1. Mensagem de Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 26 de Junho de 2009:
Caros amigos e camaradas, Luís, Briote, Vinhal e MRibeiro
Segue mais uma transcrição duma informação que elaborei em 17NOV71, lá no CAOP 1.
Abraços para vós e todos os camaradas da Guiné
Jorge Picado
INFORMAÇÃO
Sobre o exposto em 01.a. da nota nº. 3561/POP/71 de 14NOV71 do COMCHEFE POP informo o seguinte:
1-1 - A MSG 2585/POP de 10AGO71 endereçada ao BCAÇ 2905 e mais 02 Unidades e não enviada a este CAOP 1, diz o seguinte:
“Deve levantar máxima urgência até 20AGO árvores disposição essa Serviços Agricultura. Plantio deverá ser efectuado obrigatoriamente durante mês corrente.”
2-2 - Nesta altura as árvores à disposição do BCAÇ 2905 eram apenas as que constavam da distribuição feita através da nota nº. 1873/POP/71, de 21MAI71, do COMCHEFE POP, que a seguir se indicam:
Bananeiras... 4000
Limoeiros... 400
Mangueiros...350 no início das chuvas, 200 no fim das chuvas
Aquele BCAÇ não tinha conhecimento dos cajueiros.
3-3 - Acerca dos cajueiros, foi perguntado a este Comando se estava interessado neles e em bissilons e caso afirmativo quais as quantidades (MSG 2465/POP, de 23JUL71, do COMCHEFE POP).
4-4 - Transcreveu-se a referida MSG para o Delegado dos SAF em T.PINTO (N/MSG 5940 de 24JUL71), que informou verbalmente haver interesse só nos cajueiros e em número de 10000.
5-5 - Pela N/MSG 6008 de 29JUL71 informou-se o COMCHEFE POP que desejávamos 10000 pés de cajueiros, tendo sido comunicado à Rep. Prov. dos SAF que deviam ser fornecidos 1500 ao CAOP 1, que contactaria com aqueles Serviços (Nota nº. 2517/POP/71, de 30JUL71, do COMCHEFE POP).
6-6 - Em 01AGO71 transcreveu-se aquela nota ao Delegado dos SAF em T.PINTO, solicitando-se os bons ofícios no sentido de contactar com a Rep. Prov. dos SAF a fim de que nos fossem enviados os referidos cajueiros (N/Nota nº. 6042, de 01AGO71). Aquele Delegado informou verbalmente que a plantação deveria ser feita no fim das chuvas, portanto só a partir de Setembro. Em conversas posteriores, foi-nos sempre focado que a plantação deveria ser efectuada com as últimas chuvas.
7-7 - Quando aquele Delegado informou que estava na altura de se começar a preparar a plantação dos cajueiros, até porque a população só no fim de Setembro acabaria as suas lavouras e ficava disponível para os trabalhos de preparação (limpeza e abertura de covas) dos pomares, foi solicitado ao BCAÇ 2905, com conhecimento à Autoridade Administrativa, a distribuição de pés a efectuar pelos diversos Reordenamentos e as providencias necessárias para que fossem executados os trabalhos inerentes à plantação daquelas árvores (N/Nota nº. 6484, de 24SET71).
8-8 - Dado que o Delegado dos SAF informou nos princípios de Outubro, não possuir viatura para o transporte dos 1500 pés de cajueiro de BISSAU para T.PINTO, como tinha sido transmitido pela N/Nota nº. 6042, de 01AGO71 (veja-se alínea 6), comunicou-se ao BCAÇ 2905 para efectuar o levantamento e o transporte das plantas em causa (N/Nota nº. 6637, de 09OUT71).
9-9 - Quanto ao indicado na alínea 1.b da nota em questão, não se tem conhecimento de quaisquer insistências para que fossem levantadas as plantas à disposição do CAOP 1.
Quartel em Teixeira Pinto, 17 de Novembro de 1971
As) JMSPicado
Cap.Mil.
Esta informação elaborada para resposta a nota do ComChefe, sobre assuntos respeitantes ao apoio agrícola das Populações, era sem dúvida para “colocar os pontos nos is” a alguma “piçada” que os “Senhores do ar condicionado se preparavam para dar ou quereriam dar” a alguém.
Do CAOP 1? Do BCaç 2905? Dos SAF da Província ou do seu Delegado em T.Pinto?
Não tenho qualquer ideia, mas deve ter havido qualquer coisa que não correu bem com a plantação daquelas Fruteiras.
É claro que não posso afirmar que se fosse outro a responder o fizesse com tanta minúcia.
Mas comigo isto era assim. Não costumava “encanar a perna à rã”, como por vezes se diz de quem se fica por meias respostas.
Posso sem qualquer dúvida afirmar que sobre este assunto, procurei todos os documentos existentes e falei com os prováveis intervenientes, para “escarrapachar” tudo que houvesse na resposta.
No que dependesse de mim, “burocraticamente” não me apanhavam.
Tinha uma tarimba já muito grande, neste capítulo da minha actividade profissional (burocracia estatal), graças a um excelente mestre que apanhei quando fui colocado nos Serviços Regionais. Estava farto de responder a funcionários do Terreiro do Paço (da Agricultura) que tecnicamente “nada pescavam” do assunto, mas de questões burocráticas eram catedráticos doutorados!!!
Claro que o assunto ficou arrumado e não houve mais notas.
Jorge Picado
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 5 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4465: Estórias de Jorge Picado (7): A minha passagem pelo CAOP 1 - Teixeira Pinto (III Parte)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
Jorge Picado
Estas funções que retratas ,que tambem estavam sob a tua alçada e que te obrigariam a papelada e mais papelada, estavam mesmo boas para mim,que sempre detestei relatórios e afins!
Mas como dizes tambem funcionavam como prevenção defensiva proactiva, naqueles muitos meandros da intriga e do "sacode agua do capote"para defesa e proveito próprio de um qualquer oportunista!
Nas ferias de embarque,fui multado na Ponte da Arrabida pela B.Trânsito em 100$oo por não trazer comigo a carta de condução.
Chegado à Guiné recebo comunicação do meu Pai a saber o que fazer com a multa que tinha chegado em meu nome.Respondi que comunicasse que,como o Estado deveria saber, tinha-me mobilizado para a Guiné e como tal,que mandassem para lá a cobrança.
Já quase no final da comissão,o meu 1º Sargento apresenta-me a multa para pagamento,o que fiz em pesos(sempre ganhava dez por cento!!)sem pedir nenhum recibo,nem o mesmo me ter sido ofertado(papeis!!).
Acabada a comissão e chegado à metrópole ,recebo intimação do tribunal de policia para pagamento da dita acrescida de juros e moras!!!
Conclusão: alguem se "abotoou"e como não tinha papeis... fui o mexilhão!!
Borraram-se por relativamente pouco!!
Acabado este aparte,diz-me :o que eram/são bissiloes?
Um abraço
Luis Faria
Olá Jorge Picado,
Mais um excelente trabalho da tua parte. Então e agora.
E deixo algumas perguntas no ar.
1 - Essas "especiarias" dos Servios Agrícolas e Florestais da Guiné vinham de que viveiro(s)?
2 - Tivestes alguma vez a oportunidade de o(s) visitar(es)?
3 - Quem eram os responsáveis e trbalhadores do(s) viveiro(s)? Militares, civis ou a combinação?
4 - Sabes se estes SAF da Guiné existiam antes do General Spínola, ou se foram criados como sendo uma parte importante da sua estratégia política e social para Guiné?
Com um grande abraço,
José Câmara
Stoughton, MA
Camaradas Luís Faria e José Câmara.
Vamos lá a ver se consigo dar algumas respostas às vossas interrogações.
Os "bissilões" ou "bissilon" são árvores florestais, daquelas enormes que por lá havia, talvez das mais valiosas como madeira que é uma "espécie de mogno" avermelhado e cujo nome latino é ou era (Kaya senegalensis). Eram diferentes do "poilon" (Ceiba pentandra) donde faziam as pirogas.
Todos aqueles que faziam os caixotes para embalarem "as trouxas" e alguns, que os houve, para embalarem pranchas desta madeira, usavam tábuas de "bissilon".
Agora as interrogações do Câmara é que são mais difíceis de responder.
Os SAFG (Serviços Agrícolas e Florestais da Guiné), não sei se esta era a terminologia correcta, não foram criação do então "nosso" COMCHEFE.
Existiam na Administração Colonial, desde há muitos anos e a sua grandeza e importância estavam em correlação com a grandeza e importância económica da respectiva Colónia. Existiam em todas e dependiam, se ainda me recordo, do Ministério das Colónias (posteriormente Ultramar).
Aliás o Engenheiro Agrónomo Amilcar Cabral foi funcinário desse SAFG, só já não tenho presente, agora, se chegou a dirigi-lo.
Antes das Guerras Coloniais, os Agrónomos e Sivilcultores (Florestais) que queriam ir para as Colónias tinham de fazer as chamadas "Disciplinas Coloniais", que versavam exclusivamente assuntos próprios dessas terras. Eu não tirei essas disciplinas porque nunca me passou pela cabeça ir trabalhar para o Ultramar.
Os meus colegas que o fizeram, fixavam-se lá ou trabalhavam para o tal Min.Ultramar na chamda MEAU (Missão de Estudos Agrícolas Ultramarinos), fazendo a chamada época de campo (na época seca) numa colónia (conforme o projecto de estudo) e o restante tempo era feito em Lisboa nos trabalhos de laboratório e análises.
Na Guiné, depois de começar a Guerra, o próprio cargo de Chefe desses Serviços passou a ser desempenhado por Engenheiro em comissão militar, naturalmente para "eleitos"...
Os viveiros onde eram produzidas as plantas estavam na Estação Agrícola e F. de BISSAU.
Nunca visitei esses viveiros...nesse tempo estava a chefiar esse Serviço um camarada e colega de curso (de Agronomia e CPC). Eu era então militar...nada mais.
Em T.Pinto havia, ligado ao poder Civil (Administração) um funcionário (Regente Agrícola) africano (só não me recordo se seria Guineense se Cabo Verdeano) desses Serviços. Contactei e falei muitas vezes com ele, sempre que visitava as chamadas "Granjas Agrícolas", essas sim, desenvolvidas no CAOP em grande número pela política da "Guiné Melhor" implementada pelo Gen Spínola.
Aliás, respondendo agora apressadamente, sem qualquer consulta, julgo que em BASSAREL, onde estiveste, também havia uma dessas Granjas.
Abraços
Jorge Picado
Jorge Picado
Obrigado pelo esclarecimento.
Um abraço
Luis Faria
Caro Jorge,
Obrigado pela achega. Digna de um mestre catedrático. No teu caso digna da profissão que abraçastes.
Ouvi falar muitas vezes dessas granjas. Recordo-me que à entrada do caminho para o aldeamento de Bassarel, sobre a direita, havia uns terrenos acantonados e muito bem cultivados. Na esquerda da referida estrada havia alguma preparação de terreno, mas nada cultivado.
Na altura a minha companhia não desenvolveu nenhum trabalho de agricultura ou sivicultura. Nem me lembro de estar algo programado nesse sentido. Talvez por se estar no período das chuvas.
Quanto aos bissilons, como bem dizes, eram árvores de grande porte, e a sua madeira era densa, forte, fina, lndídissima. Fiquei sempre na dúvida se os grandes troncos que estavam na Mata dos Madeiros (perto do cruzamento da estrada velha e a estrada nova - no lado do Cacheu )não seriam bissilões.
Um abraço amigo,
José Câmara
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