A Visão de ontem, nº 835, de 5 a 11 de Março de 2009, já trouxe uma nota de "rectificação", assinada pelo jornalista Luís Almeida Martins, que é também um pedido de desculpas aos ex-combatentes que se sentiram indignados com um parágrafo do seu artigo "Portugal e o passado".
O nosso blogue irá dar por encerrada esta série, com a publicação, este fim de semana, de uma anterior resposta do jornalista a todos os que lhe escreveram, resposta essa que eu, em nome da Tabanca Grande e dos meus co-editores, aceito e considero como razoável, suficiente e civilizada (LG).
2. Olho por olho... (**)
por Hugo Guerra
Camaradas e amigos e já agora Senhores Jornalistas
Eu gosto muito de futebol, mas como só fui uma vez a um jogo ver a despedida do [José] Travassos, já lá vão mais de 55 anos(?), limito-me a ver pela TV e não mando bitaites sobre um assunto onde não pesco nada.
Vai daí que me seja difícil entender algumas barbaridades que profissionais da comunicação social escrevem como se percebessem alguma coisa do que falam. Claro que me estou a referir ao artigo da Visão (**) e também à solidariedade manifestada pela Diana Andringa com a classe jornalística, tentando pôr água na fervura num panelão que ainda está em ebulição.
Não escrevam disparates ofensivos para toda uma geração que por lá passou, e ouçam todas as partes que viveram o verdadeiro conflito.
Todas as noites quando me deito e tiro o meu "olho de vidro" para meter num copo de água (magoa-me dormir com aquele caco há 38 anos), não posso deixar de me sentir revoltado e indignado com o que acontece à nossa volta e o que é escrito com alguma leviandade quase 40 anos após Março de 1961.
Quando embarquei no cargueiro Ana Mafalda em Setembro de 1968, fiquei escandalizado por ver, no mesmo camarote que o meu, a bagagem de um Alferes que levava uma raquete de ténis.
Aquilo mexeu comigo e senti-me como se tivesse apanhado o comboio errado. Só depois soube que ele era de Administração Militar e ia fazer Contabilidade no QG de Bissau. Ficámos muito amigos e nunca deixei de sentir um pouco de raiva pela malvada sorte.
Possivelmente foi com ele que o Senhor Jornalista da Visão falou para estar tão bem informado da Guiné.
Mas, como eu calculo que ele venha ler o nosso blogue, vou aqui descrever um pequeno apontamento dessa mesma altura em que o General Spínola vivia em Bissau e este pobre escriba, mais os outros largos milhares, foram colocados frente a frente com os turras.
A mim calhou-me o Nino Vieira e sus muchachos cubanos, pois fui parar em Gandembel.
E, se ele tem dúvidas dos contactos entre as NT e o IN, só lamento que não me tenha acompanhado numa incursão ao Corredor de Guileje onde vi, ouvi e assisti à morte de vários soldados do PAIGC, fortemente armados e que as tropas pára-quedistas emboscaram com êxito.
Mas esta foi uma confrontação minha em terreno aberto, sem napalm nem massacres,( que também os houve mas noutros palcos), deve ser a bem da verdade multiplicada por n vezes no TO da Guiné.
Para não restarem dúvidas sobre os contactos que o "marciano" da Visão nunca viu, ainda lhe digo, na continuação, que nessa noite fomos cercados dentro do nosso aquartelamento de Gandembel e a tão pouca distância uns dos outros que dava para rir, se não fosse tão sério, a troca de insultos entre eles e nós (filho da puta e outros), antes e durante o fogachal que nessas noites só acabava de madrugada, quando chegava a força aérea; e lá vinha também o nosso General Spinola que para dar ânimo às tropas subia para cima duma caserna e desafiava o IN a vir lá para se haver com ele, coisa difícil de acontecer pois os sobreviventes já tinham recolhido para lá da fronteira.
Quanto aos acidentes de viação sem mais, é duma brutalidade a sua afirmação que só me admiro que nenhum dos sobreviventes feridos gravemente não tenha ainda mandado com uma perna postiça ao Senhor Jornalista.
Pela minha parte vou só enviar-lhe um "olho de vidro" que não uso agora, que sempre é mais leve que uma perna e que pode colocar num copo de água todas as noites à cabeceira da cama para ver se começa a perceber que aquilo não foi a guerra do Solnado e nós na Guiné combatíamos como homens e não como assassinos.
Um abraço do
Hugo Guerra
PS: De Setembro de 1970 a Setembro de 1974 vivi e trabalhei em Angola. Aí a história é outra e, embora como civil, corri Angola de carro do Zaire a Nova Lisboa e do Ambriz a Negage. Um dia poderei falar dessa minha experiência, se for considerado conveniente.
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3951: Sr. jornalista da Visão, nós
todos fomos combatentes, não assassinos (8): Diana Andringa, jornalista e cineasta
(**) Vd. o primeirio e último postes desta série >
3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3975: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (12): José Teixeira, ex-1.º Cabo Enf da CCAÇ 2381
4 comentários:
Caro Hugo,
Um Alentejano de Fibra é assim!
Mas se está tudo já resolvido, para mostrar quem somos, vamos falar com o Benito Neves e Outros Alentejanos que por aqui andam, e, convidar o Luís Martins para irmos almoçar num daqueles locais bem conhecidos da Planície e termos um bate-papo de volta de umas "sopas de Cachola, Cação ou uma Açorda".
Não estou a brincar, é a sério. Pela minha parte estou desponível e passando a públicidade _o nosso Chefe de Tabanca fecha os olhos o melhor era ir também_ Vamos à minha querida aldeia Vila Fernando à "Taberna do Adro" a São Vicente ao "Pompílio" ou à "Belota" na Terrugem. Estas são as minhas sugestões vocês terão muitas mais desde Fronteira, Sousel até Extremoz. Lugares bons não faltam. Aqui fica uma sugestão saborosa e pacificadora.
Fico à espera! Saiam do cortiço.
Para todos sem exclusão (incluindo o Luís Almeida Martins) o velho abraço do tamanho do Cumbijã.
Mário Fitas
O Luís Martins é um "rapaz da nossa idade" e, pelas palavras que escreveu (e que eu antecipo aqui) merece mais do que o benefício da dúvida... (LG)
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"CORREIO DO LEITOR > Rectificação:
"Numerosos leitores, antigos combatents da Guerra Colonial, escreveram-nos manifestando grande indignação por algumas frases do artigo 'Portugal e o passado' , sobre o livro do General Spínola (V833), em que tentei transmitir às gerações jovens os horrores de um conflito infelizmente hoje quase esquecido pelo poder político mas verdadeiramente marcante dos meados do nosso século XX - e em que só não participei por mero acaso, já que pertenço à geração que o fez.
"É claro que nunca foi minha intenção atingir [nem] ao de leve a dignidade dos antigos combatentes (afinal praticamente todos os jovens do sexo masculino da década de 60 e princípios da de 70), que, abandonados pelo poder político, guardam recordações gratas desse tempo marcado pelo sacrifício, a generosidade, a camaradagem e, retrospectivamente, a saudade.
"Mas se algum deles se considera ainda beliscado foi porque eu não soube transmitir o pretendido, e por essa inépcia peço, obviamente, desculpa".
Assinado: Luís Almeida Martins
(Visão, nº 835, 5 a 11 de Março de 2009, p. 10).
www.visao.pt
Meu saudoso camarada! Recordo a noite que,como periquito poisado em Mampatá em viagem para Gandembel compartilhas-te o nosso humilde abrigo enquanto á nossa volta explosoes se sucediam.Depois disso......muito nos aconteceu a ambos!Felizmente tudo acabámos por superar! Deste outro extremo da Europa um grande abraco do José Belo.
Tudo isto é triste e ridículo.A esquerdalha desculpa tudo.Quero lá saber da Andringa e os comparsas que de jornalistas não tem nada.E depois os donos do blogue tb são politicamente correctos, pois regressaram inteiros é natural.Mas quem não teve a mesma felicidade tem que engolir que esta rapaziada até é boa não quis magoar ninguém etc...
Luis Antunes
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