1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 28 de Março de 2011:
Caros Luís, Vinhal, Magalhães, Briote e restante atabancados.
Mais uma pequena estória sobre Galomaro e o periodo que lá estacionou o BCaç. 3872
Um abraço e boa semana
Juvenal Amado
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Estórias do Juvenal (36)
UM DOMINGO DE FUTEBOL EM GALOMARO
Lembro-me ainda criança, quando o meu pai organizava excursões a Lisboa para irem ver o Sporting e o Benfica.
Adeptos desses dois clubes conviviam em sã camaradagem na mesma camioneta e partilhavam os farnéis, bem como as «as máquinas de filmar de 5 litros tinto». Fosse qual fosse o resultado, os petiscos e os vapores da boa pinga da região de Alcobaça, (trincadeira, touriga, Fernão Pires e João de Santarém) faziam esquecer os resultados num tempo em que os dois clubes, mais ao menos dividiam os títulos entre si.
A minha habilidade para o desporto rei foi pouca e limitei-me a alinhar com o Jero e Nobre, membros do blogue no Futebol Clube do Cabeço, onde reinava uma camaradagem sem paixões clubistas, categorias sociais nem partidárias.
Mas isto serve de introdução a uma pequena estória passada em Galomaro entre 72 e 74, a qual me vem de vez enquanto à memória, quando na televisão vejo cenas em que os próprios jogadores como profissionais do mesmo ramo, não se respeitam nem respeitam a integridade física dos colegas de profissão. Está claro hoje o dinheiro substituiu o amor às camisolas e jogadores portugueses contam-se pelos os dedos de uma mão, os que actuam nos jogos dos principais clubes da nossa liga.
Mas passemos à estória daquele Domingo, onde os adeptos do Sporting, do Benfica e do Porto resolveram fazer um torneio.
À boa maneira portuguesa, quando o patrão está fora é dia santo na loja, também desta vez o nosso Comandante estava ausente e quando ele não estava parecia que o ar era mais leve, não fazia tanto calor, mercê dessa boa disposição geral formaram-se assim três equipas.
Do torneio lembro o aparatoso golo marcado pelo Furriel Vito, que equipava com todo o rigor as cores do Sporting e das cenas menos edificantes entre dois jogadores no jogo Benfica e Porto.
O problema é que na tropa, os jogadores são de várias categorias e graduações. O caso deu-se quando o Santos de Grijó (camarada infelizmente já falecido) fez uma entrada à margem das leis ao furriel (X), tendo este respondido com uma chapada.
No calor da disputa, o Santos esqueceu-se da sua condição de soldado básico e virou-se ao seu superior, tendo havido lugar à distribuição de tabefes de parte a parte .
Estava eu a ver o jogo bem perto do nosso Segundo Comandante, que se virou para não ver o que estava a acontecer, dizendo à boca pequena que assim não podia ser e que tinham estragado tudo, abandonando de seguida o recinto.
Os beligerantes foram separados e aquilo, acabou sanado sem males de maior importância.
O futebol é um desporto de massas, os clubes transformaram-se em empresas, os jogadores mudam de camisolas pela melhor oferta, as claques organizadas dão um triste espectáculo de violência, dando a impressão que para eles o jogo é o que menos importa.
A violência tem destas coisas, lembro-me dela, mas não me lembro quem ganhou o jogo ou o torneio.
Naquele Domingo os jogadores jogavam só por amor às equipas do seu coração e por vezes com o coração perde-se a razão.
Boa semana desportiva para todos
Juvenal Amado
Estádio de Futebol de Galomaro > Furriéis Claudino, Santos, Aurélio; Op Cripto Gomes, e Passos à esquerda de costas
____________Notas de CV:
(*) Vd. Poste de 8 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7911: As nossas mulheres (19): O tempo passa depressa - Homenagem à Mulher, à Mãe (Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 28 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7690: Estórias do Juvenal Amado (35): Rodéro, o corneteiro com falta de embocadura
4 comentários:
Futebol fazia bem...imaginas, meu caro Juvenal, um jogo em Mansambo? Pois houve alguns.
Ninguém voltou a cara para o lado...Chato...acontece (u)
Isto era no aquartelamento que, em Ag/69, ainda estava em construção.
O Comp.2405 estava lá abaixo com a Administração Colonial, Libaneses e outros comerciantes...engraçado o Galomaro desse tempo. Tinha casas, luzes, duches e quecas...além de bebidas e, por mor destas e mais o In lá voltei ao mato...
AB T
Vês Juvenal, não te lembras do resultado, mas lembras-te da porrada!!!
Se calhar é por isso que hoje jogadores e público jogam mais à porrada do que à bola!!!
Assim não se esquecem!
Bela história e grande abraço
Caro Juvenal,
O futebol,foi,é e será sempre uma coisa que incendeia paixões...
O tabefe, o pontapé nas canetas,é coisa que dentro do campo os jogadores e os árbitros resolvem e que regra geral,infelizmente extravasa, surgindo uns imbecilóides fora das quatro linhas a substituirem-se aos jogadores no que toca ao "ardor colocado na luta"...
Nessa conformidade, sou dos que defendem que a polícia deveria estar ausente e a cada comprador de bilhete deveria ser entregue uma moca de Rio Maior que depois poderia usar sem parcimónia no vizinho do lado,respondendo este à amabilidade com a retribuição de igual gesto.
Tudo sempre em "nome do desporto"!
abraço
manuelmaia
Caro Juvenal
Não tive possibilidade de jogar aí no campo de Galomaro, porque tive sempre pouco tempo nesse quartel. Ou andávamos no mato, ou em emboscadas nocturnas. Outras vezes fui para intervenção em Piche, outra para Nova Lamego e ainda outra em Pirada. Tive também como cmdt de instrução de uma companhia de milícias em Bambadinca, mas quando estávamos no Dulombi as jogatanas eram entre um misto FCP SCP contra o SLB. Engraçado era que a rivalidade era mais entre mim (benfiquista) e o fur. Enf. Nevado (sportinguista) e por norma, lá ganhava a aposta que eram umas grades de cervejas ou um petisco à maneira. Mesmo já no barco de regresso apostei com ele que o Benfica ia ganhar ao Sporting, em Alvalade, para o campeonato, não obstante o SCP vir a ser o campeão. De facto foi um grande jogo e o SLB ganhou por 5-3 e lá ganhei uma garrafa de uísque. Eram futeboladas saudáveis, às vezes também davam faísca, mas a malta lá se aguentava. O facto do 2º Comandante estar a assistir e ter olhado para o lado, só demonstra a classe do hoje Coronel na reformado, Moreira Campos. Uma pessoa de um excelente trato, muito humano e esclarecido, com o qual nos dávamos muito bem. Ele era uma almofada amortecedora dos "rasgos" do comandante e sabia muito mais do que se passava, do que às vezes pensávamos. Ainda me tentou arregimentar para ir para o curso de oficiais do quadro,mas eu não estava para aí virado. Quando em 2009 compareceu a um almoço da CCAÇ3491, falámos muito da parte operacional do batalhão e do que ele pensava das nossas acções no terreno e das tácticas que empregávamos. É um gentleman!
Não sei porque em Galomaro não tivémos tempo para empregar as nossas técnicas e tácticas em jogos de bola, com o fazíamos no Dulombi!Enfim! Outros tempos!!!!
Um abraço
Luís Dias
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