segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13810A: Fotos à procura de... uma legenda (41): dois chavalos e uma cadela, sentados na base do memorial ao alf mil op esp Rogério Nunes de Carvalho, da CART 2338 (1968/69), morto em combate pela Pátria (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 11, Contuboel e Nova Lamego, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Nova Lamego > CART 11 (1969/70) >  Foto tirada em meados de 1970, à entrada do Quartel de Baixo, em Nova Lamego: eu e uma praça africana, mais a cadela 'Judy', que foi connosco de Lisboa... Ao lado o memorial a um alferes, morto no setor de Nova Lamego, em 17/4/1968.

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]



Valdemar Queiroz
1. Mensagem de Valdemar Queiroz [ou Valdemar Silva, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]...

Data: 27 de Outubro de 2014 às 01:34
Assunto: Uma grande fotografia


Ora viva, caro Luís Graça.

Esta fotografia,  uma grande fotografia de dois jovens. Um europeu, o Fur Mil Valdemar Queiroz, o outro um jovem soldado da CART 11. Qual deles o mais  'chavalo' ?!...

Foi tirada, em meados de 1970,  à entrada do Quartel de Baixo, em Nova Lamego. A cadela 'Judy', que foi  connosco de Lisboa, também lá está.

Também está na fotografia, parte, de um Memorial a um alferes que morreu em combate pela Pátria [, Rogério Nunes de Carvalho, alf mil op esp, morto por explosão de uma mina A/P,  na estrada Cheche-Canjadude, em 17/4/1968; pertencia à CCAÇ 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Buruntuma, Pirada, 1968/69; era natural do concelho da Guarda].

Afinal, o que é morrer em combate pela Pátria? Infelizmente há muitos memoriais  como este.

Mortos em combate, os  mortos que nem 'tordos' na 1ª.Guerra Mundial, na Flandres, ... é morrer pela Pátria?

Mortos em combate, os mortos na força, de portugueses, que se juntou ao exército nazi, na operação 'Barbarosa', em junho de 1941, contra a ex- União Soviética, ...  é morrer pela Pátria?

Os milhares de portugueses, também, muito longe da sua terra, mortos em combate, em Moçambique, Angola e na Guiné, e não só, ... são mortos em combate pela Pátria?

Afinal o que é a Pátria? Uns dizem que é a terra do nossos pais. Afinal o que é morrer em combate pela Pátria, terra do nossos pais ?

Cá para mim, os nossos pais não mereciam   que os seus filhos morressem, assim, pela terra deles. (**)

Um grande abraço
Valdemar Queiroz

___________


6 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Olá Valdemar Queiróz,

A minha Pátria quedou-se pelo Cabo de S.Vicente, ali em Sagres...isto na direcção sul ou da Guiné.
Mas não é da Pátria que te quero falar. Falaste num amigo meu, amigo que se não esquece e repousa aqui a umas dezenas de quilómetros. Falo do Carvalho, do Rogério Nunes Carvalho.
Se quizeres ler sobre a nossa relação vai ao lado esquerdo do blogue e procuras BOR ou fazes busca, no cimo á esquerda, e entras co P2527 de 12 de Fev 2008 e está lá a nossa despedida...

Ele merecia ficar com o nome na Parada!
Abraço,T.

Luís Graça disse...

Aqui vai, Valdemar!... É um grande texto... Como sempre..Antes de chegares ao blogue, o Torcato escrevia muito. E sempre tocando fundo no coração da gente... Como podes testemunhar... LG

___________________


12 DE FEVEREIRO DE 2008

Guiné 63/74 - P2527: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (11): Na Bor, Rio Geba abaixo, com o Alferes Carvalho num caixão de pinho...


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2008/02/guyin-6374-p2527-estrias-de-mansambo.html

(...)

Voltaram-se a encontrar-se, como e porquê? Por acaso ou porque se deviam despedir ainda. Tinha que ir a Bissau, ao Hospital Militar. A curiosidade e não só levou-o a fazer a viagem na BOR – um barco com pás na proa, verde-claro, e que se habituara a ver passar nas seguranças a Mato Cão.

Naquele dia, como era normal, transportava africanos, fazendo o barulho habitual com os seus risos e alegres conversas, vacas, galinhas e carga diversa. Tudo desorganizado, ao monte, pois só assim devia funcionar. Ele ia de camuflado, galões no bolso, olhar atento. Escolheu o local para a longa viagem, junto a uma parte de carga mais baixa, mas de modo a observar bem e a ter protecção nas costas. Pôs o saco no chão e antes de se sentar, levantou o oleado que cobria a carga. A visão fê-lo dar um passo atrás – caixões. Viu as placas e leu numa delas: Rogério Nunes de Carvalho, Alferes…

O choque, o aperto no peito, a tristeza e raiva a subirem, o conflito interior, o desejo de nada ver. Acendeu um cigarro, ajeitou o saco com o pé, sentiu as granadas no bolso e nervosamente acariciou a pistola. A algazarra a diluir-se, o barulho do motor, o zape zape das pás, iam os dois, naquele barco, Geba abaixo. O pensamento, vagueou por tanto tempo que só se lembra da zona onde o Corubal entra no Geba. Mesmo aí porque um africano lhe disse algo e o tocou. Talvez pelo seu olhar, pela sua reacção, o homem recuou. Apercebeu-se disso e tentou sorrir-lhe. Mais um esgar que um sorriso. Foi o suficiente para sentir que o olhavam intrigados, talvez pensando: mais um soldado lixado com esta vida. (...)

Torcato Mendonca disse...

E escrevo luís Graça e escrevo. Parei há uns meses ou um ano. Escrever, recordar, é muitas vezes dificil, muito degastante estar a reviver um bocado desse meu passado. Parei na Lança Afiada. Mas escrevi resmas de papel e punha em causa muito, muito daquela merda. Rasguei e outro ficou em arquivo morto. O tempo foi-se esfumando a vontade de continuar a escrever com o meu nome. Um ou outro perguntava-me e eu dizia ou ficava calado. Como agora fico calado e não digo o principal. Tenho ali no papem o "Se Bem Me Lembro" e tenciono teclar de rajada como sempre e,se a febre vier aparece a "escrita". Um fulano fica dorido, um fulano fica amarrotado e ainda por cima lhe pergunta: nunca mais escreveste?
Vou sempre ao Blogue, leio ou não, mas vou rolando e vendo, lendo ou não. Tenho vontade de responder ou comentar e anoto. Escrevo ou não. Agora direccionei o Valdemar para ele conhecer melhor(?) um grande amigo meu que partiu...partiram muitos Luís Graça e é mau. Páro aqui e um AB,T.

Arménio Estorninho disse...

Camarigo Valdemar Queiroz, apresentas um pequeno texto mas abrange uma grande amplitude em todos os pontos focados e dai podermos tirar as ilações inerentes.

Extrato de um trecho com o titulo "Amor da Pátria".

O prudente Ulisses em suas peregrinações, diz Homero, suspirava por ver fumegar as chaminés da sua pátria, antes que morresse. Foi celebre sentença de Sofocles - que era a maior felicidade não experimentar terra alheia. E ao contrário teve Euripedes pela maior miséria deixar a Pátria, por ser a coisa amada sobre todas. O nome Pátria, disse heiracles, se derivou de pater, porque ela é nosso pai, pronuncia-se com terminação feminina, porque também é nossa mãe, e fiquemos entendendo que como a pai e a mãe a devemos estimar e amar.

António de Sousa Macedo (1606-1682)

Com Um Abraço
Arménio Estorninho

Hélder Valério disse...

Olá Valdemar

Vamos por partes:

Primeiro a questão de se saber que legenda dar à foto. Tendo em conta o enquadramento poderia ser "Jovens militares à sombra tutelar do Herói".

Depois, a questão/relato colocado pelo Torcato. Às vezes a vida tem dessas coisas que a explicação pela simples via do acaso parece não colher. Realmente, deve ter sido 'um murro no estômago' daqueles bem fortes, que o Torcato recebeu, quando procurando perceber o que lhe protegia as costas, descobriu que era o caixão com o cadáver do seu amigo e camarada.

Temos depois o conjunto de interrogações que colocas sobre o que é realmente isso de "morrer em combate pela Pátria".
Sim, também muitas vezes me interrogo sobre o sentido dessas noções, principalmente o que é a Pátria.
Pátria de quem? E depois leio e vejo tanto ódio, tanto fundamentalismo, tanta sanha por parte daqueles que enchem a boca com patriotismos que fico a pensar sobre isso.
E vejo os 'patrioteiros' andarem com um 'pin' da Bandeira Portuguesa na lapela, numa manifestação ostensiva de 'patrioteirismo' e ao mesmo tempo vendem ao desbarato tudo o que a dita Pátria tem de lucrativo.

Vou pensar mais....

Abraço
Hélder S.

Valdemar Silva disse...

Caro Torcato Mendonça.
Não é fácil ler ...'transportava africanos, fazendo o barulho habitual com os seus risos e alegres conversas, vacas, galinhas e carga diversa'... sem ficar espantado como se nós, também, lá estivesse-mos.
Não é fácil ler ...'a visão fê- lo dar um passo atrás -caixões'... sem nos arrepiarmos
e desatarmos a chorar.
Obrigado, Torcato Mendonça.
Tenho pena que pessoas ligadas ao cinema não conheçam este teu texto. Está lá tudo, não precisam de inventar nada. Seria um grande filme e com certeza que abriria as consciências daqueles que mandavam os filhos morrer longe da terra dos pais.
Um abraço
Valdemar Queiroz