadas seguintes, a África Lusófona tornou-se um campo de batalha permanente para interesse locais e internacionais”.

Estamos em Angola, eclodem as sublevações em 1961, Al Venter esboça o plano de fundo da descolonização no continente. Embora, em termos propagandísticos, o regime dissesse que estava orgulhosamente só, militarmente não estava, como o autor observa: 

“Apesar dos seus problemas, Portugal teve apoio material, embora discreto, da maior parte da Europa, dos seus aliados na NATO. Outros países pró-ocidentais, como Marrocos, e um ou dois Estados do Médio-Oriente – incluindo a anticomunista Arábia Saudita – forneceram a Lisboa medidas de assistência secretas. Quase todas as armas e aeronaves deslocadas para as três províncias ultramarinas tinham a marca da Organização do Tratado Atlântico Norte e, apesar da NATO não ter tido uma participação ativa nas guerras coloniais portuguesas, não era segredo que muitos especialistas americanos e europeus colaboraram nas várias áreas operacionais. Washington centrava-se no material bélico que era fornecido pelos Estados comunistas, em particular em algumas das armas utilizadas contra as forças americanas no Vietname”.

De 16 a 18 de Fevereiro de 1973, Al Venter está em Tete, em Moçambique, descreve ao pormenor a coluna, as minas, o calor opressivo. Depois salta para Angola, em 1968 está na região dos Dembos, de repente, num encarte de fotografias a cores vejo o Virgínio Briote no seu bilhete de identidade, como coleção do autor, mais adiante, encontrarei outra fotografia do nosso blogue, aquela iconográfica marcha na bolanha com água até à cintura, também como fotografia do autor, acho isto muito estranho mas adiante, os lesados que se manifestem. 

Viaja entre Nambuangongo e Zala, entrevista um capitão de nome Alçada, apercebe-se que os oficiais do quadro permanente mostram-se reticentes sobre o desfecho da guerra. Dá-nos um histórico do MPLA, da FNLA e da UNITA. E parte para Cabinda, o enclave rico em petróleo. Há já alguns anos que a atividade rebelde não se fazia sentir perto da cidade, mas o enclave enfrentava os países hostis da República de Democrática do Congo Brazzaville, a luta de guerrilha era uma constante. Um oficial superior ironizou acerca de Cabinda: “É uma cidade em crescimento, tudo porque os americanos descobriram petróleo”.

Como esta extensa reportagem saltita de questão em questão, de palco de guerra em palco de guerra, Al Venter procura responder: porque é que Portugal perdeu as guerras em África? Interpretando os factos, observa que as elites tinham sabido inicialmente de se envolver uma excelente doutrina. E comenta: 

“Em mais do que uma ocasião ouvi oficias sul-africanos que estiveram em contacto com as forças portuguesas discutir a excelente teoria e com alguns planos operacionais, muito bem elaborados falharam por o trabalho no terreno ser tão fraco… À medida que a guerra progredia, um número cada vez mais elevado de jovens deixava de responder à causa. Tal como crescia em Portugal a oposição às guerras, também aumentava o número dos que não se apresentavam ao serviço militar. Estima-se que cerca de 110 mil portugueses não tenham cumprido o serviço militar entre 1961 e 1974. No último recrutamento, antes do golpe de Estado de Abril de 1974, apresentaram menos de metade dos que foram convocados. Em consequência, à medida que crescia a organização da defesa, as universidades foram chamadas a fornecer um número muito maior de oficiais subalternos necessários para combater”. E conclui: “Foi um final verdadeiramente ignominioso de uma tradição colonial de cinco séculos, magnífica embora imperfeita mas, pensando bem, quatro décadas depois, não havia alternativa”.

Entramos agora na guerra da Guiné. À semelhança do que já escrevera em Portugal’s War in Guinea-Bissau (1973), não esconde a profunda admiração pelo capitão João Bacar Djaló, oficial dos comandos africanos. Andará com esse herói de guerra na região de Tite, numa patrulha. Uma semana depois de ter deixado Tite, o capitão João Bacar Djaló foi morto. Durante uma emboscada, no Sul da Guiné, houve um acidente gravíssimo com minas antipessoais. João Bacar não foi atingido pelas minas mas por uma granada sua que se soltou da mão. Terá sido o seu último ato de heroísmo, ter-se-á apercebido que se afastasse a granada havia a probabilidade de matar os que estavam perto dele, então colocou o engenho junto ao seu corpo.

Para Al Venter, a Guiné foi a única campanha perdida por uma potência colonial em África. Descreve a relação de forças na África Ocidental e os respetivos apoios internacionais. De vez em quando, Al Venter diz coisas incompreensivas, tais como: 

“Inicialmente, o PAIGC era composto por pequenos grupos de intelectuais africanos descontentes, muitos dos quais tinham sido educados nas universidades de Lisboa ou Coimbra” – gostava de saber onde é que ele descobriu que o PAIGC tinha esta composição… 

Aliás, mais à frente dirá que Cabral foi substituído depois do seu assassinato por Vítor Monteiro, que é completamente falso. A substituição de Schulz por Spínola é apresentada como a recuperação de uma guerra que estava à beira do colapso… Mais adiante dirá que Schulz tudo fez para receber mais apoios de Lisboa e que lhe foram negados… E que até tinha formado 18 companhias de milícias. E voltamos ao princípio, à Operação Tridente.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17348: Notas de leitura (955): “Crepúsculo do Colonialismo, A Diplomacia do Estado Novo (1949-1961)”, por Bernardo Futscher Pereira, Publicações Dom Quixote, 2017 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17358: Parabéns a você (1252): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17338: Parabéns a você (1251): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Guiné, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Guiné, 1966/68)

domingo, 14 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17357: Convívios (801): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte II (Jorge Araújo)


(Continuação) (*)








Fotos: ©: Álvaro Carvalho (2017). Todos os direitos reservados [Edição e lendage: Jorge Araújo / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17356: Convívios (800): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Caldas da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte I (Jorge Araújo)

Guiné 61/74 - P17356: Convívios (800): CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67): Calda da Rainha, 29 de abril de 2017 - Parte I (Jorge Araújo)











(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17351: Convívios (799): Encontro do pessoal do BART 3873, que se realiza no próximo dia 3 de Junho de 2017, em Válega - Ovar (Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P17355: In Memoriam (297): Homenagem póstuma a Jorge Teixeira, na Quinta dos Melros, sede da Tabanca dos Melros, ontem, dia 13 de Maio de 2017 (Carlos Vinhal)



HOMENAGEM PÓSTUMA A JORGE PORTOJO
TABANCA DOS MELROS
13 DE MAIO DE 2017

O segundo sábado de cada mês é dedicado ao Convívio da Tabanca dos Melros. O dia de ontem, 13 de Maio de 2017, foi diferente porque o habitual almoço foi antecedido por uma pequena, mas sentida, homenagem ao malogrado camarada Jorge Teixeira (Portojo), Secretário General do "Bando do Café Progresso, das Caldas até às Guiné", recentemente falecido.

A iniciativa partiu de dois camaradas, o Dr. Rui Vieira Coelho e o Luís Bateira, à qual se juntou a "Tabanca dos Melros" e demais camaradas da Guiné que habitualmente frequentam a Quinta dos Melros nestes sábados de saudável convívio.

Do momento ficam estes instantâneos registados pelos camaradas presentes:

Quinta dos Melros, 13 de Maio de 2017 - A primeira intervenção esteve a cargo do Dr. Rui Vieira Coelho

Quinta dos Melros, 13 de Maio de 2017 - A segunda intervenção foi patrocinada pelo Jorge Teixeira, Presidente dos Bandalhos

Quinta dos Melros, 13 de Maio de 2017 - A lápide foi descerrada pelos responsáveis da Tabanca dos Melros e do Bando do Café Progresso, respectivamente Carlos Silva e Jorge Teixeira


Os textos lidos, a lápide que perpetua a memória do Jorge Portojo  (1945-2017)e a bandeira dos Melros


A lápide


Os textos lidos

Os dois mentores da iniciativa: Luís Bateira e Rui Vieira Coelho

OBS: O Dr. Rui Vieira Coelho exibe na lapela o pin (crachá) da Tabanca Grande oferecido momentos antes pelo editor deste Blogue ali presente.


Parte dos presentes durante o almoço


Intervenções do Dr. Rui Vieira Coelho e do Presidente Bandalho, Jorge Teixeira 
Vídeo da autoria de Carlos Silva
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17353: In Memoriam (296): Clara Schwarz (1915-2016), a "mulher grande", foi homenageada pelas Rádios Sol Mansi e Voz de Klelé... As suas cinzas repousam finalmente ao lado do seu filho mais novo Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014) e do seu "cretcheu" Artur Augusto Silva (1912-1983) (Catarina Schwarz, neta)

Guiné 61/74 - P17354: Blogpoesia (510): "Oração à paz"; "Alimento secreto" e "Festa do sol", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Marginal de Leça da Palmeira
Foto: ©: Carlos Vinhal

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Oração à Paz

Chova do paraíso
abundante chuva de harmonia.
Inunde a terra
e nela renasça e reverdeça
a Paz e a alegria.

Reine a concórdia serena
entre os povos.
Porque a Justiça é a rainha
e a força da riqueza
abraça o mundo inteiro.

Sejam respeitadas religiosamente,
todas as leis da Natureza.
As árvores cresçam em liberdade
e encham de fruto bom
a mesa da humanidade.

Se acalmem todos os alvoroços
e tormentas
que ameaçam a vida humana.

Para sempre se extinga o ódio
e a violência.
Que o homem faça da Terra o paraiso...

Berlim, 14 de Maio de 2017
7h26m
amanhecer enevoado
Jlmg

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Alimento secreto

Saio à rua como o corvo desce a árvore.
Debico sorrisos e simpatia feito ave.
Sorvo da seiva doce que corre dentro
E vem à tona.

Tudo digiro em casa,
Num fechar de olhos.
Depois, só voo. Alto,
Num sonho lindo.
Para lá das nuvens
E oceano extenso.

Me recolho cedo.
Ao pôr do sol.
Me despeço dele
Até novo dia.

Assim eu vivo
Ao sabor da sorte.
Nunca me canso,
Sem fome ou sede.

Bar dos Motocas em dia de sol
Berlim, 11 de Maio de 2017
10h47m
Jlmg

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Festa do sol

Cada dia que nasce
E reina no horizonte,
Tudo na terra dança alegre
Como quando se é infante.

Rejubila o mar
Com o seu mar de ondas
A beijar as praias.

Poisam na areia em massa,
Vindos não se sabe donde,
Os bandos de gaivotas.

Assomam à janela,
Sob as vagas fartas,
Como que num enxame,
Infindos novelos,
Muito ensarilhados,
- Como é possível tanta alga verde
A sair do mar!...

Refulge na serra a neve,
Tão suave manta,
Ó que bela noiva
Que subiu ao altar.

Como vão alegres,
Pelos montes fora,
Montes de rebanhos,
Enquanto o sol brilha,
Vão matar a fome.

E, pelos vales imensos,
A perder de vista,
Em perene dança,
- É um regalo ver!
Bailam tão serenos
Os milhões de hastes
Donde brotam espigas.

Bar dos Motocas, arredores de Berlim, 12 de Maio de 2017
lindo dia de sol
9h50m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17327: Blogpoesia (509): "Um carro de fogo"; "Os discursos do piano" e "No cotovelo da praça", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17353: In Memoriam (296): Clara Schwarz (1915-2016), a "mulher grande", foi homenageada pelas Rádios Sol Mansi e Voz de Klelé... As suas cinzas repousam finalmente ao lado do seu filho mais novo Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014) e do seu "cretcheu" Artur Augusto Silva (1912-1983) (Catarina Schwarz, neta)


Guiné-Bissau > Bissau > Rádio Sol Mansi > 10 de maio de 2017 > Da esquerda para a direita, Catarina Schwarz, Swaila Fonseca, declamadora de poesia, e Iano, autor  da iniciativa.


Guiné-Bissau > Bissau > Rádio Sol Mansi (RSM) > 10 de maio de 2017 >  Leonildo, locutor da RSM


Guiné-Bissau > Bissau >  Rádio Sol Mansi > 10 de maio de 2017 > Da esquerda para a direita, Leonildo, locutor da RSM,  Swaila, declamadora de poesia, e Iano, autor  da iniciativa.



Guiné-Bissau > Bissau > Rádio Sol Mansi > 10 de maio de 2017  > Estúdio Central, em Bissau, na av Combatentes da Liberdade da Pátria, Cúria de Bissau. Ver aqui o sítio oficial. O diretor da RSM é o padre Alberto Zamberletti. Criada em 2001,  e diz-se uma estação de "rádio escola ao serviço da paz":

"A Rádio Sol Mansi começou as emissões em Mansoa, no dia 14 de fevereiro de 2001, com um pequeno emissor de 250 Watts e uma área atingida de poucos quilómetros. A ideia surgiu do missionário católico italiano, Padre Davide Sciocco, que estava naquela cidade durante a guerra civil de 98-99. Vendo que as rádios foram uma 'arma' fundamental no conflito, e toda a população escutava 'religiosamente' os programas e convites a apoiar as diferentes partes, o seu pensamento foi: 'se a Rádio foi usada para favorecer a guerra, porque não fazer uma Rádio para favorecer a paz, a reconciliação e o desenvolvimento?' "-

1. Mensagens de Catarian Schwarz, com datas de 9 e  10 do corrente:

(i) Olá,  Luís, como estás ?

O programa sobre a minha avó [Clara Schwarz] (*)  terá lugar hoje e amanhã e no terceiro dia iremos depositar a urna junto do meu pai [Pepito] e avô [Artur Augusto Silva], no cemitério de Bissau. (...)


(ii) Terminamos agora o programa de rádio, na rádio Sol Mansi e na Voz de Klelé.

É sempre difícil avaliarmos o resultado, pois estando no estúdio, não temos nenhuma ideia de como está a correr. De qualquer maneira, recebemos imensas chamadas de ouvintes, de Catio, Bafatá, Bissau, Gabú, engraçado!

Assim que tiver a gravação do programa, eu digo qualquer coisa.

Aproveito para agradecer a todas as pessoas que gentilmente deram o seu contributo:

Abdulai Silá
António Delgado
António Estácio
Auzenda Cardoso
Eduardo Costa Dias
Ernst Schade
Fernando Flamengo
João Graça
Jorge Camilo Handem
José Teixeira
Luís Graça
Pedro Lopes Junior

Os poemas foram lidos pela Swaila Fonseca, que foi uma querida. O Iano,  dos "Fidalgos", teve esta bonita ideia que acabou de ser concretizada! (**)

Beijinhos

Catarina


PS - Nas fotos aparecem:

- Leonildo - locutor da RSM
- Iano - desencadeador da iniciativa
- Swaila - declamadora de poesia

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Guiné 61/74 - P17352: Inquérito 'on line' (114): Fátima... As 50 primeiras respostas: todos lá fomos, mas a maioria de nós (60%) como "simples turistas ou em passeio"... Prazo para responder termina 4ª feira, dia 17, às 16h53

I. INQUÉRITO 'ON LINE':

"FUI COMBATENTE, NUNCA FUI A FÁTIMA"...






As 50 primeiras respostas (até ao fim da tarde de ontem):


1. Fui lá ainda em miúdo 
ou ainda antes de ir para a tropa  > 20 (40%)

2. Fui lá, como militar, 
antes de ir para o ultramar  > 1 (2%)

3. Fui lá logo depois de vir do ultramar  > 8 (16%)

4. Só fui lá muitos anos depois 
(de vir do ultramar)  > 10 (20%)

5. Fui lá como verdadeiro peregrino ou crente  > 6 (12%)

6. Fui lá como simples turista ou em passeio  > 30 (60%)

7. Nunca fui a Fátima 
mas ainda gostaria de lá poder ir  > 0 (0%)

8. Nunca fui a Fátima 
nem tenho especial interesse em lá ir  > 0 (0%)


II. Prazo de resposta: 

até dia 17 de maio, 4ª feira, às 16h53.

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sexta-feira, 12 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17350: Inquérito 'on line' (113): Fátima... Gosto de lá ir em silêncio... e, para mim, a oração não é uma forma de negociar com Deus (José Teixeira)

1. Comentário ao poste P177347 (*), por José Teixeira,  um dos régulos da Tabanca de Matosinhos, ex-1.º Cabo Aux Enf, CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)



[Foto à esquerda: Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Simpósio Internacional de Guiledje > 1 de Março de 2008 > O Zé Teixeira com a Cadidjatu Candé.

Foto (e legenda): © José Teixeira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Poucos dias depois de chegar à Guiné,  escrevi:

Prometi a minha mãe não me esquecer de Deus, mas confesso, que Ele se escapuliu, logo nos primeiros abalos do mar alto que me fizeram vomitar tudo quanto tinha e não tinha no estômago em alta sinfonia com centenas de camaradas alojados no porão do Niassa.

Singular fenómeno de religiosidade,  fui encontrar em Ingoré. Aí que tive o primeiro reencontro com Deus, após a saída de Portugal. 

Logo no segundo dia da chegada, depois do jantar e acabada a limpeza do refeitório, este enche-se de novo, agora sem pratos nem comida para o corpo. Seguia-se o momento de alimentar a alma. O grupo foi engrossando. Um estranho silêncio ou conversas em tom abaixo do normal, provocaram-me para ir averiguar o que se passava, com aquele grupo de camaradas de tez queimada por uns meses largos de sol na Guiné.

Um jovem soldado, lá na frente, começa a “votar” o terço em honra de Nossa Senhora, respondendo em coro o grupo de combatentes, onde se viam praças e um ou dois furriéis.

Foram vinte minutos de paragem, de reflexão, sobre o que me era exigido como seguidor do projeto de Jesus Cristo numa guerra para onde fui atirado, contra a vontade, pelos “senhores” do meu país.
Rezar, para mim, é mais um permanente estado de louvor a Deus pela vida, pela natureza que me disponibilizou para a minha felicidade. Corresponsabilizando-me com actos e acções de defesa de mim próprio no ambiente de guerra em que estou inserido, no respeito e serviço aos outros que me rodeiam pela missão que me foi atribuída - enfermeiro. 

A oração não é para mim uma forma de negociar com Deus, com promessas a cumprir se... chegar ao fim da comissão escorreito, ou um pedir permanente a proteção, vendo Deus como que um guarda chuva protetor, esquecendo que esse mesmo Deus também o é de tantos, quantos do outro lado da barricada nos atacam ou se defendem.

Os povos que ousam fazer-nos frente, possivelmente também tem a “sua Fé”, os seus santos a quem se agarrar nos momentos difíceis, os amuletos que lhes vemos à cintura são a prova evidente. Também têm avós, pais,  esposas, namoradas. Algumas, na frente de guerra, combatem lado a lado, outras, na retaguarda, sofrem como as nossas mães, os nossos familiares.

PS - Sobre o fenómeno de Fátima, onde gosto de ir no silêncio, já escrevi o poste nº 1873 um pouco baseado neste, que já estava escrito há muito tempo. (**)

Creio que esta reflexão continua atual, pois muitas vezes deusifica-se a Virgem Maria e tenta-se "negociar" com ela a salvação na vida terrena com promessas de sacrifícios. Ouso colocar a questão: Quem é a mãe/pai que gosta de ver um filho a sofrer, mesmo que seja por "amor" ?

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Notas do editor:

(*) Vd. poste d 11 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17347: Inquérito 'on line' (112): Fátima: num total preliminar de 20 respostas, cerca de 2/3 foi lá "como simples turista ou em passeio"... Prazo de resposta: dia 17, 4ª feira, até às 16h53

Guiné 61/74 - P17349: Efemérides (250): No passado dia 30 de Abril de 2017, os Combatentes da Guerra do Ultramar de S. Bartolomeu do Mar foram homenageados pelo seu Núcleo. A Junta da União de Freguesias de Belinho e Mar aproveitou a cerimónia para ofercer uma Bandeira ao Núcleo de Combatentes de Mar (Fernando Cepa)



Em mensagem do dia 3 de Maio de 2017, o nosso camarada Fernando Cepa, (ex-Fur Mil Art da CART 1689/BART 1913, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), dá-nos conta da homenagem, pelo Núcleo de Mar, União de Freguesias de Belinho e Mar, Concelho de Esposende, aos ex-Combatentes da guerra do ultramar, levada a efeito no passado dia 30 de Abril.

Caro Amigo Carlos Vinhal. 
Seguem dois anexos sobre a homenagem aos ex-combatentes efectuada na Freguesia de Mar, concelho de Esposende. 
Se achares oportuno e de interesse, podes publicar na Tabanca Grande. 

Um grande abraço. 
Fernando Cepa


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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17323: Efemérides (249): Dia 7, domingo, dia da mãe... O Museu da Marinha oferece bilhetes às mães para a exposição "Vikings - Guerreiros do Mar", composta por 600 peças originais provenientes do Museu Nacional da Dinamarca... A não perder