quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15791: Convívios (728): X Convívio dos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, dia 5 de Março de 2016, em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)


X Convívio dos Combatentes do Ultramar do Concelho de Matosinhos

Dia 5 de Março de 2016

Leça da Palmeira

Organizado desde 2007 e destinado originalmente aos Combatentes da Guiné, desde há 3 anos o evento foi alargado aos combatentes de Angola e Moçambique, porque somos todos camaradas do mesmo Concelho.

Podem participar ainda os camaradas do Grande Porto (e por que não do resto do país?) que queiram estar presentes do nosso convívio.

Gostaríamos de ver entre nós os nossos familiares, muitos dos quais viveram connosco os dias difíceis da guerra.

Este ano, a exemplo do que sucedeu no IX Convívio, será servido um almoço no Tryp Expo Porto Hotel, situado junto à Exponor, em Leça da Palmeira.

O almoço, que custará 20,00€, terá a seguinte ementa:

ENTRADAS  - Buffet de Entradas e Saladas 
SOPA  - Creme de Legumes 
PRATO DE PEIXE  - Bacalhau Gratinado com Espinafres
PRATO DE CARNE  - Grelhada Mista de Carnes 
SOBREMESAS  - Buffet de Sobremesas 
BEBIDAS  - Vinhos Seleção do Hotel, Cerveja, Água Mineral e Refrigerantes 
Chá e Café
Bolo comemorativo e Espumante

A exemplo dos anos anteriores, contamos com a presença do senhor Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, senhor Presidente da União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira e do senhor Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.

Estão abertas as inscrições, devendo ser feitas para os seguintes contactos:
Ribeiro Agostinho – 969 023 731 
Carlos Vinhal – 916 032 220 
José Oliveira (Mestre Cartaxo) – 917 898 944  
combatentesdematosinhos@gmail.com

Os Organizadores
Abel Santos
António Maria
Carlos Vinhal
José Oliveira (Cartaxo)
Ribeiro Agostinho
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15785: Convívios (727): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 13 de Março de 2016, em Fátima (Delfim Rodrigues)

Guiné 63/74 - P15790: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (17): Os 'cronistas' suecos do PAIGC: os cineastas Lennart Malmer e Ingela Romare


Foto nº 1


Foto nº 1 A


Foto nº 1 B [A imagem não é nítida: mas parece-nos ver um homem, com camisa de caqui e calções, e aparentemente calçado, transportando munições, talvez granadas de RPG, e atrás dele uma mulher, jovem, transportando uma arma ou um tubo de RPG 2 ou 7... Ambos atravessam uma improvisada ponte, feita de paus, sobre um rio com alguns metros de largura... Essa ponte aparece em várias fotos dos "amigos suecos" do PAIGC... (LG)


Fonte: (s.d.), "Populações das regiões libertadas", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42259 (2016-2-23) (Com a devida  vénia à Fundação Mário Soares, detentora do documento) (Edição: LG)



Instituição:
Fundação Mário Soares
Pasta: 04602.164
Título: Populações das regiões libertadas
Assunto: Postal alusivo às populações das regiões libertadas da Guiné-Bissau. 
Fotografia de Lennart Malmer e Ingela Romare
Data: s.d.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos

Arquivo Amílcar Cabral > 04. PAI/PAIGC > Propaganda



Foto nº 2 

Fonte: (s.d.), "A Escola Piloto - Instituto de Amizade", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39979 (2016-2-23) (Com a devida  vénia à Fundação Mário Soares, detentora do documento) (Edição: LG)


Pasta: 04602.165
Título: A Escola Piloto - Instituto de Amizade
Assunto: Postal alusivo à Escola Piloto - Instituto de Amizade, fundada pelo PAIGC na Guiné Bissau. 
Fotografia de Lennart Malmer e Ingela Romare.
Data: s.d.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral
Tipo Documental: Documentos
Página(s): 2

Arquivo Amílcar Cabral > 06. Organização Civil > Ensino > Escola-Piloto

Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora. (*)


1. As  fotos acima (nºs 1 e 2) são dos suecos Lennart Malmer e Ingela Romare, cineastas, os únicos jornalistas estrangeiros que, alegadamente, presenciaram (e filmaram) as cerimónias da declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC, em 24 de setembro de 1973, "algures na região do Boé" (**)..


[À  esquerda: Fotograma do documentário dos suecos Lennart Malmer e Ingela Romare "En Nations Födelse" [Birth of a Nation (Nascimento de uma Nação), Sweden / Suécia, 1973, 48'']: o único filme que existe sobre a declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau em 24 de setembro 1973. Passou no DocLisboa 2011. Não cheguei a ver o filme. Quanto à imagem à esquerda, julgo tratar-se de uma operadora de radiotelegrafia (código de Morse) do PAIGC. Fonte: Arsenal – Institut für film und videokunst e.V., Berlim, com a devida vénia.] (LG).

2.  Eis o que consta, sobre estes dois cineastas suecos, "cronistas" do PAIGC, no livro de  Tol Selltröm - "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné". Uppsala: Nordiska Africka Institutet, 2008. 2008,, p, 169 [disponível aqui, em português, em formato pdf]. 

(...) O PAIGC organizou eleições populares nas zonas libertadas em Agosto–Outubro de 1972. Um ano mais tarde, a 24 de Setembro de 1973, reuniu-se a primeira Assembleia Nacional do Povo da Guiné, na região leste do Boé, na qual se proclamou o Estado da Guiné-Bissau como um ”Estado soberano, republicano, democrático, anti-colonialista e anti-imperialista”. As fronteiras do país coincidiam com as da Guiné continental ”portuguesa”.179 Luís Cabral foi eleito presidente. Como únicos jornalistas ocidentais presentes180, a cerimónia solene foi documentada pelos cineastas suecos Lennart Malmer e Ingela Romare.181 O seu filme exclusivo, com uma hora de duração, ”O Nascimento de uma Nação”182, foi transmitido via televisão pela empresa oficial sueca de televisão.183

Apesar dos portugueses continuarem a deter o controlo da capital Bissau e dos principais centros do país, o novo Estado foi imediatamente reconhecido por um grande número de nações. Por volta do mês de Outubro de 1973, o reconhecimento diplomático tinha-se alargado a mais seis governos e, a 19 de Novembro de 1973, a República independente da Guiné-Bissau foi formalmente aceite como o quadragésimo segundo membro da Organização de Unidade Africana.184 (...)





3. Fundação Amílcar Cabral > Arquivo Amílcar Cabral

Não é demais reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral. Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira. (***) (LG)

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Notas de Tol Selltröm:

(...) 179. A proclamação de independência não incluiu as ilhas de Cabo Verde.

180. Conversa telefónica com Lennart Malmer, 7 de Outubro de 1999.

181. Malmer e Romare haviam apresentado, em 1971–72 a luta moçambicana de libertação aos telespectadores suecos (ver capítulo seguinte).

182. Lennart Malmer e Ingela Romare: ”En nations födelse”, Sveriges Television (SVT) ["Birth of a Nation" / "Nascimento de uma Nação", Sweden / Suécia, 1973, 48'']

183. Na altura não havia redes comerciais de televisão na Suécia. Em 1973, Malmer e Romare produziram também um documentário sobre as crianças e a luta de libertação na Guiné-Bissau, para a estação pública de televisão, com o título ”Guiné-Bissau är vårt land” (”A Guiné-Bissau é o nosso país”), Sveriges Television (SVT). A seguir à independência, produziram, entre outros, os documentários para televisão ”Guiné-Bissau: Ett exempel” (”Guiné-Bissau: Um
exemplo”) e ”Guiné-Bissau efter självständigheten” (”Guiné-Bissau a seguir à Independência”), Sveriges Television (SVT), 1976.

184. Rudebeck op. cit., p. 55.194.

[Sobre Lars Rudebeck vd. também, no supracitado livro do Tol Selltröm:

"nota 194. "Lars Rudebeck do Grupo de África de Uppsala visitou as zonas libertadas na Guiné-Bissau na mesma altura (PAIGC Actualités, Nº 23, 1970 e Nº 27, 1971). O futuro professor universitário em ciência política da Universidade de Uppsala, Rudebeck publicou em 1974 o livro Guinea-Bissau: A Study of Political Mobilization, Instituto Escandinavo de Estudos Africanos, Uppsala"...

"nota 144. Na fase final da guerra de libertação, a União Soviética forneceu ao PAIGC mísseis terra-ar, dando a supremacia, de forma decisiva, ao movimento de libertação. Os mísseis foram pela primeira vez usados em Março de 1973, altura em que o PAIGC abateu dois caças-bombardeiros fornecidos pela República Federal da Alemanha. No ano que se seguiu, os portugueses perderam trinta e seis aviões (Rudebeck op. cit., pp. 52–53)"...]  (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. primeiro poste da série > 12 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12142: A guerra vista do outro lado... Explorando o Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum (1): Comunicado do comandante do setor 2 da Frente Leste, de 27/1/1971, relatando duas ações: (i) A instalação de 2 minas A/C em Nhabijões, acionadas pelas NT em 13/1/71; e (ii) Flagelação ao aquartelamento do Xime, no dia seguinte


(***) Nas guerras (e sobretudo nas crónicas das guerras) muito se mente... Mas a verdade é que muitas mentiras ficam impressas em papel ou em suporte digital para a posteridade... Cabe-nos também a nós, enquanto editores do blogue, separar o trigo do joio... Um arquivo não é a História,mas sem arquivos não se  faz a História. Todos os arquivos são de interesse público, neste caso tanto o nosso Arquivo Histórico Militar como o Arquivo Amílcar Cabral e, talvez, no futuro, o Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

Quero aqui, mais uma vez, publicamente, reconhecer a perseverança, a competência, a qualidade e o rigor com que foram salvos, recuperados, tratados e disponibilizados, aos estudiosos e ao grande público, incluindo os antigos combatentes, do lado e do outro, envolvidos na guerra colonial, os documentos (ou parte deles) do Arquivo Amílcar Cabral (e de outros arquivos que integram o projeto Casa Comum). Esse trabalho é mérito da Fundação Mário Soares e dos técnicos do seu Arquivo e Biblioteca, de que é administrador o dr. Alfredo Caldeira.

... Mas "por mor da verdade histórica", convém esclarecer todos os nossos leitores (incluindo os nossos eventuais leitores suecos)  que, em 1974, mais exatamente em 31/1/1974, a FAP - Força Aérea Portuguesa perdeu, no TO da Guiné,   um avião,  abatido por um Strela: tratou-se do caça-bombardeiro subsónico Fiat G.91 R/4 "5437"  pilotado pelo ten pilav Victor Manuel Castro Gil, da Esq 121, BA 12, Bissalanca, que saiu ileso. Foi um e não 36 (!) aviões... De resto, nem a BA 12 em 1974 deveria ter, no total, 36 aeronaves operacionais...
  
Vd. poste de 21 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1867: Força Aérea Portuguesa: Seis Fiat G.91 abatidos pelo PAIGC entre 1968 e 1974 (Arnaldo Sousa)

Guiné 63/74 - P15789: Os nossos seres, saberes e lazeres (142): O ventre de Tomar (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Era dia ensolarado, o versátil comércio aberto toda a tarde, estávamos a uma semana do Carnaval, decidi andar pelas lojas de artesãos, carpintaria e alguns outros.
A grande surpresa, como mais adiante se enfatizará, foi almoçar num tasquinho, observei de relance uns senhores que conversavam numa mesa ao lado, saíram eles e saí eu, umas dezenas de metros à frente entrei numa carpintaria e lá estava o mesmo senhor que vira ao almoço de fato-macaco. Rimo-nos da surpresa e recebi uma lição de como se restauram móveis. Mas o mais importante era a cordialidade do meu anfitrião, comunicava a sua arte com verve, via-se que tinha paixão pelo modo como usa as mãos.

Um abraço do
Mário


O ventre de Tomar (6)

Beja Santos


Comecei o dia de andarilho, palmilhando uns quilómetros até chegar a uma quinta entre Cem Soldos e Algarvias, freguesia da Madalena. Eu conhecia esta imagem de um livro de memórias de autoria do embaixador António Pinto da França sobre a Guiné-Bissau. Ver este ambiente de trabalho deixa saudade, gostaria de ter conhecido tão afável pessoa, houve quem o apelidasse de antropólogo amador, quando li este livro de memórias sobre a Guiné-Bissau passei a estimá-lo muito, na escrita deste diplomata não há um rancor, um azedume, tudo fazia para compreender o que, em África, não se encaixa na nossa maneira ordeira de medir o tempo, o sentido da eficiência, o valor da memória. Aqui me detive e rezei por ele, ele não precisa, quem precisa sou eu.



No antigo RI 15, como é de todos sabido, funciona o Museu dos Fósforos e um belíssimo ateliê de artesãs que lavram cerâmica. Precisara de ir entregar uma caixa de fósforos que adquirira na Feira da Ladra, aproveitei para espreitar as novidades que saem dessas mãos laboriosas. Captei estas duas imagens e vale a pena justificar-me. O azulejo com o guerreiro monge em oração é uma ternura, e não resisti àquele sol radioso que parece estar a iluminar o magote de santos e santas.


Estamos agora no interior de uma livraria papelaria, anuncia-se o entrudo, nunca escondi que me rendo facilmente aos coloridos vistosos, as revistas ao fundo dão o ritmo de que há cores que não se chocam, mesmo que possamos supor que esta imagem possa ser tomada como uma partida de Carnaval. Asseguro que não é.


É bem agradável encontrarmos uma loja onde se vendem belas réplicas das cerâmicas que outrora foram desenhadas por aquele que eu considero o maior artista português do século XIX, Rafael Bordalo Pinheiro. Gosto de várias coisas: as cores quentes da parede, um vulto para lá do vidro, a projeção do ângulo, não sei se é o nosso olhar que vai até ao fundo se é esse fundo que caminha para nós. Parecem considerações patetas mas não são, os fotógrafos amadores muitas vezes embevecem-se com estas minudências, e não escondo que gosto muito do que aqui fica.




Farejo tudo quanto é papel e não resisto a entrar, a perguntar, a trocar impressões com quem sabe da poda. Este espaço tem a seu favor uma atmosfera de antiquário, o papel espalha-se de tal modo que apetece pôr a mão em cada livro que encontramos, e há cadeiras para nos sentarmos, folhearmos o dito papel e depois tomar uma decisão criteriosa. Um bom livreiro é sempre bom comunicador, aqui há bons modos genuínos. Havia no passado um jingle radiofónico que terminava: “O cliente sai sempre bem-disposto”. No caso em apreço, o cliente ou o perguntador sai sempre com vontade de voltar.


Havemos de voltar a esta carpintaria. Imagine o leitor que almocei numa tasquinha da cidade, quem nos servia era um parisiense de gema. Comi polvo à lagareiro, numa outra mesa havia um senhor que trocava umas frases com outro conviva. Não é que, ao recomeçar as minhas lides, entrei numa rua ali perto da igreja de S. João Batista e dou com este cliente a afagar a madeira? Sorrimos um para o outro e fiz-lhe perguntas sobre a reparação deste tampo de mesa, no tom mais natural do mundo explicou-me a sequência de operações, ouvi-o atentamente. O que gosto da imagem, e logo a aparto de outras que guardarei para melhor oportunidade é que nela há qualquer coisa que representa o momento da verdade, quando o artífice se entrega à lide e refaz a beleza do móvel deformado. Terá sido por acaso que Jesus passou a infância entre momentos de verdade como este?

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15760: Os nossos seres, saberes e lazeres (141): O ventre de Tomar (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15788: Blogpoesia (439): "Universo", por José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381

1. Em mensagem do dia 15 de Fevereiro de 2016 o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux. Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos este poema para, segundo ele,  pôr a malta a pensar.


UNIVERSO

Universo,
Em longo momento gerado.
O Cosmos.
Planetas, estrelas, o Sol doirado.
Vida.
Água, plantas, coisas tão belas!
Animais.
O Homem...
Conjunto de ínfimas parcelas.
Universo.
Criado,
E a cada momento recriado,
Sem que nada mais seja acrescentado.
Nada mais.
Milhões de anos em movimento,
Contínuo.
Permanente vida a nascer,
E assim será eternamente,
Sem nada se perder.
Universo.
Desafio ao conhecimento.
Conjunto de átomos,
Por forças invisíveis, ligados –
Integram-se,
Desintegram-se,
Reintegram-se,
E animados, gerando novo Ser.
Força viva.
Vida que faz viver,
Energia que tudo faz girar
À sua volta, sem nada parar.
Segredos em livro aberto, escondidos,
Que os mais Sábios dos Sábios
Procuram decifrar,
Apaixonadamente envolvidos.
Estudam o que vê toda a gente,
A realidade evidente,
E também o que não se vê,
Mas faz parte da realidade existente.

Universo,
Razão do SER,
Ouso perguntar-te –
Eu, quem sou?
Conjunto de átomos – sei-o bem.
Mas onde estavam no ato de amor
Que os congregou,
E deram vida, a mim também? –
Num pigmeu africano?
Num animal pré-histórico?
Num Pele-Vermelha americano, talvez!

Universo,
No teu eterno andarilhar,
Tu és um perene hino de louvor
Ao divino Criador
Que do nada tudo fez,
Ao seu bel-prazer,
Num excelente ato de amor.

José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15776: Blogpoesia (438): "Banho de Chuveiro" e "O Terror das Artrites" (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

Guiné 63/74 - P15787: Parabéns a você (1038): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 (Lassas) (Guiné, 1965/66) e Manuel Henrique Q. Pinh0, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDMs 301 e 107 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15783: Parabéns a você (1036): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15786: Memória dos lugares (335): As "viagens" a Madina do Boé e a Béli (Abel Santos, ex-Soldado da CART 1742)




1. Em mensagem do dia 9 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos das assustadoras colunas de reabastecimento a Madina do Boé e Béli.




As "viagens" a Madina do Boé e Béli

As colunas de reabastecimento para Madina do Boé e Béli revestiam-se de muita precaução e requeriam uma preparação por parte dos militares que eram escalados para tal missão, que só se atinge ao fim de algum tempo de estadia no teatro operacional.

Mais um dia de azáfama no quartel onde a CART 1742 estava sediada (Nova Lamego) com os preparativos para mais uma viagem até Madina e Béli, para o reabastecimento do pessoal lá instalado que aguardava a nossa chegada ansiosamente.

Mas antes da ida para Madina a Companhia já se tinha deslocado a Bambadinca para carregar os bens essenciais para os transportar e entregar aos camaradas aquartelados nos confins do mundo. Era uma viagem penosa e perigosa, pois requeria a máxima atenção e concentração, que por vezes era feita a corta mato fugindo da picada, o que nos garantia outra segurança.

A caminho de Madina

Dois grupos de combate, dos quais fiz parte, preparados e armados com o que de melhor existia na época, bazuca, morteiro 60, metralhadora MG42, além da nossa amiga e companheira de todas as ocasiões, a G3. Éramos apoiados por uma auto metralhadora Daimler, connosco viajava também o pronto-socorro que no regresso acabou por ser necessário, mas este elemento ficou no aquartelamento do Ché Che por ser demasiado pesado para a jangada que nos transporta para o lado de lá e vice-versa.

Partimos manhã cedo de Nova Lamego rumo ao objectivo, passando por Piche e Canjadude até atingirmos o Ché Che, sem nada de anormal ter acontecido. A travessia do rio Corubal foi feita com o máximo cuidado e segurança, a instalação do pessoal na outra margem ficou pronta por volta das 4 horas da tarde, não sem que antes a aviação fizesse a limpeza da zona bombardeando a área e mantendo a vigilância até ao escurecer, só então retirando-se para a base.

O Rio Corubal no Che Che

Travessia do Rio Corubal

Depois de uma noite passada em alerta permanente, partimos manhã cedo entrando numa zona cujo terreno árido mais parecia uma queimada, mas agora com o apoio dos nossos camaradas da Força Aérea pilotando os Fiat e os T-6, que com a sua presença retiravam ao IN qualquer veleidade de atacarem a coluna ou emboscar e, ao mesmo tempo, mostrando a sua destreza aos comandos das aeronaves. Estou recordando agora um episódio protagonizado pelo piloto Honório, que ao sobrevoar a coluna picou o T-6 rumo ao solo na lateral, passando pelo intervalo de duas viaturas, o que causou na malta júbilo pelo espetáculo proporcionado por esse cavaleiro dos ares, que ainda o recordo com saudade.

Apoio aéreo a uma coluna auto em Madina
Foto: © Manuel Coelho

Entretanto o dia ia avançando e a coluna também, a malta estava ansiosa por chegar ao objectivo, mas um contratempo nos esperava através de um inimigo inesperado, as abelhas, sim abelhas que causaram alguns estragos na caravana, mais propriamente na milícia e nos civis que nos acompanhavam, estes que aproveitavam as colunas para visitarem os familiares. Eu consegui passar através daquele zumbido provocado pelas voadoras, que mais pareciam os Fiat picando sobre a malta apontando os seus rockets prontas a deixarem a sua marca, mas com dizia, passei a zona de morte sem uma picada, pois consegui com ajuda do quiico enterrado na cabeça, cobrindo orelhas, e com o lenço tapando o rosto. Desta vez fomos metralhados de maneira diferente.

Pelo trajecto fomos encontrando os efeitos das anteriores viagens para esta região, viaturas incendiadas e outras minadas, mais parecendo um cemitério de ferro velho, como as fotos documentam.
O cenário que me foi dado observar fez-me pensar quão penoso terá sido para outros camaradas, que como eu tiveram de fazer aquele percurso, sofrendo emboscadas constantes, perdendo homens. Ainda hoje muitos sofrem o trauma de uma guerra que não nos levou a lado algum.

A caminho de Beli

Por fim chegamos ao objectivo e fomos recebidos efusivamente pelos camaradas residentes  que nos obsequiaram com um repasto quentinho (bianda com salsicha), acção que nos tocou profundamente. Para quem andava a ração de combate, foi um manjar dos céus.

Depois foi o merecido descanso, mas antes tivemos uma recepção de boas-vindas por parte do IN, já que era habitual enviar as boas-noites com umas morteiradas, mas desta vez não provocaram mossa.

O dia seguinte foi iniciado com os preparativos para o regresso a casa (Nova Lamego), pelo mesmo itinerário, com os nossos amigos da Força Aérea fazendo companhia à malta, atentos lá do alto a qualquer movimentação que fosse nociva à nossa segurança.
E assim atingimos o aquartelamento do Ché Che, local onde pernoitamos após a travessia do rio Corubal, para no dia seguinte retomar a viagem até ao nosso aquartelamento. Antes porém, aconteceram alguns contra tempos, o que provocou entre a rapaziada um sentimento de revolta pelo acontecido, já que a coluna, entre o Ché Che e Canjadude, acionou duas minas anticarro em locais onde nada o fazia prever, mas vamos aos factos.

Coluna auto em  Madina
Foto: © Manuel Coelho

O primeiro rebentamento foi provocado pelo rodado dianteiro direito de um unimog, não provocando vítimas nem tão-pouco no condutor que não precisou de ser evacuado e, foi aqui que entrou em acção o pronto-socorro que rebocou a viatura minada suspensa pela dianteira, para uns quilómetros mais à frente acontecer o caso mais grave desta expedição a Madina e Béli.

A dado momento aconteceu novo rebentamento, a auto-metralhadora tinha accionado uma mina anti-carro, cujo rodado dianteiro direito quase me atingia. Desta vez foi trágico, porque o camarada condutor faleceu no local. O inexplicável da situação é que a Daimler acidentada seguia logo atrás da viatura rebocada, que sendo a primeira a passar pela mina, não a accionou, gerando um sentimento de revolta e a pergunta do porquê de os restos do unimog não terem ido pelos ares em vez da Daimler? Tinha que se perder um homem?

 Daimler acidentada na estrada Canjadude-Che Che

A guerra é isto mesmo, cruel, assassina, estropia homens que nada tem a ver com ela, mas que são a tal carne que o canhão necessita para júbilo dos Senhores da Guerra.

A CART 1742 mais uma vez contribuiu com o seu sangue, suor e lágrimas para amenizar as agruras que aqueles camaradas passavam naquelas terras de ninguém, e que nos recebiam de braços abertos, o que prova que a solidariedade castrense é das coisas mais lindas que me foi dado apreciar. Ainda hoje comungo esse ideal.

Vivam todos os Combatentes,
Viva Portugal

Nota: A CART 1742 fez mais três colunas a Madina e a Béli.

Abel Santos
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Nota do editor

Poste anterior da série de 17 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15761: Memória dos lugares (334): Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Alcobaça, a viver em Valado dos Frades, Nazaré)

Guiné 63/74 - P15785: Convívios (727): Encontro do pessoal do Batalhão de Cavalaria 3846 (Companhia Independente), dia 13 de Março de 2016, em Fátima (Delfim Rodrigues)

1. Pede-nos o nosso camarada Delfim Rodrigues (ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73) para divulgar o encontro 2016 da sua Unidade.



ENCONTRO DO PESSOAL DO BATALHÃO DE CAVALARIA 3846 (COMPANHIA INDEPENDENTE), DIA 13 DE MARÇO DE 2016, EM FÁTIMA


Caros camaradas,

Mais uma vez venho pedir para divulgarem o nosso almoço de comemoração do 43º aniversario do nosso regresso.
Agradecido

Caros amigos,

Aproxima-se a nossa data de reencontro habitual e é com grande entusiamo que vimos convidar-vos para mais um almoço de celebração do nosso regresso, no ano em que assinalamos 43 anos.

Este ano agendámos o dia 13 de Março e porque nos pareceu que o local que temos vindo a escolher é do agrado geral, repetimos a escolha e marcámos o "Pastilha & Filhas" para o nosso almoço convívio.

Relembramos uma vez mais a todos a importância de se juntarem a este encontro e marcar presença num momento tão especial para este grupo e que todos os anos nos deixa memórias tão importantes. Como é já uma prática usual deste grupo, as nossas famílias e entes queridos são também convidados a estarem presentes para que, em conjunto, possamos passar este dia da melhor forma e celebrarmos o nosso presente através de um passado que faz de nós o que somos hoje e construindo laços fortes para um futuro preenchido de convívio e boa companhia.

Esperamos poder contar, como sempre, com o nosso querido Capelão Faustino para a celebração de uma missa onde possamos saudar todos os presentes e recordar todos os ausentes.

Juntem-se a este especial momento de partilha!

Como vamos repetindo ao longo dos anos, este grupo é especial e perdura no tempo apenas com a presença e envolvimento de cada um de vós. Queremos que permaneça, que se repita e que traga a todos nós momentos de amizade, ternura e conforto capazes de nos alimentar pela nossa vida fora e pelas vidas das nossas famílias. É fundamental lembrar este dia para assim lembrarmos a nossa história...para a contarmos aos outros...para partilharmos experiências e enriquecer o futuro.

O encontro inicia-se às 12:00 com a celebração da Missa e o almoço será às 13:00. Mas quanto mais cedo vierem mais tempo terão para gozar da presença de todos.

Desejamos uma boa viagem no dia 13 de Março.
Um forte abraço
Toscano, Xina e Laureano

Menu, Preços e contactos 

Preços: 
Adultos: 23€
Crianças de O a 5 anos: gratuito
Crianças entre os 6 e os 12 anos: pagam 10 €

Entradas-Aperitivos-Bebidas-Sopa

Almoço: 
Bacalhau à Zé do Pipo
Cordeiro à Padeiro

Sobremesa:
Prato misto (gelado, fruta e pudim)

Café e digestivos (aguardente, licores e Whisky)

A confirmação da vossa presença deverá ser feita até dia 6 de Março para:

Alberto Toscano: 912 381 293 - albertotoscano@netcabo.pt
Carlos Conceição (Xina): 919 489 378 - carlosconceicaonovoa@gmail.com
T. Cor. Bernardino Laureano: 966 452 001 – laureano@netmadeiracom
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Nota de M.R.: 

Guiné 63/74 - P15784: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (39): De 1 a 24 de Agosto de 1974

1. Em mensagem do dia 19 de Fevereiro de 2016, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma das suas Memórias, a 39.ª.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

39 - De 1 a 24 de Agosto de 1974 (quinta-feira)

Parti finalmente de Bissau rumo à Metrópole e a casa, para gozar umas férias que, de tão merecidas, se prolongaram até à minha passagem à disponibilidade em 28 de Setembro/74, não mais retornando à Guiné.

Ironia das ironias, ao fim de 18 meses de comissão num território em que cada metro quadrado era, potencialmente, um bom lugar para se morrer, foi a caminho de casa que tive o meu último susto de morte. Sem exagero, vi-a mesmo ao lado. O avião em que seguia fez escala na Ilha do Sal em Cabo Verde, como era frequente. Tenho uma vaga lembrança de que estava uma tarde magnífica e de que nos fizemos à pista com aparente normalidade. Contudo, ao poisar na pista, o Boeing fê-lo batendo apenas com o trem de aterragem do lado direito e eu, à janela desse lado, julguei ver o reactor sob a asa que rasava o chão, chispar na pista. Fiquei sem fôlego. Entretanto, ainda em velocidade vertiginosa, o avião aponta a asa ao céu e vejo (vimos todos com terror) o reactor da asa oposta raspar junto ao chão desse lado. Até perder velocidade e estabilizar já próximo das instalações do aeroporto, foi assim a alternância entre as duas asas, e só aos poucos percebemos, com alívio, que era cada vez maior a distância do reactor ao chão. Com o avião parado quase dava para um homem em pé passar sob o reactor...

****** 

Foi indescritível o país que vim encontrar na minha terra, neste mês de Agosto. Tão indescritível que me vou poupar a revelações do que, quase todos conheceram antes de mim, evitando ainda o risco de ser panfletário ou demasiado optimista quanto ao futuro que se avizinhava. Mas para quem como eu, nasceu e cresceu na mais cinzenta das ditaduras, num país amordaçado até ao sufoco, não posso deixar de revelar a mais doce das liberdades com que me deparei: a liberdade de expressão.

“Sei que estás em festa, pá / Fico contente”

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No final deste mês de Agosto/74, no dia 29, destaque para a ratificação do acordo com o PAIGC sobre a independência da Guiné, feita pelo Presidente da República António de Spínola.

Ainda no fim de Agosto e depois de ver gorado o meu regresso à Guiné, como dei conta anteriormente, fiquei algum tempo em estado de choque perante o facto consumado: o meu Batalhão tinha regressado à Metrópole durante o meu período de férias. Passado esse período difícil e arrumadas as diligências que se impunham, aos poucos, virou-se o meu pensamento para aqueles que não voltaria a ver e que me haviam suavizado os dias na Guiné. Ainda não eram as saudades a amolecer-me a alma, como ocorreria mais tarde, mas a lembrança penosa de que não me despedira de quem gostava e a dúvida do que terão ficado a pensar de mim. De facto, embora não houvesse motivos, poderia até parecer que me antecipara de forma calculada à saída da tropa de Nhala. De todos os que deixei sem um abraço, camaradas de armas e habitantes da tabanca de Nhala, ficou-me até hoje uma saudade profunda. Que caminhos terão seguido os meus soldados e os demais camaradas? Que será feito dos meus amigos e amigas da tabanca? É de alguns destes últimos que, com nostalgia, aqui deixo uma breve galeria.

Foto 1 – Nhala, 1973: Eu e o Manel, rapazinho inteligente e muito dedicado à tropa, que passava o dia quase todo no aquartelamento. Tinha uma especial consideração por mim e eu ajudava-o no que podia. 

Foto 2 – Nhala, 1973: Jomel, um caso de excepção na ajuda ao furriel enfermeiro, passava todo o seu tempo na enfermaria. Safado, ria-se quando o confrontávamos com a sua condição de muçulmano que comia do nosso rancho, desde as salsichas até ao pé-de-porco. 

Foto 3 – Nhala, 1973: Jarrai, “a bela”. Provocadora e esquiva, não permitia que lhe tocassem. Se tivesse acontecido haver uma Rainha Jinga na Guiné, seria ela.

Foto 4 – Nhala, 1973: Eu e a Rosa, minha primeira lavadeira. Competente mas trituradora de botões de fardamento, como só ela. 

Foto 5 – Nhala, 1974: A minha segunda e definitiva lavadeira, Fátima. Dedicada e delicada só tinha qualidades. E falava português... 

Foto 6 – Nhala, 1973: Mulheres recolhem água na fonte. 

Foto 7 – Nhala, 1973: Eu, na fonte junto de lavadeiras. 

Foto 8 – Nhala, 1974: Eu, na fonte cumprimentando uma bajuda. 

Foto 9 – Nhala, 1974: O Alf Mil Neto da CCAV 8351, na altura com o seu grupo em Nhala a dar apoio às obras na estrada A. Formosa-Buba. Aqui a dialogar com a Rosa, parece-me.

Foto 10 – Nhala, 1974: Mulheres e bajudas recolhem água e lavam o “corpinho”. 

Junto mais duas imagens que muito me tocam pela nostalgia de um tempo que eu vivi mas que passou à história. Digo-o sem falsos patriotismos e sem ambiguidade quanto ao fim desse tempo que, mais cedo ou mais tarde, teria de ocorrer.

Foto 11 – Nhala, 1973 em dia de coluna, com a bandeira lá no alto. 

Foto 12 – Nhala, 1973: Cerimónia do arrear da bandeira que ainda se repetiria por mais um ano, aproximadamente. Como se pode ver, estava um grupo de combate a entrar, que pára em sentido. Mesmo as mulheres que vinham da fonte com água à cabeça paravam nestas ocasiões, tal como os homens e as crianças. 

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Transcrevo a última parte da HU relativa a acontecimentos que já não testemunhei.

História da Unidade do BCAÇ 4513: 

Período de 01AGO a 20AGO74. [Na verdade, vai até ao dia 24]

AGO74/02 – Com uma cerimónia simples, inaugurou-se um novo campo de jogos de futebol de “cinco” no aquartelamento de A. FORMOSA. Este campo passou a chamar-se “Campo 1.º DE MAIO”.

- Comandante deslocou-se a BISSAU a fim de tratar assuntos relacionados com a desactivação da CCAÇ18 e PEL CAÇ NAT.

- Apresentou-se de licença disciplinar o Exmo. Major DIAS MARQUES, 2.º Comandante do Batalhão.

AGO74/03 – Iniciou-se o levantamento de todos os campos de minas do Subsector de A. FORMOSA.

- A secção do 19.º PEL ART sediado em A. FORMOSA regressou a BUBA. O 14.º PEL ART, sediado em CUMBIJÃ, foi deslocado para A. FORMOSA.

- Comandante regressou de BISSAU.

AGO74/05 – Comandante e 2.º Comandante deslocaram-se a COILBUIA e CUMBIJÃ.

AGO74/07 – Foi desocupado o Destacamento de CUMBIJÃ e entregue ao PAIGC. Da cerimónia constou o arrear da Bandeira Nacional e o hastear da Bandeira da Rep. GUINÉ-BISSAU, com honras prestadas por dois GR COMB da CCAV 8350 e um Bigrupo do PAIGC.

Estiveram presentes além do Comandante, 2.º Comandante, Oficiais, Sargentos e Praças do Batalhão, comissários do PAIGC, Comandante do 3.º CE, Autoridades Gentílicas e população.

AGO74/08 – Estiveram presentes em A. FORMOSA, o Exmo. Comandante do COP-5, acompanhado de alguns elementos do PAIGC entre os quais o Comissário JULINHO.

AGO74/09 – Foi desocupado o Destacamento de COLIBUIA e entregue ao PAIGC. Da cerimónia constou o arrear da Bandeira Nacional e o hastear da Bandeira da Rep. GUINÉ-BISSAU, com honras prestadas por dois GR COMB da CCAV 8350 e um Bigrupo do PAIGC.

Estiveram presentes além do Comandante, 2.º Comandante, Oficiais, Sargentos e Praças do Batalhão, comissários do PAIGC, Comandante do 3.º CE, Autoridades Gentílicas e população.

AGO74/10 – O Exmo. 2.º Comandante deslocou-se a BUBA e NHALA.

AGO74/12 – Por determinação do Comandante Militar deslocou-se para BISSAU, o Comandante deste TEN COR RAMALHEIRA, a fim de assumir novas funções.

Passou a comandar o Batalhão o Major DIAS MARQUES.

- Esteve presente em A. FORMOSA o Exmo. Major VEIGA DA FONSECA, a fim de tratar assuntos relacionados com a desactivação da CCAÇ 18 e PEL CAÇ NAT 55, 68 e 69.

AGO74/13 – Comandante Interino deslocou-se a BUBA, a fim de assistir a embarque de materiais para BISSAU.

AGO74/14 – O OF/OP/INFO deslocou-se a BUBA e NHALA a fim de tratar assuntos relacionados com evacuação de materiais.

AGO74/15 – Comandante Interino deslocou-se a BUBA a fim de assistir a embarque de materiais evacuados do Sector e com destino a BISSAU. - Esteve presente em A. FORMOSA Comandante AZEVEDO COUTINHO da Marinha de Guerra. AGO74/17

- Esteve presente em A. FORMOSA o Cap. FONSECA ALFERES da COM. UN. AFRICANAS a fim de tratar assuntos relacionados com a desactivação das Unidades Africanas do Sector.

AGO74/18 – Com a vinda do Tesoureiro de BISSAU, e em cumprimento da Circular 12/CMD do Comando-Chefe, processou-se à desactivação da CCAÇ18, com entrega de fardamento, armamento, munições e equipamento, recebendo todos os militares todos os seus vencimentos até 31DEZ74. Foram também desactivados nos mesmos moldes o 14.º PEL ART (14) e 2.º PEL BAAA 7040. Todas estas operações decorreram na melhor ordem.

AGO74/19 – Foram desactivados nos moldes da Circular 12/CMD os PEL CAÇ NAT 55, 68 e 69.

- O 1.º PEL/EREC 8840 regressou a BAFATÁ.

- O OF/OPER/INFO deslocou-se a BUBA e NHALA.

AGO74/21 – Foram desocupados e entregues ao PAIGC os Destacamentos da CHAMARRA e PATE EMBALO.

- Comandante Interino deslocou-se a BUBA a fim de assistir à evacuação de materiais para BISSAU.

AGO74/24 – O OF/OPER/INFO deslocou-se a BUBA e NHALA.

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Dado que nada mais consta da História da Unidade do BCAÇ 4513, nem do Resumo dos Factos e Feitos Mais Importantes da mesma Unidade, anoto mais quatro desactivações de aquartelamentos do Sector que aqui importa, transcritos, com a devida vénia, da publicação que fez no nosso Blogue, o Luís Gonçalves Vaz, filho do Cor Cav Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74):

MAMPATÁ – 29 de Agosto de 1974;
ALDEIA FORMOSA – 31 de Agosto de 1974;
NHALA – 2 de Setembro de 1974
BUBA – 4 de Setembro de 1974

(continua)
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 Nota do editor

Poste anterior da série de 16 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15755: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (38): De 10 a 31 de Julho de 1974

Guiné 63/74 - P15783: Parabéns a você (1037): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)


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Nota do editor

Último poste da série de 21 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15774: Parabéns a você (1035): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

Guiné 63/74 - P15782: O meu coma: o corredor da morte (Mário Gaspar) - Parte I

1. Mensagem, de 21 do corrente,  do Mário Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68): 

Caros Camaradas


Como sempre aceito o desafio (*). O Luís tem razão, são "estilhaços das nossas memórias", e a vida é isto. Ainda há pouco tinha cinco anos. Despedido aos 53. Sentia-me um jovem. Amei toda a vida. Os amigos. Desapareceu o Vítor José Correia Pestana numa armadilha que montara. Quem comandava errou. Suicidou-se na Madeira, lançando-se ao mar de um penhasco. Dizia-lhe sempre que o encontrava:
– Matou o Pestana e o Costa!

E ele não respondia. Agredi-o tantas e tantas vezes. Depois de despedido, de uma vida de dádivas e de amor. De entrega. Eu que lutara por uma causa, saíra vencedor, sou derrotado. A Legislação aprovada foi abandonada por aquilo que já temia em 1996 no Jornal 2 da APOIAR. "A guerra pelos tostões dos subsídios, entre Associações". Veio a "Guerra com medo de se perderem os milhares de euros dos Protocolos entre as Associações e o Ministério da Defesa Nacional. E o Mário Vitorino Gaspar ficou sem os apoios por que lutou. A APOIAR corta e a ADFA… Através da sua Psicóloga Clínica Doutora Teresa Infante disse-me:
– Não o acompanho Psicologicamente por nos conhecermos há muito tempo, e por o Mário ter lutado pela Lei!

Disse-lhe que não era razão… Outra desculpa.

E as doenças… Ataques sucessivos. Alzheimer, que não o é, glaucoma e problemas pulmonares. Prisão de ventre. Inscrever-me para entrar num Lar Militar. Doenças! Como não bastasse, fico cheio de borbulhas que rebentam e ficam as pernas em chaga. Os dentes… Arranco 17 dentes. E depois de operado às cataratas, fico com a tensão baixa. Sou atropelado, para cúmulo por uma ambulância e dentro do Hospital das Forças Armadas. Na noite de 25 de Dezembro caio e vou de ambulância para o Hospital de Santa Maria e transferido para o Hospital Pulido Valente para os Serviços Intensivos. E no Carnaval vou de urgência novamente.

Queixar-me?

Envio para o Blogue o texto sobre o Meu Coma – O Corredor da Morte. Quantos "corredores da morte". Escapei. Com quase 73 anos mais 50% de aumento de experiência da vida são 108, mais que os anos de vida do Manoel de Oliveira.


Cumprimentos

Mário Vitorino Gaspar




2. O meu coma: o corredor da Morte 


por Mário Vitorino Gaspar


Não acredito que haja uma vida pós-morte, 

mas há qualquer inquietação dentro de mim 

ou qualquer crença dentro de mim que também 

recusa admitir que a morte seja o fim de tudo.” 

Professor Agostinho da Silva 



Dia 12 de Março de 2002. Chego a casa. O meu filho Alexandre está sentado defronte da televisão. A minha mulher encontra-se deitada. Eu, cheio de dores. Não se apercebem da minha grande aflição. E, o meu mal-estar prolonga­‑se. Só pretendia que aquilo passasse. Continuava a caminhar da sala para a cozinha e vice-versa. Bebo um gole de água. Despejo um copo. Outro. Olho de vez em quando para a televisão. Cigarro na boca. Continuava sem saber que programa estava a dar. Nem que canal. Aquela coisa de ter mais de 50 canais… O meu filho foi para a casa de banho… E as dores acentuavam­‑se. O peito.

Novamente na cozinha. Acendi um cigarro. Enchi os pulmões de fumo. Penso em acordá-los. Deito aos poucos o fumo do cigarro. Bebo um copo de água. E sai a água pela boca. Várias nascentes brotam do meu interior. Como bicas da fonte. Fico com a camisa molhada. Engasgo­‑me… Que dia é?

Ainda há pouco dissera ao Pinheiro, enquanto fumava:

– Ainda me dá qualquer dia uma “parecida comigo”, temos de estar atentos, esta vida que levamos na APOIAR… É uma guerra dentro de outra guerra. Destrói o que somos. Muitas reuniões, uma vida agitada! O amigo Jorge Santos também leva o mesmo caminho.

O mal­‑estar continuava, e só me lembro de uma igual aflição:

– Quando o nosso “herói” Carlos Lopes ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos.

Parecia estar tonto. Acendi um novo cigarro. Tinham­‑me dado aquele isqueiro uns dias antes. Os braços e pernas trepidando, como a iniciar um sismo. Talvez o significado mais apropriado seja vibração. Novo cigarro. O último copo de água fizera­‑me arrotar. A nada...

Já a caminho de casa acontecera o mesmo. Mas porquê? Já há dias que começara a sentir aqueles sintomas.

Dos pulmões? Tinha uma fibrose pulmonar, provocada pelo pó de diamante. Nos anos 70, tinha sido uma guerra considerarem aquela fibrose como doença profissional.

Do coração? Ainda há bem pouco tempo tinha ido fazer um electrocardiograma com prova de esforço. Fui obrigado a ser ciclista. Um ciclista que pedala sem sair do mesmo local.

Dissera­‑me o cardiologista que o que eu precisava era de fazer uma “sangria”. Sorri e disse­‑lhe:

– Não sou nenhum porco!

Explicava­‑me que tinha mais glóbulos do sangue “x” a mais que o normal e que teria que fazer a dita “sangria”. Fiquei a saber que isso tam­bém não era aquela bebida que fazemos com vinho, gasosa, canela, limão e hortelã.

Seria cirrose? Já que os termos de neurose, psicose, e mais “oses”. 



Aquela merda da Guiné dera cabo de mim!

Mas por que razão não aceitei o convite da Ingrid Margarett Gusta­vsom (sueca com quem me escrevi enquanto estudante, bonita de olhos azuis e loira) e dar o salto para a Suécia? Poderia também ter ido para França?

Não me passava aquela aflição, e num ápice, quando o meu filho saía da casa de banho, e depois de ouvir o autoclismo. Tiro certeiro:

– Alexandre vem com o pai ao Hospital de Santa Maria!

– Mas porquê?

– Não me sinto bem!

– Mas o que é?

– Deve ser ou pulmões ou coração.

Saímos. Chuviscava. Uma chuva miúda. A “chuva molha parvos”. Continuava a sentir­‑me tonto. Arrotava. Fumei mais um cigarro.

O meu filho chamou a atenção com um: – “Não fume pai”.

Junto do largo do Santo António (cruzamento da Avenida de Roma com a Avenida da Igreja), na Praça de Alvalade. Esperámos por um táxi. Não fumo mais porque o meu filho ficara com os cigarros e o isqueiro. Entrámos para o táxi.

No Hospital de Santa Maria seguro­‑me à mesa do guiché

– Cartão da Segurança Social? E o cartão de utente não tem? De que se queixa?

A senhora que me atendia olhou­‑me, enquanto lhe entregava o cartão pedido. Fiquei desconfiado. Compreendi entretanto a razão de tal olhar: O meu aspecto doentio. Devia ter cara de um indivíduo que estava mesmo mal de saúde.

Olhei para o meu filho, sentindo­‑me cada vez pior. Cresci um pouco. Mais um pouco, ainda mais um pouco tentando afastar as dores:

– Porra! Sou combatente… Continuo a ser! Estive na guerra! – Con­tinuei, acrescentando ainda:

– O meu filho tem epilepsia. Olhem por ele! – Era uma desculpa. 

Enviado para fazer o electrocardiograma pelo médico que me fez a triagem e, enquanto digo à moça que iria fazer o exame “que tivesse calma, que depois lhe contava uma anedota”, ela gritava:

– Urgente, Urgente...

Sou colocado em cima de uma maca, enquanto digo para a técnica:

– Então não lhe posso contar a anedota?

Sou levado pelo maqueiro para a sala da triagem. Olho para o meu filho com algum receio e conforto­‑me em vê­‑lo aparentemente calmo e controlado, pedindo­‑me as alianças, relógio, carteiras, chaves, enquanto a maca vai deslizando pelo corredor até ao elevador que me transporta ao piso 6, à UTIC – Serviços Intensivos.

Quando a maca está quase a parar, depois de ter batido com as nós dos dedos na última parede, como se costuma ver nas séries de televisão e nos filmes, vejo um médico de barba grisalha, mas mais branca que preta e bata também branca. Sai­‑me pela boca:

– Olha quem ele é?!

– Afinal és tu! – Disse o Dr. Nunes Diogo.

– Conhece o Senhor Doutor Diogo? – Perguntou o maqueiro.

– Desde miúdo... – Respondi­‑lhe.

Não só o conhecia a ele – até tinha andado a estudar comigo no Externato Sousa Martins, em Vila Franca de Xira. O pai dele, Dr. Armando Diogo falava muito comigo quando eu era catraio, nunca cheguei a saber muito bem porquê. Como curiosidade este, foi um dos fundadores do Partido Socialista.

O Dr. Nunes Diogo para mim é o Tó Mané. Depois de me analisar disse que teria que fazer um cateterismo cardíaco, e que talvez se resolvesse o problema. Em caso contrário proporia a operação rapidamente. Apeteceu­‑me fumar.

É aqui que fico sem saber onde está a realidade. A partir deste momento, até dia 27 de Março, não sei o que é verdade.

Uma neblina percorre os meus olhos: – Lembro­‑me de me enfiarem depois da anestesia, um cateter na virilha, e vejo um coração (o meu) no visor. Não sei em que dia foi. Quando o cateter insuflava sangue observava uma nuvem, respondendo, julgo que em voz alta: – “estou f...”

– O saco de areia! – Ouvi alguém gritar, apontando para mim. Entro noutro mundo.

Fui operado a 15 de Março de 2002 pelo cirurgião Dr. Alberto Lemos; Ajudantes Doutor Manuel Dantas; Anestesista Doutora Ilda Viana; Perfusionista Doutor. Filipe Pereira e Instrumentista Doutora. Conceição Santos.

Tratou­‑se de uma Operação: BACx4 (1 c/M.ª Int.ª Esq.ª), Cirurgia de Bypass.

Um sonho? As estrelas – simultaneamente uma árvore de Natal, um presépio – uma amálgama de luzes dispersas, mais parecendo uma cidade vista ao longe numa noite escura.

Estava num campo, com muitas árvores. Viam­‑se muitos militares, curiosamente, todos eles velhos. Era uma concentração, talvez até de Associações. Mas estavam mortos, mas vivos nesse mundo onde pernoitava.

– Já escrevi uma carta de amor! – Disse.

– Mas a que escrevi o ano passado está exposta, mas parece que mais ninguém concorre!

Pedi que me trouxessem a minha neta Raquel. Ninguém me fez a vontade.

Está aqui o computador, é um «Plus menos».

Um rapaz apareceu. Não sei de onde… Fez primeiro um serviço de cerâmica antiga, e depois um bolo grande. Tudo num computador. Como se tirasse uma fotocópia. Que foi a nossa delícia! Ele era um artista… Um artista!

Dei ordens para darem ao rapaz algum dinheiro. Fomos até ao rio, que era perto onde um barco a remos nos esperava.

Afinal o rapaz acabou por vir connosco.

Deslocámo­‑nos à Sede da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex­‑Com­batentes Vítimas do Stress de Guerra, tendo sido eu um dos fundadores a 18 de Abril de 1994. Só vi a sede por cima, portanto em corte. Via o tal rapaz sozinho. Fiquei no céu enjaulado. Encaixotado. Só. Preso.

O rapaz até tem alguns dons que devem ser aproveitados, mas peca por não ser lá muito certo. Não tem os alqueires bem medidos. Mas a trabalhar com o computador ele é uma “máquina”.

Estava novamente na Guiné, e voava, ou por outra, movimentava­‑me pelo ar rapidamente, com a G3 em punho, matando sozinho uma série de guerrilheiros do PAIGC.