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O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER
da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem,
dando seguimento ao desfilar das suas recordações.
BATUQUE EM
GABÚ E NA MESSE DE SARGENTOS
O som do batuque deliciava-me! Noite de batuque era
noite de ronco na tabanca. A população, numa correria louca, desfazia-se em
contactos e os nativos, faustosos, marcavam presença no local do estrondo. O
tocador, ou tocadores, bem cedo diziam presente. As bajudas, sempre destemidas, envergavam indumentárias garridas e
davam cor ao espectáculo. Os rapazes, com vestes compridas, impunham a sua
condição de machos negros e as pomposas donzelas esculpiam os seus rabos ao
toque do tambor.
Ao lado, homens e mulheres já entrosados com a idade,
agitavam-se com os estrondos vindos dos instrumentos das mãos dos tocadores. Os
corpos do pessoal do batuque desenhavam figurinos encantadores. Descalças e
descalços o pessoal da tabanca obsequiava com humildade os convivas.
Paulatinamente os corpos joviais, alguns divinais, iniciavam o processo da destilação.
Um processo que não colocava senãos a gentes que por teimosia ousavam desafiar
o calor da noite. Os cheiros não importavam!
Recordo as minhas saídas nocturnas na companhia de
outros camaradas a caminho de Gabú para ouvirmos e vermos ao vivo as maravilhas
de um batuque das gentes guineenses. Em noite de luar era mais fácil a
aproximação “à manga de ronco”. A
pequena multidão, em círculo, facturava momentos ímpares de incontidos
prazeres.
O toque do batuque generalizou-se, também, a nível dos
quartéis. Era comum os militares terem nas suas instalações os respectivos
tambores. Numa noite de plena descontracção a rapaziada juntou-se e toca a
batucar. Nesta perspectiva um grupo de tocadores improvisados brindou a malta
da messe de sargentos em Gabú com os melodiosos sons oriundos de caixas feitas
pelos ilustres mestres negros.
A receptividade da iniciativa mereceu honras dos
camaradas que a seguir, e à nossa volta, se predispuseram para ofertar
refrescantes bebidas aos tocadores. Numa noite de batuque, e sem danças
ondulantes, uma cuba livre foi divinal!
José Saúde
Fur Mil Op
Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Fotos: © José Saúde (2011). Direitos
reservados.
Mini-guião
de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
1 comentário:
Caro camarigo José Saúde
Este teu artigo fez-me recordar e sentir o que se passou comigo quando estive em Piche.
Ainda em dezembro de 70 ou já em Janeiro de 71 houve também lá pela Tabanca uns dias (vários...) em que o batuque começava cedo e prolongava-se, prolongava-se, prolongava-se...
Se calhar não era assim, a memória hoje é que faz recordar desse modo, mas na verdade era verdade que se começava a ouvir, depois aquilo talvez estivesse já quase a incomodar, mas depois, estranhamente, ou talvez não, dei por mim a caminhar ou a bombolear ao ritmo da música e a achar aquilo cada vez mais agradável.
Não me recordo se também houve a tentação de 'tamborilar' mas tenho a ideia que sim, acho quase inevitável.
Já agora, aproveito para enfatizar o 'miolo' do comentário que o Cherno fez ao José num artigo anterior, em que refere que transparece dos textos e memórias do José uma paz interior, uma serenidade, próprias de quem está bem consigo mesmo e com o seu semelhante. Acho o mesmo!
Abraço
Hélder S.
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