1. Mensagem de Alberto Nascimento(*), ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63), com data de 17 de Março de 2009:
Amigo Luís
Enviei em 11/03 um apontamento sobre o tema Abelhas, que julgo não foi recebido, ou aguarda oportunidade para ser publicado. Na dúvida, resolvi reenviar.
Um Abraço
Alberto Nascimento
ABELHAS
Da NEP nunca ouvi falar, mas deve querer dizer, Não Estejas Parado com abelhas por perto ou já em cima de ti, corre o mais que puderes atira-te à água, atira-te de cabeça para o interior de uma moita, (diziam que resultava, que elas terminavam a perseguição), mas parado é que não.
Era o pão nosso de todos os dias no destacamento de Piche. A fonte, situada próximo do quartel secou. Os banhos passaram a ser tomados num charco que ficava na traseira do quartel, mas para beber e cozinhar passámos a ir a uma nascente que nos indicaram e que ficava a uns quilómetros na estrada para Canquelifá.
A nascente até ficava num local bonito, aprazível, onde até apetecia ficar um bocado a apreciar a frescura, as árvores enormes muito próximas da água, só que cada árvore daquelas tinha uma colmeia daquela raça de abelhinha que, com alguma razão, é conhecida por assassina.
Nos primeiros dias ainda mal tinha conseguido colocar o atrelado tanque de mil litros em posição para poder ser enchido com a bomba manual, já elas estavam em cima de nós, furiosas distribuindo ferroadas.
Depois consegui perceber que o que as irritava e obrigava a atacar eram os vapores do escape e passei a colocar o tanque com o motor do jipão desligado. Mesmo assim atacavam frequentemente e nem o fumo que fazíamos com capim molhado impedia de levarmos umas valentes ferroadas.
Foi uma época de grande preparação física, embora forçada, mas posso garantir que foram batidos recordes de velocidade e se a situação se tem mantido, tinha nascido na Guiné a maior e melhor equipa de fundistas portugueses da época.
Com a ida para Bambadinca, acabaram o treinos forçados e as ferroadas.
Julgo que os camaradas bloguistas também tiveram contacto com outro insecto fabricante de mel conhecido por “mosca do mel”. Tinha o comprimento de pouco mais que dois milimetros, não tinha ferrão, mas quando sentiam perigo para a colmeia atacavam em tão grande número que era difícil aguentar. Introduziam-se nos ouvidos, nas narinas por debaixo dos cabelos... eram tão chatas que faziam correr, tal como as primas de ferrão.
Um Abraço
Alberto Nascimento
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3964: Nuvens negras sobre Bissau (6): O Nino morreu vítima de si próprio (Alberto Nascimento)
Vd. último poste da série de 14 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4031: As abelhinhas, nossas amigas (4): Desculpem qualquer coisinha (Luís Faria)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Caro Nascimento
Não, nunca tive o desprazer de conhecer ou ouvir falar dessa tal mosca do mel, e pelo que leio, ainda bem, já que seria mais chata que a potassa.
O insecto que mais me "quilhava" era um mosquito pequenino ,parecido com o nosso mosquito da lenha, que se metia pelo meio dos cabelos ,passava pela rede dos cachecóis (?)camuflados e as “ferradelas” parecia que queimavam .Conheci-os nas matas de Balanguerês (T. Pinto – Cacheu ). Quando chovia eram aos milhares.
Já agora, a propósito das abelhas, aprendi no Puto e tive resultados também na Guiné, que uma das melhores formas de não ser ferroado era/é ter autodomínio suficiente(às vezes muito) e conseguir ficar absolutamente imóvel, mesmo que "um car...nos passe pela boca!"como se dizia!!!
Elas pousavam, passeavam, exploravam ,e...não me ferroavam!
Mas digo-te, era uma experiência do caraças pá, especialmente quando se passeavam pelos olhos(fechados) ,nariz, boca ou orelhas. Eram minutos(?) tenebrosos!
A outra ,era ter mesmo ao lado um montão de água, o que nem sempre acontecia ,para entrar de cabeça e ter fôlego suficiente, ou uma palhinha para aguentar aí uma meia hora sem vir à tona da água!!
Bem, meia hora talvez seja exagero, mas ... um quarto?
Um abraço
Luís Faria
Camarada Alberto:
Do mel não sei se era, mas das orelhas, nariz e tudo o que era buraco "à vista" claro, lá estavam elas.
Também passei por aí!
A mosquinha do capim, mais chata que a ferrugem.
CMS
Mansambo 68/ 69
CART 2339
Enviar um comentário