Septuagésimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.
Resumo do décimo terceiro dia
A cidade de Homer, que muitos chamam “fim da estrada”,
querendo dizer que para a frente é só água, e na verdade
é, pois está localizada no sudoeste da “Península do
Kenai” e distingue-se porque tem um cabo de terra, a
que chamam de “Homer Spit”, em parte feito pelo homem,
que entra pela baía de “Kachemak”, por uma distância de
aproximadamente 4,5 milhas, ou seja 7,2 quilómetros, que
dizem que é a estrada mais longa em todo o mundo, entrando em águas do
oceano.
O tempo era bom, céu quase azul, fresco, mas agradável. Quem como nós nasceu na encosta da montanha,
perto do mar, esta povoação piscatória tem tudo para nos
prender a atenção, não importa a direcção em que
colocamos o nosso olhar. William Shakespeare,
escreveu: “Se a morte predomina na bravura do bronze,
pedra, terra e imenso mar, pode sobreviver a formosura,
tendo da flor a força a devastar”.
Nós, modestamente,
acrescentamos: “se o olhar começa no pico da montanha
coberta com neve, pedra e terra, terminando num imenso
areal, de restos de lava de um vulcão, rodeada de um mar
calmo, parecendo mais um lago, onde o espelho da
água é quebrado pela rede de alguns barcos pescando,
aqui não há lugar nem pensamento para a morte, é vida
pura, não importa a direcção em que coloque o seu olhar,
aqui sim, pode sobreviver a formosura, onde as flores e
alguma vegetação, têm força para a terra e a pedra
desvastar”.
Porra, já não sei onde íamos, perdi-me, vamos tomar “o
fio à meada”, como dizia a minha querida avó, tudo isto
está aqui retratado, onde por sua vez existe uma entrada
artificial de água, (fishing hole), a que orgulhosamente
chamam “The Nick Dudiak Fishing Lagon”. Quando a
maré sobe, enche essa área que faz a delícia dos
pescadores. Os turistas como nós, que chegam por terra,
não são muitos, chegam e partem, usam os pequenos
restaurantes, peixarias e casas que vendem
“lembranças”, ao longo deste cabo de terra, onde também
existe uma marina para barcos de pesca e, um
ancoradoiro de um terminal para barcos tipo “ferry”, que
levam viaturas e passageiros para as Aleutian Islands,
para onde viaja, sobretudo jovens na procura de
aventura.
Nas proximidades, quando a maré está baixa, fica uma
área de quilómetros de extensão seca, onde muitos
aproveitam para fazer reparações no casco dos barcos e
onde alguns até residem. Também lá
existe o famoso Salty Dawg Saloon, que é considerado
um monumento em Homer, pois foi uma das primeiras
casas construídas no “Homer Spit”, por volta do ano de
1897, servia de farol de sinalização, casa dos correios,
estação dos caminhos de ferro, loja de conveniência e
escritório de uma companhia de minas de carvão por
muitos anos. Em 1909 fizeram uma segunda casa que
serviu de escola, correios e loja de conveniência, mais
tarde foi casa onde viveram três adultos e 11 crianças.
Em 1940 um homem de negócios comprou o edifício e passou
a ser o escritório da Standard Oil Company e, finalmente
em 1957, abriu como Salty Dawg Sallon, que é um bar
típico do Alaska, como era no princípio do século
passado, com o chão térreo e serradura, onde se
pode falar de tudo, dizeer asneiras, cuspir e atirar as cascas dos amendoins para o chão, e
fazer tudo o que nos der na real gana, como é normal
dizer-se, claro, sem insultar ou provocar alguém e, beber
cerveja local à temperatura da casa, por canecas muito
grandes, algumas de barro ou porcelana. Tudo isto, além
de ser talvez o local em todo o território do Alaska onde
existe a maior comunidade de águias de colar branco, que
passam o tempo pescando.
Saímos de Homer, seguindo pela mesma estrada, só que
agora rumo ao norte, atravessando de novo a
“Peninsula do Kenai”, parando na povoação de Cooper
Landing, cujo nome no ano de 1884 foi dado por Joseph
Cooper, um mineiro que aqui descobriu ouro, todavia, a
história diz que já no ano de 1848, Peter Doroshin, um
engenheiro de origem Russa, aqui tinha identificado ouro,
juntamente com outros prospectores.
Esta povoação é bastante popular, principalmente no
verão, sendo o destino de muitos turistas, principalmente
pescadores amadores, porque não só podem pescar salmão no “Russian River”, quando os peixes
querem subir o rio, como podem apreciar a
floresta.
Foi o que fizemos, ocupámos um espaço no parque de
campismo, tirámos licença para dois dias, equipamento
vestido, cana pronta e, depois de atravessar o rio, numa
jangada que aqui existe, eis-nos no “fighting zone”, ou seja
na zona de luta, junto de muitos outros pescadores
amadores.
A princípio, não havia experiência e, foi ver os outros
pescarem, mas depois de saber “dar-lhe a volta”, também
pescámos salmão, que foi limpo ali mesmo no rio e
cozinhado passadas umas horas.
Foi o resto do dia, e da manhã do próximo, pescando e
desfrutando da beleza da paisagem, com os peixes
saltando no rio, “desejosos que os pescassem”, e as
gaivotas e águias voando rasteiras, pescando também.
Foi dos dias que não esqueceremosmos mais, a água pura do
“Russian River”, não gelada, mas transparente, vendo-se
as rochas no fundo, em alguns lugares revoltosa, os
peixes a saltar na nossa frente, com um cenário,
sobretudo, selvagem.
Neste dia, percorremos apenas 217 milhas, com o preço
da gasolina variando entre $4.22 e $4.37 o galão, que são
aproximadamente 4 litros.
Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 25 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13800: Bom ou mau tempo na bolanha (71): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (12) (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Ah! grande tuga!... Com essa pedalada toda, não vais morrer no sofá a ver televisão!...Não vais não!...
Estás-me a fazer inveja: isso é que é envelhecimento ativo e saudável, "healthy and active aging"!...
Depois desta volta ao mundo que são os States, tens de voltar a Mansoa... LG
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