terça-feira, 9 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10508: (Ex)citações (198): O termo “batalha” pela ocupação da mata de Cufar Nalu poderá ser uma “figura de estilo”, à luz dos conceitos da ciência militar (Manuel Lomba)

1. Comentário do nosso camarada Manuel Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), deixado no dia 6 de Outubro de 2012 no seu Poste de apresentação*: 

Até Dezembro de 1964, as situações de guerra em Cufar foram contas do rosário operacional da BCaç 619, de Catió, da CCaç 6, de Bedanda e das tropas especiais, enviadas de Bissau. Os Comandos Os Fantasmas não tiveram sucesso na sua surtida em finais de Novembro, precedente à intervenção da CCav 703, e os Fuzileiros, que interagiam frequentemente com o BCav 705, os Cavaleiros Marinhos, diziam-nos que era um fuzileiro desertor e atirador especial, de alcunha G3 quem lhes embargava a penetração na mata de Cufar Nalu.

A primeira surtida da CCav 703 à mata de Cufar Nalu ocorreu em 19 e 20 de Dezembro de 1964, em interação com aquela unidade e sub-unidade de quadrícula e fomos três vezes repelidos, não obstante a simultaneidade da acção dos Paraquedistas e os bombardeamentos da aviação mais a Sul, na área de Cafine, etc, a condicionar Nino Vieira ao envio de reforços, acoitados em Quitafine. O capitão Fernando Lacerda estava de licença e não comandou essa operação. Será o comandante da ocupação das ruínas da fábrica de descasque de arroz, a quinta de Cufar e a nomadização da CCav 703, entre Janeiro e Março de 1965 - Operação Campo.

No contexto do longo e exaustivo período dessa nomadização, além da nossas acções de batidas, emboscadas, etc, o Comando-chefe (General Schulz) desencadeou as operações Alicate I, II, III e Ursa, em conjunto com as mesmas tropas de quadrícula e/ou especiais, sem surtidas ao coração da mata de Cufar Nalu. O assalto e o desmantelamento de Cufar Nalu foram executados pela Operação Razia em Maio de 1965, tendo a CCaç 763 como força nuclear, com a participação do BCaç 619 e da CCav 703, vinda de Bissau, enquanto os Paraquedistas manobravam sobre o Cantanhês e os Fuzileiros a partir das margens do Cumbijã.

Cufar Nalu constituía um refúgio- base paigcista, dotado de armamento terra-terra e terra-ar, protegido pelo ânimo dos seus combatentes, pelo grande porte do arvoredo e com abrigos cavados, que me calhou contactar, em Dezembro de 1964; a CCav 703 e, depois, a CCaç 763 nomadizaram, entrincheiradas, com armamento terra-terra e terra-ar, durante 10 meses, na quinta de Cufar. Ao fim e ao cabo de quase 18 meses a dar batalha recíproca, o ferro e fogo nosso e os cães de guerra da CCaç 763 forçaram as já então FARP a retirar da mata de Cufar Nalu.

Houve mortos e feridos, longe da dimensão das carnificinas das batalhas das guerras clássicas, que faziam a glória dos seus altos comandos. O termo “batalha” pela ocupação da mata de Cufar Nalu poderá ser uma “figura de estilo”, à luz dos conceitos da ciência militar; mas a semelhança não será coincidência, salvo erro ou omissão.

Cerca de um milhão de portugueses cumpriram o seu dever, em “tributo de sangue”, nela e por ela. Dos incorporados e ou mobilizados, apenas cerca de 2 mil tomaram a opção de desertar. Dos recenseados, os refractários serão mais de 100 mil; mas só em Paris haveria cerca de 80 mil - a maioria familiares das vagas da emigração clandestina. Eloquência dos números, quando cotejados com as estatísticas de outras guerras. Os veteranos não poderão deixar as narrativas da história da guerra do Ultramar aos seus construtores, presente e ou tendenciosos.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10396: Tabanca Grande (361): Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

Vd. último poste da série de 3 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10476: (Ex)citações (197): Carta aberta a Tony Borié (Belmiro Tavares)

1 comentário:

Antº Rosinha disse...

"...os refractários serão mais de 100 mil; mas só em Paris haveria cerca de 80 mil..."

Manuel Lomba, ao trazer a emigração clandestina dos refractários, nesta altura do "campeonato" nacional, mais do que vermos aquele acto como de fuga às obrigações de qualquer mancebo para com a Pátria, também podemos olhar para aquela atitude como uma histórica decisão do "desenracanço" à portuguesa com mais ou menos sucessos.

Se não vejamos: Seria por mais por mais alguns milhares de soldados que a guerra ia ter melhor ou pior destino? provavelmente seria a mesma coisa.

Tanto Salazar como Marcelo Caetano, que tinham conhecimento e estatísticas das remessas bastante abundantes vindas da europa, intimamente não veriam nesses desertores, assim como aqueles que preferiam ir para a pesca do bacalhau, uma mais valia para o esforço de guerra?

É que as divisas também eram necessárias para comprar submarinos e aviões.

Claro que aqueles refractários ou desertores cujos pais ainda lhe enviavam uns trocados para os livros, aí a conversa é outra.

Pode ser que aqueles tempos ainda sirvam para algumas lições para "mancebos" e governantes actuais.

Manuel Lomba, é só o meu ponto de vista sobre o assunto.

Cumprimentos