quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): O debate dos generais (Inácio Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Inácio Silva, madeirense, ex-1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72), camarada do nosso co-editor Carlos Vinhal, e autor do blogue Relembrar para Não Esquecer ("um instrumento de comunicação entre uma vasta comunidade que se identifica, essencialmente, por ter servido Portugal, quando era detentor da soberania das ex-colónias, hoje, países independentes").


Caros amigos e ex-camaradas:

Presenciei ao debate na RTP1, na passada segunda-feira (15 de Outubro último), sobre a Guerra do Ultramar, de princípio ao fim (1). Salvo as intervenções dos membros das associações de defesa dos ex-combatentes, o resto foi tudo déjà vu: não vislumbrei nenhum interesse, em especial.

Um debate em que a maioria dos intervenientes são ou foram oficiais superiores ou generais, obviamente, só poderia versar sobre as questões belicistas ou político-belicistas. Estes senhores não têm contas a pedir ao Estado, porque, sendo do Quadro Permanente, viram todas as suas regalias satisfeitas, na plenitude. Onde estavam os milicianos e os praças? Provavelmente na plateia. Alguém lhes perguntou alguma coisa? Disseram de sua justiça? Nada!

Todos sabemos que as guerras deixam sequelas de vária ordem: pais que viram desaparecer os seus filhos, esposas, namoradas e amigos que viram partir os seus entes queridos, filhos órfãos de pai, muitos deles nem sequer chegaram a ver o progenitor... Cidadãos deficientes que, com muito esforço, sobrevivem, tentando integrarem-se o melhor possível na sociedade, na esperança de serem reconhecidos e apoiados pelo Estado e por ela. Muitos deles são activos e intervenientes e, graças à sua acção, procuram que o seu presente e o futuro sejam passados com alguma dignidade.

O que é que interessa debater e resolver depois de uma guerra? Não será minimizar os danos e os traumas sofridos, tanto os de ordem material, como os de ordem afectiva, psicológica, moral, social e, até, de cidadania? Nenhuma sociedade viverá em paz consigo mesma se não entender, profundamente, esta realidade! Não é enterrando a cabeça na areia, como faz a avestruz, fazendo de conta que o que aconteceu nada tem a ver consigo que os problemas são resolvidos...

E o Estado Português, representado pelos Órgãos de Soberania, órgãos estes titulados por cidadãos eleitos pela referida sociedade, o que tem feito? Mais de trinta anos decorridos desde o fim da guerra (colonial, do ultramar ou de libertação, como queiram), os ex-combatentes lamentam, diariamente, o divórcio do Estado, relativamente às consequências danosas, de vária ordem, a que foram sujeitos e estão sofrendo na pele, por terem sido OBRIGADOS a combater em territórios que, na altura, os responsáveis por este Estado, entenderam classificá-los como "Províncias Ultramarinas" e, consequentemente, fazendo parte do espaço português!!!

A guerra nunca será esquecida, pelo menos por aquelas que a protagonizaram ou por os que, para ela, foram empurrados. Seria bom que os tais cidadãos, eleitos democraticamente, representantes dos Órgãos de Soberania não agissem com hipocrisia, isto é, reconhecessem o esforço, o sacrifício, a privação, o medo, a dor, a doença, a deficiência, a morte, a perda de empregos, o atraso ou a interrupção dos estudos, enfim, uma panóplia de prejuízos de valor incalculável, e reconhecessem em Lei, perante a sociedade que representam - antes que os ex-combatentes morram - que é necessário eliminar, de uma vez por todas, estas nódoas da guerra, que teimam em eternizar-se...

Se tal não for feito, os ex-combatentes morrerão com a mágoa de terem combatido, em vão, sem o reconhecimento devido, do Estado, a quem serviram. Mas os políticos, titulares dos Órgãos de Soberania, eleitos pela sociedade de que os ex-combatentes são parte integrante, jamais repousarão em paz e serão, sempre, considerados, mesmo pelas gerações vindouras, como políticos incultos, insensíveis, autistas e hipócritas.

Em conclusão: como ex-combatente, não me revejo nesta forma de fazer política. Desejo que fique claro que os políticos a que me refiro são todos os que Portugal, infelizmente, teve depois da instauração da democracia , "sistema político em que a autoridade emana do conjunto dos cidadãos, baseando-se nos princípios de igualdade e liberdade". Sou democrata e não sou possuído por nenhum sentimento passadista ou saudosista. Mas fico indignado e triste por assistir a tanta indiferença e insensibilidade...

Cumprimentos a todos.

Inácio Silva

2. Comentário dos editores: Ver o blogue do Inácio Silva Relembrar para Não Esquecer, e em particular o post de 10 de Outubro de 2007 > Email enviado ao Primeiro Ministro de Portugal

(...) Também o Governo, através do Primeiro Ministro já sabe que os ex-combatentes estão indignados com o que aconteceu. Em 24 de Abril de 2007, enviei o email que se segue ao Primeiro Ministro, Eng.º José Sócrates, ao qual anexei a petição feita à Assembleia da República bem como a resposta da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional (...)

________

Notas dos editores:

(1) Vd. 27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

(2) Vd. post de 16 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2182: Blogoterapia (35): Programa da RTP1, Prós e Contras: Éramos todos bons rapazes (David Guimarães)

2 comentários:

Anónimo disse...

ola o meu nome é Ana Pinheiro;
o meu pai pertencia aos c.caç.1618 pelo que sei fazia parte das toupeiras da selva.o seu nome era ARMANDO ANTÓNIO PINHEIRO nao vejo nada na internet sobre ele se alguem o conhecer deixe o seu comentario aqui eu visito ele todos os dias . agradecia.

obrigado

duraes.2917 disse...

Ana Pinheiro, para saberes noticias da ccaç 1618, de que o seu pai fazia parte, é favor contactar com o JORGE DIAS DE SÁ através do telemóvel 916365108. O almoço do presente ano (2012) é no dia 26 de Maio em Murtosa.
DURÃES