domingo, 1 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14311: Libertando-me (Tony Borié) (6): Quando fomos à Sede das Nações Unidas

Sexto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.



Antes de tudo, queremos dizer que estamos a falar da nossa “station wagon Malibu Classic”, ou seja da nossa “carrinha”, tinha sido nova em 1976, era robusta, com linhas um pouco a fugir para o modernismo, nunca se lastimava com a neve, frio, calor, chuva ou vento, que constantemente sofria, circulava pelas estradas ou ruas da cidade, carregava com tudo o que dentro dela colocassem, todos a usavam, ensinou os filhos a conduzir, no verão, levava-nos alguns fins de semana à praia, carregava o fogareiro, panelas, tachos e outros utensílios de praia, assim como a família, o cão e, às vezes os filhos do vizinho “Açoriano”, que, tanto ele como a esposa, trabalhavam por turnos e, quando chegavam a casa era para dormir, trazia os géneros alimentícios para casa, tinha muito espaço, era confortável, sendo uma autêntica “street girl”, ou seja “rapariga da rua”, de quem todos gostavam.

Mais tarde, já velha, com alguns acidentes, consumindo muito mal o combustível que necessitava para circular, com algumas amolgadelas aqui e ali, a “cor da pele”, já não era original, ficou quase encostada, mas sempre na família, continuando sempre a ajudar, principalmente nas “emergências”.

Dizia, continuando sempre a ajudar, principalmente nas emergências e, não tendo nada a ver uma coisa com a outra, uma personagem portuguesa, de quem nós por aqui, pelo menos nessa altura, sentíamos muito orgulho, presidiu à 50.ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas e, quando da sua despedida, houve algumas celebrações, onde vieram entidades do Governo de Portugal, onde também participou o Coro dos Antigos Alunos da Universidade de Coimbra.

Nós fomos convidados num dia em que os filhos queriam sair com os companheiros, possivelmente para se  divertirem, tendo portanto levado o carro de serviço e, a “nossa carrinha”, a tal “station wagon Malibu Classic”, já velha, lá estava pronta para as tais “emergências”.


Algum combustível, um pouco de óleo, pois já quase no fim da sua vida, gastava quase tanto combustível como óleo, lá nos levou, entre um trânsito rápido e agressivo, mas nunca desistindo, atravessando as pontes de Nova Jersey, entrando no Holland Tunnel, nunca se lastimando, deixando algum rasto de fumo, chegando com algum atraso ao edifício das Nações Unidas, na cidade de Nova Iorque, onde o funcionário encarregue pelo estacionamento e inspecção dos veículos, antes de entrar no parque do edifício das Nações Unidas, ao lhe entregarmos as chaves da “nossa carrinha”, abanou com a mão aberta na frente da sua cara, sacudindo algum fumo, nos olhou com um sorriso maroto, pensando talvez, “o que andam por aqui a fazer estes Portugueses, lá da antiga Europa”?


Tony Borie, Fevereiro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14283: Libertando-me (Tony Borié) (5): 50 anos depois

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Com que então, amigo Tony, a 'praticar' em terras 'amaricanas' os hábitos os portugueses....

Esticar o 'tempo de vida' das viaturas é uma prática ainda hoje habitual, até por causa da crise, dizem. E a idade do parque automóvel lá vai envelhecendo novamente (embora em termos dos nossos governantes eles não se deixem enganar, rapidamente modernizam a frota...).

E, pelos vistos, embora por pouco, também 'conseguiste' chegar com algum atraso....

Não perdeste as raízes, pelos vistos, e ainda bem!

Abraço
Hélder S.

J.Pinho disse...

lá estive integrado no Coro dos Antigos Orfeonistas! Mas constatava-se o desprazer-(contragosto)manifestado pelo Prof.
Freitas do Amaral!Como eram diferentes os Doutores de Direito de Coimbra