Pôr-do-Sol
A vida escorreu-nos pelos dedos
Numa sucessão de momentos únicos
Observámos a água dos rios
Idealizámos pontes entre margens
Desaguámos em mares
Ouvimos o vento
Reprimimos lamentos
Contámos estrelas
Descobrimos odores
Criámos novos passados
Outras pessoas habitam em nós
A guerra é um sítio estranho
Porque teimamos em revivê-la,
Nunca se regressa de lá.
Nesse tempo o que fomos
O que fizemos
O que lamentamos
O que éramos e que não fomos
O que esperámos
Quem esperou por nós
Neste Verão quase Outono da vida
Os olhos cansados
Insónia de todos os excessos
Relógios que somam tempo
Tempo que soma calendários
Porque esperámos demasiado
Passámos em barco contra a corrente
Extasiados e encandeados pelos pôr-do-sol
Sentamo-nos,
E ficamos à espera do tempo que nunca virá.
É que esse tempo não existe.
Fotos: © Alf Mil Vasconcelos
Os periquitos: Sertã, Ivo, Passos, Leo, Canário e Amado, a caminho do Regala
____________Nota do editor
Último poste da série de 14 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11938: Blogpoesia (352): Três poemas recentes de J. L. Mendes Gomes: A minha bicicleta; O meu netinho Tomás; Contemplação da noite...
5 comentários:
CARO JUVENAL,
É EXACTAMENTE COMO DIZES SOBRE A GUERRA...
"TEIMAMOS EM REVIVÊ-LA, NUNCA SE REGRESSA DE LÁ".
EU ACRESCENTARIA QUE ESSA VIAGEM INTERIOR QUE POR LÁ FAZEMOS COM ALGUMA REGULARIDADE, ACABA POR SER A ACEITAÇÃO DE QUE AQUELA VIVÊNCIA FAZ PARTE DE NÓS, ESTÁ BEM NO ÂMAGO DE CADA UM, E ESSE CORDÃO UMBILICAL QUE A ELA NOS LIGA NÃO PODEREMOS CORTÁ-LO NUNCA.
UM ABRAÇO DE PARABÉNS.
mm
Caríssimo Juvenal!
É forte de mais para poder ser esquecida.
O filme é de sessão continua, com alguns laivos de boas recordações que ficaram dos amigos que fizeram e da terra que pisaram.
No Poema, está muito bem expresso o sentimento que preside ao relato.
Abraço fraterno e grato da amiga de sempre
Felismina mealha
Olá Juvenal.
Um poema, um hino, a todos nós combatentes, pois todos nos vemos nas tuas palavras, é um "retrato", de todos nós que por lá andámos.
Um abraço, Tony Borie.
Parabéns Juvenal. Um abraço.
Rosa Caramba
Caro Juvenal
Um poema na linha dos que já nos tens presenteado. Sentido, verdadeiro, desencantado.
Fixei o final quando escreves "é que esse tempo não existe".
É claro que o 'tempo passado' já não existe hoje e é claro também que não se pode, ou não se deve, viver das lembranças do passado mas sim procurar buscar forças 'às raízes' para tentar projectar novos tempos.
Abraço
Hélder S.
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