sábado, 25 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24097: Os nossos seres, saberes e lazeres (557): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (91): A Coragem da Gota de Água é que Ousa Cair no Deserto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
É sempre com muito agrado que venho até à rua Alves Redol, n.º 45, em Vila Franca de Xira, não há museu como este, sobe-se e desce-se estas escadarias em estado de deslumbramento, independentemente do recheio sazonal, e com uma imagem que nos acompanha em todas as direções e uma obra belíssima de Júlio Pomar. O que não é sazonal é o que me traz cá hoje, conhecer a nova exposição de longa duração do Museu do Neo-Realismo, o título é fabuloso: "A Coragem da Gota de Água é que Ousa Cair no Deserto", é um novo olhar interpretativo sobre a coleção de obras em depósito. Não que não permaneça vincada, como escrevem os curadores, a atenção aos mais desfavorecidos, uma forte leitura ao nível da consciência de classe e da sua capacidade reivindicativa ou de ação. Aqui se desmonta aquele mantra de que se pintava, ou desenhava, ou esculpia, ou moldava de forma uniforme, como se todos os artistas plásticos vestissem a mesma fatiota e tocassem a música pela mesma pauta. Por engano, como aqui se pode ver. Muitas destas mulheres e destes homens enveredaram depois por outros caminhos, onde aqui havia um compromisso entre o figurativo e a dinâmica da modernidade, já se pressente em diferentes obras que se caminha para outros projetos, basta pensar a evolução de um dos pontífices do neorrealismo, Júlio Pomar, que se lançou gradualmente na arte não figurativa, e experimentou diferentes correntes. Em termos museológicos, a exposição é altamente atrativa, nunca perde a dimensão didática, como se uma ideia mestra presida a todo este itinerário: pensar, como contemplar, é divergir.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (91):
A Coragem da Gota de Água é que Ousa Cair no Deserto


Mário Beja Santos

Regresso sempre lesto e contente ao n.º 45 da rua Alves Redol, em Vila Franca de Xira, aqui se pranta o Museu do Neo-Realismo, a minha primeira saudação é sempre para esta obra magna de Alcino Soutinho, o arquiteto desenhou um espaço gerando volatilidade, o sentimento de que se sobe e desce sob o signo da luz graças à solução encontrada da escala destas escadarias correspondentes à ligação dos diferentes pisos, uma geometria de um fôlego quase aéreo, enfim, o prazer de por aqui deambular, sejam quais forem os bens culturais expostos.

O que me traz aqui, hoje? Venho ao encontro da exposição de longa duração que substitui outra que aqui se exibiu de 2007 (ano de inauguração do museu) até 2021, e que se intitulava “Batalha pelo Conteúdo”. E temos a promessa de que no piso abaixo, em 2024, irá continuar a renovação museológica, aqui se exibirá exposição complementar alusiva a um processo de reinterpretação do movimento literário, cívico e cultural do neorrealismo, não faltará uma ampla exposição documental, reza essa a promessa.

Recomenda-se ao visitante que adquira o catálogo, é uma obra de referência, não o fazendo tem mesmo assim ao seu dispor um folheto que ajuda a entender esta nova abordagem museológica. Para os não iniciados, recorda-se que este movimento estético, encetado na década de 1930, tinha berçário no realismo, estes artistas e escritores valorizavam a representação do humilde e do comum, buscavam inspiração no operário ou no camponês, mostravam cenas de família ou exibiam a miséria em que viviam os desabonados. O neorrealismo introduziu uma forte leitura da consciência de classe e da sua capacidade reivindicativa ou de ação, concentrando no observador da obra de arte uma amplitude social até aí dominada pela expressão artística naturalista, todas as manifestações de arte em pintura, escultura, desenho, fotografia, gravura, ilustração e cerâmica foram base para o trabalho destes artistas. Um dos pontos altos a exposição é o de desmontar o estereótipo de que o neorrealismo era meramente apologético de uma arte ao serviço da luta de classes, uma espécie de Bíblia para fermento revolucionário, no percurso desta exposição de longa duração, o visitante vai ser confrontado com a versatilidade, tanto no conteúdo como na forma.

Aqui estou embasbacado no interior do museu, é sempre novo para mim, ainda por cima a tarde está ensolarada, releva-se este branco de cal como nas casas alentejanas, a luz é esplendente, vou subir, hoje há visita guiada pelos dois curadores da exposição, David Santos e Paula Loura Batista, e bem ilustrativa será nos seus comentários, posso assegurar.
A exposição desdobra-se em secções temáticas, os curadores advertem-nos no início do seu catálogo o que há por detrás deste título escolhido para a exposição: “Inspirados pelo provérbio chinês, podemos dizer que a arte é como uma gota de água que cai no deserto, pois nunca opera revoluções, nem uma ação imediata ou direta sobre a realidade, interpelando-nos, porém, o suficiente para nos fazer refletir, a partir de uma magia que nos espanta e influencia ao longo da vida.” E dizemos que é desejável aqui chegar ou daqui partir com este catálogo possuidor de textos primorosos que nos falam do compromisso dos neorrealistas, do que há de singular neste movimento estético, como ele é substantivo para o conhecimento histórico da oposição ao Estado Novo, como ele igualmente se confrontou, entre modernistas e surrealistas, conciliando o figurativismo e o abstracionismo.

É impossível aqui mostrar o conteúdo das diferentes secções temáticas, mas não resisto a entusiasmar o potencial visitante dizendo-lhe o que vai encontrar. Vai encontrar varinas, ferroviários, marinheiros e pescadores, camponeses, peixeiros, pastores, mulheres de empreita, mondadeiras, rendilheiras, e algo mais, é trabalho, de canastra à cabeça, a tocar o realejo, pescadores arranjando o cordame. E aqui o visitante seguramente terá surpresas neste caleidoscópio laboral, pontificam Júlio Pomar, Lima de Freitas, Alice Jorge, Victor Palla, Nuno San-Payo, é deste que se mostra um dos seus quadros.
Varinas no Cais, por Nuno San-Payo, 1950
Júlio Pomar, Estudos para o Ciclo do Arroz, 1953
A Mulher do Mar, Júlio Pomar, 1956.

Aqui detenho-me um pouco mais, é obra premiada em exposição da Gulbenkian, na temática de gravura, consta um exemplar cá em casa, o meu padrinho era sócio da Gravura, num meu qualquer aniversário mandou-me abrir uma pasta e escolher uma obra à vontade, esta Mulher do Mar tenho-a por companheira, espero por muitos anos e bons, Pomar é um dos meus ícones e o neorrealismo deve-lhe muito, e ele seguramente que ficou devedor a esses tempos de denúncia do Estado Novo.
Isto é o Haiti: escolhendo café, anos de 1940, por Byron Coroneos (?)

A segunda secção é dedicada à paisagem, o visitante será surpreendido por obras inebriantes de um Victor Palla, uma atmosfera de subúrbio de Nuno San-Payo, o porto de Portimão de Querubim Lapa ou uma paisagem descarnada de João Hogan. Daqui se prossegue para outra secção, a família, com obras, entre outros, de José Dias Coelho, Júlio Pomar ou Mário Dionísio. A nova temática é política, como escreve um dos curadores, David Santos: “Inspirada pelas vanguardas político-revolucionárias de meados do século XIX, a arte converter-se-ia num instrumento crítico de incidência direta sob a realidade social, com a intenção deliberada de a transformar.” Esta é a génese do que irá acontecer pelos anos de 1930 e 1940, o profundo compromisso entre a arte e a sociedade, o artista não irá abdicar de falar da guerra, da prisão, da censura, de mostrar de que lado está a operação, etc.
Desenhos originais para o livro Serranos de Mário Braga, por Cipriano Dourado, 1955

Tinha eu 16 anos quando acompanhei a minha mãe numa visita a Coimbra, aqui residia uma das suas maiores amigas, trabalhava igualmente na maternidade, junto à Sé Velha. O chefe dos serviços era o escritor Mário Braga, deve ter percebido que aquele adolescente se maravilhava com a matéria dos livros, e então ofereceu-lhe dois livros, um deles o livro de Contos Serranos onde estão estas ilustrações e outras mais de Cipriano Dourado, foi o princípio de uma grande estima, só morreu quando o grande contista se finou.
Prisioneiros políticos, por José Dias Coelho (1955-1961)
Ilustração para o livro Fanga de Alves Redol, 1948

Muito impressiva é a secção sobre o retrato, aí o visitante encontrará obras revelando Soeiro Pereira Gomes, Orlando da Costa ou Alves Redol, entre outros. E chegamos ao lazer, com os seus saltimbancos, danças da roda, até um carrossel prodigioso, talvez um remate felicíssimo para esta exposição, aparece uma ilustração para o livro Fanga de Alves Redol, de Manuel Ribeiro de Pavia.

Que belíssima exposição! Espero ter seduzido o leitor, pode muito bem acontecer que nos encontremos nos tempos mais próximos neste magnífico edifício concedido por Alcino Soutinho.
Saltimbancos, por Nuno San-Payo, 1951
Carrossel, por Rui Filipe, 1960-61
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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24077: Os nossos seres, saberes e lazeres (556): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (90): Uma visita ao Museu Nacional de Arte Antiga, a neta questiona tudo (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24096: Convívios (952): Encontro do pessoal do BCAV 3846, no 50.º aniversário do seu regresso, dia 26 de Março de 2023, no Cartaxo (Delfim Rodrigues)


ALMOÇO/CONVÍVIO DO BCAV 3846
DIA 26 DE MARÇO DE 2023
CARTAXO

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24087: Convívios (951): 35.º Encontro do pessoal da 35.ª CComandos, dia 30 de Abril de 2023, no Luso - Mealhada (Ramiro Jesus)

Guiné 61/74 - P24095: Blogues da nossa blogosfera (179): "Reserva Naval", criado e mantido pelo nosso camarada Manuel Lema Santos, chega ao fim... por razões pessoais e familiares do autor (mas também, em parte, pelo cansaço bloguístico e pela ingratidão das nossas instituições e associações)



"Espaço aberto a antigos Oficiais da Reserva Naval na publicação de documentos, relatos, imagens e comentários. Um meio de comunicação e participação na divulgação do legado histórico da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa."


1. Chega ao fim um dos mais notáveis blogues da nossa blogosfera. A notícia foi-me dada no passado dia 23, em Ílhavo...

E foi-me dada justamente pelo primeiro vice-almirante que eu conheci, pessoalmente, na vida, o Tito Peixe Cerqueira, filho da terra. (E que, por acaso, é o primeiro almirante de Ílhavo, o que não deixa de ser irónico, quando falamos de uma terra que tem no corpo e na alma o ADN do mar.) Não o conhecia pessoalmente antes, mas éramos, afinal, amigos do arquiteto José António Paradela que, nesse dia, partia, aos 85 anos, para a sua derradeira viagem, aquela que não tem regresso.

E, em conversa com o vice-almirante, agora na reforma, Tito Cerqueira, falámos inevitavelmente do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (de que ele era leitor), da Marinha, da Reserva Naval, da Escola Naval, etc., e de alguns amigos e conhecidos comuns. E veio então à baila o nome do Manuel Lema Santos, cujo blogue "Reserva Nacional", criado por ele (a sua origem rem0nta a 2006, embora com outros nomes) e mantido até há pouco tempo (desde 2016) com grande paixão, competência e dedicação.

Confesso que fiquei triste pela notícia, para mais naquela hora e lugar. Mas não quis começar a fazer o luto por mais uma perda de vulto (a seguir à perda de um grande amigo e um grande ser amigo, que era o  José António Paradela), sem antes confirmar, na Net, o que se estava a passar. De facto, ao chegar a casa, à noite, e ao clicar no link:


verifiquei só havia dois postes, um de 2021 e outro de 2023 (este datado de 16 de janeiro, que começava justamente com uma "nota do autor do blogue". 

Já aqui escrevemos em tempos: "Sem desprimor para outras páginas sobre a nossa Marinha, esta é uma verdadeira enciclopédia, de consulta obrigatória, sobre a nossa armada, nomeadamente do tempo da guerra do ultramar / guerra colonial."

E tínhamos orgulho nesse blogue da nossa blogosfera, para mais criado por um histórico do nosso blogue onde tem nada menos do que 6 dezenas de referências. A história da Reserva Naval da nossa Marinha (1958-1992) é também também parte da nossa história

Na realidade, essa "enciclopédia viva" está para todos os efeitos,  fechada, ou sem acesso... Mas eu ainda esperava, ontem,  que fosse só para "obras de remodelação", como a gente faz com as nossas casas, pelo menos ao fim de 30 ou 40 anos: fecha a casa, por uns meses, para obras...

Ontem à tarde, quis tirar a limpo as minhas dúvidas e telefonei ao Manuel Lema Santos, coisa que não é muito habitual em mim, não gosto de usar e abusar do telefone dos amigos e camaradas da Guiné. Afinal tivemos uma longa conversa, de 54 minutos e 40 segundos em que ele me explicou as razões por que "descontinuou" o seu precioso e insubstituível blogue.

Não estou autorizado (ou melhor: não vou cometer a indelicadeza de reproduzir aqui a nossa conversa, franca e desinibida, como é habitual entre nós, que não temos de afinar o nosso pensamento pelo mesmo diapasão mas respeitamos-nos mutuamente, começando por reconhecer a nossa comum condição de antigos combatentes na Guiné, que já se conhecem pessoalmente desde 2006, e, em segundo lugar, o de criadores e editores de blogues que, quer se goste ou não, são uma referência para muita gente que se interessa pela história da guerra do ultramar / guerra colonial, tendo consumido num caso e no outro muitos milhares de horas trabalho...

O que eu posso adiantar, muito resumidamente,  é que: 

(i) o Manuel Lema Santos acabou de fazer oitenta aninhos, em dezembro passado;

(ii) sente-se no direito de fazer uma "sabática", embora se sinta ainda em boa forma, física e intelectualmente;

(iii) há cansaço bloguístico, o blogue deixou de estar "on line" (todavia os seus ficheiros estão salvaguardados e pode ser reativado em qualquer momento);

(iv) com tempo e vagar, e sem prejuizo da sua vida pessoal e familiar (que ele agora põe em primeiro lugar), tem outros projetos: por exemplo, uma eventual publicação (e ele está à vontade neste domínio porque conhece bem o setor editorial e indústria gráfica),  para o material imenso (fotografia, infografia, texto...) que foi recolhendo, dos arquivos e dos seus camaradas da marinha que com ele têm colaborado; 

e , por fim e não menos importante (v) deixou-me transparecer alguma mágoa pela indiferença e  ingratidão que, concordamos os dois, é uma pecha nacional, é uma das "nódoas negras" que mancham a "farda branca" dos portugueses (sejam eles militares ou civis)...

De facto, nenhum de nós está à espera de uma comenda mas quando se faz oitenta aninhos  depois de muito trabalho "pro bono", a favor dos outros (através das associações, organizações, blogues, etc.) sabe bem o reconhecimento e o apreço de quem direito, e sobretudo dos nossos pares...

De qualquer modo, o blogue está também, em grande parte,  salvaguardado com as capturas feitas pelo robô do Arquivo.pt. a última das quais em 19 de março de 2021, às 6h30. Dei a notícia  ao autor, que desconhecia a existência do Arquivo.pt,  da FCT - Fundação para a Ciência  e Tecnologia. 

Eis o (novo) endereço da "Reserva Naval" (agora em arquivo morto):

https://arquivo.pt/wayback/20210310063043/https://reservanaval.blogspot.com/



Leiria > Monte Real > Palace Hotel > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 21 de Abril de 2012 > Manuel Lema Santos e Maria João (Massamá / Sintra)... O Manuel Lema Santos fez, antes do início do almoço, uma breve alocução, em nome da direção da AORNA - Associação dos Oficiais da Reserva Naval.  

O Manuel Lema Santos (ex-1º ten da Reserva Naval da Marinha de Guerra, imediato da LFG Orion, Guiné, 1966-1972), e que foi um dos nossos camaradas que esteve no nosso 1º Encontro Nacional, na Ameira, em 2006, ofereceu ao blogue, na pessoa do Luís Graça, um exemplar do "Anuário da Reserva Naval, 1958-1975", da autoria de A.B. Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado (Lisboa, 1992), um exemplar autografado do "Anuário da Reserva Naval, 1976-1992", de Manuel Lema Santos (Lisboa: AORN, 2011), bem como vários exemplares da última edição da publicação periódica da AORN - Associação dos Oficiais da Reserva Naval (AORN, nº 19, outubro de 2011), e ainda uma medalha comemorativa da fundação da AORN, em 1995.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados  


2. Nada melhor do que reproduzir aqui, com a devida vénia, a "nota explicativa" que o aut0r do blogue quis deixar para os seus leitores, na hora da despedida.  

Aqui fala-se, polidamente, em "suspensão", e não em "fecho definitivo"... E deixam-se agradecimentos a quem ajudou o autor. E, por fim, ficam também sentidas palavras de apreço e gratidão para com  a Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa que "encarnou, para todos os Oficiais que por lá desfilaram, muito mais do que uma forma, dita civilizada, de cumprimento do serviço militar obrigatório".

Nota do autor do blogue:

Desde 2006 que entendi publicar regularmente alguns retalhos da História da Marinha Reserva Naval, em que aquela classe de Oficiais teve primordial importância na segunda metade do século XX, muito por virtude da Guerra do Ultramar.

Ao longo dos anos a Marinha acabou por formar quase 4.000 oficiais da Reserva Naval. Mais exactamente 1712 entre 1958-1975, conforme Anuário da Reserva Naval da autoria dos Comandantes Adelino Rodrigues da Costa e Manuel Pinto Machado e outros 1886 entre 1976-1992, conforme Anuário da Reserva Naval referente àquele período e da autoria de Manuel Lema Santos, antigo oficial da Reserva Naval, licenciado no posto de 1TEN RN em 1972, regressando nesse ano à vida civil.

Expresso aqui o meu profundo agradecimento à Instituição Marinha, nomeadamente ao Arquivo de Marinha, Biblioteca da Marinha, Revista da Armada e Museu de Marinha que me permitiram consultar, compilar e coligir muita da documentação que estruturou um blogue simples, ainda que pretendendo exibi-lo publicamente com um mínimo de qualidade histórica.

Não posso deixar de acrescentar um agradecimento aos inúmeros apoios que tive de Camaradas com documentação e imagens cedidas, sem os quais não me teria sido possível alcançar este objectivo, modesto mas determinado por forma a manter algum rigor histórico. 

Um último obrigado a todos os que, com comentários ou pessoalmente, me incentivaram por qualquer forma à continuação ao longo do tempo.

No outro lado da margem os que gostam de brilhar plagiando o trabalho de outrém, sem sequer se preocuparem com a qualidade da cópia ou as referências de origem. Felizmente foram muito poucos e sem expressão.

Por cansaço natural e um olhar familiar que me permita ainda tentar zelar pelo futuro de filhos e netas com natural apreensão, entendi suspender a publicação do blogue pessoal www.reservanaval.blogspot.com,  com um natural e sentido pedido de desculpas àqueles que me seguiram ao longo dos anos, para os quais manterei sempre a minha disponibilidade.

A Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa encarnou, para todos os Oficiais que por lá desfilaram, muito mais do que uma forma, dita civilizada, de cumprimento do serviço militar obrigatório. Ao tempo, uma opção pessoal possível num percurso universitário completo ou em vias de o ser, passagem obrigatória no rumo de vida traçado, ao serviço da cidadania e do país onde nasceram.

Diria melhor e mais correctamente, da Pátria. A evasão temporária ao amplexo paternalista, algum inconformismo e a necessidade inadiável de transpor aquela linha no horizonte terão sido algumas das motivações.

Outras tantas, eventualmente condicionadas por aspectos pessoais, profissionais, familiares e também económicos. De um lado, incertezas, anseios, dúvidas tumultuosas, sentimentos contraditórios e algumas perspectivas goradas, mas também natural confiança e esperança.
Do outro, o salto no desconhecido, arrojado mas sonhador, a aventura e o desejo de bem cumprir.

Se para muitos configurou uma escolha alternativa enquanto no desempenho de um dever cívico, para outros terá representado uma ponte provisória para a vida profissional. Ainda para alguns, em menor número mas mais tarde, a própria carreira profissional.

Escola Naval, viagem de instrução e juramento de bandeira marcaram, em sucessão, formação académica e humana, camaradagem e também crescimento. Em cenários de guerra como Moçambique, Angola e Guiné, mas igualmente em S. Tomé, Cabo Verde e no Continente, quase quatro mil Oficiais da Reserva Naval desempenharam funções ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa.

A navegar ou em terra, como oficiais de guarnição ou nos fuzileiros, todos fazendo parte do transbordante testemunho de solidariedade, generosidade e convívio partilhado com as Unidades e Serviços onde permaneceram. Ombreando com militares e camaradas de outros ramos das Forças Armadas. Ganhando acrescido sentido de responsabilidade e maturidade. Grangeando pelo cumprimento, pelo exemplo e pela dedicação, a amizade, admiração, respeito e camaradagem de superiores, subordinados e também das populações com que contactaram.

Na memória que o tempo não apaga, esfumam-se relatos, acontecimentos, documentos, registos, afinal História. História da Reserva Naval e da Marinha de Guerra que lhe deu origem. No espírito Reserva Naval, um passado comum a preservar.

Uma palavra para todos aqueles que nos deixaram prematuramente, chamados para a última viagem. Estarão sempre connosco!

Manuel Lema Santos
1TEN RN 1965/1972
Guiné, LFG "Orion" 1966/1968;
Comando Naval do Continente, 1968/1970;
Estado-Maior da Armada, 1970/1972

[Revisão e fixação de texto / Negritos, para efeitos de edição dese poste: LG]
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Nota do editor:

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24094: Notas de leitura (1558): Fernanda de Castro, uma figura de proa da literatura colonial guineense, autora de livros como África Raiz e Mariazinha (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Junho de 2020:

Queridos amigos,
Foi uma belíssima escritora, de um ecletismo com forte propensão para a literatura juvenil e uma vertente memorial de grande rigor e sobriedade. Nunca se deixou condicionar pelo facto de ser casada com António Ferro, o responsável pela propaganda do Estado Novo. O que aqui se refere é a sua vivência em Bolama, o pai era o responsável da capitania do Porto, chegou aqui pela primeira vez com 13 anos, foi uma estadia traumática, a mãe faleceu provavelmente de febre-amarela, foi recambiada com o irmão pequeno para Portugal, voltará mais tarde, entretanto o pai voltou a casar, há mais irmãos, mandou a roda da fortuna uma nova colocação em Bolama, ela praticamente omite a segunda estadia, mas que aquela Guiné a subjugou é bem patente nesta "África Raiz" publicada em 1966, é uma elegia onde se misturam a ode triunfal com atmosferas misteriosas, onde pesa muitíssimo o exotismo, a floresta densa, os intermináveis fios de água. Lê-se com imenso agrado esta poetisa marcada pelo modernismo, cantando a África mãe, empolgada, chamando-lhe mater e matriz: "tu, África és raiz, és raiz".

Um abraço do
Mário


Fernanda de Castro, uma figura de proa da literatura colonial guineense

Mário Beja Santos

A escritora Fernanda de Castro (1900-1994) viveu na infância em Bolama, e "África Raiz", poema publicado em 1966 é uma obra modernista eivada de recordações desse tempo juvenil em que o pai dirigia a capitania de Bolama, não faltam no livro as referências que a memória reteve, as florestas, rios de água, aromas, o sortilégio das noites africanas, batuques, a flor do cajueiro, as danças. 

À data da edição, Fernanda de Castro era já uma autora prolífica, detentora de uma obra volumosa que se estendia pela poesia, pelo romance, teatro, literatura infantil e romance. Mariazinha em África foi o seu maior sucesso, remexeu neste romance as vezes que foram necessárias, de acordo com a necessidade de mudar o olhar colonial, evolutivo, de acordo com o ideário do Estado Novo. O poema "África Raiz" é dedicado à terra de Bolama, onde a sua mãe faleceu e está sepultada.

O tom exaltativo e exultativo arranca logo nos primeiros versos:

“África,/ no teu corpo rugem feras,/ uivam fomes e medos ancestrais,/ no teu sangue há marés,/ na tua pele há dardos e punhais./ Ventre de Continente,/ és mater e matriz./ Ásia é semente, Europa é flor,/ outros serão essência ou tronco,/ tu, África, és raiz”

Fala-nos de florestas venenosas de gigantes, de ciclopes vegetais, de pirogas e crocodilos, do rastejar das cobras, do esvoaçar dos jagudis, é uma permanente apoteose de musicalidade, entremeando-se do cheiro do almíscar, dos corpos em convulsão, não faltam tapetes vegetais, florestas fechadas, contas e missangas, o inevitável poilão, e lança-se, empolgada, como que desafiando tudo quanto a memória reteve:

“Ó África, raiz de quantas Áfricas/ pelo mundo espalhadas lhe consentes./ África mítica dos mitos/ de cinco Continentes./ África negra em cujas veias corre/ um sangue denso e grosso./ África impenetrável, obstinada, desbravada a machado, troço a troço”

Atenta aos costumes do quotidiano, deixa-nos um outro apontamento da memória: 

“Mulheres e bajudas/ lavam roupa no rio./ Veias de sangue branco, os rios,/ quilómetros de veias que percorrem/ a terra calcinada,/ que alimentam/ o arroz e dessedentam/ os pés de milho e de mancarra./ Escondida no mangue,/ uma piroga, sem remos, sem amarra,/ parece um velho tronco,/ um crocodilo à tona de água”.

A elegia é permanente, marcou-lhe a juventude aquela Bolama, como veremos mais adiante no seu texto "Ao Fim da Memória I, 1906-1939", deixemo-nos por enquanto com a sua ode triunfal:

“África das manhãs de Paraíso, com pombas e gazelas e açucenas/, com doces frutos nunca proibidos,/ e cantos de marimbas e de avenas”

Há o sino da igreja, e logo me ocorreu que a Igreja de Bolama que ela frequentou foi devorada pelo incêndio, aquela em cuja missa participei oficiada em crioulo é outra, crianças e adultos cantando, talvez os convertidos Mancanha e Manjaco, Balanta e Baiote, Papel e Bijagó que ela também conheceu. Fernanda de Castro é uma sexagenária avançada quando produziu "África Raiz", brotou-lhe espontânea aquela África voluptuosa e seguramente as lembranças da jovem adolescente que ouviu trovões e se impressionou com o desabamento das águas, como escreveu:

“E de repente/ uma nuvem de chumbo tapa o Sol,/ como asa de agoiro,/ e um vento negro escarva, muge, arranca,/ com a fúria de um toiro./ O céu ruge trovões, estoira lumes/ nas copas incendiadas, as rajadas/ retalham como gumes/ de aceradas espadas,/ arrancam arrozais, abrem crateras,/ uivando como lobos,/ como esfaimadas feras./ Tudo é calor,/ suor,/ tudo é cinzento,/ o céu e o vento”.

Nas suas memórias, inevitavelmente que tudo começa pela apresentação de Bolama, onde chega com a mãe e o irmão, receção apoteótica do pai, lembra-se que ao longo do cais havia muita gente, “Deram-me na vista, acima de todos, os Bijagós com os seus saiotes de palha, os Mancanhas embrulhados em grandes panos azuis e os Mandingas com as suas cabaias de um branco imaculado”. Sobressaía o Palácio do Governo, o edifício mais imponente, mas sem rasto de beleza e ali perto o edifício da capitania, logo se agradou de um jardim em que havia bananeiras e papaeiras e uma grande quantidade de hibiscos de grandes flores encarnadas.

“A cidade de Bolama era na realidade uma pequena vila provinciana que poderia parecer alentejana, por exemplo, se não fossem os trajes garridos, os planos coloridos das mulheres, os balaios que traziam à cabeça, e se não fossem também os capacetes coloniais, que os brancos eram obrigados a usar se queriam cometer a imprudência de sair à hora do calor”.

 Criou amizades, a sua vida era simples e agradável, faziam a sesta sobre a proteção de grandes mosquiteiros de tule, à noite havia sempre visitas, ela tem 13 anos, não se apercebe das dores de cabeça da mãe que irá inopinadamente morrer de febre amarela. E é o regresso dramático a Lisboa com o irmãozinho, uma viagem que se arrasta com uma estadia inesperada em Cabo Verde. Manda a roda da fortuna que se diga que o pai irá de novo casar e anos depois será de novo colocado na Capitania de Bolama, viagem de navio, não se recorda exatamente se foi no Bolama se no Guiné, de novo uma avaria em Cabo Verde, ficaram um mês retidos em S. Vicente, onde um jovem se mostrou galante, ela totalmente indiferente e um belo dia chegaram a Bolama, não nos ficará registo do que aqui se passou.

O seu legado principal, insiste-se, é o romance "Mariazinha em África", um sucesso de décadas. Leopoldo Amado no seu trabalho sobre a literatura colonial guineense dar-lhe-á um grande apreço. Uma outra nota singular é referir que outra escritora passou por Bolama, e deixou-nos páginas tumultuosas da época das chuvas, foi Maria Archer.

Lê-se o testemunho de Fernanda de Castro e o que mais pesa é a morte da sua mãe, aquela noite em que ela e o irmão foram tirados do sono e rapidamente recambiados para Bissau:

“Eu estava exausta, sacudida por maus pressentimentos, mas apesar disso adormeci. Quando o meu pai chegou, desfeito, com ar alucinado e as lágrimas a correrem-lhe em fio, esqueceu as palavras que por certo preparara e disse-me apenas, apertando-me convulsivamente:
- Morreu! A tua mãe morreu há duas horas. E agora, agora, o que vai ser de nós. E eu não conseguia dizer nada, chorava também convulsivamente, misturando as minhas lágrimas com as dele.”


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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24083: Notas de leitura (1557): "Reportagem, uma antologia", por Jorge Araújo; Assírio & Alvim, 2001 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24093: In Memoriam (472): José António Paradela (Ílhavo, 1937 - Aveiro, 2023): pequena homenagem póstuma lida ontem, na igreja matriz de Ílhavo (Luís Graça)

O arquiteto José António Paradela (1937-2023), na sua terra natal, Ílhavo, junto ao monumento aos combatentes da Grande Gerra (mortos em França e África). s/d. Cortesia da Câmara Municipal de Ilhavo. Imagem reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023), com a devida vénia...



Capa do livro de Ábio de Lápara pseudónimo literário de José António Paradela 1937-2023, "Uma Ilha no Nome: Pequena Crónica dos Dias Líquidos", ed. autor, s/l, 2007, 77 pp. (CDU: 821.134.3-3, BN, por). Prefácio de Luís Graça.

Zé António, meu querido amigo do peito, “meu mano”:

Já passaste por este momento doloroso, a perda de alguém muito querido, um pai, um irmão, um amigo… Ficamos sem palavras, tolhidos pelo choque da notícia. E depois, à medida que os primeiros minutos e as primeiras horas passam, há um turbilhão de emoções, antes de começarmos a fazer o processo do luto…

Agora somos todos nós, a tua Matilde, o teu Marco, o teu Jorge, a tua família mais próxima e os amigos, os muitos amigos que tu tinhas,  a encarar de frente a brutal realidade da tua perda, da tua morte física…

É devastador perder alguém que muito se ama… A nossa primeira reação é de denegação: não é possível que o meu amigo do peito, o meu “mano”, tenha partido da Terra da Alegria (para usar uma metáfora do poeta Ruy Belo) sem se despedir de nós…

Infelizmente, a morte é o maior absurdo da vida, mesmo que seja o corolário da vida, mesmo que a vida contenha as sementes da morte desde o primeiro segundo em que vemos a luz do dia, ao nascer… Diz o provérbio que a vida tem uma porta, e a morte cem…Dificilmente podemos encenar a tragédia da nossa própria morte: não sabemos quando nem como ela há-de chegar…

No teu caso, chegou aos 85 anos, e a maldita porta foi a doença de evolução prolongada, que ainda hoje temos, todos nós, pudor ou dificuldade em nomear.

 Por certo, meu irmão, que morreste em paz (se é que um homem pode morrer em paz depois de uma prolongada luta contra a doença que acaba sempre, mais tarde ou mais cedo, por levar a melhor: afinal, morremos todos os dias um bocadinho).

Sim, não tenho dúvidas que quiseste despedir-te de todos nós. Recordo o que escreveste no teu Facebook, no passado dia 6, às 21:34, partilhando 10 anos de memórias:

“Tempos felizes que cabem por inteiro na minha passada ambição. Deixaram sabores doces e tanto me basta.”

Uma frase lapidar, no duplo sentido da palavra, algo de sublime, que só podia ser escrito por um grande ser humano como tu. É um belíssimo poema de despedida da vida, mesmo que tão curto para uma vida que foi grande...É um adeus lúcido, corajoso, sereno... (Bolas, e a gente sempre a queixar-se do que não fez, não viu, não viajou, não usufruiu, não amou, não gozou, , não comprou, não escreveu...ou simplesmente desperdiçou a começar pelo tempo.)

Eras um homem afável, amigo do seu amigo, que adoravas o convívio e a tertúlia.  Amavas os teus, amavas a vida, adoravas o mar, o sol, o sal, o sul, a ria de Aveiro, o rio Tejo, as Berlengas,   a fotografia, o desenho, as viagens... Amavas as coisas boas da vida, e partilhavas com os teus amigos as tuas múltiplas afinidades, talentos, seres, saberes e sabores, desde a boa comida (o peixe, os mariscos)   à  literatura, à música e  à arquitetura, a tua profissão.

Nesta hora, profundamente triste, somos nós que viemos despedirmo-nos de ti. A morte tem várias dimensões: física, simbólica, cultural, social… Morreste, fisicamente, na batalha da vida, a tal em que todos nós, seres finitos, acabamos derrotados.

Para aqueles que te amavam (e te continuam a amar), tu continuas presente entre nós. Porque há uma coisa que a morte não nos pode roubar: as memórias (e os afetos) que partilhámos em vida, a par das nossas geografias emocionais… Mais do que a tua imensa obra como arquiteto e urbanista (e essa falará por si e por ti!), somos nós que não te esquecemos, enquanto por cá ainda andarmos, e tivermos saúde, força e ânimo …

Como não podemos esquecer os livros que, já em fase mais tardia da tua vida, começaste a escrever… Cito um ou dois que me dizem muito: o teu primeiro,  de 2007, “Uma Ilha no Nome: Pequena Crónica dos Dias Líquidos”, a que me deste a honra de prefaciar.

E o outro, de 2015, a "Rua Suspensa dos Olhos": Ah!, quanto humanidade, ternura, inocência, traquinice, generosidade e poesia havia na tua rua suspensa dos olhos...

Ilhéu, lhavense, filho da terra e do mar,  evocas e descreves com enorme ternura e talento a rua onde nasceste e cresceste. E das figuras humanas   que  marcaram a tua memória e o teu imaginário, não posso deixar de citar o teu pai, marinheiro aos 12 anos, figura de referência na tua vida, sempre ausente e sempre presente, e que gostava de dizer: “O mundo todo não vale o meu lar”…

Tendo tu sido criado no matriarcado, cercado de mulheres e dos seus fantasmas e das suas recordações, fizeste,  no entanto, da figura do teu pai a mais bela evocação na tua narrativa ilhavense:

 “Estávamos todos em casa, isto é, ele não estava no mar, que é como quem diz, sabe-se lá onde”…

E da recolha que fizeste dos palimpsestos dos muros da tua Ílhavo, deixa-me por fim citar duas ou três frases lapidares dos anónimos pichadores e grafiteiros:

- A saudade, mano… a nossa última riqueza! Porque a lembrança é a fonte de onde parte toda a riqueza….

- Nascemos para perder absolutamente tudo, sempre, e nada.

- Não faças sempre a mesma pergunta. Apenas luta por uma resposta diferente.

Estas três frases, pérolas de uma arqueologia dos seres e dos saberes, dizem muito, afinal, a teu respeito. E não foi por acaso que as anotaste e as resgataste, nesse teu livrinho que é um belíssimo e comovente regresso ao passado, à tua infância, à tua ilha, à tua origem ilhavense… 

É também a redescoberta da tua/nossa insularidade fundamental e da situação-limite que é a própria vida, cercada de sinais de fragilidade, de solidão, de doença, de morte e de finitude por todos os lados…

Não se pense, todavia, que é uma narrativa passadista e tu um autor pessimista… No final, o teu “alter ego” (re)descobre    que também faz parte de um vasto arquipélago , e que um ilhéu, mesmo quando deixa a ilha, quando embarca para a Terra Nova, na “Faina Maior" (a pesca do bacalhau), ou vai para Lisboa estudar e trabalhar, nunca destrói as pontes, nunca corta o cordão dunar e umbilical que o liga ao passado e ao futuro…

Zé António, para os amores da tua vida, a tua Matilde, os teus filhos e a tua neta, para os teus amigos, para todos aqueles que te amaram e que tu amaste, serás sempre lembrado não só como o arquiteto, um construtor de cidades, como sobretudo um homem de pontes, de memórias, de afetos: as do amor, da amizade, da beleza, da solidariedade, da liberdade…

Aceita, lá na estrelinha  que te coube em sorte na galáxia celestial dos homens bons e sábios, esta minha pequena homenagem póstuma. Recuso-me a dizer “adeus, até sempre”, porque quero/queremos continuar a poder falar contigo.

Luís Graça + os teus amigos e fãs Alice, Joana e João.

Ílhavo, igreja matriz, 23 de fevereiro de 2023


2. Nota do editor LG:

Desloquei-me ontem, à tarde ao funeral do meu amigo Zé António Paradela, arquiteto, membro da Tabanca Grande, um "ílhavo", orgulhoso da sua terra natal onde, de resto, deixa obra. Tive oportunidade de conhecer pessoalmenet ou reencontrar, nas cerimónias fúnebres, alguns dos seus amigos e  conterrâneos tais como:

(i) Jorge Picado, ex-cap mil art, Guiné 1970/72, nosso camarada, membro da Tabanca Grande; dei-lhe um grande abraço, falámos uns escassos minutos; e justificou-se por que é que, com a falta de tempo e os netos, já não vem tantas vezes ao blogue;

(ii) Tito Peixe Cerqueira,  vice-almirante na reforma, com um comissão em Moçambique como guarda-marinha, em 1970/72, na Corveta João Coutinho, o primeiro ilhavense ou "ílhavo" a atingir o topo da hierarquia da marinha de guerra numa terra de capitães de marinha mercante e da frota pesqueira, vários deles também presentes no velório do Zé António Paradela (alguns conhecia-os de vista, de nossos convívios anuais):

(iii)  João Vizinho, especialista em medicina do trabalho, meu velho amigo das lides da saúde pública:

(iv) o capitão Valdemar Aveiro, um dos últimos "lobos do mar", e grande escritor das memórias da "Faina Maior" (a pesca do bacalhau): tem cerca de uma dezena de publicações (e outras tantas referências no nosso blogue):

(v) o historiador e editor Senos da Fonseca, cunhado do nosso Jorge Picado, uma  verdadeira autoridade sobre Ílhavo, a Costa Nova,  as suas gentes e falares, as embarcações  da ria de Aveiro, a pesca do bacalhau, etc.

De Lisboa, tive o prazer de reencontrar os arquitetos Ricardo Santos Pereira e Luís Gravata Filipe, que trabalharam ou ainda trabalham na PAL - Planeamento e Arquitetura Lda, a empresa de prestígio que o Zé António fundou e dirigiu durante dezenas de anos. Reencontrei também a secretária Teresa Martins Gil, competente e incansável colaboradora da PAL.

E ainda outros amigos comuns, que vieram de Lisboa,  como o prof João Salis Gomes (CIES-ISCTE) e familia... e o advogado Manuel Queirós (acompanhado do filho), natural do Marco de Canaveses, colaborador da PAL. Pude confirmar mais uma vez quão estimado era, na sua terra, o Zé António. E que nem sempre é verdade o que diz o provérbio "Ninguém é profeta na sua terra"... O Zé António tinha-se reconciliado há anos com a sua terra natal, que ele muito amava. O município, na sua págima oficial,  deixou, com data de ontem, uma nota de pesar pelo seu falecimento:

(...) Natural de Ílhavo, José António Boia Paradela deixa o seu traço no Município de Ílhavo, tendo assinado obras como o edifício dos Paços do Concelho e o Centro Cultural da Gafanha da Nazaré. Mais recentemente, foi responsável pela modernização do Jardim Henriqueta Maia e a reconversão do antigo edifício dos Bombeiros Voluntários de Ílhavo, também da sua autoria, no Centro de Religiosidade Marítima. (...)
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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24092: Álbum fotográfico de José Carvalho (4): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, em Mansabá (Parte I)

1. Mensagem do nosso camarada José Carvalho, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim e Mansabá, 1970/72), com data de 20 de Fevereiro de 2023:

Caros Editores e Amigos Luís e Carlos,
Desejo que se encontrem bem.
Com o frio e a chuva permaneço mais tempo em casa, menos campo... e lembrei-me de tentar ampliar o meu reduzido e apelidado álbum fotográfico, no nosso blogue.

Selecionei algumas fotos (diapositivos digitalizados) de Mansabá, que pouco ou nada adiantam às fotografias já disponíveis no blogue, sendo somente o autor e a data das mesmas diferentes, mais propriamente obtidas no 2ºT de 1972, no curto período de permanência da CCaç 2753, neste local.
No entanto estas imagens, têm uma numeração que dada a minha pouca amistosa relação com as informáticas, não consigo eliminá-la. Espero que para especialistas não seja obstáculo maior... para o caso de admitirem algum interesse na sua publicação.

Fazendo força para que o objectivo do Luís se concretize e que o nº 900 seja atingido este ano, envio votos de boa saúde.
Abraço amigo do,
José Carvalho


Foto 10 - Placa toponímica de Mansabá, na entrada do lado de Mansoa e creio que a única existente à altura. Parece mais uma placa de final de localidade…
Foto 11 - Pequeno monumento situado logo a seguir à placa toponímica . Ainda uma pequena edificação “fortificada”, cuja utilização na altura não me recordo!
Foto 12 - Vista aérea parcial das instalações militares. Heliporto, quartos dos oficiais, edifício do comando, messe de oficiais e sargentos e enfermaria(?).
Foto 13 - Bomba de gasóleo, que pertencia a José Leal, proprietário da serração e madeireiro, perto de uma das entradas da tabanca. Era igualmente proprietário de uma “tasca” onde servia umas refeições bem apetitosas. Recordo que nesse local se registou um acidente com o rebentamento de uma granada de mão, que provocou alguns feridos.
Foto 13a - Bomba de combustível civil de Mansaba
Foto 14 - Edificações do aquartelamento.
Foto 15 - Abrigo, que dispunha de uma metralhadora pesada.
Foto 15a - Abrigo da pista(?) visto mais próximo
Foto 16 - Foto da antiga serração, situada a cerca de 2 kms de Mansabá, na estrada de Mansoa. Visualizam-se edificações em ruínas, viaturas ligeiras incendiadas, chassis de viaturas pesadas e sucata de maquinaria da serração, abandonada havia algum tempo, depois de atacada e destruída.
Foto 17 – Eu, no meu quarto cinco estrelas, partilhado algumas semanas com o Alf. Mil. Médico Vazão de Almeida e depois esporadicamente com oficiais em trânsito operacional, nomeadamente comandos africanos. As paredes do quarto estavam bem pintadas, com várias imagens do Pato Donald, desconhecendo a identificação do artista…

Fotos e Legendas: © Alf Mil Inf José Carvalho da CCAÇ 2753
Fotos 13a e 15a editadas e legendadas pelo editor

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2. Não é meu hábito comentar directamente nos postes que publico, não sendo de minha autoria, mas abro uma excepção já que me sinto "altamente qualificado" para o fazer.

- Foto 10 - Não sei se esta placa foi inaugurada pela CART 2732 ou se foi restaurada no nosso tempo. Esclareço o José Carvalho que o artista tentou fazer aquela diagonal com as cores verde e rubra da Bandeira da Nação, com as tintas que tinha à mão.

- Foto 11 - A fortificação que se vê à esquerda é o "castelo", um abrigo que tinha instalada uma Breda. Manga de tonco quando havia ataques ao aquartelamento.

- Foto 12 - Referindo-me ao meu tempo, que não diferiu muito do vosso, a Messe de Sargentos era lá muito ao fundo, no enfiamento da porta d'armas. Acho que não é visível. Quanto ao resto, tudo bem.

- Foto 13 - Aquele posto de abastecimento era o último grito em evolução técnica. Lembro-me bem dele.
- Chamar "tasca" à "charmosa sala de jantar" do senhor José Leal e da D. Olinda, é no mínimo falta de consideração. José Carvalho, lembras-te do empregado de mesa, o Agostinho?
- O caso da granada foi um lamentável episódio por se tratar de uma brincadeira estúpida com uma granada de mão ofensiva manipulada pelo homem errado, no local errado,na hora errada e no local errado, Passagem de ano 1971/72, de má memória. O caso passou-se dentro da sala de jantar do senhor José. Os 5 sinistrados foram levados em coluna auto, pelos seus camaradas, ao HM 241.

- Foto 14 - Mansabá era mesmo uma "nação". O que tinha de pior eram os vizinhos, que eram ns arruaceiros.


- Foto 15 - Se bem me lembro este abrigo estava colocado à esquerda, logo no início da pista. Lá ao fundo, consegue vislumbrar-se o abrigo do Moínho onde o nosso amigo Melim manejava como ninguém outra metralhadora pesada. Que será feito dele?

- Foto 16 - "Serração", a partir da qual já nos sentíamos em casa.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21708: Álbum fotográfico de José Carvalho (3): A CCAÇ 2753, ”Os Barões”, e o K3 (II e última Parte)

Guiné 61/74 - P24091: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XX: Bigene, a última saída do Gr Comandos "Os Centuriões" (Op Virgínia, fronteira com o Senegal, 24-25 de abril de 1966) (Op Vamp)


Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 20 de junho de 1966 > Encerramento das actividades da Companhia de Comandos do CTIG.


Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 20 de junho de 1966 > Comandos com a comissão terminada. Eu sou o penúltimo da direita, ao lado de Adriano Sisseco.  Imagens publicadas no livro, pág. 145. Créditos fotográficos: Virgínio Briote (2010).


1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (1940-2015), a partir do manuscrito do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.  (O seu editor literário, ou "copydesk", Virgínio Briote, facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.)


Recorde-se aqui o seu passado militar:

(i) começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor auto-rodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) descreve-se a seguir   a última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal; o Amadu será depois transferido, a seu pedido,  para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757.


 

Capa do livro


Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um    luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XX:   

Bigene, a última saída do Gr Comandos "Os Centuriões"  (Op Virgínia, fronteira com o Senegal, 24-25 de abril de 1966)  
(pp. 143-146)

Na saída que se seguiu, apanhámos um barco até Bigene. Partimos à tarde e chegámos à noite. No dia seguinte, preparámo-nos para efectuar uma missão na fronteira com o Senegal. O objectivo era montar uma emboscada em Samoge. 
[1]

Saímos de Bigene muito cedo, em direcção à zona da fronteira, que atingimos por volta das 11h00. O sol queimava, a água do cantil parecia que tinha água a ferver. Quando nos estávamos a aproximar da estrada para montar a emboscada, pareceu-me ver qualquer coisa ao longe. Tirei os binóculos e passei-os ao Alferes Rainha. O que parecia ter visto, se estava lá, agora não estava. O alferes disse que não era nada, que devia ter visto um tronco de árvore e voltou a passar-me os binóculos. Voltei a pôlos nos olhos e pus-me a observar. Confirmei, aquilo que eu devia ter visto já lá não estava. 

O guia, em dialecto mandinga, apontou em frente e disse: 

– Amadu, ali naquela mata pequena tem fonte com boa água, água fresca. 

O alferes perguntou-me o que é que ele tinha dito. 

– Que naquele grupo de palmeiras ali em baixo tem uma fonte com água fresca. 

Era uma zona que parecia fresca e o calor era muito. Começámos a andar em direcção às palmeiras e na encosta de uma pequena elevação vimos uma picada  que vinha do Senegal. Do outro lado da picada vi uma árvore bem grande, com ramos deitados no chão com erva e debaixo da árvore, uma boa sombra estava mesmo à nossa espera. Era uma árvore tão grande que podia esconder uma companhia. Na Guiné chamamos a estas árvores “Tamba Cumba” e dá frutos que se podem comer. 

Quando nos estávamos a aproximar dela, fomos atacados. Apanharam-nos num terreno que não nos era favorável. A primeira coisa em que pensámos foi abandonar rapidamente o local. Estávamos na pequena encosta e os guerrilheiros estavam na parte de baixo. Era fácil bater-nos. Só que a experiência e o treino que tínhamos levava-nos a acreditar que se os primeiros tiros não nos acertassem enquanto estávamos de pé, depois já era mais difícil. 

Quando ficámos colados ao chão, começámos a fazer uma manobra de envolvimento com o objectivo de retirar do local. Sabíamos que havia um acampamento de barracas atrás de nós, na zona de Samoge e não podíamos dar lhes tempo para impedir a nossa passagem. O sol ainda queimava mas nós acelerámos a marcha até à tabanca abandonada de Samoge. Para nosso contentamento, à entrada da tabanca corria um pequeno curso de água e todo o grupo se refrescou e encheu os cantis. Dirigimo-nos a seguir para uma horta e vimos mangos maduros. Outra sorte para nós. Todo o grupo se meteu dentro da horta a comer mangos, até passar a fome. 

Então o alferes deu ordem para abandonarmos o local e retirámos para Bigene. Eram mais ou menos 19h00, quando entrámos na povoação. Dirigimo-nos para o refeitório e no fim de jantar um prato de sopa tivemos uma surpresa, o alferes disse-nos que íamos passar a noite na mata. Estava um céu muito escuro, mas fomos andando com as precauções habituais até que começou a cair uma chuva forte. Eram as primeiras chuvas de Maio de 1966. Estivemos parados naquele local cerca de uma hora. Depois escolhemos um outro local para passarmos a noite emboscados, junto a um caminho que ligava Bigene à fronteira. Quando regressámos, na manhã seguinte a Bigene, ainda a nossa roupa estava molhada. 

Agora, eu pergunto: por que voltámos para a mata? Se fomos detectados e atacados, se o silêncio tinha sido quebrado, para quê voltar a sair e passar uma noite à chuva, que nem o PAIGC queria apanhar? Continuo na minha, acho que certas missões, como as emboscadas e os golpes de mão quando se quebra a surpresa, ficam desfeitas e não adianta muito passar a noite na mata e ainda por cima com chuva grossa a cair. 

Esta foi a última saída do grupo “Centuriões”, que terminou com mangos e muita chuva. O nosso grupo estava cada vez mais reduzido, com uma parte do pessoal com as comissões terminadas ou quase no fim. E o que acontecia nos “Centuriões”,  acontecia também nos outros grupos. Tínhamos sido informados que a Companhia de Comandos do CTIG ia acabar. E que os elementos que ainda tinham algum tempo de comissão a cumprir iam ficar num grupo só. 

Terminado o grupo, meti um pedido de transferência para Bafatá, para tomar conta da minha mãe e dos meus irmãos mais novos, porque entretanto o meu pai tinha falecido. Enquanto permaneci em Bissau, aproveitei para tirar a carta militar conhecida por “lista branca”.

Num dia tive um feliz encontro, vi o tenente-coronel Moura Cardoso, comandante do Batalhão de Cavalaria 757, conhecido pelo “sete de espadas”, porque traziam um emblema no ombro com uma carta de jogar. Fiz-lhe a continência e disse-lhe que tinha pedido transferência para o batalhão dele, mas que a resposta nunca mais chegava. Pegou-me no braço e levou-me à 4ª Rep. Aqui, depois de conversar com um major, descobriram que havia uma vaga de cabo condutor para a companhia de Contuboel. E ficou decidido que eu iria ficar adido no batalhão.

(Continuação)

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Subtítulo: LG]
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Nota do editor literário VB:

[1] - Nota do editor: operação “Virgínia”, Canja-Sinchã Mamadu, 24/25 Abril 1966, com o reforço de alguns elementos do Grupo Comandos “Vampiros”.
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 9 de fevereiro de  2023 > Guiné 61/74 - P24049: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XIX: Mais uma operação helitransportada no corredor de Sitató, junto à fronteira com o Senegal, em março de 1966 (Op Vamp)

Guiné 61/74 - P24090: Parabéns a você (2147): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24073: Parabéns a você (2146): António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo e Cantacunda, 1965/67)