Guiné-Bissau > Região do Oio > Jugudul > Abril de 2006 > Aspetos parciais do antigo aquartelamento de Jugudul, cujas instalações foram adquiridas por (ou cedidas a) o empresário lusoguinense Manuel Simões (Bolama, 1941- Jugudul, 2014) a seguir à independência (*). Ali instalou a sua casa, uma bomba de combustível (da GALP) e uma destilaria de aguardente de cana de açúcar.
Nos últimos anos de vida (de acordo com o testemunho do Zé Teixeira que esteva na sua casa em 2013), o Manuel Simões acabou por fechar a destilaria, por não poder concorrer com os preços praticados por uma outra destilaria, com moderna tecnologia, que abrira entretantio, nos arredores de Bissau.
Na altura, da viisita da malta do Porto, em abril de 2006, o Manuel Simões também tinha uma ponta (herdade) onde cultivava caju.
Na altura, da viisita da malta do Porto, em abril de 2006, o Manuel Simões também tinha uma ponta (herdade) onde cultivava caju.
Fotos: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
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1. São imagens do fim de uma época... e de uma vida de 70 e tal anos vividos na Guiné. Referimo-nos ao Manuel Simões. Sobre ele escreveu, em comentário ao poste P13783, o António Rosinha:
"Essa figura de 'branco africanista' à portuguesa, que Manuel Simões representa, é que foi a estirpe de gente que foi totalmente incompreendida neste rectângulo onde se dizia que Àfrica era para os africanos, para não dizer 'terra dos pretos', como se dizia na realidade. Aliás, Mugabe também pensa assim."
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1. São imagens do fim de uma época... e de uma vida de 70 e tal anos vividos na Guiné. Referimo-nos ao Manuel Simões. Sobre ele escreveu, em comentário ao poste P13783, o António Rosinha:
"Essa figura de 'branco africanista' à portuguesa, que Manuel Simões representa, é que foi a estirpe de gente que foi totalmente incompreendida neste rectângulo onde se dizia que Àfrica era para os africanos, para não dizer 'terra dos pretos', como se dizia na realidade. Aliás, Mugabe também pensa assim."
As fotos são do A. Marques Lopes, tiradas no âmbito da viagem "Do Porto a Bissau", realizada em abril de 2006. (**).
Recorde-se, por outro lado, que a um ano e picos do 25 de abril de 1974, a tabanca de Jugudul esteve a "ferro e fogo" (6 mortos, meia centena de moranças destruída), , como recorda aqui o nosso camarada Carlos Fraga (Poste P11417, de 18 de abril de 2013);
(...) "Caro Luís: A tabanca do Jugudul foi destruída no ataque de 23/1/73. Tirei as fotos que te mandei dos restos dessa tabanca. As moranças já estavam construídas, quando lá estive a substituir as que foram destruídas no ataque." (...)
Consultando a história do BCAÇ 4612/72, verifiquei que o novo reordenamento de Jugudul tinha começado, logo a seguir, em 7 de março de 1973, e que a construção da estrada Jugudul-Bambadinca era um "espinho" cravado na garganta do PAIGC... (LG)
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(**) Último poste da série > 27 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13812: Memória dos lugares (277): Os meninos do Xime do tempo da CART 3494 - O caso de José Carlos Mussá Biai (Jorge Araújo)
Recorde-se, por outro lado, que a um ano e picos do 25 de abril de 1974, a tabanca de Jugudul esteve a "ferro e fogo" (6 mortos, meia centena de moranças destruída), , como recorda aqui o nosso camarada Carlos Fraga (Poste P11417, de 18 de abril de 2013);
(...) "Caro Luís: A tabanca do Jugudul foi destruída no ataque de 23/1/73. Tirei as fotos que te mandei dos restos dessa tabanca. As moranças já estavam construídas, quando lá estive a substituir as que foram destruídas no ataque." (...)
Consultando a história do BCAÇ 4612/72, verifiquei que o novo reordenamento de Jugudul tinha começado, logo a seguir, em 7 de março de 1973, e que a construção da estrada Jugudul-Bambadinca era um "espinho" cravado na garganta do PAIGC... (LG)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 26 de outubro de 2014 >, Xico Allen, Inês Allen e Hugo Costa)Último poste da série > 27 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13812: Memória dos lugares (277): Os meninos do Xime do tempo da CART 3494 - O caso de José Carlos Mussá Biai (Jorge Araújo)
(*) Vd. poste de 26 de outubro de 2014 >, Xico Allen, Inês Allen e Hugo Costa)Último poste da série > 27 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13812: Memória dos lugares (277): Os meninos do Xime do tempo da CART 3494 - O caso de José Carlos Mussá Biai (Jorge Araújo)
7 comentários:
Confesso que tenho um certo fascínio por homens como este, "africanistas", como diz o Rosinha... Não sei se o termo não será pejorativo e sobretudo inapropriado...
Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, o/a africanista (substantivo com 2 géneros) é “a pessoa que se dedica à exploração ou estudo da África”.
Presume-se que venha de outras paragens, de outros continentes, a Europa, por exemplo, que foi a grande potência “colonizadora” desde os finais do séc. XIX até á emergência dos nossos estados africanos.
Nesse sentido, o “africanismo” antecederia o “colonialismo”: como se costuma dizer, primeiro vem o explorador, depois o antropólogo, depois o missionário, e depois a tropa, o administrador, o cobrador do imposto de palhota e, por fim, o o comerciante (porque sem dinheiro não economia monetarizada)...
Mas talvez o Rosinha queira dizer, com o termo africanista (não confundir com panafricanista. que tem um outro sentido, mais filosófico e político…) aquele (em geral branco…) que se considera nascido e crescido em África, ou que tenha vivido e trabalhoado em África, ou que muito simplesmente ama a África, as suas paisagens, as suas gentes, as suas culturas… sem ter que ser um “colon”.
Nesta acepção, mais lata, somos todos, aqui, "africanistas"...
Manuel Simões, africanista ? Antes de mais, era português e guineense, nascido em Bolama, com costela beirã, do lado do pai, e provavelmente caboverdiana, do lado da mãe...
E, não menos importante, sobreviveu quer ao “colonialismo” quer ao “paigêcismo” (, nas suas várias versões cabarlismo, ninismo, etc.)…
Deixou muitos amigos e conhecidos, lá e cá, a começar pela nossa Tabanca Grande.
Tenho pena que não tenha deixado escrito um "manual de sobrevivência"... Ele atravessou dois séculos (1941-2014), "prenhes” de história e de histórias... LG
JUGUDUL 1971, qualquer semelhança com as fotos que tenho visto, são pura coincidência. Penso que deve ter sido a melhoria da estrada até Bambadinca que promoveu esse lugar, pois até 1971 era uma tabanca com um pequeno destacamento no sector de Mansoa. é bom verificar que alguma coisa mudou, apesar de tudo-
César Dias
È verdade, César, no nosso tempo (1969/71) a estrada Jugudul - Bambadinca estava interdita há muito...
A TECNIl fez o atual troço, asfaltado (, talvez tenha sido depopis melhorado com fundos do Banco Nundial, uns anos depois da independência. segundo li algures)...
Passei por lá, mas nem dei conta, numa viagem de Bissau a Iemberém... passando por Bambadinca, Saltinho, Quebo... A partir daqui, o alcatrão "evaporou-se"...
Isto, no dia 1 de março de 2008...
O troço Jugudul-Bambadinca foi "regado a sangue" e nem sei se estava mesmo acabad o quando se deu o 25 de abril de 1974...
Temos aí varios postes sobre este projeto...
No Inventário dos Arquivos do Ministério do Ultramar, há uma referência ao projeto e ao ano da sua elaboração, 1969, a cargo da Brigada de Estudos e Construções de Estradas da Guiné...
http://arquivos.ministerioultramar.holos.pt/source/presentation/conteudo.php?id=PT/IPAD/MU/DGOPC/DSTT/1817/00829&tipo=6
A construção é já do tempo da 2ª CCAÇ / BCAÇ 4612/72 (que esteve em Jugudul, Rossum, Uaque, Bindoro)... A CSS deste batalhão estava em Mansoa ...
A tabanca de Jugudul foi destruída em 23/1/1973, num ataque no PAIGC: 6 mortos, meia centena de moranças queimadas...
Consultando a história do BCAÇ 46127/72, pode verificar-se que o novo reordenamento de Jugudul começou logo a seguir, a 7 de março de 1973. Enfim, pela atividade operacional na região, conclui-se que a construção da estrada Jugudul-Bambadinca era um "espinho" cravado na garganta do PAIGC...e foi para as NT um osso duro de roer...
Foi Luis, foi duro de roer já no nosso tempo, tentámos instalar um destacamento no cruzamento do Cussanja, infelizmente durou pouco tempo, os voluntários que se propuseram defender aquele posto, regressaram a Mansoa enrolados em capas de chuva, até queimados foram aqueles corajosos Balantas. Agora ao Jugudul , o PAIGC não se atrevia a ir tão perto de Mansoa como era, porque com forças do Bindoro e a possibilidade de chegarmos ao cruzamento do Cussanja, eles sabiam que não era fácil sairem dali.
Vão aparecendo estas noticias e vou-me recordando de alguns episódios passados.
Um abraço
César Dias
A ideia que eu tenho da estrada Jugudul-Bambadinca, na época em que lá passei (duas vezes, uma para sul, Cantanhez, e outra no regresso a Bissau, em março de 2008)...
Uma verdadeira "autoestrada"!...
Andava-se na pirisca!.. Ia gente do governo, pelo menos a ministra dos combatentes da liberdade da pátria, a viúva de Buscardini (!)... E ai dos porcos, cabras, cabritos, galináceos, cobras, crianças, mulheres e velhos que atravessassem a estrada!...
O bom do Manuel Simões tinha lá uma bomba de combustível em Jugudul... Uma localização estratégica, não há dúvida...
E quanto ao posto da polícia de trânsito, planeado para Jugudul logo a seguir a independência, parece que ficou para as calendas gregas...
Dizem que é uam estrada cheia de fantasmas, de almas penadas, desde o Cumeré a Bambadinca, devido às muitas execuções sumárias ocorridas por ali, às valas comuns, os mortos insepultos, desde o tempo de Luís Cabral, Nino Vieira e por aí fora...
Sem esquecer os mortos da guerra colonial... e de outras guerras mais antigas...
Agostinho Jesus
30 out 2014 20:23
Caros colegas,
Quando se deu o 25 de Abril de 1974, estrada Jugudul Bambadinca ainda não estava concluída.
A construção da estrada estava a cargo da Tecnil e Alvaro e Irmãos.
Agostinho Jesus, 1972/1974
Carissimos a estrada Jugudul Bambadinca pelo que sei porque estive no Polibaque ate ao dia 9 de maio de 74 dia em que fui ferido numa emboscada entre Jugudul e Polibaque ainda tinha muito que fazer por quanto mais tempo ou quantos klm. faltavam não sei e daqui um Grande Abraço a todos do meio do Atlantico.
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