quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3869: CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65), História da Unidade (Libério Lopes)



1. Em mensagem de 6 de Fevereiro de 2009, Libério Lopes(*), ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65, enviava-nos a História da sua Unidade.






COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 526

HISTÓRIA DA UNIDADE

MOBILIZAÇÃO E EMBARQUE PARA O C. T. I. G.


Reuniu-se pela primeira vez, no Regimento de Infantaria n.º 7 o pessoal desta Companhia, no dia 8 de Abril de 1963, sob o comando do Sr. Capitão AGOSTINHO DA COSTA ALCOBIA. Sendo constituída por homens vindos de quase todos os recantos do País, na maioria pertencem à Beira Litoral e Douro Litoral.

A 12 de Abril de 1963, entrou o pessoal no gozo de licença regulamentar, tendo o comando da Companhia passado, a 23 de Abril, para o Sr. Capitão LUÍS FRANCISCO SOARES DE ALBERGARIA CARREIRO DA CÂMARA.

A 2 de Maio de 1963, a bordo do paquete «INDIA», embarcou juntamente com o Comando dos Batalhões de Caçadores n.º 506, 507, 599, e 600.

Desembarcou em BISSAU a 8 de Maio de 1963.


Navio India

Foto retirada do site Navios Mercantes Portugueses, com a devida vénia



ESTADIA EM BISSAU

Até 30 de Junho de 1963, a Companhia ficou aquartelada em BRÁ. Ainda neste período, a 29/5/63, partiu um pelotão para CATIÓ, tendo tomado parte em operações que aí se realizavam. Regressou a 28/6/63.


ENTRADA EM SECTOR

A 1/7/63, partiu a Companhia para o sector Leste ficando a depender do Batalhão de BAFATÁ.

Foi-lhe atribuído um sub-sector com a área aproximada de 1.500km2 constituída pelos Regulados de BADORA, XIME, COSSÉ, CABOMBA e CORUBAL (parte Norte).

O Comando da Companhia ficou instalado em BAMBADINCA, tendo sido destacado um pelotão para XIME, nesse mesmo dia 1 de Julho.

A 15JUL63, outro pelotão da Companhia seguiu para o XITOLE em reforço das tropas ali aquarteladas, donde regressou a 5AGO63.

Em 26AGO63, assumiu o Comando da Companhia o Sr. Capitão HELDER JOSÉ FRANÇOIS SARMENTO em substituição do Sr. Capitão CARREIRO DA CÂMARA.

Aquartelamento do Xime

Foto: © Libério Lopes (2009). Direitos reservados
Edição de CV



ACTIVIDADE OPERACIONAL

No sub-sector, tomou parte nas seguintes operações de conjunto:

«8JUL63 e 12JUL63 na margem direita do Rio CORUBAL»; «INGLÊS - JAN64»; «MARTE - FEV64»; «BALA - MAR64»; «VAI À TOCA - NOV64»; «BRINCO - DEZ6» e «FAROL - JAN65».

Fora do sub-sector, actuou:

«OPERAÇÃO VERDE - NOV63»; «ESTRADA DO XITOLE - AGOSTO -OUTUBRO - NOV63»; «MATO MADEIRA-CHICRI - JAN64»; «PATON - AGO64».

No sector à sua responsabilidade, o IN que já actuara a Oeste e Sul de XIME até ao Rio CORUBAL, levando para os matos uma parte da população e fazendo fugir a restante, tentou expandir a sua acção para LESTE para o que atacou tabancas e quartéis, roubou culturas, emboscou as NT e procurou tornar intransitáveis as estradas.

A Companhia, por uma permanente actividade operacional à base de pequenas acções de combate, emboscadas, constantes patrulhamentos de estradas e caminhos e protecção às populações, permanecendo nas tabancas e locais de trabalho, conseguiu manter em completa normalidade a zona a LESTE de XIME e levar os bandos de terroristas a refugiarem-se nos matos.

Durante os 21 meses de permanência no sub-sector, a Companhia teve 108 acções de fogo em contactos com o IN. Em resultado dessas acções, o IN sofreu 48 baixas confirmadas pelas NT, havendo contudo um número muitíssimo superior de mortos e feridos referido por prisioneiros. Foram apreendidas 5 espingardas, 5 pistolas-metralhadoras, 1 pistola, grande número de granadas de mão de diversos modelos e vários milhares de cartuchos.

Na tentativa de cortar os itinerários, o IN utilizou 15 engenhos A/C e 3 minas A/P. Um fornilho A/C destruiu um Jeep e os restantes 14 engenhos A/C foram detectados e levantados. As 3 minas A/P funcionaram, causando dois feridos: um às NT e outro à população,

A Companhia só teve duas baixas por acidente e nove feridos em combate, um dos quais evacuado para a Metrópole.


AÇÇÃO PSICOLÓGICA

a) Sobre as NT

Sem necessidade de qualquer doutrinação e quase que instintivamente, todo o pessoal soube compenetrar-se da honrosa missão que estava cumprindo, não se poupando a quaisquer sacrifícios, antes pelo contrário, mantendo um elevado moral tanto mais contagiante quanto mais difíceis eram as situações. Revelou a Companhia uma nítida compreensão da acção do Comando, nunca criando o mais pequeno problema que dificultasse o árduo trabalho que havia a executar.

b) Sobre as populações

Ao entrar em sub-sector, reinava entre as populações um clima de excitação, nervosismo e temor agravado com as recentes flagelações do IN sobre elas.

Em face de tal estado de coisas, foi de primordial importância incutir-lhes confiança, mostrar-lhes que à custa da protecção das NT poderiam enfrentar o IN. Esse trabalho foi coroado de êxito ao fim de alguns meses e, já cheias de confiança, são armadas a seu pedido, passando a acompanhar-nos em operações e defendendo elas mesmas as suas casas, terras, culturas e haveres. Os seus anseios e aspirações realizaram-se ao serem-lhes distribuídas 900 espingardas para auto-defesa.

Plenamente crentes da eficácia da nossa protecção, criam em si mesmas um espírito tal de auto-confiança que as leva a efectuarem um movimento de regresso às antigas tabancas pela reocupação efectiva das terras que lhes pertenciam. E assim é que foram reocupadas com a nossa colaboração 7 tabancas abandonadas há cerca de dois anos.

c) Sobre o IN

Devido à permanente actividade operacional, o IN, ao princípio, audacioso e agressivo reduziu a sua acção, acabando por abandonar zonas que já julgava sob o seu controle.

O resultado desse trabalho exaustivo pode bem traduzir-se nas palavras do Comandante de Batalhão, ao referir-se, em ordem de serviço, ao espírito ofensivo, decisão e desembaraço da Companhia dizendo: «..... que a levou a avançar sem temer o perigo, com tal entusiasmo e tal combatividade que até lhe ficou a fama de que o próprio IN a olhava com admiração e temor».


ACÇÃO SOCIAL

Teve particular relevo a assistência sanitária às populações que diariamente eram atendidas no Posto de Socorros da Companhia e nas visitas às tabancas.

Além de importâncias em dinheiro, roupas e alimentação, forneceu-se transporte para escoamento de produtos agrícolas em zonas que ofereciam menor segurança pela proximidade com o IN.


DISCIPLINA

a) Recompensas

Neste capitulo há a referir:

- Menções especiais do Ex.º Comandante Militar pela actuação da Companhia - 3

- Louvores conferidos pelo Ex.º Comandante Militar - 27

- Louvores de Comando de Batalhão - 31

- Louvores de Comando de Companhia - 4

b) Punições

Houve 22 punições de detenção e 5 de prisão.

Quartel em Bissau, 2 de Abril de 1965
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3863: Tabanca Grande (114): Libério Candeias Lopes, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65)

3 comentários:

Luís Graça disse...

Libério: Obrigado por estes preciosos elementos para a história da guerra no Xime, ponto (estratégico) de entrada na Zona Leste.

Até Abril de 1965, vocês estiveram com um pelotão destacado no Xime, estando a CCAÇ 526 sediada em Bambadinca. Sabes por quem é que, vocês, foram rendidos no Xime ? E em Bambadinca ?

Eis auma lista de companhias que passaram pelo Xime como unidades de quadrícula:

CCAÇ 1550 (1966/67)

CART 1746 (1967/69)

CART 2520 (1969/1970)

CART 2715 (1970/71)

CART 3494 (1972/1973)

CCAÇ 12 (1973/74)

Um abraço. Luís

Luís Graça disse...

Libério:

Há aqui outra companhia que passou por Bambadinca e pelo Xime, em 1965/66:

CCAV 1482 > Nov-65 Bambadinca Abr-66 Xime Jul-67 / Jan-67 Ingoré.

A CCAÇ 526 também esteve destacada na Ponta do Inglês (Jan 1965). E terá deixado o Xime em Set 1965... Confirmas ?

Vd. poste de 27 de Agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3151: Unidades sediadas em Bambadinca entre 1962 e 1974 (Benjamim Durães)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2007/04/unidades-sediadasa-em-bambadinca-196274.html

Anónimo disse...

Caro Libério, deves te lembrar que quando chegaste a Bambadinca estavam 2 pelotões, um era um pelotão de caçadores independente(não me lembro o nr)e havia outro da ccaç 412 (alf maia) e no xime estava a secção do furriel açoriano José Diolésio Ribeiro.eu alcidio (Furriel Marinho)estava no xitole com o 3º pelotão do alf Cardoso Pires com um pelotão Caç Independente(não lembro o nr) mas um dos furrieis era o Castilho.
Também fiz parte das operações= Verde,Inglês,Marte e Bala.A partir de Setembro/63 até Fevereiro/64 estive em frente ao Xime no Enxalé(3ºPelotão reforçado da 412).Certamente que ouviste falar das armadilhas que colocavamos e que tantos estragos faziam aos grupos comandados pelo Nino Vieira, pois o responsável era eu(modéstia à parte). montava por dia cerca de 40, feitas dos mais variados materias, pois eram artezanais, como garrafas de uisque, latas de óleo, granadas de mão e de morteiro depois de desmontadas, tudo inventado por mim.As minas oficiais só montei duas bailarinas, que depois estoiradas, em montava novamente utilisando cargas de propulsoras de morteiro 60 e introduzia no cano uma gradana mod.42 (pinha),invertida e sem cavilha pois cabia mesmo há justa e subia cerca de 3 metros e explodia à altura da cabeças dos guerrilhas. Também patrulhavamos o rio com o barco que tinhamos.
Desejo-te ótima saúde e um abraço
do alcidio marinho cc412-Abr1963-Maio/64