sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6968: História da CCAÇ 2679 (40): Vinte paus por um feitiço (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 9 de Setembro de 2010:

Carlos,
Aí vai mais um pedaço sobre os 15 dias que passei em Copá.
Imagino que regressas de férias com a pujança toda para as edições no blogue. Por isso, a minha colaboração.

Um abraço
JD


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (40)

VINTE "PAUS" POR UM FEITIÇO

Corria a canícula em Copá, aquele destacamento juntinho à fronteira com o Senegal, lá longe, quase no fim do mapa, a noroeste de Canquelifá. As noites, quando calmas, mostravam os milhões de luzes que suspensas no firmamento nos deslumbravam, e quando soprava uma ligeira brisa oriunda de norte, transportava-nos o ruído do comboio que, a muitos quilómetros, atravessava aquele país vizinho na direcção do deserto. Era o reflexo da pureza climática, associada a um modelo plano de relevo.

O dia-a-dia primava pela sorna. Incrivelmente comíamos bem. Carne do lombo e petiscos das miudezas. O resto da carne de cada vaca, o Mamadu, o magarefe que contratei em Bajocunda (e, entretanto, ficou sem a bicicleta algures no território senegalês), vendia-a às populações. Face ao prejuízo, voltei a compensar-lhe o preço do negócio, mas resultava. Por vezes comíamos apenas pão e carne, ou petiscos ricos em tempero para a molhança trigueira. Descansávamos de arroz e dávamos alegrias à gula e ao colesterol desconhecido.

Nesta espécie de paraíso, onde quase não havia ocasião para banhos, nem preocupações concomitantes, quer com a higiene do corpo, quer com a da cozinha, havia quem jurasse estar disposto a ficar ali durante o resto da comissão. Proibi as saídas para a bolanha, que atravessava a fronteira, onde despontava um pretexto suplementar, a caça aos pombos verdes. Mas o perigo era eminente, com a vantagem toda para o IN.

Pouco depois do ataque relatado anteriormente, uma avioneta sobrevoou o aquartelamento e logo se fez à pista. Alguns momentos após chamaram-me, que era o major comandante do COT-1, e estava rodeado por populares. Verifiquei que reclamavam da suspensão da venda de géneros, e queixavam-se de passarem fome. Ao Major dei a explicação da decisão, mas logo de entre os ocupantes do DO-27 destacou-se um tenente de milícias, que me acusou de não gostar da população, e como prova disso referiu que eu já tinha agredido o chefe de tabanca em Tabassi. A coisa ficou negra, subiu de tom o burburinho dos fulas. O major não me pediu qualquer explicação, apesar de as coisas não terem sido como dizia o milícia, e já contei anteriormente. Mas a "psico" tinha disto, e ninguém queria correr riscos em relação à clique de Bissau. O major referiu-me para preparar o saco que no dia seguinte, provavelmente, seria substituído. Troca de paladas, e... bye-bye.

Depois de almoço, mandriava na tabanca do comando, quando o puto que a limpava se me dirigiu e interpelou sobre o acontecido de manhã junto à pista. Mostrou-se cauteloso e solidário, que as pessoas não queriam saber das dificuldades, e exigiam que enquanto houvesse arroz, teria que ser para todos. Depois, mostrou-se preocupado com alguma sanção disciplinar que me afectasse. Devo ter encolhido os ombros, mas já estava engatado com a lengalenga. De imediato perguntou-me se não me importava que chamasse ali um tio conhecedor de feitiços, para que nada de mal me acontecesse. Que sim, viesse lá o tio.

Momentos após, apresentou-se com o tio, um fula magricela, meia-idade, descalço a mostrar os pés calejados de uma vida de andanças, coberto com pedaços de roupa que já tinham tido cor e evidenciavam falta de botões e alguns rasgos. Humilde, disse alguma coisa como que a pedir licença, e entrou. Não falou português, e o puto é que estabelecia traduções sobre os interesses em presença. Quando ele sentiu que eu alinhava, pediu licença para o tio se sentar no chão da tabanca para prosseguir o feitiço.

Sentado a noventa graus, com as pernas estendidas, tirou uma guita ou cordel que tinha no bolso, e estendeu-a de uma mão para o dedo grande de um pé, onde dava a volta e voltava para a mão. Fez assim uma fiada, concluída com um nó bastante dissimulado. Antes de concluir, porém, o puto traduziu que o tio não poderia continuar o seu trabalho benevolente, sem que eu exportulasse vinte paus. Pronto, uma das partes já via o proveito da cerimónia. Seguidamente, dobrou sucessivamente a fiada, de modo a ficar um pequeno novelo, que mandou-me colocar em redor do cinto, como uma presilha. Para concluir e produzir bom efeito, mandou-me pôr em cima de uma pedra, virado para Meca. Eu sabia a direcção da cidade santa, não havia problema. Cumpri escrupulosamente. Pois, se já tinha pago!

Em conclusão: conforme o major ditara, fui substituído pelo Ramalho. O pessoal manifestou-se pesaroso, mas tinha que ser. Depois disso, passaram fome de criar bicho, já que o Mamadu deu às de vila Diogo. Ainda ali permaneceram alguns dias, até regressarem antecipadamente a Bajocunda. Quanto a sanções disciplinares, nicles! Nem, sobre o assunto, alguma vez alguém conversou comigo. Donde, serve de prova este meu testemunho, sobre os poderes desses muitos feiticeiros que zelam pelo interesse do próximo, e exercem os seus místeres quase anonimamente por esse mundo fora.
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6921: História da CCAÇ 2679 (39): Uma Flagelação (José Manuel M. Dinis)

13 comentários:

Anónimo disse...

Caro José Manuel Dinis

Uma descrição, de acontecimentos passados no teatro operacional de guerra, bem pitoresca…

Gostei, não do que te aconteceu, mas sim da narração.
Parabéns.

Um abraço

José Corceiro

Anónimo disse...

Não acredito! O José Dinis nestas andanças? Ri e até chorei de tanto rir. Gostei de ler, mas, estou mais habituada ao José Dinis de G3 em acção.
Filomena

Anónimo disse...

Camarigo JD
Gostei, não da transferência, mas da narração de te terem "gamado" os 20 pesos, se fosse hoje o Prof. Karamba para deitar os búzios levava-te muito mais...
Alfa Bravo
Luís Borrega

Anónimo disse...

Camarigo JD
Gostei, não da transferência, mas da narração de te terem "gamado" os 20 pesos, se fosse hoje o Prof. Karamba para deitar os búzios levava-te muito mais...
Alfa Bravo
Luís Borrega

Hélder Valério disse...

Caro Zé Dinis

Confirma-se então que 'os bons ofícios' do velho mago resultaram, tendo em conta a 'ausência de porrada'...

A verdade é que já li por aqui pelo menos mais duas situações em que a acção da disciplina militar ou te presenteou com qualquer coisinha ou estiveste muito perto de ser contemplado...

Esse teu feitiosinho... bem, mas parece, pelo teu relato, que naquele caso de Copá até terias razão. Vá lá!

Um abraço
Hélder S.

manuelmaia disse...

CARO Z´´E,
QUERIA DIZER-TE QUE LAMENTO TERES SIDO LEVADO ``A CERTA PELO "SOBRINHO DO TIO E PELO TIO DO SOBRINHO".
N~~AO SEI O QUE SE PASSA COM O RAIO DO COMPUTADOR,DEVO TER CARREGADO NUMA TECLA QUALQUER QUE ORIGINA QUE OS ACENTOS ,GRAVE,AGUDO OU TIL,SAIAM FORA DO S´´ITIO E DUPLICADOS...
N~~AO SEI "AR A VOLTA AO TEXTO"...
SE ACASO SOUBERES,AVISA.
ABRAÇO
MANUELMAIA

Anónimo disse...

Manel,
Há 40 anos também não soube dar a volta ao texto, e entrei com 20 paus. Se calhar, por isso, resultou bem para mim.
Agora, sentes dificuldades na utilização do aparelho "inteligente", e não sabes dar a volta ao texto, razão para teres abreviado o comentário, quiçá mordaz, e resulta bem para ti, pois não me acrescentas ao grupo dos inimigos.
Abraço fraterno
JD

Anónimo disse...

Manuel,
Esse teu problema com os acentos tem acontecido a várias pessoas. É um vírus, mas não perigoso. Corre o programa antivírus. Se continuar, vai à lista de programas, abre as "ferramentas do sistema" e a seguir o "restauro do sistema". Coloca então uma data anterior ao início do problema. Não perdes nada do que esteja no computador e o problema, em princípio, ficará resolvido.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Luis Faria disse...

Caro José Dinis

Ao que contas ,deverias ter pago a dobrar e assim não terias porrada e continuarias a comer e petiscar bem.
Continuam,como dizes e é bem verdade,a haver feiticeiros anónimos por este mundo fora,que zelam pelos interesses do próximo ...no próprio interesse!É e será a vida!

Um abraço
Luis Faria

Anónimo disse...

Caro Manuel Maia,
Bem gostava eu, que o meu computador estivesse com o mesmo problema que o seu. A mensagem acabou por passar com piada.
Cumprimentos
Filomena

manuelmaia disse...

POR RAZÕES QUE A RAZÃO DESCONHECE,O "TAL DE VÍRUS",COMO DIRIAM LÁ DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO,DA MESMA FORMA QUE APARECEU,ACABARIA( NÃO SEI SE POR "MEDO",SE POR QUALQUER OUTRO ARREMEDO,DE ATITUDE,OU QUIETUDE,OU SERÁ QUE POR ACEITAÇÃO TÁCITA DE QUE SURGIRIA UM BATALHÃO DE AMIGOS COMO VÓS A SOLTAR LOGO OS VOSSOS ANTI-VÍRUS,QUE EU COM ESTA MUNDIALMENTE RECONHECIDA "NABICE INFORMÁTICA" NÃO SABERIA ENCONTRAR O DITO QUE O CARLOS CORDEIRO E OUTROS COMO O TEIXEIRA -MEU COMPANHEIRO DE JORNADA DO CANTANHEZ-SE APRESSARAM A DIAGNOSTICAR DANDO INCLUSIVAMENTE DICAS DE UTILIZAÇÃO...

PROVÁVELMENTE,PERDI-O COMO TANTOS "PERDERAM AS ESTRIAS DA G3"SEMPRE QUE CARECIAM DE UNS REFORÇOS FINANCEIROS ,E INCUMBIAM AS FAMÍLIAS DO ENVIO UMAS QUANTAS NOTAS PARA PAGAR AS DITAS E EVITAR SER LEVADO A CONSELHO DE GUERRA...

NESTA CONFORMIDADE,RESOLVIDO QUE ESTÁ O PROBLEMA DOS ACENTOS,APROVEITARIA PARA CONCLUIR O COMENTÁRIO AO ESCRITO DO ZÉ,ENGLOBANDO-O NO LEQUE DOS CHAMADOS "ANDORES" QUE PAGAM PARA QUE OS "PROFESSORES" KARAMBA,BAMBO,O ASTRÓLOGO ISMAEL,A IRMÂ MARLENE,O PROFESSOR FADJAJI,A VIDENTE MARIA MULAMBO,O ASTRÓLOGO SOARÉ,O PROFESSOR MUNIRO,OU ATÉ A MEDIÁTICA MAYA(COM Y TEM MAIS SALERO...)CONTINUEM "NA MAIOR" COM OS SEUS FEITIÇOS,AS GALINHAS PRETAS,AS VELAS NOS CRUZAMENTOS,AS AGULHAS ESPETADAS NOS BONECOS,OS VUDÚS DE MEIA TIGELA,ENFIM,O CONHECIDÍSSIMO "CONTO DO VIGÁRIO"...


E O TIO DO SOBRINHO QUE TRABALHAVA EM PARCERIA COM O SOBRINHO DO TIO, FORAM UMA ESPÉCIE DE PRECURSORES NESTE "RAMO DA CIÊNCIA" FORNECENDO A PROTECÇÃO AO NOSSO ZÉ DINIS,ALGO BARALHADO NAQUELE "FATÍDICO DIA DE CONSULTA"...
UM ABRAÇO A TODOS, EM ESPECIAL AO ALVO DA CONSULTA DA DUPLA.
MANUEL MAIA

A
PROPÓSITO,SABIAM QUE O PROFESSOR BAMBO FAZ DUAS REFEIÇÕES DE CADA VEZ?

Anónimo disse...

Boa, Manuel. Continuas em grande forma. O vírus não quer nada contigo.
Abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

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