Sexto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.
Antes de tudo, queremos dizer que estamos a falar da
nossa “station wagon Malibu Classic”, ou seja da nossa
“carrinha”, tinha sido nova em 1976, era robusta, com
linhas um pouco a fugir para o modernismo, nunca se
lastimava com a neve, frio, calor, chuva ou vento, que
constantemente sofria, circulava pelas estradas ou ruas
da cidade, carregava com tudo o que dentro dela
colocassem, todos a usavam, ensinou os filhos a
conduzir, no verão, levava-nos alguns fins de semana à
praia, carregava o fogareiro, panelas, tachos e outros utensílios de
praia, assim como a família, o cão e, às vezes os filhos do
vizinho “Açoriano”, que, tanto ele como a esposa,
trabalhavam por turnos e, quando chegavam a casa era
para dormir, trazia os géneros alimentícios para casa,
tinha muito espaço, era confortável, sendo uma autêntica
“street girl”, ou seja “rapariga da rua”, de quem todos gostavam.
Mais tarde, já velha, com alguns acidentes, consumindo
muito mal o combustível que necessitava para circular,
com algumas amolgadelas aqui e ali, a “cor da pele”, já
não era original, ficou quase encostada, mas sempre na
família, continuando sempre a ajudar, principalmente nas
“emergências”.
Dizia, continuando sempre a ajudar, principalmente nas
emergências e, não tendo nada a ver uma coisa com a
outra, uma personagem portuguesa, de quem nós por
aqui, pelo menos nessa altura, sentíamos muito orgulho,
presidiu à 50.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações
Unidas e, quando da sua despedida, houve algumas
celebrações, onde vieram entidades do Governo de
Portugal, onde também participou o Coro dos Antigos
Alunos da Universidade de Coimbra.
Nós fomos convidados num dia em que os filhos
queriam sair com os companheiros, possivelmente para se
divertirem, tendo portanto levado o carro de serviço e, a
“nossa carrinha”, a tal “station wagon Malibu Classic”, já
velha, lá estava pronta para as tais “emergências”.
Algum combustível, um pouco de óleo, pois já quase no
fim da sua vida, gastava quase tanto combustível como
óleo, lá nos levou, entre um trânsito rápido e agressivo,
mas nunca desistindo, atravessando as pontes de Nova
Jersey, entrando no Holland Tunnel, nunca se lastimando,
deixando algum rasto de fumo, chegando com algum
atraso ao edifício das Nações Unidas, na cidade de Nova
Iorque, onde o funcionário encarregue pelo
estacionamento e inspecção dos veículos, antes de entrar
no parque do edifício das Nações Unidas, ao lhe entregarmos
as chaves da “nossa carrinha”, abanou com a mão
aberta na frente da sua cara, sacudindo algum fumo, nos
olhou com um sorriso maroto, pensando talvez, “o que
andam por aqui a fazer estes Portugueses, lá da antiga
Europa”?
Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14283: Libertando-me (Tony Borié) (5): 50 anos depois
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Com que então, amigo Tony, a 'praticar' em terras 'amaricanas' os hábitos os portugueses....
Esticar o 'tempo de vida' das viaturas é uma prática ainda hoje habitual, até por causa da crise, dizem. E a idade do parque automóvel lá vai envelhecendo novamente (embora em termos dos nossos governantes eles não se deixem enganar, rapidamente modernizam a frota...).
E, pelos vistos, embora por pouco, também 'conseguiste' chegar com algum atraso....
Não perdeste as raízes, pelos vistos, e ainda bem!
Abraço
Hélder S.
lá estive integrado no Coro dos Antigos Orfeonistas! Mas constatava-se o desprazer-(contragosto)manifestado pelo Prof.
Freitas do Amaral!Como eram diferentes os Doutores de Direito de Coimbra
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