segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24867: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (31): Já estava com saudades de Farim e das canoas de transporte público...


Foto nº 1 >  A minha companhia para Farim, na canoa de transporte público


Foto nº 2 > Chegando ao cais de Farim


Foto nº 3  > Canoa de transporte de mercadorias


Foto nº 4 > Canoa de tipo "Uber" ...


Foto nº 5 >  Rio Farim: canoas de transporte público


Foto nº 6 > O nosso almoço em Farim

Foto nº 7 > Farim: monumento do tempo colonial, comemorativo do 5.º centenário da morte do Infante D. Henrique (1460-1960): ainda dá para perceber a estrofe de Camões. "Por mares nunca dantes navegados"... As letras e os algarismos, em metal, foram retirados (muito provavelmente roubados). De qualquer nodo, o monumento  resistiu ao "camartelo paigecista"... Já estava assim em 25 de abril de 2020. (*)


Foto nº 8 > Cais de Farim


Foto nº 9 > A minh canoa, no regresso

Guiné-Bissau > Região do Oio > Farim > 18 de novembro de 2023 

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem (e fotos) que nos foi enviada pelo  Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue; autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau"):


 Data - domingo, 19/11/2023, 13:57 

Assunto - Bom dia desde Bissau: as canoas de Farim 

Bom dia, desde Bissau (**)...  Os meus passeios... No dia 18/11/23, fiz uma pequena volta até Farim, estava com saudades das canoas de transporte público. 

Saída de Bissau às 7h, passagem na ponte João Landim, percorri os buracos no pó vermelho até Bula, depois alcatrão até Bissorã e segui na estrada com pó para Mansoa. Dali para a frente, há boa estrada de alcatrão até a rampa sul do rio de Farim.
A viagem demorou 4 horas.
Na rampa do rio, lá encontrei diversas pirogas, algumas muito bonitas, algumas a remos e outras trabalham com um pequeno motor a gasolina, destinadas ao transporte público (Fotos nºs 1, 2, 3, 4, 5, e 9). Lá “cambarmos” dentro de uma, onde vão 12 pessoas, para a outra margem, onde está a cidade de Farim.

Encontrámos tudo na mesma (Fotos nºs 7 e 8)… Fizemos lá nosso trabalho, para pôr a funcionar o Banco de Sangue do Hospital.

Almoçámos o que havia (Foto nº 6)... No caminho de regresso, parar em algumas tabancas para afinar alguns equipamentos, do fornecimento de água nos fontanários, à população, assim como ver os sistemas de água das hortas das mulheres, agora é muito necessária, a chuva só volta dentro de 7 meses.

Visitámos também o projeto, de área protegida de Djalicunda, Mansabá,  onde se pode descansar e dormir (na Zona de K3 / Saliquinhedim).

Passado 13 horas, estávamos em Bissau prontos para outros passeios.

Abraço. Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com
___________

Notas do editor:

 (*) Vd. poste de 26 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20907: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (14): O 25 de Abril passado em Farim, com crocodilos à mistura no rio Cacheu..., mas levando o luxo (!) da água e da luz ao hospital local... E, hoje, almocei ostras na grelha!

Guiné 61/74 - P24866: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (22): mais quatro fados com letras em calão do fadista ou faia de antigamente


Capa do livro de Luís  Moita (1894-1967): O Fado, canção de vencidos: oito palestras na Emissora Nacional. Lisboa:  [s.n.] [Lisboa, Oficinas Gráficas da Empresa do Annuário Comercial], 1936, 357 páginas. Ilustrações de Bernardo Marques (1898-1962). Foi, na época, o inimigo público nº 1 do fado... "Enquanto cantamos o Fado, de cigarro ao canto da boca, olhos em alvo e paixão a arrebentar o peito, não passamos de um povo inferior, incapaz de compreender a vida moderna das nações civilizadas. Por isso repito aos rapazes  [da Mocidade Portuguesa] : ' Não cantem o Fado!' " (pág. 229). 

Tanto à esquerda como à direita, em diferentes quadrantes político-ideológicos, o fado nunca foi bem aceite pelas elites portuguesas...a não ser mais recentemente coma sua consagração como "património cultural imaterial da humanidade, pela UNESCO (2011). (Temos mais de 7 dezenas de referèncias com o "tag" ou descritor "Fado-)


1. Mais um excerto  do livro de Alberto Pimentel (1848 -1925),  "A Triste Canção do Sul: subsídios para a história do fado" (Lisboa, 1904, pp. 93/99). (*)

Mas não se pense que o Bairro Alto eram só faias, fado, tabernas, naifas e... rameiras. Também concentrava muita gente da emergente classe operária (com a crescente industrialização da cidade), a par dos homens dos  jornais, artistas, escritores e boémios. Desde meados do séc. XIX que se começaram ali a concentrar as publicações periódicas de Lisboa... Ali e nas zonas adjacentes, como o Chiado (chique e burguês). 

Sem dúvida que o Bairro Alto foi, dos bairros populares e ribeirinhos,  talvez o mais "afadistado", o que também tem a ver com a sua origem aristocrática: a nova fidalguia da época dos Descobrimentos  viveu ali, desde o terramoto de 1513  até ao terramoto de 1755 (este o mais mortífero, quando caiu o Carmo e a Trindade...).

Nos séc. XVI e XVII o Bairro Alto, com as suas ruas ortogonais,  são a primeria urbanização moderna da cidade (conhecido como a Vila Nova de Andrade)... O clero e a nobreza, com a degradação física do bairro,  começaram a mudar-se para zonas mais seguras e desafogadas da cidade...  Na segunda metade do séc. XVIII e princípios do sec. XIX, as classes laboriosas (artesãos, operários,  calafates, marinheiros, etc. mas também o lumpen)  começaram ocupar aquele espaço urbano. A seguir, e instalando-se em grandes edifícios deixados vagos,  vieram os tipógrafos e depois os jornalistas, os artistas, os literatos, etc., uma vez que se circulava facilmente entre o bairro, o Chiado e a Baixa (Rossio, Restauradores e Passeio Público, mais tarde Avenida da Liberdade).

 A concentração de tipografias e redações de jornais no Bairro Alto tem uma explicação, mais ou menos óbvia: ficando numa colina, a famosa 7ª Colina de Lisboa, e fazendo-se a distribuição dos jornais através de "ardinas" (hoje uma "profissão extinta"),  que iam de porta a porta, loja a loja, rua a rua, praça em praça, com quilos de papel às costas, era mais fácil descer do que subir, neste caso, da 7ª Colina para a Baixa... 

Já foram recenseadas algumas centenas  de publicações periódicas, de todo o género, com localização nesta zona histórica (Bairro Alto / Chiado), ao longo de mais de um século e meio... Hoje só o jornal desportivo "A Bola" ainda continua no Bairro Alto. Mas continuam a existir a rua do Diário de Notícias (antiga rua dos Calafates), a rua do Século, etc.

Dito isto, desafia-se o leitor a ler e a "descodificar" os vocábulos e as expressões  do calão, usados pelo  fadista ou faia de antigamente (que, diga-se de pssagem, é também uma figura estereotipada que nos veio dos primórdios do fado, ou seja anos 30/40 do séc. XIX)...  

A imposição, pela Ditadura Militar, em 1927 (e mantida depois pelo Estado Novo), do licenciamento dos recintos, da emissão de carteiras profissionais para os fadistas e da censura prévia das letras, vai ter grandes implicações na evolução do fado e dos seus cultores. E este tipo de letras (e outras com conteúdo mais contestário, no plano social e político) irão desaparecer...

Para os nossos leitores, fica  aqui  a tarefa de descodificar estas letras,  o que  não é fácil, à falta de um glossário (**). Alguns destes vocábulos e expressões ideomáticas chegaram, todavia,  até aos nossos dias (e faziam parte do nosso léxico de caserna)... Prometemos,  em próximo poste, publicar um pequeno glossário do calão fadista.


Cap III - Os assumptos do Fado (pp. 93 / 99)

(...) Há, porém, outros Fados compostos em calão. Conhecemos quatro que não devemos deixar de transcrever, tanto mais que elles contêem alguns termos, como por exemplo antrames e gamotes, que não foram incluídos no diccionario do sr. Bessa.(**)


Quem se metter c'um fadista
E o ouvir faltar calão, 
Fica logo a ver navios, 
Té perde a mastreação. 

Chamam ao bater suquir
A' gazúa uma retanha. 
A' bofetada uma sanha
Roncar é estar a dormir
Esgueirar é ter de fugir, 
Um arranjo é uma conquista, 
A taverna é uma modista
Cemitério se m'entende 
Decerto o nâo comprehende, 
Quem se metter c’um fadista. 

Homem honesto e honrado, 
É um gajo direitinho
Bater é fazer joginho, 
Mattar é deixar espalhado
Ser pobre estar desarmado
Gamote é reunião: 
Pois quem se chegue a um bailhão 
Passe-lhe logo as palhetas
Quando o vir fazer caretas, 
E o ouvir fallar calão

Elles chamam laia á prata, 
A um casebre um cortiço
Namorar é um serviço
A pancada é zaragata
Um sôcco é uma batata,
Chapéus altos são cepios, 
Aos ladrões chamam larpios
A’s algibeiras antrames
Quem ouvir dizer arames
Fica logo a ver navios.

Arames é o dinheiro;
Ao vinho chamam briol;
Ao apito um rouxinol;
Jogador de pau, cocheiro
Um bêbado é um archeiro
Um gabinardo um gabão
Dois vinténs um buzilhão
Avésa quer dizer tem: 
Quem os não percebe bem, 
'Té perde a mastreação. 

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Passei os butes (#) á Annica, 
Pois tinha naifa na liga: 
Boas noites, meus senhores. 
Vou cantar uma cantiga. 

De briol tinha atirado 
Duas viuvas e meia: 
Sentou-se uma centopeia 
Junto onde eu estava sentado. 
Fiquei mais envinagrado
Quiz dar cabo da futrica
Já por ser feia e não rica 
E me negar um paivante
Em tempo que é já distante 
Passei os butes á Annica. 

Puz-me a mirar a gajona 
E fez- me tanta arrelia
Que por pouco a não enfia
 À minha naifa, intrujona
Tinha um ar de marafona, 
De mulher que vende em giga
Mas não quiz armar a briga
Apesar já da piélla
Não me quiz medir com ella, 
Pois tinha naifa na liga. 

A final engole a isca 
Que tinha mandado vir, 
E diz- me assim ao sair : 
«Chamo-me Nuna Francisca. 
Se você se não arrisca 
A mostrar-me os seus valores,
Vá ter co'a Julia Dolores,
P'ra nos soccarmos com ela».
Vejam lá que bresundella!
Boas noites, meus senhores.

Se alguém d'aqui foi capaz
De saber o que eu cantei,
Uma prenda lhe darei,
Seja velhote ou rapaz.
Sabem o que aqui me traz,
O que a servil-os me obriga ?
É essa amizade antiga
Que por mim lhes é bem dada.
Visto que fiz esta entrada,
Vou cantar uma cantiga.

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Quando tenho um carinha
E um charuto a fumegar,
Já sou mais que o faroleiro,
É dar-lhe, toca a gimbrar


0 meu corpo não foi feito
P'ra se ralar...—isso pára!
P’ra gozança é que esta cara
Sempre teve todo o geito.
Se avélo por o direito,
Seja só uma rodinha,
Já dou mil voltas á pinha
A pensar como estafa-la,
E então isso não se falia
Quando eu tenho uma carinha!

Elle é a bella murraça,
E’ a bella rapioca
Elle é a gostosa móca,
Elle é tudo que tem graça.
Lá p'ra fazer de panaça
Co’as mondongas a versar,
Nunca me esteve a calhar;
Prefiro bater a bisca,
Ou dar-lhe então d’uma isca
E um charuto a fumegar.

Se a cousa gruda ao domingo.
Dou girança até ás hortas,
E de lá por horas mortas
É já torto que me tingo:
Que eu também nunca me pingo
Até perder o carreiro ;
Fico só um pouco archeiro,
A trez furos de pingado,
E assim mystico, orchatado,
Já sou mais que o faroleiro.

Todo o gajo que na orchata
Nunca entortou o pescoço,
Avezando bago grosso,
Tem a pitorra bem chata
Devia logo uma data
De camolete apanhar,
Que era então p'ra se lembrar
Que o mundo é uma fumaça,
E emquanto n’elle se passa
E' dar-lhe, toca a gimbrar.

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Em calão a atirar

Dê me a naifa, não se ponha 
Comigo ás duas por trez . 
Não passe os butes agora... 
Que está na mão de má rez. 

— Eu estafo-o, seu mariola
—E eu cá chego-lhe umas todas. 
—Não se me ponha com modas, 
«Que o mando já p'ro esfolla
—Olhe que é de ponta e móla. 
«Olhe que esta  tem peçonha
—Você perdeu a vergonha ? 
—Perdi a vergonha ? Hom'essa! 
— Vamos lá, que lenho pressa, 
«Dê-me a naifa, não se ponha... 

— Não me ponho a fazer vistas 
«De fadista ou galopim
"Lá eslá aberto o estarim 
"P'a quem rentar com fadistas. 
Você porque faz conquistas... 
«Que eu não sei já quantas fez,
 «Vem cá fazer-se francez
«Porque pertence á gentalha
«Vem pôr-se aqui, seu canalha, 
«Comigo ás duas por trez !

—Está nadando, meu amigo; 
«Passe p’ra cá essa espinha.
 Isso, não; que é muito minha:
 «Você, chamava-lhe um figo! 
— Eu se lhe afinfo no embigo
"Um sôcco sem mais demora.. 
"Veremos, se você chora 
"O seu empenho tão cego!...
«Eh! onde vai, seu gallego?
«Não passe os butes agora !
 
—Arrede-se já d'aqui...
«Já o não vejo, percebe? 
—Pois já a comadre bebe!|
«Seu pateta!. .. seu cri-cri
—Eu cá logo quando o vi, 
«Puxei da naifa outra vez : 
«Vá, marche, seu montanhez
«Ou dou-lhe quatro naifadas
"Conte co’as guellas cortadas, 
Que está na mão de má rez.


(#) Bute é uma das palavras que o calão adoptou das línguas estrangeiras. Vem do inglez boot,  bota, pé. (Adolpho Coelho.)  

In: Alberto Pimentel - A triste canção do sul: subsídios para a história do fado. Lisboa: Livraria Ce
ntral de Gomes de Carvalho, editot, 1904, pp. 89-93

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Notas do editor:


Último poste da série > 19 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24864: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (21): Os sinais de código da estrada é para... respeitar, e os dos códigos comportamentais ainda mais... (Hélder Sousa, Setúbal)

(*) Vd. "A gíria portuguesa: esboço de dicionário do 'calão', de Alberto Bessa (1901), citado por Alberto Pimentel (1904)... Foi considerada na época a mais completa recolha de termos e expressões idiomáticas da gíria e do calão, feitas em Portugal e no Brasil, contendo mais de cinco entradas.

Há uma edição, recente, da Húmus (2022, 248 pp; coleção A Iha; preço de capa: 4 euros).

Guiné 61/74 - P24865: E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) - Parte I: Santo Tirso, o dono da "tasca"



Porto > O atual edifício do ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto. que faz parte do IPP - Instituto Politécnico do Porto. Fonte: ISEP (2023)


Santo Tirso - Fachada da atual Escola Secundária Tomaz Pelayo.
Fonte: Agrupamento de Escolas Tomaz Pelayo (2023)



1. Mensagem do Joaquim Costa:

(i) ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351, "Tigres do Cumbijã"  (Cumbijã, 1972/74);

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue;

(iii) autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022) (*), e que depois publicou em livro ("Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp);

(iv) tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto;

(v) foi professor do ensino secundário, tendo-se reformado como diretor da escola secundária de Gondomar;

(vi) minhoto, de Vila Nova de Famalicão (**), vive em Rio Tinto, Gondomar;



Data - 24/10/2023, 10:49
Assunto - Depois da Guiné... a luta continua

Olá,  Luís,

Espero que tudo esteja bem contigo.

Envio-te a minha primeira crónica, que publico no Facebook, sobre as “Minhas Escolas”.

Esta primeira crónica faz uma pequena referência às dificuldades e peripécias sobre o regresso à escola para concluir os cursos que ficaram a meio com a nossa mobilização para a guerra.

Deixo ao teu critério o interesse na publicação do Blogue.

Um grande abraço

Joaquim Costa



2. Comentário do editor LG:

Joaquim, é indecente responder-te só agora... Para mais sendo tu um colaborador "líquido", do nosso blogue, já com 67 referências, o que é muito para quem entrou há pouco mais de dois anos e meio. Lembro que és autor de uma notável série, "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã", com  base da qual publicaste o teu livro “Memórias de Guerra de um Tigre Azul” (Rio Tinto, Lugar da Palavra, 2021, 179 pp.), 

Como já te respondi, por mail e na sequência da nossa última conversa ao telefone, claro que vamos publicar.  É um "filão" a explorar, o teu, o nosso pós-guerra como "paisanos"... 

Não temos aqui falado tanto quanto deveríamos  das dificuldades e obstáculos que, nós, antigos combatentes,  tivemos de enfrentar e vencer depois da peluda: exorcisar os fantasmas da guerra, "esquecer a Guiné", fazer os "lutos",  acertar o relógio e o calendário, arrostar  com as "piadas de mau gosto" (quando não mesmo a hostilidade de certos indivíduos e grupos), voltar a estudar, arranjar um emprego, ou retomar o trabalho que já tínhamos antes da tropa, refazer a vida pessoal e familiar, arranjar casa, casar, contrair o primeiro empréstimo bancário (e pagar juros altíssimos!), comprar o primeiro automóvel,  ou fazer as primeiras férias com a namorada, ou a mulher e os filhos, viajar, sair pela primeira vez do país, etc.  

Tu que fostes professor toda a vida, e também passaste pela experiência da administração escolar, podes falar de cátedra do que é isso de andar com a casa às casas até conseguir um lugar efetivo do quadro, próximo da terra e da casa onde queremos viver.

Seguramente que as tuas crónicas vão motivar e ajudar outros camaradas a escrever sobre o assunto, doloroso e fascinante ao mesmo tempo.


E depois da peluda... a luta continua: as minhas escolas (Joaquim Costa) 

Parte I: Santo Tirso, o dono da "tasca"


Ainda na ressaca dos dois anos passados no inferno da Guiné e completamente alucinado com o desenvolvimento do PREC (Processo Revolucionário Em Curso, 1974/75), assistindo incrédulo ao incêndio e destruição da sede de um partido político com uma multidão em fúria, lá me desloquei à minha antiga Escola (hoje ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto) tentar retomar os estudos vencendo as cadeiras por concluir. 

Foi uma tarefa de avanços e recuos; não só pelo alvoroço de toda aquela juventude que já se tinha livrado da guerra e que,  ao que parece,  também queria mudar o mundo, sabe-se lá para onde... mas fundamentalmente por sentir que aquela já não era a escola que eu tinha deixado.

Esta miudagem olhava para estes “velhos;” tisnados pelo sol da Guiné e com aspeto de alucinados, com alguma desconfiança já que cumprimentavam com deferência os seus antigos professores, que eles queriam sanear.

Como os porcos espinho no inverno,  lá se conseguiu um espaço mais ou menos confortável para as duas gerações. Os miúdos tinham já conseguido reduzir para 3 anos a duração dos cursos, entrar na direção da escola e sanear alguns professores. Nós conseguimos manter a antiga estrutura e duração do curso, o mesmo currículo e aulas suplementares nas cadeiras estruturantes.

Lá se conseguiu concluir o curso com o mesmo espírito com que se venceram os dias de inferno na Guiné, apoiados uns nos outros, nunca deixando ninguém para trás.

Concluído o curso, enquanto esperava pela resposta aos inúmeros currículos enviados para várias empresas, com outros colegas avançámos, como profissionais liberais, na elaboração dos primeiros projetos (ou proje...tinhos) de engenharia.

Entretanto surge a minha colocação na Escola Industrial e Comercial de Santo Tirso, que aceitei uma vez que me garantia o vínculo à função pública.

Não foi fácil, pois o ensino estava a anos-luz das minhas preferências. Apresentei-me na escola num dia, e nesse mesmo dia me indicaram a sala, cheia de alunos, para iniciar as aulas. 

O que é isso de pedagogia?!... Desenrasquei-me, ensinando como fui ensinado!

Entrei pela primeira vez na sala de professores, onde se discutia aos gritos os últimos desenvolvimentos do PREC. Mesmo naquelas condições não foi uma entrada discreta, para além do silêncio de igreja que abruptamente se fez sentir, vejo, incrédulo, toda a gente a afastar-se de mim. Tinha acabado de trocar o meu Fiat 600 por uma Diane nova com os estofos de uma mistela que deixava um cheiro na roupa insuportável. Demorou um ano a sair aquele cheiro,  pelo que não foi fácil fazer... amizades.

Passei dois anos nesta Escola, bem perto de casa (que era em Famalicão), mas não foram propriamente os melhores anos da minha vida. Contudo gostei muito dos alunos com quem mantive uma boa relação.

Também ajudou a algum desconforto o facto de ser o responsável pelo bar da escola, tarefa que ninguém queria, já que se estava sujeito a todo o tipo de piropos sobre a qualidade dos produtos e a quantidade do queijo e fiambre no pão. Chegaram a insinuar que eu estava a meter dinheiro ao bolso. Era brincadeira, mas... aleijava!

Até os amigos das jogatanas de futebol de salão me tratavam por... “tasqueiro”!

Sim, é mesmo verdade! Imaginem o meu espanto quando a Diretora me entrega o horário com duas horas da “disciplina” de Bar. Argumentei que a minha formação era em engenharia eletromecânica pelo que nada sabia sobre restauração. Dizia ela, com um sorriso nos lábios: "não dá trabalho nenhum, é só comprar os produtos e vendê-los ao preço de custo. No final do ano entregas um relatório com a diferença do deve e haver a zeros!"...

Ficou, ao menos,  uma grande amizade com o funcionário do bar, o meu braço direito...e esquerdo.

Não foram propriamente dois anos fáceis, principalmente na "cadeira" de Bar...

Joaquim Costa

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Notas do editor

(*) Último poste da série > 28 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23465: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XXVIII: Em 1976, uma viagem pela velha Europa para esquecer a guerra e espairecer do PREC

(**) Vd. postes de:

18 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23891: Origens do Tigre Azul: Nado e criado entre Famalicão e o Porto (Joaquim Costa, ex-fur mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) - Parte I: A pomada milagrosa

domingo, 19 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24864: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (21): Os sinais de código da estrada é para... respeitar, e os dos códigos comportamentais ainda mais... (Hélder Sousa, Setúbal)


GONÇALVES, Gerardo Vidal; PEREIRA, Dina; LOPES, Gonçalo e LISA-FREIRE, David (2021) – “Marcas de Canteiro, Cantaria Histórica e Arqueologia do Construído: a Igreja de Santa Maria do Castelo, na vila da Lourinhã”. Al-Madan Online. Almada: Centro de Arqueologia de Almada. 24 (2): 130-142. Em linha. Disponível em https://issuu.com/almadan. (Com  a devida vénia...)

Resumo: Estudo de marcas de canteiro, cantaria histórica e Arqueologia do construído, a partir de trabalhos arqueológicos preventivos realizados, em 2021, na envolvente da Igreja de Santa Maria do Castelo (Lourinhã).

Os autores apresentam a metodologia de registo e os resultados, que incluem 29 marcas de canteiro distribuídas por vários elementos arquitectónicos, maioritariamente em zonas baixas e pouco visíveis. O seu agrupamento tipológico sugere pelo menos três oficinas, mestres ou canteiros diferentes. Há ainda uma inscrição aplicada no pórtico principal, virado a Oeste, provavelmente datada de finais do século XIV.

Palavras-chave: Arqueologia preventiva; Arqueologia da Arquitectura; Pedra; Marcas (de canteiro).



1. Mensagem de ontem` às  15h45, do  Hélder Sousa,  foto à direita: colaborador permanente do nosso blogue, provedor da Tabanca Grande;  tem  193 referências no blogue, tendo ingressado em 11/4/2007 (é, portanto, um "vê-cê-cê", velhinho como o c...); ribatejano, de nascimento (Vale da Pinta, Cartaxo) e formação (Vila Franca de Xira), português, cidadão do mundo, amigo do seu amigo; ex-fur  mil trms TSF (Piche e Bissau, Nov 70 / Nov 72);  engenheiro técnico electrotécnico, pelo ISEL;  consultor em segurança no trabalho; empresário em nome individual; vive em Setúbal; tem página do Facebook aqui.

Caros amigos

Achei por bem dar conta desta minha lembrança que me ocorreu a propósito dos diversos "calões" e também por a eles se terem referido como "códigos".

Assim, também como os chapéus, que há muitos, os códigos também serão de diversa motivação e neste caso concreto, acontecido comigo, aproveitei não só para me lembrar do caso com também, ao dar conta dele, recomendar que os levem a sério, quando vos tocar qualquer coisa do género.

Abraços, Hélder Sousa


OS CÓDIGOS COMPORTAMENTAIS

por Hélder Sous

Meus amigos, esta memória, de que vou dar testemunho, surgiu depois de ler algumas coisas sobre o calão falado, “por aqui e por ali”, e de também se ter referido a eles como que espécie de “códigos” de comportamento para relacionamento e reconhecimento de grupos.

Ora, tanto quanto vou aprendendo também “por aqui e por ali”, isso dos“códigos” é coisa bem antiga.

Por exemplo, é bem conhecido o facto de que os velhos “construtores de catedrais” tinham códigos (sinais) identificadores para se saber a que Mestres correspondiam as pedras colocadas, quando numa mesma obra existiam mais do que um Mestre e seus operários, para que assim o Dono da Obra pudesse quantificar o trabalho efetuado e remunerá-lo adequada e justamente. Isso pode ser observado em vários monumentos um pouco por todo o País.

Mas o que eu vos queria transmitir é que há uns bons pares de anos atrás, quando retomei os estudos interrompidos, primeiro por incorporação no SMO (Serviço Militar Obrigatório), , depois por dedicar mais tempo à ”vida artística”, cumulativamente pelos tempos do imediato pós-25 de Abril, fiz parceria com um colega de turma para a produção de “trabalhos de grupo”.

Ora esse colega era filho dum senhor que tinha uma oficina de manutenção automóvel, trabalhos de bobinagem e relativos, ali para os lados de Campo de Ourique, em Lisboa, já a chegar ao “Casal Ventoso”, em tempos em que esse local era conhecido como “supermercado da droga” e de consumo da mesma.

Recomendaram-me que, quando para lá me deslocasse, tivesse o cuidado de estender por cima do volante um pano amarelado ou laranja. Que fizesse isso e não fizesse perguntas. E assim procedi sempre e não ocorreu nada de registo que merecesse ser contado.

Acontece também que esse meu amigo e colega morava numa casa, num rés-de-chão ligeiramente elevado em relação ao nível da entrada, ali mesmo ao lado da Igreja de Santa Isabel e onde também era devido utilizar o “código do pano sobre o volante”.

Numa noite em que fui para lá para trabalhar, chegando já um tanto atrasado, com a pressa, não tive o cuidado de colocar o “bendito paninho”, mas como o carro (um Renault 5) ficou estacionado mesmo junto à janela (não ao nível da rua, mas um pouco mais elevada, como disse) do compartimento onde estaríamos a fazer os trabalhos e aí o passeio era bem estreito, menos de 1 metro entre o carro e a janela, não me preocupei quando me lembrei do facto e até achei que não deveria ter importância.

Mas teve!

Quando acabámos e fui para o carro, depois de entrar e ligar o motor, quando fui para ligar o rádio só encontrei o buraco. O rádio tinha desaparecido.

Claro que no imediato fiquei “estragado”. Primeiro por ter sido roubado, depois, culpabilizando-me, pelo esquecimento de assim ter desrespeitado a aplicação do código (o tal pano laranja sobre o volante) para que eventuais “amigos do alheio” soubessem que se tratava de um bem pertencente à comunidade, conforme já tinha percebido.

O que “compensou” foi que o trabalhinho foi efetuado por profissional. Nada partido, nada estragado, “apenas” fiquei sem o rádio…..

Portanto, se houver códigos, são para serem respeitados, não se esqueçam.

Hélder Sousa
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Nota do editor;

Guiné 61/74 - P24863: Parabéns a você (2224): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (CCS/QG/CTIG, BART 2917 e CCAÇ 2701 (Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24848: Parabéns a você (2223): César Dias, ex-Fur Mil Sapador Inf da CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá, 1969/71); Jacinto Cristina, ex-Soldado At Inf da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883 (Piche e Camajabá, 1972/74) e Enf.ª Maria Arminda Santos, ex-Ten Enf.ª Paraquedista (Angola, Guiné e Moçambique, 1961/1970)

sábado, 18 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24862: Os nossos seres, saberes e lazeres (601): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (129): O Convento dos Capuchos (ou da Cortiça) que começou por ser o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
Antes de entrar no Convento da Cortiça procurei ler ao pormenor o plano de restauros e intervenções de que este magnífico espaço é alvo. O convento viveu um período de abandono que permitiu o vandalismo e alguma pilhagem, a despeito da rusticidade do espaço. A empresa responsável, digo-o com admiração, cuida primorosamente do convento e anexos, há mesmo voluntários a trabalhar nas hortas; desapareceram imagens, a inclemência do tempo e da natureza vão exigir mais restauros, mas não se pode percorrer este lugar sem sentir que houve aqui uma espiritualidade que atraiu homens a uma vida de despojamento e entrega a Deus, orando e subsistindo, seguramente contemplando com êxtase as belezas da serra, construíndo habilidosamente uma harmonia de materiais em que a cortiça, o madeirame e as pedreiras convergiram num diálogo que é impossível não maravilhar quem por aqui passa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (129):
O Convento dos Capuchos (ou da Cortiça) que começou por ser o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra (2)


Mário Beja Santos

Aqui se conclui a visita ao Convento da Cortiça, promessa concretizada de D. Álvaro de Castro para homenagear a simplicidade cristã, o despojamento, num contexto de ordem freirática e na linha dos ideais de S. Bento, reza e trabalha, vive alheado das vaidades do mundo. O local escolhido para implantar este convento quinhentista é quase um achado, já vimos o uso apurado da pedra em diálogo com a cortiça, seguimos da entrada para a igreja e percorremos até aos dormitórios, mostram-se agora imagens desta austeridade de vida, percorre-se espaços da organização conventual, caso da cozinha e refeitório, a enfermaria, o forno e o celeiro.

Há décadas que este espaço me impressiona, de tal modo que um dia, no mercado de Santa Clara, em plena Feira da Ladra, na loja do meu amigo Eduardo Martinho, um vendedor exigente de livros e de arte, encontrei este quadro a óleo que mostra um dos aspetos mais cativantes daquela vida conventual. Na ausência de um claustro, que seguramente a Ordem não prescrevia, temos belos pontos de ligação à volta de uma fonte. O óleo veio assinado, assinatura não identificada, é de alguém que seguramente cultivava o uso da espátula e das camadas grossas, torcendo e retorcendo para que tudo ficasse bem claro. Quando abro a porta de casa, é sempre um prazer olhar para cima e cumprimentar esta singeleza conventual da serra de Sintra.

Pormenores dos dormitórios, na segunda imagem não terei dificuldade em reconhecer que há um assento para contemplar a paisagem e especulo se o outro cubículo não seria um pobre guarda-roupa dos poucos trastes que os frades possuíam.
As imagens acima têm a ver com a cozinha e o refeitório, áreas funcionais bem demarcadas: o fogão, sob a grande chaminé, e o lavadouro, sob a janela que abre para o Claustro. No dia 3 de maio, dia de Santa Cruz, havia peregrinos que acorriam ao convento, traziam donativos que chegavam a incluir carne, que os frades comiam apenas duas vezes por ano: no Natal e na Páscoa, para cumprirem o ritual cristão. No refeitório, os frades comiam sentados no chão, com o prato sobre os joelhos. Mais tarde, o cardeal D. Henrique ofereceu-lhes uma pedra, mandada arrancar da serra propositadamente para este efeito. Vê-se inicialmente a sala do refeitório, seguem-se imagens com aspetos da cozinha e não resisti a registar o belo teto em cortiça das instalações.
Passei a correr pela Sala do Capítulo, local de reunião da comunidade e também espaço de confissão. Havia ali um nicho com a imagem de Nossa Senhora das Dores. O que mais me chamou a atenção foi esta pia-fonte, seguramente quando estiver bem restaurada maravilhará o mais indiferente dos visitantes.
Estamos agora no Átrio das Enfermarias, quando adoeciam, os frades beneficiavam de maior conforto. Nas enfermarias usavam camas, havia uma botica onde se guardavam medicamentos e roupas de cama e também onde dormia o frade responsável pelos enfermos. Junto a esta, existe um pequeno braseiro para aquecer águas, chás medicinais e queimar ervas aromáticas. Neste espaço havia a cela de penitência, para recolhimento e meditação, era escura, aqui apenas era necessário a luz interior para fazer esplender a fé.
Pormenor de um corredor com luz para o exterior
Cela do doente
Mais um pormenor de quarto de enfermaria com a natureza ao fundo
Pormenor de janela com a serra de Sintra à espreita
Claustro do Convento da Cortiça já intervencionado na nova etapa de restauros, fechei os olhos para recordar o quadro que guardo em casa que usa uma técnica expressionista que não deslustra o que estou a ver, antes de descer para as hortas e dar por finda esta inesquecível visita.
Pormenor da azulejaria da capela
Teto do celeiro
Antigo Forno
Caminho na mata da cerca do convento, sigo agora para as hortas e desejo a todos os futuros visitantes do Convento da Cortiça que aufiram da mesma alegria que eu aqui tive.
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24841: Os nossos seres, saberes e lazeres (600): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (128): O Convento dos Capuchos (ou da Cortiça) que começou por ser o Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24861: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (5): Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia (António Graça de Abreu)


Foto nº 27


Foto nº 28


Foto nº 29


Foto nº 30

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 
1. Mais textos e fotos enviados pelo nosso amigo e camarada António Graça de Abreu ( ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), referentes a mais um cruzeiro que efetuou, com a esposa, em agosto passado, desta vez à Gronelândia e à Islândia.


Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (5):  Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia

por António Graça de Abreu (*)


Banho Geotermal, Reikjavik, Islândia

Mergulha-se a pessoa numa grande piscina ou laguna (aqui, à inglesa, chamam-
lhe Sky Lagoon), com chão de pedra polida e paredes de lava endurecida, gasta pelos séculos. (Fotos nº27 e 29)

A pessoa tem à sua espera água geotermal quente, a 35 graus, que viajou canalizada descendo montes desde os subúrbios da capital islandesa. A pessoa embala-se nas águas medicinais, flutua, envaidece-se, contemplando, em frente, o espelho frio do mar. (Foto nºs 28 e 30)

Nove graus de temperatura exterior e a pessoa parece usufruir de delícias tropicais, imagina estar numa enorme piscina de um bom hotel nas Caraíbas. Meia hora
de imersão e o lastro, a ganga do bulício dos últimos dias biando nas águas, sendo
levada pela brisa. Tempo de sair do quentinho e passar à carícia dos chuveiros com água muito fria.

A epiderme da pessoa amofina-se, deseja a temperatura tépida da sauna, Um
espaço aberto logo ali, com entrada pela porta ao lado. Ah, que bom, o calor outra vez,na sauna com vista pela infindável janela envidraçada e quase em cima do frio do mar!

Depois, a pessoa sobe umas escadas e passa para o espaço da gruta de lava negra, com espelhos por todo o lado, onde tem à disposição tigelas de porcelana cheias de uma espécie de sílica, sal termal para barrar todo o corpo, de alto a baixo, como se de manteiga ou de creme se tratasse. A pessoa cobre-se generosamente com estes cristais vulcânicos, miraculosos, uma especialidade islandesa capaz de revigorar coxos de nascença e de dar saúde a moribundos. Encharcada na sílica perfumada, a pessoa entra então nos espaços do calor húmido, uma espécie de banho turco à moda da Islândia.

Mais meia hora sentada, envolta em vapor, a humidade bem quente ajudando a pessoa a suar gloriosamente. Está quase terminado o tratamento. É altura da pessoa procurar o calor de mais uns tantos chuveiros para passar o corpo por água e tirar o sal, a sílica medicinal que ainda tem agarrada ao corpo. Completada a tarefa, a pessoa sai cá para fora e entra de novo na grande piscina, ou lagoon, para o relaxamento final, a conclusão de tão cuidadoso e esmerado tratamento. Mais meia hora com umas tantas braçadas na lagoon, ou para se estender, em sossego, dentro de água, de papo para o ar.

A pessoa pode aproveitar agora para contemplar o mar, os horizontes próximos
de Reikjavik.

Por fim, o portuga das mil aventuras, rejuvenescido, regressa tranquilo aos
afazeres do dia, a pele fina e macia, o coração leve como uma pena.

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Guiné 61/74 - P24860: (In)citações (259): Depois da "mina A/P" que me atirou, em 29/10/2023, para um leito de hospital, com o fémur partido, estou de regresso à vida, à luta, a escrita, enquanto a a recuperação prossegue (José Saúde, Beja)


Beja > Hospital distrital > Outubro de 2023  > O Zé Saúde no "estaleiro!... E a agradecer aos amigos e camaradas que se têm interessado pelo seu estado de saúde... Ele, um "ranger", de rija têmpera, está de volta à vida, à luta, à escrita...

Foto (e legenda): © José Saúde (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego / Gabu, 1973/74), natural da Aldeia Nova de São Bento , Serpa; a viver en Beja; jornalista e escritor; tem página no Facebook):

Data - quarta, 8/11/2023, 17:30

Assunto - Recortes do meu acidente

Camaradas,

Eis o franco e imprescindível ânimo deste antigo combatente por terras vermelhas da Guiné, cotejando, por isso, que um impedimento casual jamais derrubará este vosso velho camarada. Partirei um dia para um outro lugar, mas até lá vou passando por entre ventos e tempestades e não abicando de princípios legados pelos meus antepassados.

Aliás, o percurso da minha vida até ao dia 27 de julho de 2006, data esta encaixada com a visita do meu AVC, um mal que veio para ficar, instalando-se “envergonhadamente” neste já débil corpinho, um corpinho que tinha sido até aí pautado por um viver isento de “malazengas”, sendo que no presente foi o rebentar de uma “granada antipessoal” que me atirou para o leito hospitalar.

Neste profícuo caminhar ao cimo do planeta chamado Terra, e sempre com a missão no exercer o equilíbrio físico que a vida obviamente nos impõe, aconteceu que fui apanhado numa “emboscada” que me levou ao caminhar sobre uma ténue linha, mas onde ânsia do momento supera o nosso evidente acreditar.

Aqui vos deixo camaradas um texto que oportunamente subscrevi, tendo dele recebido centenas de profícuas opiniões.

Uf, que horror…

E o inesperado, um acontecimento sempre distante dos nossos pensamentos, aconteceu! Domingo, 29 de outubro de 2023, cerca das 11h30, dirigia-me a um encontro/convívio com amigos, porém, ao descer do carro cai e desde logo me apercebi que o impacto com a velha pedra lusitana me teria provocado irreparáveis danos.

Mesmo assim, a minha força física e mental, levou-me a pedir auxílio, sendo então socorrido por um amigo que me transportou para o interior do carro, seguindo-se a condução, não obstante as dores sentidas, para junto à residência, onde habito, casa própria do meu genro, Paulo Paixão e da minha filha Rita Saúde, sucedendo o meu pedido de socorro para o 112. Aí, e sem me poder mexer, acompanhou-me o meu cunhado, Joaquim Lança.

Depois telefonei à minha filha Marta e as preocupações logo se fizeram sentir, ouviu-se o sinal de alerta. Veio a ida para o hospital, o internamento e a operação ao fémur. Tive alta na passada sexta-feira, encontro-me em convalescença e aguardam-me dias de uma certeza recuperação.

Camaradas, a recuperação prossegue.
José Saúde
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24570: (In)citações (258): Reflexão extemporânea entre dois copos (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P24859: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (30): Inaugurada exposição (portuguesa) sobre Amílcar Cabral, no Palácio Presidencial em Bissau, em 16/11/2023


Guiné-Bissau > Bissau > Palácio Presidencial > 16 de novembro de 2023 

Exposição dedicada à história e legados de Amílcar Cabral > Da esquerda para a direta, o investigador Vitor Barros, o primeiro ministro, o presidente da repúblicae   ministro dos negócios estrangeiros de Portugal.


Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem (e foto) quer nos foi enviada ao fim da tarde, 19:37, do passado dia 16, o Patrício Ribeiro (nosso correspondente em Bissau, colaborador permanente da Tabanca Grande para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau, onde vive desde 1984, e onde é empresário, fundador e diretor técnico da Impar Lda; tem mais de 130 referências no blogue; autor da série, entre outras, "Bom dia desde Bssau"):

A legenda que acompanha a foto é lacónica mas bem humorada: 

"Visita à exposição sobre Amilcar Cabral... no palácio do Spinola".



2. Reprodução, com a devida vénia, de notícia publicada no sítio da Instituto de História Contemporânea (IHC), da FCT/UNL


EXPOSIÇÃO SOBRE AMÍLCAR CABRAL CHEGA À GUINÉ-BISSAU

Nov 17, 2023 | Notícias

A exposição dedicada à história e legados de Amílcar Cabral, que esteve patente em Lisboa entre Março e Junho deste ano, com curadoria científica de José Neves e Leonor Pires Martins, foi ontem inaugurada no Palácio Presidencial em Bissau.

Desta feita, o investigador Victor Barros foi o cicerone da visita inaugural, que contou com presença dos Presidentes da República e dos Primeiros-Ministros da Guiné-Bissau e de Portugal.

Em comunicado de imprensa, a Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau realçou que “as peças integrantes da exposição constituem uma oportunidade para homenagear Amílcar Cabral, uma destacada e multifacetada figura do século XX, enquanto líder político e engenheiro agrónomo e activista cultural, tendo contribuído decisivamente para a independência da República da Guiné-Bissau e da República de Cabo Verde e para a restauração do regime democrático em Portugal.”

Tal como em Lisboa, a iniciativa foi da Comissão Executiva da Estrutura de Missão para as Comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril, contando agora também com o apoio do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., da Embaixada de Portugal em Bissau e das Autoridades Guineenses.

O projeto de arquitectura foi, novamente, da autoria de Miguel Fevereiro & Ricardo Santos Arquitetos; o design de Vera Tavares.
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24855: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (29): A Av Amílcar Cabral, no coração do "novo" Bissau Velho, palco das comemorações dos 50 anos da independência do país