O poeta, com os netos, em Berlim. c. 2012... Também ele perdeu, há 3 anos atrás, o seu querido neto Tomás, com 2 anos e picos... Um tumor no cérebro (*)... |
De bicicleta ao vento…
Vou de bicicleta ao vento,
Na estrada suave,
Que serpenteia a encosta,
Seara bailante,
Centeio e cevada.
Ao pé dum riacho,
De águas tão puras,
Se vê as areias,
Peixinhos correndo,
Sem freio nos dentes.
Desabotoei a camisa,
Meu peito arfando,
É barco rabelo,
Pelo Douro subindo.
Meus cabelos ao vento
São a bandeira da paz,
Que vou agitando,
Rogando a bênção
À Mãe-Natureza.
A deusa do pão…
Que há-de nascer.
Minha roda da frente,
Vai rolando aos esses,
Vai tonta de gáudio,
Brincando na estrada.
E o selim,
Meu danado corcel,
Quanto mais lhe carrego,
Mais ele, tão suave e tão meigo,
Me impele a rolar…
Ouvindo Hélène Grimaud em Sonata de Beethoven
O dia está nascendo, parece melhor
Mafra, 15 de Outubro de 2014. 6h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Recomeçar…
Quanto mais lhe carrego,
Mais ele, tão suave e tão meigo,
Me impele a rolar…
Ouvindo Hélène Grimaud em Sonata de Beethoven
O dia está nascendo, parece melhor
Mafra, 15 de Outubro de 2014. 6h10m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Recomeçar…
Alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66 |
Se pudesse voltar ao começo,
Quereria chegar onde estou,
Mas escolheria outro caminho.
Poderia ser do mesmo torrão,
A mesma fonte e o mesmo berço,
O mesmo raiar da aurora,
A mesma hora de adormecer,
Pelas mesmas que me deitavam,
A mesma escolinha virada nascente,
E a inocente catequese.
Bem outra seria a diocese,
Outro bispo e seminário,
Só com frades de eremitério,
Onde reinasse a simplicidade.
Com virtude e luz a sério,
Rumo a um fim de eternidade.
Aprenderia latim,
O grego não.
Entraria no mar da literatura,
E na vastidão da filosofia.
Com a música em pano de fundo,
Aprenderia a tocar piano.
Uma viola ou violino.
Daria largas à imaginação
Para escrever meus pensamentos,
Fossem bons,
Fossem lindos,
Com a beleza de pinturas.
Para lançar aos quatro ventos,
Derramando paz, amor e harmonia.
Adoraria o mesmo Senhor,
Com os pés bem assentes nesta terra virgem.
Sem as nuvens baças dos tabus e preconceitos,
Nem as falsas redes de suspeitos,
Escolheria o mar e a serra
Para meus vizinhos,
E um Tejo imenso para
Contemplar as lezírias e as campinas,
Desde a larga foz
Às terras de Espanha.
Mafra, 3 de Outubro de 2014, 8h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Oração à Mãe…
Vou de caravela…
Adejando ao vento, nas ondas do mar.
Vou baloiçando soluços de dor,
Gemidos de amor,
Saudades ardendo,
Num coração a bater.
Das horas passadas,
Parecem tão poucas,
Que o tempo levou.
Vou à procura d’alguém que partiu,
Quando era menino,
Minha fonte de amor,
Para sempre secou…
Pode ser que a encontre
Numa ilha perdida,
Pensando em mim,
Como nela eu penso.
Sonho com ela nas horas mais tristes,
Lavo a dor com lágrimas ao sol,
O calor mas enxuga
Mas volto a chorar.
Parece-me ouvi-la,
Algures nos longes do mar…
Talvez chamando e orando por mim.
Ouvindo "nocturnos” de Chopin
Mafra, 2 de Outubro de 2014, 15h40m
Joaquim Luís Mendes Gomes (**)
[Revisão / fixação de texto: LG]
Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Da esquerda para a direita: Luís Graça, que apresentou o livro: o poeta e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta, que apresentou o pai e o poeta; e ainda a representante da Chiado Editora...
O grego não.
Entraria no mar da literatura,
E na vastidão da filosofia.
Com a música em pano de fundo,
Aprenderia a tocar piano.
Uma viola ou violino.
Daria largas à imaginação
Para escrever meus pensamentos,
Fossem bons,
Fossem lindos,
Com a beleza de pinturas.
Para lançar aos quatro ventos,
Derramando paz, amor e harmonia.
Adoraria o mesmo Senhor,
Com os pés bem assentes nesta terra virgem.
Sem as nuvens baças dos tabus e preconceitos,
Nem as falsas redes de suspeitos,
Escolheria o mar e a serra
Para meus vizinhos,
E um Tejo imenso para
Contemplar as lezírias e as campinas,
Desde a larga foz
Às terras de Espanha.
Mafra, 3 de Outubro de 2014, 8h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Autor de Baladas de Berlim, Lisboa, Chiado
Editora, 2013, 232 pp. Preço de capa: € 14;
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Vou de caravela…
Adejando ao vento, nas ondas do mar.
Vou baloiçando soluços de dor,
Gemidos de amor,
Saudades ardendo,
Num coração a bater.
Das horas passadas,
Parecem tão poucas,
Que o tempo levou.
Vou à procura d’alguém que partiu,
Quando era menino,
Minha fonte de amor,
Para sempre secou…
Pode ser que a encontre
Numa ilha perdida,
Pensando em mim,
Como nela eu penso.
Sonho com ela nas horas mais tristes,
Lavo a dor com lágrimas ao sol,
O calor mas enxuga
Mas volto a chorar.
Parece-me ouvi-la,
Algures nos longes do mar…
Talvez chamando e orando por mim.
Ouvindo "nocturnos” de Chopin
Mafra, 2 de Outubro de 2014, 15h40m
Joaquim Luís Mendes Gomes (**)
[Revisão / fixação de texto: LG]
Lisboa > Livraria Bar Les Enfants Terribles > Cinema King > 2 de novembro de 2013 > 19h00 > Sessão de lançamento do livro de poesia do nosso camarada J. L. Mendes Gomes, "Baladas de Berlim" > Da esquerda para a direita: Luís Graça, que apresentou o livro: o poeta e o seu filho mais velho, Paulo Teia, padre jesuíta, que apresentou o pai e o poeta; e ainda a representante da Chiado Editora...
O Paulo Teia é um jovem que atingiu já o estado da sabedoria e da serenidade... . Disse, entre muitas outras revelações interessantes para se compreender o "making of" deste livro de poemas, bem como a personalidade e o talento do autor, que um jesuíta é um "contemplativo em acção". O lado contemplativo, conventual, ele terá herdado do pai, jurista; o lado proativo e prático ter-lhe-á vindo da mãe, bióloga, verdadeira "âncora da família"... Os filhos são quatro. A intervenção do Paulo Teia, o "filius amatus", tocou-nos a todos e deixou o pai... babado! (LG)
Foto: © Virgínio Briote (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10309: Décima terceira (e última) carta: O pior estava para vir: parte II: A morte do meu neto Tomás (J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)
No dia 25 de Novembro de 2011, esmagado em dor, escrevi no meu diário:
Já sabia o que era perder os pais e a única irmã. O que era perder avós e os tios todos. O que eu não sabia nem nunca imaginara era a dor tamanha de perder, dum dia para o outro, um netinho de dois anos e quatro meses! Fulminado por um tumor benigno sobre o cérebro!…Não deve haver dor maior…
Mafra, 2 de Dezembro de 2011:
Meu coração sangra de dor pelo meu Tomás... Apenas dois anos e quatro meses…Um volumoso tumor esmagou-lhe o cérebro, fatalmente, dum dia para o outro. Meus ouvidos rebentam de saudade das ricas gargalhadas sempre acesas do Tomás e do constante desafio para a brincadeira. Começou a falar, apenas há pouco mais de um ano. Com uma precisão, clareza e oportunidade espantosas. Nasceu para falar português, dizia eu. (...)
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