Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 20 de junho de 1966 > Encerramento das actividades da Companhia de Comandos do CTIG.
Guiné > Brá > Comandos do CTIG > 20 de junho de 1966 > Comandos com a comissão terminada. Eu sou o penúltimo da direita, ao lado de Adriano Sisseco. Imagens publicadas no livro, pág. 145. Créditos fotográficos: Virgínio Briote (2010).
1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (1940-2015), a partir do manuscrito do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada. (O seu editor literário, ou "copydesk", Virgínio Briote, facultou-nos uma cópia digital; o Amadu, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.)
Recorde-se aqui o seu passado militar:
(i) começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;
(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor auto-rodas;
(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;
(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;
(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;
(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);
(vii) descreve-se a seguir a última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal; o Amadu será depois transferido, a seu pedido, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757.
(i) começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;
(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor auto-rodas;
(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;
(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;
(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;
(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);
(vii) descreve-se a seguir a última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal; o Amadu será depois transferido, a seu pedido, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757.
Capa do livro
Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XX:
Bigene, a última saída do Gr Comandos "Os Centuriões" (Op Virgínia, fronteira com o Senegal, 24-25 de abril de 1966)
(pp. 143-146)
Saímos de Bigene muito cedo, em direcção à zona da fronteira, que atingimos por volta das 11h00. O sol queimava, a água do cantil parecia que tinha água a ferver. Quando nos estávamos a aproximar da estrada para montar a emboscada, pareceu-me ver qualquer coisa ao longe. Tirei os binóculos e passei-os ao Alferes Rainha. O que parecia ter visto, se estava lá, agora não estava. O alferes disse que não era nada, que devia ter visto um tronco de árvore e voltou a passar-me os binóculos. Voltei a pôlos nos olhos e pus-me a observar. Confirmei, aquilo que eu devia ter visto já lá não estava.
O guia, em dialecto mandinga, apontou em frente e disse:
– Amadu, ali naquela mata pequena tem fonte com boa água, água fresca.
O alferes perguntou-me o que é que ele tinha dito.
– Que naquele grupo de palmeiras ali em baixo tem uma fonte com água fresca.
Era uma zona que parecia fresca e o calor era muito. Começámos a andar em direcção às palmeiras e na encosta de uma pequena elevação vimos uma picada que vinha do Senegal. Do outro lado da picada vi uma árvore bem grande, com ramos deitados no chão com erva e debaixo da árvore, uma boa sombra estava mesmo à nossa espera. Era uma árvore tão grande que podia esconder uma companhia. Na Guiné chamamos a estas árvores “Tamba Cumba” e dá frutos que se podem comer.
Quando nos estávamos a aproximar dela, fomos atacados. Apanharam-nos num terreno que não nos era favorável. A primeira coisa em que pensámos foi abandonar rapidamente o local. Estávamos na pequena encosta e os guerrilheiros estavam na parte de baixo. Era fácil bater-nos. Só que a experiência e o treino que tínhamos levava-nos a acreditar que se os primeiros tiros não nos acertassem enquanto estávamos de pé, depois já era mais difícil.
Quando ficámos colados ao chão, começámos a fazer uma manobra de envolvimento com o objectivo de retirar do local. Sabíamos que havia um acampamento de barracas atrás de nós, na zona de Samoge e não podíamos dar lhes tempo para impedir a nossa passagem. O sol ainda queimava mas nós acelerámos a marcha até à tabanca abandonada de Samoge. Para nosso contentamento, à entrada da tabanca corria um pequeno curso de água e todo o grupo se refrescou e encheu os cantis. Dirigimo-nos a seguir para uma horta e vimos mangos maduros. Outra sorte para nós. Todo o grupo se meteu dentro da horta a comer mangos, até passar a fome.
Então o alferes deu ordem para abandonarmos o local e retirámos para Bigene. Eram mais ou menos 19h00, quando entrámos na povoação. Dirigimo-nos para o refeitório e no fim de jantar um prato de sopa tivemos uma surpresa, o alferes disse-nos que íamos passar a noite na mata. Estava um céu muito escuro, mas fomos andando com as precauções habituais até que começou a cair uma chuva forte. Eram as primeiras chuvas de Maio de 1966. Estivemos parados naquele local cerca de uma hora. Depois escolhemos um outro local para passarmos a noite emboscados, junto a um caminho que ligava Bigene à fronteira. Quando regressámos, na manhã seguinte a Bigene, ainda a nossa roupa estava molhada.
Agora, eu pergunto: por que voltámos para a mata? Se fomos detectados e atacados, se o silêncio tinha sido quebrado, para quê voltar a sair e passar uma noite à chuva, que nem o PAIGC queria apanhar? Continuo na minha, acho que certas missões, como as emboscadas e os golpes de mão quando se quebra a surpresa, ficam desfeitas e não adianta muito passar a noite na mata e ainda por cima com chuva grossa a cair.
Esta foi a última saída do grupo “Centuriões”, que terminou com mangos e muita chuva. O nosso grupo estava cada vez mais reduzido, com uma parte do pessoal com as comissões terminadas ou quase no fim. E o que acontecia nos “Centuriões”, acontecia também nos outros grupos. Tínhamos sido informados que a Companhia de Comandos do CTIG ia acabar. E que os elementos que ainda tinham algum tempo de comissão a cumprir iam ficar num grupo só.
Terminado o grupo, meti um pedido de transferência para Bafatá, para tomar conta da minha mãe e dos meus irmãos mais novos, porque entretanto o meu pai tinha falecido. Enquanto permaneci em Bissau, aproveitei para tirar a carta militar conhecida por “lista branca”.
Num dia tive um feliz encontro, vi o tenente-coronel Moura Cardoso, comandante do Batalhão de Cavalaria 757, conhecido pelo “sete de espadas”, porque traziam um emblema no ombro com uma carta de jogar. Fiz-lhe a continência e disse-lhe que tinha pedido transferência para o batalhão dele, mas que a resposta nunca mais chegava. Pegou-me no braço e levou-me à 4ª Rep. Aqui, depois de conversar com um major, descobriram que havia uma vaga de cabo condutor para a companhia de Contuboel. E ficou decidido que eu iria ficar adido no batalhão.
(Continuação)
[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Subtítulo: LG]
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Nota do editor literário VB:
[1] - Nota do editor: operação “Virgínia”, Canja-Sinchã Mamadu, 24/25 Abril 1966, com o reforço de alguns elementos do Grupo Comandos “Vampiros”.
[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Subtítulo: LG]
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Nota do editor literário VB:
[1] - Nota do editor: operação “Virgínia”, Canja-Sinchã Mamadu, 24/25 Abril 1966, com o reforço de alguns elementos do Grupo Comandos “Vampiros”.
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Nota do editor LG:
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