sábado, 7 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e trasmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)

Base Escola de Tancos > 1971 > 7.º curso de paraquedismo, para enfermeiras civis. Foto de grupo.

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > 1972 > A Gidelda junto do AL-III, com a respectiva tripulação, durante um alerta a operações, com base em Aldeia Formosa.

Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1972 > A Giselda (à direita), com um militar do Exército e a enfermeira Rosa Mota (Mendes pelo casamento).
Fotos: © Giselda Pessoa (2009). Direitos reservados.


1. Texto da Giselda Antunes Pessoa, ex-Sgrt Enf Pára-quedista (BA12, Bissalanca, Janeiro de 1972/Abril de 1974), novo membro da nossa Tabanca Grande:

As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4) > UMA ENFERMEIRA CIVIL NA TROPA (*)

A minha formação como enfermeira foi iniciada na Escola de Enfermagem do Hospital de S. João, no Porto, em 1966. Ida de S. Martinho de Anta (**), perto de Vila Real, o Porto era o local mais lógico para tirar o curso. E por lá continuei em 1968, como enfermeira, tendo sido logo colocada no Serviço de Urgência do S.João, onde se trabalhava muito mas também se aprendia mais, e depressa.

Por essa altura ia tendo notícias da minha irmã Antonieta, também enfermeira, então integrada na Força Aérea como enfermeira paraquedista. Das suas deambulações por África ia-me dando notícias, mas não criou necessariamente em mim a vontade de lhe seguir as pisadas.

Foi um pouco por acaso que numa deslocação a Lisboa à Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea, alguns dos presentes me incentivaram a inscrever-me no novo curso que estava em preparação. Acabei por concorrer pois, no fundo, entusiasmava-me a possibilidade de desenvolver a actividade que tinha, num ambiente ainda mais exigente, e agradavam-me igualmente as características da vida militar.

Assim, em 1970, acabei por frequentar o curso de paraquedismo na Base Escola em Tancos, o 7º constituído por enfermeiras civis. Das nove que constituíam o curso acabaram oito, iniciando nós então um rodopio entre a base-mãe, os Açores, Guiné, Angola e Moçambique.

No meu caso pessoal, fui inicialmente colocada em Moçambique durante todo o ano de 1971, onde se pode dizer que tive um período de férias razoável, pois para além de curtos períodos em Nacala e Nampula, estive essencialmente baseada em Lourenço Marques. Aí prestava apoio no serviço de saúde, o que incluía deslocações periódicas a Lisboa, acompanhando e apoiando os militares evacuados, inicialmente no DC-6, mais tarde nos Boeing 707.

Deve dizer-se que em Lourenço Marques ainda se sentia menos a guerra do que em Lisboa e que este período não foi representativo para a minha formação militar, desgostando-me mesmo certos comportamentos que pude observar localmente, quer em alguma da população branca, quer em alguns militares mais acomodados a uma vida fácil e pouco arriscada.

Foi por isso com alguma expectativa que no início de 1972 me mudei, "com armas e bagagens", para a província da Guiné. Aí, finalmente, respirava-se um ambiente muito mais operacional, onde a solidariedade e a camaradagem eram bem visíveis e o trabalho puxado nos fazia sentir mais realizadas.

O contacto diário com as tripulações, as deslocações aos aquartelamentos perdidos no meio do mato, a sensação de se fazer algo de útil por quem precisava, deixaram-me até hoje recordações que dificilmente desaparecerão.

Ao longo dos anos têm surgido, aqui e ali, manifestações de carinho por parte de militares que socorri num momento extremamente delicado da sua vida e que se recordam ainda da enfermeira que os acompanhou e tentou minorar o seu sofrimento. São situações como essas, assim como o convívio que tenho tentado manter com pessoal que passou pelo mesmo no território da Guiné - pára-quedistas, pilotos e pessoal Especialista da Força Aérea, militares do Exército e da Marinha - que me fazem pensar que valeram bem a pena os anos que dediquei à Força Aérea como enfermeira paraquedista.

Giselda Pessoa
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores desta série:

20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)

28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)

(**) São Martinho de Anta, freguesia e vila do concelho de Sabrosa, distrito de Vila Real. O seu filho mais ilustre é Miguel Torga, pseudónimo literário de Adolfo Correia Rocha (1907-1995), médico e um dos grandes escritores portugueses do Séc. XX. E, mais ao lado, já no concelho vizinho de Peso da Régua, tempos o miradouro, de cortar respiração, de São Leonardo de Galafura, que Miguel Torga celebrizou e é um dos mais falabusos miradouros de Portugal, com vista com o Rio Douro e os vinhedos da Região Demarcada do Douro.

Também é obrigatório saber que Sabrosa é a terra natal do primeiro homem que fez a primeira viagem de circum-navegação (1519-1521), Fernão de Magalhães (1480-1521). Morreu em combate nas Filipinas.

Estive há tempos em Sabrosa, onde descobri uma Rua Coronel Jaime Neves, atribuída em vida ao antigo capitão dos comandos que teve um papel-chave no 25 de Novembro de 1975 e que é um trasmontano dos sete costados, natural de Sabrosa....

Espero que da próxima vez que lá passe, encontre também uma rua com o nome das enfermeiras pára-quedistas, irmãs, Antonieta e Giselda Antunes, naturais de Sabrosa. Sr. presidente da Câmara de Sabrosa, José Marques, não perca essa oportunidade de homenagear todas as mulheres trasmontanas através destas duas suas conterrâneas que - não há muitas - foram os nossos 'anjos da guarda' na guerra colonial (1961/74).

6 comentários:

Anónimo disse...

Gostava de saber porque é que o Luis Graça não me acha digno de ter direito a nome de rua em Sabrosa. Deslustro ao pé dos(as) insígnes meus(minhas) conterrâneos(as) aqui citados(as) e a quem aproveito para saudar?

João Tunes

Luís Graça disse...

João:

Eu sei que nem todas as companhias te servem... Agora há uma coisa que a gente não escolhe: a terra e os conterrâneos... Ou os vizinhos. Olha, eu, pelo casamento, fui parar ao Marco de Canaveses...

Fico/ficamos a saber que és de Sabrosa - eu sabia que eras transmontano ou altoduriense... Como te conheço, sei que és filho de boa gente. Sendo de Sabrosa, tens que ser duplamente filho de boa gente...

Claro que sim, eu serei o primeiro a assinar uma petição para a Câmara Municipal te atribuir... um nome de rua, de preferência em zona nobre da terra, tal como como às nossas duas pioneiras e bravas mulheres de Sabrosa que se ofereceram para enfermeiras pára-quedistas, durante a guerra colonial...

Darei prioridadade aos camaradas e às camaradas que suaram as estopinhas na Guiné... Não sei se o José Marques, o régulo lá do sítio, é da mesma opinião, ou seja, que tu e elas têm também direito a uma "justa homenagem", tal como o Magalhães, o Torga ou o Neves...

Afinal de contas, o conceito de "filhos ilustres da terra" é muito relativo: será que no Séc. XVI o Magalhães era mesmo Magalhães ou... Magallanes, um mercenário ao serviço de Espanha ?

Um Alfa Bravo, grande João!

Anónimo disse...

Estou de acordo com a pergunta do João Tunes.
Porque é que a rua onde nasci se chamava do Telégrafo ??
Porque o meu Bisavô enviava mensagens com bandeiras (os escuteiros sabem como) para o outro lado da cidade.

Agora chama-se Visconde de Montesão (!!!)

Ninguém sabe quem é.

Talvez os historiadores ou a COMISSÃQO de TOPONÍMIA esclareçam.

Um abraço,

CMS
68/69 MANSAMBO

Anónimo disse...

Oh João!
O Luís tem razão!
Santos da terra não fazem milagres!

Machistas! ( Como dizia a Alferes enfermeira a Fur. Mamadu em Cufar)

Venha lá uma mulher, que hoje é dia d´elas. E as Transmontanas são valentes como as Alentejanas.

Vê tu que eu fui da Planície para lá de Trás os Montes buscar uma, é verdade, a Vimioso. Este ano já faz quarenta anos. É sinal que são muito passientes para aturar esta raça Latina.

Boa prosa! A Tabanca não vive só de Guerra, mas de tudo o que faz razão de vivermos.

Sabrosa! Tenho amigos e até aqui uma vizinha. Cheires aí pertinho, grandes amigos os Queirós de Morais, de quando em vez passo por lá, e como é gostoso o Povo Transmontano.

Sr. Presidente da Camara, _saberei quem é_ venha mas é o nome de uma Mulher, sim com M grande porque nós (Veteranos de Guerra) é que conhecemos esses anjos, caíndo sobre as lalas e bolanhas da Guiné.

João! Aguenta! Primeiro as Senhoras.

O abraço de sempre do tamanho do Cumbijã.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro Mário, tens toda a razão, primeiro as senhoras. E assim devia ser. Mas o Jaiminho já lá mora, na placa. Essa é que é essa. E é com essa, so com essa, que eu engalinho.

Abraço de um que também provou o tamanho do Cumbijã.

João Tunes

Anónimo disse...

João,

Dou-te toda a razão!
Já o Camões tinha problemas com "A condição humana".

O abraço do tamanho, era tão bonito não era...O Cumbijã! João tenho saudades epena de não ter um rio assim: Perigoso... mas tão lindo!

Mário Fitas