Este é o bu… rako idealizado pelo “engenheiro” Fernando Chapouto especializado em armas de Infantaria.
Fernando foi Fur Mil, Op Esp, CCAÇ 1426 (Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, 1965/67).
O Chapouto chegou, no Niassa, à Guiné em Agosto de 1965; em Outubro de 1965 foi para Camamudo; em fnais de Novembro de 1965 foi destacado para Banjara; em meados de 1966 foi destacado para Geba; em Março de 1967 foi colocado em Cantacunda; e, por fim, em Maio de 1967 regressou à metrópole no Uíge. Recebeu uma cruz de guerra... É dos nossos mais antigos membros da nossa Tabanca Grande (MR).
Foi em finais de Novembro 65 quando chegamos a Banjara. Muita “engenharia” a colocar fiadas de arame farpado.
Começámos a montar a segurança e a mim tocou-me a porta de armas, no sentido do Banjara -pontão de Bafatá.
(Nesta foto sou o quarto a contar da esquerda - Antes de começar o bu... rako)
Primeiro tivemos que procurar pás e picaretas. Depois abrir as fundações até mais, ou menos, um metro de profundidade.
Segundo pegar nos machados e, em direcção ao pontão bolanha adentro, cortar troncos transportando-os aos ombros até à estrada. Carregá-los na viatura e toca a andar. Colocá-los em cima do bu… rako, cortar bidões, estendê-los e colocá-los em cima dos frágeis troncos.
Finalmente, cobrir tudo com terra, com uma camada suficiente para aguentar, pelo menos com a primeira granada, pois com outras não sei se aguentaria.
O pessoal começou-se a instalar, o primeiro foi o Alferes do meu pelotão, que foi quem menos fez, ou seja nada.
Como a nossa precária “defesa” estava montada, reparamos que não conseguíamos andar em pé, pelo que, foi necessário aprofundar mais o bu… rako.
Toca a tirar novamente as ferramentas, pás e picaretas, e lá comecei eu, de joelhos, a afundar a cota inicial.
Uns cavavam a terra, outros empurravam-na com as pá para a rampa de entrada e outros levavam-na para fora do “bunker”.
Nunca lá dormi. À noite ia até lá jogar as cartas com o pessoal da minha secção.
Preferi dormir os primeiros dias ao relento, tendo depois passado a fazê-lo em tendas de campanha.
Camarada António Moreira (*), o meu buraco ficava junto à casa, sem portas e janelas, onde vagueavam cobras e outros animais, livremente, aquilo parecia um zoo.
Junto ao meu bu… rako estava uma escavadora toda queimada.
Não conheci Guileje e apenas te digo que a electricidade em Banjara era em “pó”.
“Casa de banho” só no meio do mato, fora do arame farpado, e sempre com a G3 ao lado.
As noites eram todas autênticos arraiais. Dormíamos de dia e, a certa altura, já se dormia ao som dos tiros.
Em Banjara sofri horrivelmente, passei fome, perdi um camarada e amigo - o Furriel Tomé -, e psicologicamente fiquei muito afectado.
Também todos aqueles que por lá passaram, ficaram muito traumatizados e muitos nem sequer sabiam que Banjara existia na Guiné.
Só quem por lá passou é que sabe os pesadelos que gramou.
Estranhamente e apesar de tudo, a minha companhia considera-se felizarda, mas se me perguntarem porquê não saberei explicar.
Operações e emboscadas não faltaram mas, felizmente, sempre nos saímos bem delas.
Aqui fica a descrição do meu bu… rako, que o António Moreira diz ter visto em Banjara.
(Nesta foto sou o terceiro em pé, a contar da esquerda - Depois de acabar o bu... rako)
Fotos e legendas: © Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
Nós alcunhamos Banjara como Banjara city, capital do Oio.
Um forte abraço,
(F. Chapouto)
Fur Mil CCAÇ 1426 - 1965/67 (**)
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Notas de M.R.:
(*) Vd. último poste da série em:
Vd. também sobre Banjara, em 1968:
(**) Do Fernando Chapouto, sobre Banjara, ver ainda:
1 comentário:
Grande ranger Chapouto: Espero voltar a encontrar-te este ano... Luís
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