terça-feira, 3 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3969: Sr. Jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (11): Jorge Picado, Manuel Reis, Luís Dias

1. Na impossibilidade de, por razões práticas, técnicas ou editoriais, de publicar todas as mensagens e comentários (e foram largas dezenas), suscitados pelo artigo da Visão (nº 833, de 19-25 de Fevereiro de 2009, "Portugal e o passado"), aqui ficam as posições de mais três camaradas nossos. Os editores do blogue reservam-se o direito de responder ao jornalista Luís Almeida Martins, depois da saída da próxima edição da Visão, 5ª feira, dia 5. ( Bold do editor LG).


(i) Jorge Picado, ex-Capitão Miliciano (engenheiro agrónomo, na vida civil, reformado, Aveiro): CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto (1970/72)

Caros Camaradas, embora retardado, ao ler o que um aprendiz de escrevinhador teve o desplante de dar à estampa, também me sinto ofendido.

"Perdoai-lhe Senhor que não sabe o que diz" é o que me vem á memória da minha educação de criança.

Mas isto é tudo fruto de quem nos tem governado, que não há maneira de tornarem obrigatório o ensino nas Escolas do nosso passado recente. Perdem-se com coisas de somenos importância... e depois dá nisto. Mas nós, que fomos combatentes, talvez tenhamos alguma culpa. Falo por mim, que vejo agora os meus netos, ignorantes destes assuntos, ficarem admirados por me verem tão empenhado nas leituras da Nossa Tabanca. E lá vou, a pouco e pouco contando alguma coisa.

O célebre parágrafo é verdadeiramente ultrajante, para não dizer "assassino", para qualquer interveniente na Guerra Colonial. Fomos todos ofendidos. Os "paisanos" e os "profissionais". Por isso, na minha santa ingenuidade, aguardo resposta adequada do Chefe Supremo das Forças Armadas.

Dum insignificante "paisano" que, pelo menos, se fartou de efectuar ralis numa bela pista alcatroada MANSOA-MANSABÁ e que se tivesse tido um azar...teria morrido de acidente de viação!

Um abração do tamanho de Portugal à Guiné, para todos os combatentes.


(ii) Manuel Reis, Aveiro, ex-Alf Mil, CCav 8350 (1972/74)
(Conheceu o inferno de Guileje e Gadamael)

Isto não me surpreende, vem de encontro à marginalização a que somos lançados pelos sucessivos Governos. Consideram-nos um pesado fardo!

Compete-nos defender este espaço de liberdade, onde podemos fazer ouvir a nossa voz e mostrarmos a nossa força.

A melhor resposta a estas situações é fazer como os nossos camaradas, que partiram para a Guiné para levar ajuda e uma palavra amiga aos nossos irmãos e amigos.

O meu aplauso à atitude do Vasco da Gama.

Um abraço amigo, Manuel Reis

(iii) Luís Dias, Lisboa, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74

Caros Companheiros da Grande Tabanca

Como disse Jesus ao ser pregado na cruz, eu digo perdoai-lhes Senhor, porque eles não sabem o que fazem (o que dizem, o que escrevem) e perdoai-lhes, porque eu não! Não, porque já não tenho idade e paciência para certos senhores da nossa praça que escrevem e falam do que não sabem, do que não viram, do que não viveram, do que sentiram os que por lá tiveram de combater.

Num parágrafo resume-se quase 13 anos de guerra e 8 mil e tal mortos.

Nós não queremos ser heróis, mas alguns julgam-se importantes, de certeza unicamente em firmamento próprio, porque alguém lhes dá espaço, reserva, para omitirem as opiniões, mesmo que lamentavelmente erradas. Não só pelos mortos, não só pelos estropiados e feridos no corpo e na alma, mas também por todos que fizeram a guerra, voltaram e têm contribuído de forma decisiva para que este país se tenha levantado.

Pelos milhares de combatentes vivos é tempo de se exigir CORRECÇÃO e VERDADE, por aqueles que se sacrificaram, que deram o melhor tempo das suas vidas - mesmo não querendo - pela Pátria.

Basta de ilusionistas, de encantadores com balões coloridos, de escribas opinadores do que não sabem. Quem não sente não é filho de boa gente! É o que diz o ditado - a voz populi. Mesmo que a Dignidade dos Combatentes não lhes convenha, esta, juntamente com a Verdade é como a Justiça, não se pede, exige-se!

Um abraço a todos aqueles que ainda têm a postura cervical direita e sabem honrar a memória e o espírito de todos aqueles que, mesmo em condições extremamente difíceis, souberam manter um elevado espírito de moral combatente e dignificar o ser soldado português.

Luís Dias
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3957: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (10): José Brás, autor de "Vindimas no Capim" (1986)

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