1. Mensagem de António Graça de Abreu* (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), com data de 16 de Janeiro de 2010:
O furriel miliciano piloto Luís Inácio dos Santos enviou-me há tempos estas raras fotografias de pilotos de hélis e DOs em Cufar, em Dezembro 73/ Janeiro de 1974.
O Luís Santos continua hoje a voar e é piloto de um Falcon 7X privado.
Pedi-lhe autorização para publicar as fotos no blogue e entretanto reencaminhei-as para o nosso Miguel Pessoa.
O Luís autorizou e o Miguel, que não sabia da existência destas fotografias mas conhecia os pilotos, apontadores de héli-canhão e mecânicos, legendou-as, colocando em cima o nome dos camaradas da Força Aérea.
Deixo-as agora ao cuidado do Carlos Vinhal para publicação no blogue.
São importantes porque dão uma ideia da acção da Força Aérea em Dezembro/ Janeiro de 74, em operações e apoio aéreo a partir de Cufar.
É que subsiste a ideia entre muito boa gente e até menos boa gente de que, depois dos Strela em Abril de 1973 a Força Aérea deixou de voar, a guerra acabou, não saíamos dos aquartelamentos e fomos praticamente derrotados militarmente pelo PAIGC.
Nada mais falso.
Eu tenho um respeito imenso por esses pilotos com quem convivi de perto em Cufar, até Abril de 1974.
Abraço,
António Graça de Abreu
Clicar nas fotos para as ampliar
Fotos © Luís Inácio dos Santos (2010). Direitos reservados
Legendas de Miguel Pessoa
2. No meu Diário, escrevi a 26 de Dezembro de 1973
"Os Fiats a bombardear e os helicanhões a metralhar não têm tido descanso.
Na pista de Cufar regista-se um movimento de causar calafrios. Hoje temos cá dez helicópteros, dois pequenos bombardeiros T-6, três DOs, dois Nordatlas e o Dakota. A aviação está a voar quase como nos velhos tempos. Os helis saem daqui numa formação de oito aparelhos, cada um com um grupo constituído por cinco ou seis homens, largam a tropa especial directamente no mato, se necessário os helicanhões dão a protecção necessária disparando sobre as florestas onde se escondem os guerrilheiros, depois regressam a Cufar e ficam aqui à espera que a operação se desenrole. Se há contacto com o IN e se existem feridos, os helicópteros voltam para as evacuações e ao entardecer vão buscar os grupos de combate novamente ao mato. Ontem, alguns guerrilheiros tentaram alvejar um heli com morteiros, à distância, o que nunca costuma dar resultado.
Sem a aviação, este tipo de operações era impossível. Durante estes dias os pilotos dormem em Cufar e andam relativamente confiantes, há muito tempo que não têm amargos de boca. Os mísseis terra-ar do IN devem estar gripados porque senão, apesar dos cuidados com que se continua a voar, seria muito fácil acertar numa aeronave, com tanto movimento de aviões e hélis pelos céus do sul da Guiné.
Cufar fica a uns quinze, vinte quilómetros da zona onde as operações se desenrolam. Todos os dias, às vezes durante horas seguidas, ouvimos os rebentamentos e os tiros dos “embrulhanços”, das flagelações. É impressionante o potencial de fogo, de parte a parte. Os guerrilheiros montam também emboscadas nos trilhos à entrada das matas onde se situam as suas aldeias. Aí as NT começam a levar e a dar porrada, e não têm conseguido entrar nas povoações controladas pelo IN.
Natal, sul da Guiné, ano de 1973, operação “Estrela Telúrica.”
Tudo menos paz na terra aos homens de boa vontade".
Abraço,
António Graça de Abreu
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 19 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6190: Os nossos seres, saberes e lazeres (19): Nas Caraíbas, em Castries, capital da ilha de Santa Lúcia, encontrei um amigo negro da Guiné e depois fui almoçar com uns americanos ricos (António Graça de Abreu)
Vd. último poste da série de 4 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5935: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (20): O Honório e o 2º Sarg que dizia que se aguentava (Vítor Oliveira)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Caro Graça de Abreu
Tens toda a razão acerca da opinião
de muita boa gente (e...)do desempenho da F.A. pós-Strellas.Não poderiam estar mais enganados!
Eu próprio tenho sido frequentemente
questionado acerca disso.
O nosso ritmo(intenso)manteve-se apenas com parâmetros de vôo diferentes.Os registos de missões e horas de vôo confirman-no.
Gil Moutinho
(furr.pil.T6 e DO 72/73)
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