sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3266: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (46): Chegou o meu periquito


Texto de Mário Beja Santos
ex-Alf Mil,
Comandante do Pel Caç Nat 52,
Missirá e Bambadinca,
1968/70

Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.



Operação Macaréu à Vista - II Parte

Episódio XLVI > CHEGOU O MEU PERIQUITO!

por Beja Santos

A última visita a Mansambo e ao Xitole

Pela primeira vez ao longo destes dois últimos anos, fomos destacados para fazer a segurança de um aquartelamento, neste caso o de Mansambo, a nova Companhia vai partir para uma operação, ficamos aqui de atalaia. Serão dois dias suaves, não se ouvirá nenhum ruído da guerra, quem foi e quem regressará não terá contacto nem verá vestígios do inimigo. Como se sabe, Mansambo é um quartel feito de raiz, não tem quaisquer ligações com tabancas locais, para nós é curioso, todas as semanas vamos até Samba Juli ou Sinchã Mamajã ou até Sare Adè, no regulado de Badora, por razões de recenseamento de armas, transporte de doentes ou armas ou comida. Ir para Mansambo a partir de Samba Juli ainda é um estirão acima de 15 quilómetros, um Grupo de Combate montou segurança do lado do Corubal e nós, a partir de Samba Juli, picámos até ao pontão do rio Quêuol. Mal sabíamos, quando regressámos naquela tarde a Bambadinca que na manhã seguinte iríamos numa coluna ao Xitole, desta vez não houve poeira só terrenos alagadiços, viaturas empanadas, chuvas inclementes. Ainda não sei, foram as últimas viagens à região do Corubal.

De resto, estamos entregues à rotina, a tarefa predominante é a segurança na estrada Xime-Bambadinca, mas não estão excluídas as emboscadas nocturnas no Bambadincazinho, noites na ponte de Udunduma e os patrulhamentos nos Nhabijões. Dividimos as nossas tarefas com os grupos de combate da CCaç 12, o relacionamento com a gentes do BArt 2917 é amistoso, mas a vadiagem que levamos impede as aproximações. Desse tempo encontro um estranho registo no meu caderninho viajante que não resisto a transcrever, com leves adaptações: “O novo batalhão tem capelão, chama-se Arsénio Puim. Pedi-lhe para me confessar, pôs-me a mão no ombro e disse-me com voz branda que Deus me perdoava todos os meus pecados, a mourejar como nós mourejávamos, Deus Pai fazia o seu chamamento directo e automático a partir do inferno em que nos encontrávamos. Ou ele é um santo ou encontra em mim um halo de santidade o que é que mudou na misericórdia de Deus?”.

Algumas notas sobre uma Guiné desconhecida ou exótica

D. Violete impõem-me um ritmo avassalador para desencontradas leituras, tudo a pretexto que os livros emprestados têm que ser rapidamente devolvidos, quem os empresta exige-os prontamente de volta, são papéis raros ou até únicos. Felizmente, estão ultrapassadas as advertências de não os manchar com dedadas de gordura ou saliva. Um dos seus alunos procurou-me enquanto preparávamos a coluna para o Xitole dizendo: “A professora está a ver o que lhe estou a dizer. Leia o que tem a ler que ela lhe emprestou e encontre-se com ela rapidamente”. Dito isto, virou-me as costas e fugiu. Procedimentos como estes nada têm de extraordinário. Mamadu Soncó, menino a caminho da adolescência, dorme no nosso quarto, tem umas mantas ao pé da minha cama e todos os dias me pergunta quando é que vai estudar para Portugal, se vamos de avião ou de barco, desisti de explicações. Quando estou a ler ou a escrever senta-se ao meu lado e procura repetir o que eu faço ou então faz perguntas: “Porque é que lês livros tão velhos?”. Ele tem razão, estou a ler o panfleto “Acudam à Guiné” datado de 1908 e dirigido a Sua Majestade El-Rei, aos Deputados da Nação, ao Povo Português. O governador Muzanty está debaixo de fogo, de vez em quando paro em frente à sua estátua, em Bafatá, foi esculpido como homem enérgico e olhar impoluto, mas o panfleto desanca-o: “Que o governador Muzanty iniciou a sua administração entregando, sem concurso público, todos os fornecimentos do Estado ao cunhado do célebre Corte-Real Pires, secretário-comerciante, que inventou um estado de sítio em Badora com o único fito de expulsar os negociantes de Bambadinca, testemunhas incómodas das suas ambições (...) que em Bambadinca, com a crueldade de Nero, mandou matar e mesmo trucidar gente pacífica, chegando a crueldade a ponto de separar um homem em duas metades, que colocava homens amarrados às arvores e lhes faziam apontaria a um e um no meio de gargalhadas, isto a dois passos de Bambadinca no lugar de matança denominado Xime Pequeno em combinação com o bandido Adulai (...), que autorizou o administrador a cobrar para si emolumentos sobre a cobrança de dívidas para exercer as maiores prepotências sobre os que hesitavam em pagar”. Resta saber qual o nível de verdade e mentira sobre o comportamento deste Muzanty que derrotou e humilhou Infali Soncó.






Estes jagudis a devorar o resto de uma gazela... como nos recordamos, o jagudi é abominável, vem ao sangue, quando tínhamos ataques em Missirá sabíamos dos mortos e feridos do lado PAIGC quando os víamos a pairar nas redondezas. O desenho foi publicado em «O Mundo Português», 1936. Era uma revista de cultura e propaganda, de arte e literatura coloniais, editada pela Agência Geral das Colónias e pelo Secretariado de Propaganda Nacional.


Outra leitura foi “Babel Negra, etnografia, arte e cultura dos indígenas na Guiné”, de Álvaro Landerset Simões, obra de 1935, uma narrativa só possível no tempo em que o africano era exibido como bicho exótico O general Norton de Matos escreve no prefácio: “O autor deste livro é um colonial. Classifico-o de colonial porque revela no seu trabalho as qualidades essenciais: a vocação que o levou a África, a maneira como se deixou envolver pelo meio estranho em que quis penetrar, sem se deixar dominar por ele, sem perder as qualidades de colono portador e iniciador de uma civilização superior àquela que foi encontrar”. É um livro bonito, escrito em toada quase jornalística, pinceladas sem rigor, mas abonitando com exotismo as diferentes descrições sobre os povos da Guiné. Oiçamo-lo a falar dos fulas: “Variadíssimos cruzamentos que sofreu originaram certa diversidade de tipo, desde o de cor preta, nariz achato e carapinha, ao de cor clara, nariz aquilino e cabelo corredio... A mulher de feições correctas e formas perfeitas pode ter-se pela mais bela de quantas possui a Guiné. Adorna-se graciosamente com interessantes peças de ourivesaria mandinga. Rapa o cabelo por cima da testa; e da nuca fá-lo convergir, em finíssimas tranças, ao alto da cabeça onde amarra amuletos, depois de enfeitado com moedas de prata, contas doiradas e fitas de pano azul”. É na verdade muito kitch mas é muito melódico e, para sermos francos, até corresponde à verdade, fui devolver estas obras à D. Violete, ela promete mais, depois de regressar de Sonaco.







Veio na última encomenda que recebi de Ruy Cinatti, em Julho de 1970. A capa é dele, trata-se do pórtico da sala de Xerxes, representação vertical de uma audiência. Cinatti publicara aqui a sua reportagem sobre Persópolis, uma viagem que o deslumbrara ao antigo Império Persa.. Pode ler-se: «De Chiraz a Persépolis, atravessando a porta de Isfahan, dura uma hora por estrada alcatroada que rodeia colinas nuas, segue uma linha recta por extensas planuras e ladeia escarpas que anunciam montanhas ao tempo coroadas de neve (...) De Persépolis a Chiraz percorrem-se cerca de 60 km. A paisagem é a mesma, talvez menos nítida porque o diálogo visual se calou...»


Entregam-me o correio, abro uma encomenda do Ruy Cinatti. Vem lá a revista Geographica, é um número de Outubro de 1965, na capa aparece o pórtico da sala de Xerxes em Persépolis, fotografia de Cinatti, no interior vem o relato da sua viagem às ruínas desta sumptuosa cidade do poderoso império persa. Tudo bem ilustrado por ele, delicio-me com a prosa “De Chiraz a Persépolis, atrevessada a porta de Isfahan, dura uma hora por estrada alcatroada que rodeia colinas nuas, segue em linha recta por extensas planuras e ladeia escarpas que anunciam montanhas ao tempo coroadas de neve... De Persépolis a Chiraz percorrem-se cerca de 60 quilómetros. A paisagem é a mesma, talvez menos nítida porque o diálogo visual se calou. Só, de vez em quando, o vento levanta de rajadas turbilhões que passam e se perdem nos plainos desérticos. Mas tanto basta para que o espírito acorde, quando os olhos se fecham, e a poeira se levante, não por golpe do vento inesperado, mas pelos cascos de cavalaria de Alexandre, o conquistador de Persépolis”. É quase poesia, apetecia-me reler tudo mas estou desvairado com fome, a seguir parto para o Xime, a chuva não pára.






O Ruy Cinatti fotografava metodicamrnte tudo, de acordo com a sua curiosidade. Da última carta que me enviou para Bambadinca refere que estava a preparar um trabalho sobre escultura, seguia imagem para que eu me convencesse que todos os povos têm grande arte escultórica, não é só a Guiné, tal a minha presunção... Depreendi que era de Timor, a sua paixão. A fotografia é uma preciosidade, é tempo da entregar no Museu de Etnologia. Cinatti usava uma Hasslblad fantástica, as coisas, os objectos, ganhavam uma outra vida, uma outra dimensão.






Chegou finalmente o meu substituto!

Regressamos tarde, empapados em lama, cientes que esta chuva que não abranda será nossa companheira nos próximos patrulhamentos, amanhã, depois de amanhã e a seguir. Ainda por cima, vamos dormir ao Bambadincazinho, uma surpresa comunicada pouco antes de partirmos para o Xime. Estranho o ar esfuziante de quem me aponta para o meu quarto e me pisca o olho. Abro a porta e está deitado a ler, na cama vaga, um alferes irrepreensivelmente fardado, só lhe falta a bóina na cabeça. Cumprimento-o e ele apresenta-se: “Sou o novo alferes do 52, por favor vê lá se me evitas as praxes brutas, ouvi dizer que me vais obrigar a atravessar o Geba a nado. Sou de Cabo Verde mas tenho medo destas águas com crocodilos”. Não sei que responder, primeiro é o sentimento de que a guerra está a acabar, depois sereno, caio em mim e questiono se houve algum cuidado em escolher um cabo-verdiano para comandar fulas e mandingas. Nelson Wahnon Reis é o meu periquito. Jovem de modos cuidados, atento e correcto. Estou encharcado e sujo, vou tomar um duche mas tenho à porta um soldado, Fali, que me anuncia que o pelotão pretende falar-me com urgência. Sim, dentro de um quarto de hora, respondo. Fali é incisivo: “É um assunto grave, não queremos falar consigo aqui ao pé, estamos em formatura por detrás da igreja dos cristãos”. Não tenho ilusões do que me espera, já deve constar que chegou um alferes cabo-verdiano para me render, posso imaginar as coisas que vou ouvir. Compareço à reunião, há cólera ou aturdimento em todos os olhares. Não estão presentes nem furriéis nem cabos, mas estão ali Jobo Baldé, Jalique Baldé, Fodé Sani, Tunca Baldé, Sila Sabali, Serifo Candé, entre tantos outros. É Mamadu Djau, a gaguejar de irritação quem apresenta o protesto magoado de todos: “Merecíamos melhor sorte. Fomos sempre leais contigo, vais-te embora, ficamos entregues a este cabo-verdiano. Pensa bem no que vais fazer. Eu vou arrumar a farda”. Mamadu Camará falou a seguir, senti um surdo motim por detrás do que me disse: “Para ti é fácil, vais-te embora, deixas-nos na vergonha. Queremos que transmitas ao comandante o que pensamos. Nós somos soldados de valor. Se o comandante nos obriga a ficar com este homem, na primeira operação vai haver um acidente, um tiro há-de acabar com ele”. Procurei acalmá-los, prometi ir falar com o comandante, mas naquele momento exigia de todos contenção, qualquer sinal de maus modos seria recebido como uma bofetada em mim, o alferes Reis não devia ser insultado, ele não era responsável pelo que se estava a passar. E parti dalí para o gabinete do major Anjos de Carvalho a quem expus a situação, pedindo-lhe que comunicasse a Bissau que se devia rever uma nomeação marcadamente hostil, incómoda, à revelia de um ódio que nos ultrapassava.

Regressei ao meu quarto e convidei o Nelson a ir passear até à hora do jantar. Ele era delicado, foi sempre muito delicado comigo, mas verifiquei que não era ingénuo. Descíamos a rampa de Bambadinca, queria mostrar-lhe o cais quando ele me disse: “Ouve, sei que vou comandar tropa africana e pressinto que não é a melhor coisa. O que não tem remédio remediado está, mas aceito as tuas sugestões”. Fiquei aliviado com a sua abertura, garanti-lhe que no dia seguinte ele iria conhecer alguns dos melhores soldados do mundo e que podia contar com a sua obediência. Bebemos um uísque no balcão do estanco do Rendeiro e desejei-lhe as melhores felicidades. Correspondemo-nos durante meses, escreveu-me de Fá e depois de Missirá, seguiu-se o silêncio mútuo, eu não queria voltar às recordações da guerra, ele provavelmente não me queria confessar como toda aquela guerra e aquela relação com África o incomodava profundamente. Enquanto brindava com aquele uísque eu via na minha frente um jovem bom atirado para Bambadinca pelas boladas do destino. Este jovem nada tinha a ver com o engenheiro exterminador com quem almoçara há pouco tempo e via praticamente todos os dias.

Telefonei ao Queta para saber da relação do Nelson com o pelotão e vice-versa: “Nosso alfero, saí do pelotão em Fá, em Março de 1971. O alferes Reis era bem educado, muito silencioso e cumpridor. Quando queria saber coisas da guerra, nós só falávamos de si e do Zagalo. Ele ouvia tudo mas percebia-se que pouco tinha a ver connosco. Afinal, não foi tão duro como pensámos ver chegar um alferes cabo-verdiano”.

Erich Maria Remarque e Mickey Spillane ao mais alto nível

Li “A Oeste nada de novo”, de Erich Maria Remarque, é certamente depois de “Kaputt”, de Curzio Malaparte, o melhor livro inspirado no flagelo da guerra. É o depoimento de um jovem alemão Paul Baümer junto da frente ocidental, nas trincheiras cheias de corpos esventrados, piolhos, ratos, cemitérios com as ossadas espalhadas, meninos de vinte anos que deixaram de sonhar com o futuro. É um relato com cabos abrutados, fala-se muito da comida, há hospitais com gente a agonizar, soldados que suspiram por ficar com as botas dos mortos, há ataques e contra-ataques, mata-se à baioneta, entra-se nas trincheiras do inimigo e traz-se comes e bebes, fica-se à espera de uma nova ofensiva. Há um momento em que ele nos confessa: “Sou novo, tenho 20 anos, mas só conheço da vida o desespero, a angústia, a morte e a prisão é um abismo de sofrimento da mais superficial e da mais insensata existência. Vejo que os povos são atirados uns contra os outros e se matam sem nada dizer, sem nada saberem, loucamente, docilmente, inocentemente. Vejo que os cérebros mais inteligentes do universo inventam palavras e armas para que isto se passe de uma maneira ainda mais requintada e dure ainda mais tempo. E todos os homens da minha idade, aqui e no outro lado, no mundo inteiro, vêem como eu; é essa a vida da minha geração, como é a minha. Que farão os nossos pais se um dia nos levantarmos e nos apresentarmos diante deles pedindo-lhes contas?” É um relato pungente, tão mais pungente quanto Remarque tudo escreve com serenidade, como se a resignação fosse a norma. E esta obra-prima absoluta termina assim: “Caiu em Outubro de 1918, num dia em que a frente estava tão tranquila que o comunicado se limitou a assinalar nada a ver de novo a oeste. Caiu com a cabeça para diante, estendido por terra, como se dormisse. A cara estava calma e exprimia uma espécie de contentamento por tudo ter assim acabado.







Depois de «Kaputt», de Curzio Malaparte, foi a minha 2.ª grande leitura sobre guerra, na Guiné. Impressionou-me a singeleza dos relatos, metendo corpos esventrados, gaseamentos, brutalidades de cabos sádicos, ataque na frente, o viver misturado com ratos e piolhos. Tradução de Mário C. Pires, capa de Figueiredo Sobral, Publicações Europa-América, Lda., 1964. Livro odiado por todos os belicistas, com os nazis à cabeça. Tem a forma de um diário,e termina assim: «Caiu em Outubro de 1918, num dia em que a frente estava tão tranquila que o comunicado se limitou a assinalar nada haver de novo a oeste.» Obra-prima absoluta.


Dos dois Mickey Spillane que comprei em Bafatá já li a longa espera. Jonny McBride volta a Lyncastle cinco anos depois de aqui ter fugido, sob a suspeita de um homicídio de um magistrado incorrupto. Vem sedento de vingança, pronto a abater facínoras e uma namorada que o traiu. Um gang inquieto procura cercá-lo e abatê-lo. A força da justiça impõe-se, pistoleiros e cérebros do crime vão sendo abatidos e o reencontro com a namorada é uma verdadeira revelação para este justiceiro solitário saído da hábil pena de um dos mais talentosos romancistas da literatura policial.





N.º 134 da Colecção Vampiro, tradução de Almeida Campos, belíssima capa de Lima de Freitas. Johnny McBride volta a Lynscastle, 5 anos depois do assassinato do Procurador Distrital Robert Minnow, que perseguia traficantes e canalhas de várias influências. McBride, para a polícia, é o principal suspeito. McBride parece amnésico, não identifica as situações do passado, vem vingar-se de quem lhe preparou uma ratoeira, a começar pela sua namorada, que ele pensa que o traíu. É uma volta ao passado, McBride é alvejado, torturado, aqui e acolá, uma poderosa quadrilha será desmantelada e um criminoso sem escrúpulos abatido, McBride é mais um anjo vingador iventado por Spillane. No final, McBride reencontra a namorada, fora uma longa espera, ambos se vingaram e viram o castigo dos vilões. Um Spillane magistral, a provar que a literatura policial houve e há autores que podem rivalizar com os escritores de maior gabarito.


Durante a semana que vem, de Julho para Agosto, vou quebrando o gelo dos soldados, o meu substituto vai percorrendo as diferentes áreas da nossa intervenção. Um dia destes, virão uns deputados da Assembleia Nacional a Bambadinca, vou conversar com José Pedro Pinto Leite, que morrerá dois dias depois, no rio Mansoa. A rotina prossegue. Saem na ordem de serviço do batalhão louvores a Benjamim Lopes da Costa, Domingos da Silva, Queta Baldé, Manuel da Costa Victória, Quebá Sissé, Cibo Indjai, António da Silva Queirós, alguns deles virão ser dados por oficiais generais. Uma noite, serei surpreendido com um pequeno cerimonial após o jantar, será lido um louvor e não consigo reter as lágrimas. Nos dias seguintes, percorro os regulados de Cossé e Badora, confirmo as nossas cargas de material com o Nelson e o Pires, na manhã seguinte o Pel Caç Nat 52 irrepreensivelmente fardado e com a bandeira portuguesa hasteada por Mamadu Camará deixam-me no Xime com algumas caixas e duas malas. Antes de embarcar eu olho para aqueles homens sem fala, emocionalmente despedaçado. Para mim, a guerra tinha acabado. Começara uma saudade inextinguível.
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Comentário de CV

(1) - Vd. último poste da série de 26 de Setembro de 2008 Guiné 63/74 - P3242: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (45): Um almoço tardio com um engenheiro exterminador

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