1. O nosso Camarada Francisco Palma, ex-Sol Condutor Auto da CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72), enviou-nos em 30 de Outubro uma dramática estória da sua (nossa) guerra:
MEMÓRIAS DE UMA NOITE TERRIVEL EM CANQUELIFÁ - 1971
Na noite de 2 de Fevereiro de 1971 em Canquelifá, com a CCAV 2748, em que estávamos reforçados com dois pelotões da CART 3332, sofremos um ataque em que arderam cerca de 40 tabancas, todas junto ao nosso Comando. O IN tinha assentado base sobre uma zona onde tínhamos montado 12 fornilhos, qual deles o mais forte, com granadas de morteiro e de obus 14 cm (ferrugentas), gasolina, cintas de barris em chapa de ferro, jerricans rotos, garrafões de vidro e tudo o que estilhaçava, e era despejado nos inerentes buracos. Os disparos deles era intensíssimos, com balas tracejantes e outras, além de toda a espécie de armamento, roquetes, canhão sem recuo, morteiro de 82 mm, etc. de tal modo que nem podíamos levantar as cabeças de fora das valas. FOI UM VERDADEIRO INFERNO. Quando o Fur Mil de Cav António Freire accionou os fornilhos, o chão estremeceu violentamente e só nessa altura podemos ripostar. O Fur Mil Luís Encarnação no abrigo nº 9, com o morteiro de 60 mm, “meteu” dois “supositórios” na "mouche", sobre o Comandante IN (que na altura envergava a bandeira do PAIGC e outra que, supostamente, seria a da futura Guiné livre), ficando este sem metade da testa e o seu ajudante com as entranhas ao ar livre. Passados 2 horas (?) recebemos mais 4 foguetões de 122 mm, que causaram alguns feridos ligeiros entre a população. QUE ARRAIAL CAMARAMIGOS - como diz o Camaramigo Fernando Belo. ESQUECER COMO? O Fur Mil MA Luís Encarnação que tem melhor memória que eu, por favor corrija se falhei aqui alguma "deixa". Falou-se que a tropa IN tinha sofrido imensas baixas, mas nós só encontramos 4 "esticados" e as nossas tropas, graças a Deus, não sofreram qualquer baixa.
Um abraço,Francisco Palma
Sol Cond Auto da CCAV 2748/BCAV 2922 (DFA)
_________ Nota de MR: Vd. poste anterior desta série em: 28 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7046: Estórias avulsas (97): O Largo do liceu, em Bissau, onde moravam as enfermeiras pára-quedistas (Miguel Pessoa)
1 comentário:
Caro camarada F. Palma
É claro que coisas dessas não são nunca apagadas da memória.
Podemos é tentar colocá-las lá num cantinho, bem sossegadas, e isso pode até acontecer durante muito tempo, ou até pensarmos que sim, que se foram...
Mas é engano!
Haverá sempre um 'clic' qualquer que fará soltar os demónios. Depois há aqueles que repudiam a brutalidade desses acontecimentos, há outros que até se vangloriam disso, como se matar, esventrar, mutilar, fosse coisa própria da Humanidade, enfim, há de tudo, é difícil arranjar um padrão típico de comportamento.
Aquando desse acontecimento eu estava em Piche, tomei conhecimento geral através das comunicações rádio, mas nada é como ser 'ao vivo'.
E repara que isso sucedeu menos de 3 semanas antes da tal operação "Mabecos" que eu e o Borrêga já referimos.
Um abraço
Hélder S.
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