Se em África havia as divisões naturais étnicas, já as divisões dos países ses com aquelas fronteiras eram absolutamente artificiais.
Mas, por curiosidade, se repararmos na história, os povos africanos até aceitam geralmente sem constestação aquelas fronteiras.
Pequenas excepções, que não deixa de ser grave, Cabinda e Casamança, isto entre a lusofonia (em Casamança fala-se o crioulo da Guiné, tal qual).
Mas em extensões de fronteiras tão grandes, é de admirar como os africanos aceitam tantas fronteiras tão erradas. Mas até aceitam razoavelmente a divisão geográfica.
Havia ainda mais uma divisão no caso das ex-colónias portuguesas, que era a questão de cor da pele: Brancos, pretos e mulatos. Outros não tinham esse problema: Ex.: Serra Leoa, Congos Belga e Francês, Uganda, Guiné Conacri, etc. Aqui não havia a divisão da côr da pele. (África do Sul e Zimbabué, com Mandela e Mugabe, são casos diferentes de todos).
Mas as divisões entre as etnias em África tambem implicavam divisões territoriais. Nô tchon, o chão de cada etnia, era respeitado entre elas. Era tão respeitado o território, que tive pessoalmente um caso em Angola, eu novato não sabia "colonizar", ter que recorrer aos colegas mais velhos, alguns angolanos, para resolver o problema que eu julgava simples, mas não era fácil.
Conto em duas linhas: Como já disse tive uma actividade que foi trabalhar em cartografia; tínhamos que percorrer grandes extensões sem estradas durante dias e semanas, para o que tinhamos a nosso serviço carregadores para equipamento e mantimentos (os contratados de que um dia hei-de escrever, sei que muitos não conheceram).
Para mim, o que era tudo sem fronteiras, para os contratados que nunca tinham saído dos domínios da família e da etnia (eram mamhuilas), não era a mesma coisPrecisava ir para a região do deserto de Moçâmedes (etnia mucubal), e negaram-se a ir e o principal receio, terror mesmo, era a feitiçaria de que seriam vítimas.
Claro que para os colegas mais velhos não era surpresa esta reação, e alguns angolanos com alguns anos de casa já tinham argumentos em termos étnicos e psicológicos para desdramatizar a situação.
Posto isto, parece que seria fácil dividirmos, nós, os tugas, e no caso da Guiné, com Spínola à cabeça, toda a população e pô-la contra Amilcar Cabral e o PAIGC.
Mas, em vez de divisão, não teria havido antes uma coesão maior que a divisão? (coesão para a independência).
E Amilcar Cabral e os dirigentes do PAIGC/PAICV, não teriam obtido exatamente o mesmo resultado? A coesão dos guineenses? (coesão para a independência sem os bormejos ).
Dividir para reinar, assim como unir para reinar, é preciso em primeiro lugar saber falar o dialecto das gentes, se alguém se quiser identificar com o povo e ser aceite em pleno pelo povo. E até o próprio Nino Vieira falava através de intérpretes, e já vimos qual foi o fim. Logo para Amílcar e Spínola, (e Luis Cabral) o sucesso seria ainda mais difícil do que para Nino Vieira.
Qual era a parte em conflito mais fácil de dividir? Precisamente aquela cujo "dialecto" era a língua comum de todas as partes, a língua de Camões. Todos falavam, e bem, principalmente os portugueses que militavam e eram dirigentes máximos no PAIGC, no MPLA e FRELIMO. Esses dirigentes não só tinham esse trunfo, como uma cultura simultaneamente, de África, da metrópole e do mundo em geral.
E não precisavam de intérpretes. Portanto a grande divisão deu-se na sociedade portuguesa.
O primeiro capitão recém-chegado a Angola que me comandou, disse-me de caras que estava alí porque nós, os brancos de Angola, tratavamos mal os pretos. Claro que os brancos diziam que os tropas só queriam comissões e câmbios a 20%.
Mas o vendedor de apartamentos do contentor à minha porta, que esteve em Suzana e São Domingos e Canchungo, tambem ficou com má impressão de um comerciante porque lhe negou um copo de água, a ele e aos companheiros após uma patrulha.
Os potenciais angolanos simpatizantes do MPLA, que eu conheci, consideravam-se melhor falantes de português e mais cultos do que a maioria dos beirões, algarvios, etc. Pode haver alguém que duvide desta ideia, mas eu não posso duvidar porque conheci a realidade lá e cá, mesmo quando lá não havia unversidades.
Mais tarde, veio para cá, e para o Brasil, grande parte dessa gente. Nós vimos durante muitos anos muita gente dessa pelas repartições, televisões, universidades e rádios e futebois e até nos governos e deputados e na literatura. Vieram para cá e para o Brasil e EUA e Canadá, precisamente para fugir a uma guerra internacional importada por aqueles três movimentos para aqueles territórios.
Esses movimentos tinham o direito de importar essa guerra? Era só para expulsar o colon, ou tinham medo dos outros movimentos, reais ou imaginários? UNITA, FNLA, FLING e outros que pudessem aparecer, como apareceu mesmo em Moçambique a RENANO? E o próprio MPLA inventou facções imensamente arriscadas?
As divisões entre os movimentos, e entre as etnias, foi menos conseguida pelos militares e governantes coloniais, do que pelos antagonismos naturais africanos, e pelos antagonismos dos apoios que procuravam.
Os militares portugueses estavam tão divididos como a sociedade, que no caso de Angola um Almirante colocou-se ao lado de um Movimento, e um Ten Cor pôs-se ao lado de outro movimento, com armas e homens e política. E esqueceram a protecção de familias portuguesas e luso-angolanas totalmente indefesas. Claro que, como sempre, "para aprender como se ganha uma bandeira", é o povo mais simples que paga.
As divisões na sociedade portuguesa durante a guerra do ultramar podem dar muitos postes. Sem falar nos salazarismo/colonialismo, comunismo/capitalismo, leste/oeste, etc.
A todos os meus cumprimentos,
Antº Rosinha
P.S. - Para publicar se houver oportunidade.
_______________
Nota de L.G.:
Último poste desta série: 7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6947: Caderno de notas de um Mais Velho (António Rosinha) (3): Lembrando antigos colegas de trabalho, guineenses que ficaram amigos para a vida
Mas, por curiosidade, se repararmos na história, os povos africanos até aceitam geralmente sem constestação aquelas fronteiras.
Pequenas excepções, que não deixa de ser grave, Cabinda e Casamança, isto entre a lusofonia (em Casamança fala-se o crioulo da Guiné, tal qual).
Mas em extensões de fronteiras tão grandes, é de admirar como os africanos aceitam tantas fronteiras tão erradas. Mas até aceitam razoavelmente a divisão geográfica.
Havia ainda mais uma divisão no caso das ex-colónias portuguesas, que era a questão de cor da pele: Brancos, pretos e mulatos. Outros não tinham esse problema: Ex.: Serra Leoa, Congos Belga e Francês, Uganda, Guiné Conacri, etc. Aqui não havia a divisão da côr da pele. (África do Sul e Zimbabué, com Mandela e Mugabe, são casos diferentes de todos).
Mas as divisões entre as etnias em África tambem implicavam divisões territoriais. Nô tchon, o chão de cada etnia, era respeitado entre elas. Era tão respeitado o território, que tive pessoalmente um caso em Angola, eu novato não sabia "colonizar", ter que recorrer aos colegas mais velhos, alguns angolanos, para resolver o problema que eu julgava simples, mas não era fácil.
Conto em duas linhas: Como já disse tive uma actividade que foi trabalhar em cartografia; tínhamos que percorrer grandes extensões sem estradas durante dias e semanas, para o que tinhamos a nosso serviço carregadores para equipamento e mantimentos (os contratados de que um dia hei-de escrever, sei que muitos não conheceram).
Para mim, o que era tudo sem fronteiras, para os contratados que nunca tinham saído dos domínios da família e da etnia (eram mamhuilas), não era a mesma coisPrecisava ir para a região do deserto de Moçâmedes (etnia mucubal), e negaram-se a ir e o principal receio, terror mesmo, era a feitiçaria de que seriam vítimas.
Claro que para os colegas mais velhos não era surpresa esta reação, e alguns angolanos com alguns anos de casa já tinham argumentos em termos étnicos e psicológicos para desdramatizar a situação.
Posto isto, parece que seria fácil dividirmos, nós, os tugas, e no caso da Guiné, com Spínola à cabeça, toda a população e pô-la contra Amilcar Cabral e o PAIGC.
Mas, em vez de divisão, não teria havido antes uma coesão maior que a divisão? (coesão para a independência).
E Amilcar Cabral e os dirigentes do PAIGC/PAICV, não teriam obtido exatamente o mesmo resultado? A coesão dos guineenses? (coesão para a independência sem os bormejos ).
Dividir para reinar, assim como unir para reinar, é preciso em primeiro lugar saber falar o dialecto das gentes, se alguém se quiser identificar com o povo e ser aceite em pleno pelo povo. E até o próprio Nino Vieira falava através de intérpretes, e já vimos qual foi o fim. Logo para Amílcar e Spínola, (e Luis Cabral) o sucesso seria ainda mais difícil do que para Nino Vieira.
Qual era a parte em conflito mais fácil de dividir? Precisamente aquela cujo "dialecto" era a língua comum de todas as partes, a língua de Camões. Todos falavam, e bem, principalmente os portugueses que militavam e eram dirigentes máximos no PAIGC, no MPLA e FRELIMO. Esses dirigentes não só tinham esse trunfo, como uma cultura simultaneamente, de África, da metrópole e do mundo em geral.
E não precisavam de intérpretes. Portanto a grande divisão deu-se na sociedade portuguesa.
O primeiro capitão recém-chegado a Angola que me comandou, disse-me de caras que estava alí porque nós, os brancos de Angola, tratavamos mal os pretos. Claro que os brancos diziam que os tropas só queriam comissões e câmbios a 20%.
Mas o vendedor de apartamentos do contentor à minha porta, que esteve em Suzana e São Domingos e Canchungo, tambem ficou com má impressão de um comerciante porque lhe negou um copo de água, a ele e aos companheiros após uma patrulha.
Os potenciais angolanos simpatizantes do MPLA, que eu conheci, consideravam-se melhor falantes de português e mais cultos do que a maioria dos beirões, algarvios, etc. Pode haver alguém que duvide desta ideia, mas eu não posso duvidar porque conheci a realidade lá e cá, mesmo quando lá não havia unversidades.
Mais tarde, veio para cá, e para o Brasil, grande parte dessa gente. Nós vimos durante muitos anos muita gente dessa pelas repartições, televisões, universidades e rádios e futebois e até nos governos e deputados e na literatura. Vieram para cá e para o Brasil e EUA e Canadá, precisamente para fugir a uma guerra internacional importada por aqueles três movimentos para aqueles territórios.
Esses movimentos tinham o direito de importar essa guerra? Era só para expulsar o colon, ou tinham medo dos outros movimentos, reais ou imaginários? UNITA, FNLA, FLING e outros que pudessem aparecer, como apareceu mesmo em Moçambique a RENANO? E o próprio MPLA inventou facções imensamente arriscadas?
As divisões entre os movimentos, e entre as etnias, foi menos conseguida pelos militares e governantes coloniais, do que pelos antagonismos naturais africanos, e pelos antagonismos dos apoios que procuravam.
Os militares portugueses estavam tão divididos como a sociedade, que no caso de Angola um Almirante colocou-se ao lado de um Movimento, e um Ten Cor pôs-se ao lado de outro movimento, com armas e homens e política. E esqueceram a protecção de familias portuguesas e luso-angolanas totalmente indefesas. Claro que, como sempre, "para aprender como se ganha uma bandeira", é o povo mais simples que paga.
As divisões na sociedade portuguesa durante a guerra do ultramar podem dar muitos postes. Sem falar nos salazarismo/colonialismo, comunismo/capitalismo, leste/oeste, etc.
A todos os meus cumprimentos,
Antº Rosinha
P.S. - Para publicar se houver oportunidade.
_______________
Nota de L.G.:
Último poste desta série: 7 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6947: Caderno de notas de um Mais Velho (António Rosinha) (3): Lembrando antigos colegas de trabalho, guineenses que ficaram amigos para a vida
11 comentários:
O António Rosinha foi um "espectador" previligiado dos meandros coloniais.
É um privilégio poder contar com alguem que, desapaixonadamente, nos vai colocando ao corrente/passado, de muitos aspectos que, se por ventura deles tivessemos comnhecimento, não lhes atribuíamos o valor que têm na cultura de cada povo.
Um abraço Rosinha
Caro António Rosinha,
mais um naco maravilhoso, da tua sabedoria, cultura vivida por terras de Africa.
Tenho acompanhado alguma história de Angola, através de vários escritores. Recordo o mais recente:
"SITA VALLES" Assasinada pela DISA, da escritora Leonor Figueiredo, de quem já tinha lido "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola", livros que nos dão uma visão diferente daquilo que estava-mos intoxicados.
Que pena não termos as histórias da descolonização da Guiné escrita assim com clarividência.
Continua com as tuas notas de um Mais Velho que são maravilhosas.
Um abraço,
Mário Fitas
Caro amigo António Rosinha, ponderei se devia comentar vários dos seus pontos de vista (o que concerteza não seria em coments a forma mais cómoda de o fazer, porque daria para um Post).
Então optei por participar para o aclarar de algumas "nuançes", que de outra forma contribuiem para o obscurantismo de quem não tenha tido, por qualquer razão,a oportunidade do conhecimento de factos históricos.
A guerra colonial não caiu do céu, tal como não nasceu do nada. Teve as suas origens e as suas razões em anteriores factos históricos que só a ignorância permite o branqueamento da mesma.
Começo pela Guiné e farei uma breve referência a Angola e Moçambique no fim.
A conquista da Guiné seguiu as fases tradicionais (do ponto de vista histórico) da ocupação portuguesa:
a)comércio com os indíginas e dessiminação de fortalezas ao longo da costa.
b)tráfico e caça de escravos e destribuição de núcleos comerciais na faixa litoral.
c)luta de influência contra as outras potências coloniais.
d)partilha de África e guerra pela conquista colonial e ocupação militar.
e)ocupação administrativa e exploração colonial.
As campanhas mais importantes que os portugueses tiveram de conduzir na Guiné durante o tempo chamado de pacificação, com o fim de poderem estabelecer o domínio colonial, foram:
1878/80 - guerra contra os Felupes e Manjacos
1880/81 - campanha contra os Fulas de Buba
1882 - campanha contra os Fulas e Beafadas
1883/85 - campanha contra os Balantas de Nhacra
1886/90 - campanha contra os Papeis
1897 - campanha contra os Oincas
1904/06 - campanha contra os Manjacos de Tehurre
1907/08 - campanha contra os Oincas
1914 - campanha contra os Manjacos
1915 - campanha final contra os Papeis
1917/36 - campanha contra Bijagós
Foi preciso meio século de guerra colonial, de violência, (internas e tribais) de traições para que Portugal pudesse impôr o seu domínio ao Povo da Guiné, dividido e debilitado pelo comécio dos escravos. Mas a soberania portuguesa nunca se impôs inteiramente sobre algumas populações como os Oincas e Bijagós.
A ocupação administrativa e a exploração colonial realizaram-se, apesar de a Guiné, não ter sido completamente dominada, antes do aparecimento do regime salazarista em Portugal.
(in Romanna Ledda, UNA RIVOLUZIONE AFRICANA, Bari, 1970).
Com um abraço para todos e para cada um,
anti-anonimato
Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
galomaro@sapo.pt
NOTA PRÉVIA
Não pretendo em nhenhum aspecto pôr em causa a "experiência de vida" do amigo António Rosinha, que respeito.
Mas tão sómente, porque um exército não é um só homem, nem a história é um só acontecimento ou facto, desejo participar no esclarecimento ou compreensão de alguns sofismas induzidos na análize que o Amigo faz da sua própria experiência, que repito, respeito.
Escrito isto; No decurso de uma série de campanhas que se desenrolaram de 1908 a 1912 as tribos do Yao, à volta do lago Niassa, foram colocadas sob controle português.
A ocupação militar de Angola fez-se lentamente. Em 1901-1902, a região dos Dembos, a centenas de quilómetros de Luanda no interior, foi atacada e ocupada. Para sul os Quanhamas infligiram uma pesada derrota aos portugueses, em 1904, e para conseguir submetê-los foi necessário prolongar as campanhas até 1915.
Em 1917 foi ainda preciso enviar forças militares para "pacificar" Mochico no Sul de Angola.
Portanto foi só no fim da I Guerra Mundial que Angola e Moçambique, foram definitivamente controladas por Portugal.
Poderse-ia aqui falar dos "arranjos" das diversas potencias coloniais com Portugal, ou de forma contrária se quiserem, e seus métodos(variáveis) de escravatura, subjugação e exploração. Que levaram à criação de fronteiras conforme os seus interesses de toda a ordem. Colocando Tribos contra Tribos, explorando culturas diferentes.
Nenhum Povo importa guerras. A economia internacional é que as exporta, criando necessidades arteficiais nesses povos, incutindo outros valores, hoje mais modernamente,"...que hoje em dia criam os dirigentes corruptos.."(1).
(1) uma dirigente (que não tive oportunidade de fixar) do Mali.
Com um abraço
anti-anonimato
Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
galomaro@sapo.pt
Mario Fitas, como Sita Vales houve imensos jovens que se entusiasmaram com o MPLA.
Claro que a maioria "partiu a cara".
Quando eu chamo os portugueses do MPLA, FRELIMO e PAIGC, tambem englobo esses jovens.
Muitos, intimamente, estavam a recrear um tal "lusotropicalismo" do Gilberto Freire.
Amigo Filipe,
evidentemente que apenas relato o que experimentei a partir do momento em que me foi enviada a "carta de chamada" e comprei a passagem para Angola num porão de um paquete da CNN.
Mais tarde vieram todos sem carta de chamada e bilhete pago.
(desculpem se estou a emitir opinião sobre tudo)
António Rosinha
Permite-me algum amontoar de informação e/ou ideias à tua divulgação no post:
1 - As fronteiras eram artificiais. Resta acrescentar que foram definidas pela Conferência de Berlim, e pelos países europeus colonialistas. Portugal, se foi prejudicado em alguns lugares, também beneficiou na expansão para o interior praticamente desconhecido. Só a partir de meados do sec.XIX se realizaram as grandes expedições.
2 - Os povos aceitam as fronteiras sem contestação. Já não estou tanto de acordo: entre a Guiné-Bissau eos países límitrofes, as populações deslocam-se sem documentos, nem fronteiras. Mas entre Moçambique e Zimbabwé, as crises políticas sucederam-se. Se, antes, o Zimbabué (Rodésia do Sul) não queria lá moçambicanos, controlando-os, agora, dá-se a inversa, com excepção para os empresários agricolas brancos. Aliás, o fenómeno é comum em outras fronteiras africanas.
3 - Sobre a côr da pele como factor de divisão, seria interessante, que o Rosinha nos ilustrasse sobre essa afirmação, no que respeita a épocas, a regiões, e às raças em presença, pelo menos em dois ou três aspectos relevantes. O assunto tem pano para mangas, mas poderia ao menos contar-nos sobre a mesclagem e as divisões no período imediatamente anterior à guerra colonial, pois assistia-se a acções e comportamentos muito diferentes, entre o urbano e o rural. (lá como cá?). A partir de meados da década de 50, parece-me, verificou-se a génese de uma sociedade urbana, multi-racial, com apetência pelo desenvolvimento, e alguma difusão emancipalista contra o estrangulamento causado pela metrópole.
4 - As divisões étnicas existiram e foram fomentadas. Mas a evolução sócio-cultural urbana deu mostras de de se poderem corrigir.
5 - A língua portuguesa como factor aglutinador. Foi outra realidade, comprovada com as independências pela adopção do portugûes como língua oficial. A língua portuguesa, mal ensinada nas poucas escolas rurais das nossas antigas colónias, seria a principal ferramenta para a escolarização (havia escolas onde pontificavam outras línguas), para o enriquecimento cultural e técnico, e para a formação das élites. Também me parece verdade, que a élite a que me referi em 3, no geral, revelava níveis de conhecimento não inferiores aos metropolitanos. Seria o embrião do tal lusotropicalismo?
6 - Sobre as divisões entre os militares portugueses, exponenciadas com o 25 de Abril, que deixaram as populações das colónias em instabilidade de pré-conflito e em desequilibrio fatal,
pode-se responsabilizar o MFA, que não tinha projectos políticos objectivos, mas já apontava para a descolonização, e recorreu ao alibi de deixar que a "democracia" desse livre-trânsito aos interesses das potências. Demitu-se de responsabilidades.
7 - Sublinho a seguinte passagem do comentário do Carlos Filipe, ao cuidado de alguns gurús: ... factos históricos que só a ignorância permite o branquamento...
Por último, obrigado António Rosinha por abordares questões para reflexão e compreensão das realidades e ideologias, colonial e anti-colonial, que têm andado algo arredias do nosso blogue, e por partilhares a tua experiência.
Abraço
JD
Só uns apontamentos:
"Sofimas induzidos na análize"
"Então optei por participar para o aclarar de algumas "nuançes" que de outra forma contribuem para o obscurantismo de quem não tenha tido, por qualquer razão, do conhecimento de factos históricos"
Acho suficiente!
Vamos ao dicionário para não haver problemas:
SOFISMA: erro de pensamento em que, DE MÁ-FÉ, se empregam com aparência de verdadeiros; falácia; dolo; Etc. Etc. Etc...
INDUZIDO: aquele que ou o que se induziu; Etc. Etc. Etc...
INDUZIR: Instigar; aliciar; Etc. Etc. Etc...
NUANÇES: (Não encontrado no dicionário)
NUANCES:(do francês NUANCE) Gradação de cor; tonalidade; cambiante; Etc. Etc. Etc...
MEU SIMPÁTICO MAIS VELHO, acho que não merecias!
Lá que os que nos encontramos no obscurantismo haja vontade de ser iluminados isso é verdade.
Mas homem feito do saber vivido, CULTURA verdadeira. Não!...
É que a Cultura não se estuda, vive-se!
Vamos chegar lá:
Império Mandinga!
Reino do Congo!
Império Zulu!
Mas para chegar à História universal é um passo. Estamos aqui,
a queda dos Vizigodos, Tarik, Pelágio, Covadonga e porque não o Henrique que bateu na mãe?
Fala-se em escravatura e outras coisas mais!
Que me digam! Quem vendia escravos para os barcos piratas NEGREIROS: Ingleses, Franceses, Holandeses, Portugueses, etc. etc. etc....
Quem veio do Futa Djalon e empurrou outros para a orla marítima e estes empurraram os outros para as ilhas?
É verdade a guerra colonial não caiu do céu bem como a nascente da Africanização estava em Africa.
Não merecias este epitetismo meu Mais Velho.
Mas enfim: a grega DEMOKRATÍA.
Vai contando porque há muita gente que gosta.
Aquele velho abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
Anti-anonimato
Fur. Mil. de Oper. Esp.
"Os Lassas" CUFAR 1965/1966
Diniz,
Efectivamente os riscos feitos em Berlim, a dividir África manteem-se praticamente até hoje, apesar de errados.
As tribos circulam de um lado para o outro? E cá na europa não? sempre se fez contrabando entre Itália e França, e Portugal e Espanha.
E a caça passa de um lado para o outro.
Penso que não é desrespeitar a fronteira.
Sobre a côr da pele: a colonização à inglesa ou Belga com o apartheid quase não corriam riscos em África como nós corremos m Angola em 1961.
No Brasil discutem hoje o número de brancos e negros na Universidade, e aparecem casos caricatos de brancos morenos que inventam um avô indio ou negro para serem abrangidos.
E em Angola eramos os da metrópole, chateados pelos brancos d 2ª e mulatos, que lhe iamos roubar lugares, e que eles não precisavam de nós lá para governar aquilo. (mais tarde como retornado...já viste a minha experiência). No congo belga e na Namibia, que conheci, nem se imaginava tal coisa.
Mas, nem é neccessário comentar muito para imaginar imensos cenários, que podia trazer para aqui, mas seria excessivo.
Sobre os factos históricos...que só o a ignorância permite o branqueamento: Diniz, se o Filipe está a insinuar que eu branqueio, não sei.
Mas eu só conto o que vívi, não o que estudei na história, eu, o Agostinho Neto, o Amilcar Cabral, ou que lemos na Wikipédia.
Sobre o dividir para reinar, requer uma ciência, que os nossos governadores gerais e generais, com comissões de 2/4 anos nunca atingiam.
Meno ainda alferes com 24 meses.
Um abraço
P.S. para Mario Fitas.
Porque de momento não possuo disponibilidade de tempo, permitam-me este telegrama;
-SOFISMA, s. m. Argumento falso, com aparência de verdadeiro.
-INDUZIR, v. tr. Instigar à práctica de; concluir; produzir os efeitos de indução.
## Dicionário da Lingua Portuguesa de Francisco Torrinha
-----------
-SOFISMA, m. Argumento falso, ou falso raciocínio, com alguma aparência de verdade. (Lat. sophisma).
-INDUZIR, v. t. Instigar à practica de alguma coisa. Sugerir alguma coisa a. Persuadir ardilosamente. Fazer errar. Incutir. Deduzir, inferir. (Lat. inducere).
## Dicionário Língua Portuguesa de Cândido Figueiredo
Teria mais dois dicionários para consultar, mas de momento não posso por motivo apontado.
Portanto considero no minimo deselegante o teu pretenço juizo de valôr e/ou de apreciação do que foi por mim escrito anteriormente.
Além de ser notório pretenderes, por desconhecimento ou por outra razão que não será de todo, importante mim saber, alterares o verdadeiro sentido das palavras escritas que utilizei no desenvolver de opiniões ou troca de pontos de vista sobre o assunto em causa neste Post.
Por outro lado, não deste atenção ao seguinte que escrevi anteriormente:
-- "NOTA PRÉVIA
Não pretendo em nhenhum aspecto pôr em causa a "experiência de vida" do amigo António Rosinha, que respeito.
Mas tão sómente, porque um exército não é um só homem, nem a história é um só acontecimento ou facto, desejo participar no esclarecimento ou compreensão de alguns sofismas induzidos na análize que o Amigo faz da sua própria experiência, que repito, respeito."
E ainda:
-- "Então optei por participar para o aclarar de algumas "nuançes", que de outra forma contribuiem para o obscurantismo de quem não tenha tido, por qualquer razão,a oportunidade do conhecimento de factos históricos."
Creio que o amigo Antonio Rozinha, não precisa de "amparo" para ser capaz de expressar os seus pontos de vista e defendê-los, o que é uma demonstração de coragem, e seriedade na troca de argumentação
Por outro lado o teu comentário não contribuiu em nada ( na minha opinião) para o valor da conversa em causa.
Peço desculpa por ser em "telegrama".
Carlos Filipe
ex CCS BCAÇ3872 Galomaro
galomaro@sapo.pt
Na verdade o blogue tem sido veículo de opiniões, comentários, postes que no meu entender, em muito tem acrescentado o nível de conhecimento das águas que navegamos.
Respeitando alguma sobranceria de que nada acrescenta antes pelo contrário desvirtua, tenho que dar os parabéns ao António Rosinha, Filipe, J. Dinis pelo o contribuíram nesta discussão.
Não basta falar dos 900 anos de história, mas discutir essa mesma história, é que a faz estar viva e continuar viva para as gerações futuras.
A visão de uns não é obrigatória para todos. Para isso contribuem os olhos com que se viu o acontecimento
Não querendo esquecer ninguém mas utilizando abusivamente este espaço tenho que enaltecer o contributo para essa discussão as pesquisas literárias do Beja Santos em que os poste daí resultantes têm sido ferramenta do aprofundamento de ideias.
Venha mais e deixemos à porta os basismos, porque necessariamente não é quem faz mais barulho que tem mais razão.
Um abraço
Juvenal Amado
É claro que terei de dizer algo:
Caro Carlos Filipe o comentário encontra-se aqui escrito! Leia-se!
Caro Juvenal Amado, aqui ninguém deve ficar à porta, é que obscurantismo e basismo é muita coisa.
É uma grande verdade que a visão não pode ser única, tu o afirmas.
É verdade que a ferida é que dói.
E o resto?
Abram-se os livros!
O mal pior pode estar em outras zonas.
A todos um abraço,
Mário Fitas
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