sexta-feira, 8 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4304: (Ex)citações (27): Lembrando a memória de meu tio Manuel Sobreiro, morto por uma mina (Nelson Domingues)

1. Nelson Domingues deixou um novo comentário no poste "Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou..." (*):

O texto de António Garcia de Matos, Alf Mil CCAÇ 2790 trouxe-me à memória as peripécias que o meu tio deve ter tido aquando da sua comissão na Guiné, o tal que montava, desmontava, cavilhava, descavilhava (**).

Infelizmente o meu tio perdeu o jogo das minas e armadilhas, porque nesse jogo do montar, desmontar, cavilhar e descavilhar, as formigas decidiram participar nele… e com isso não poderei ouvir histórias como esta.

Texto emblemático sobre a frieza e coragem de quem tinha a especialidade de minas e armadilhas, e ficou-me na retina a frase "O homem é um animal de hábitos e cai frequentemente no erro das rotinas."

Bem-haja António Matos

Guiné > Guileje > BART 1896 > CART 1612 (1967/69) > O Alf Mil de Minas e Armadilhas, Manuel Sobreiro, natural de Leiria, morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968.

Em tempo

Pelas 22h e 11m de hoje, chegou mais este comentário de Nelson Domingues:

Caro António Matos,
Sou da geração pós guerra, e tive um tio que faleceu ao manusear uma mina, em 24 Fevereiro de 1968 na Guiné, ele era Alferes Miliciano com a especialidade minas e armadilhas, e criei um blogue em sua homenagem, onde descrevo a sua passagem na guerra, com o título As Verdades do Sobreirito, http://sobreirito.blogspot.com/.

Verdades, porque existiram muitas versões (verdades) sobre a morte do meu tio, e o sobreirito, porque era assim que o saudoso Zé Neto o tratava, e assim ficou, as verdades do sobreirito.

Respondendo às suas perguntas:

Interessa-lhe o tema da guerra do ultramar?
Que opinião formou já sobre o assunto ?
De que maneira lhe marcou a vida ?
Quantos familiares seus por lá passaram ? E onde ?


O tema sobre a guerra interessa-me porque permite conhecer o meu tio, a minha gente, o meu País que nunca conheci. Nada dou, e recebo muito….

Mas o que me marca a mim de uma geração que pertence ao pós guerra, é ter o privilégio de poder contactar seres humanos fantásticos como os senhores.

Não me esqueço que ao iniciar o meu blogue em 2007, pedi ajuda na descoberta das verdades do sobreirito, e o Sr. Luís Graça, abriu-me a porta e disponibilizou-me a informação, publicou um post e deu-me palavras de incentivo, foi a arte de bem RECEBER, confesso que pensei o oposto, pensei que as pessoas que lutaram na guerra, fossem pessoas corporativistas, egocêntricas… puro engano os senhores são amáveis, solidários, um património a homenagear.

Venho quase todos os dias espreitar o blogue, a vossa história, é minha história, e desde já agradeço o post do amável Carlos Vinhal, hoje publicado.

Um abraço amigo!
Nelson Sobreira Domingues

Comentário de CV:

Porque não tenho palavras para o qualificar, caro Nelson, deixo-lhe um bem haja e um obrigado pelas suas palavras.
__________

(*) Vd. poste de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4296: Espelho meu, diz-me quem sou eu (2): António Matos

(**) Sobre a morte do Alf Mil Manuel Sobreiro, vd. postes de:

14 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1849: Quero prestar a devida homenagem ao meu tio, o Alf Mil Manuel Sobreiro, da CART 1612, morto em Mampatá em 1968 (Nelson Domingues)

20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1861: Homenagem ao meu tio, Alf Mil Minas e Armadilhas, Manuel Sobreiro, do BART 1896 / CART 1612 (Nelson Domingues)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2160: Militares mortos em campanha, no sul, entre Fevereiro de 1968 e Janeiro de 1969 (J. C. Abreu dos Santos), onde se pode ler:

Resumo de baixas mortais ocorridas em 24Fev68-27Jan69 no sul da Guiné (Mampatá, Mejo, Quebo, Guileje, Gandembel, Ponte Balana)– sábado 24Fev68 † MANUEL DE JESUS RODRIGUES SOBREIRO nascido em 1942, na freguesia de Souto da Carpalhosa, concelho de Leiria Alf Mil Art M/A, 2ºCmdt da CART 1612/BART 1896-RAP2 (a 6 meses do final da comissão); morre em «acidente» com deflagração de granada defensiva, na região de Mampatá.

5 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3174: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) Parte I (José Martins)

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3182: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) Parte II (José Martins)

Vd. último poste da série de 7 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4297: Comentários que merecem ser postes (5): Falando da condição feminina e das enfermeiras pára-quedistas (Luís Graça)

4 comentários:

Antonio Graça de Abreu disse...

Também fiz um curso de minas e armadilhas, em Tancos, Escola Prática de Engenharia, Abril, Maio 1971. Èramos uns trinta e tal aspirantes e furrièis. Foi o trotil, o cordão lento, os detonadores, minas ap e ac. O sistema político e militar queria pessoal eficiente e conhecedor. É verdade que íamos todos para a guerra, alguns para a morte.
Felizmente, no meu caso, nunca precisei de utilizar os conhecimentos adquiridos, mas tenho imenso respeito por todos os camaradas que na Guiné, mexeram nesses brinquedos, arriscando a própria vida.
Um abraço,
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

A verdade do Sobreirito

Eis uma página que convém ler. Todos!
É uma homenagem a um camarada nosso, o Alferes Manuel Sobreiro, feito pelo sobrinho Nelson, em que todos os familiares colaboraram. Com o Raul, também sobrinho, mantive um contacto prolongado, que foi objecto dos post's 3174 e 3182 de 5 e 7 de Setembro de 2008.
Mas o que considero importante, é que com a persistência desta família, a Câmara Municipal de Leiria, mandou colocar lápides com o nome dos militares do Concelho de Leiria tombados em Campanha em África.

Parabéns aos Sobreiros!

José Martins
Leiriense

Anónimo disse...

Camaradas
Só hoje tive oportunidade de ler o belo texto do António Matos, e o comentário do Raúl Albino.
O texto que sabiamente se refere a um diálogo de mortos, antecipando a possibilidade terrífica da deflagração da mina, em condições que deixam o Matos, como o Faria, a interrogar-se sobre os seus papéis naquele cenário, com certeza adjectivados por muito vernáculo, só peca pela falta de intensidade, as reações físicas e psicológicas do medo.
O Raúl faz uma tremenda e sentida reflexão sobre os comportamentos generalizados perante o problema das minas. De facto, se o IN quisesse, teria acontecido mais desastres, ou muito menos gente a mexer em minas. Pois se eu aprendi a montar uma mina impossível de levantar (salvo problema mecânico), porque não admitir que me aprontassem o mesmo? Do seu comentário respigo a seguinte passagem:"estava silenciosamente a ser julgado, e não me deixava alternativa... mesmo que a considerasse inconsciente". Esta reflexão sobre o laxismo surpreendeu alguns, quer com minas, quer com granadas. A prática leviana dos que ali "aprendiam" à vista, na generalidade não correu mal porque eles não armadilhavam, mas fica o registo intransigente de outro pensamento do Matos: "o homem é um animal de hábitos e cai frequentemente no erro das rotinas". Foda-se!
A solução era o saquinho de sapador, ou o rebentamento. E, claro, saber aplicá-los.
Abraços fraternos
J.Dinis

Unknown disse...

Com a devida vénia…
Caro “Tio” José Martins!
Ainda não tive oportunidade, de agradecer pessoalmente a contribuição sincera, altruísta e amiga que deu na obtenção de informações sobre o meu tio Manuel Sobreiro.
Foi tocante a forma como me tratou a mim e ao meu primo Raul nos post's 3174 e 3182 de 5 e 7 de Setembro de 2008.
José Martins dizia: “ Caro Raul e Nelson, Não vos conheço pessoalmente, o que tenho pena. Mas pelo esforço que têm levado a cabo na descoberta da verdade do “Sobreirito” é mais que suficiente para vos considerar, permitam-me, no mínimo “meus sobrinhos”
Do fundo do coração agradeço a sua disponibilidade e amizade.
Obrigado por existir!
Bem-haja!
Abraço Amigo!

Nelson S. Domingues