sexta-feira, 22 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4400: História de Vida (22): Refazendo a vida correndo o mundo (José Eduardo Alves)

1. Mensagem de José Eduardo Alves (*), Soldado Condutor Auto da CART 6250/72, Mampatá, 1972/74, com data de 20 de Maio de 2009:

Boa noite camarada Luís Graça
Peço desculpa por roubar um pouco de tempo, mas vou ser breve.

Eu sou leitor assíduo do vosso blogue. Faz já três anos que o divulguei no nosso convívio anual, mas o pessoal ainda estava a aprender a trabalhar com o computador. Digitalizar ainda foi mais difícil, mas com o tempo lá foram aparecendo, como eu agora.

Falando de mim, concluí o ensino obrigatório em 1962, em Cabeceiras de Basto, com distinção, entrando logo para a universidade.

Quando assentei praça já tinha dez anos de trabalho, daí achar que em alguns casos, o amarelo não ficava bem sobre o verde. Éramos todos novos, carne para canhão, mas quem não se lembra da frase: quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão? O Estado Novo mandava essa gente nova, sem experiência para a guerra, que não era nossa, pelo menos minha não era que fui sempre pacífico.

Agradeço por me pôr à vontade para nos tratarmos por camaradas, mas pela vida que levei até hoje, pelo carinho que tenho recebido de muita gente, confesso que me é difícil tratar as pessoas por tu. Mas com o tempo... as minhas desculpas.

Voltando a falar de mim, depois de 1974, agarrei-me ao trabalho. Fiz, pós-laboral, vários cursos de soldadura e de desenho de serralharia.
Em 1978 fui para Angola, voltando no ano seguinte.
Em 1980 fui para a Costa do Marfim, em 1982 fui para a República do Congo Brazaville, em 1983 fui para a Venezuela, em 1984 Congo novamente, em 1985 Angola de novo até 1987 e em 1988 fui para a Suíça, de onde regressei há oito anos.
Hoje tenho uma empresa de serralharia e tubagem industrial, mas costumo dizer que sou serralheiro, a palavra empresário cai-me mal;

A minha escrita não é por aí além, mas é o que se pode arranjar.

Última pergunta. Para ir ao convívio, em Ortigosa é preciso pertencer ao blogue ou seja à tertúlia?

Os meus agradecimentos pela resposta.

Em Leça da Palmeira ou em Cabeceiras de Basto, freguesia de Cavez, tem uma casa ao seu dispôr.

Por hoje é tudo
Um grande abraço e bem haja


2. Comentário de CV:

Caro Eduardo
Este teu texto está a ser publicado na série "História de Vida", porque tiveste a humildade de contares um pouco de ti, de uma forma desassombrada, sem enfeites literários, tão rectilínea como a tua maneira de estar na sociedade.

És um exemplo da força de vontade para vencer na vida, não estando à sombra, à espera que o Estado resolvesse o teu problema de subsistência. Hoje és tu que à frente da tua empresa olhas pelo teu destino e quiçá do de mais alguém.

Se entraste para a universidade da vida tão novo, tens a respectiva licenciatura. Diria que já és Doutor Honoris Causa do Trabalho.

Conheces parte do Mundo a teu modo, onde deixaste o teu suor, horas de solidão e saudade da família. Hoje, mais confortavelmente instalado na vida, não sabendo ainda o que é descanso, tens pelo menos a alegria de teres os teus, todos os dias à tua mesa.

Respondendo à tua pergunta. Não é necessário ser tertuliano do Blogue para participar no nosso Encontro. Condição importante é ser ex-combatente da Guiné. Por outro lado temos tertulianos que felizmente, para eles, não foram combatentes na Guiné nem em lado nenhum, mas que se querem juntar-se a nós. Também eles são bem recebidos.

Eduardo, escreve sempre que queiras, não te preocupes com a escrita, como referes, pois nós damos um jeitinho. O importante é que, cada um a seu modo, possa dizer o que lhe vai na alma e, por que não, ensinar algo aos demais.

Não te esqueças das fotos da praxe.

Para ti um abraço do Luís e dos restantes camaradas.
Carlos Vinhal

OBS:- Não repares por não ser o Luís a dar-te resposta, mas as relações públicas são do meu pelouro.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4393: Tabanca Grande (146): Eduardo Alves, ex-Soldado Condutor Auto da CART 6250 (Mampatá, 1972/74)

Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCAÇ: Bedanda, Março de 1963 (George Freire)

1 comentário:

Anónimo disse...

Eduardo
Não é o canudo obtido nos bancos das Universidades, que mesmo no antigamente, faz(ia) as pessoas letradas. A Universidade da Vida, desde que assente em sólidos princípios de base e no querer das pessoas, forma muitos Doutores.
A prova melhor está na tua apresentação.
Como camarada dou-te as boas vindas e desejo-te muita saúde e sorte bem como para todos os teus.
Abraço
Jorge Picado