Vasco Pires, um artilheiro de corpo inteiro, fazendo aqui prova (pública) de vida, a meio corpo...
1. Mensagem do nosso camarada, o grã-tabanqueiro Vasco Pires, que no passado século, por volta de 1970/72, lá no cu de Judas, na África profunda, em terras de Tombali, num sítio chamado Gadamael, foi bravo artilheiro, comandante do 23.º Pel Art, numa guerra que já se varrei da memória dos povos...
Data: 19 de maio de 2015 às 16:19
Assunto: ...Ainda a Artilharia.
"Importante é a versão, e não o facto " (Anónimo).
Caríssimos Carlos e Luis,
Nós (Artilharia), fomos (somos) poucos e quase esquecidos, uma meia dúzia, talvez, nesta "Grande Tabanca"
Ultimamente as referências que tenho lido, aqui e em outras média, falam de fogo amigo, folclorizando e apequenando a atuação da Artilharia.
Tenho a convicção que, além de um ou outro estudioso, só nós mesmos lemos os nossos escritos.
Mais tarde, um ou outro antropólogo vai dar uma olhada na nossa versão da História.
Será justo, passar a ideia de Artilheiros relapsos ou trapalhões?
O GAC7 (GA7), teve trinta e dois Pelotões espalhados pelo TO da Guiné, apoiando tropas debaixo de fogo IN, atingindo importantes alvos, quer por ordem superior, quer como fogo de contra-bateria, por vezes apoiando outros aquartelamentos, até tiro direto, para impedir supostas invasões do quartel.
Como somos minoria, a nossa voz quase não é ouvida, mesmo ténue, aqui fica registrada a minha.
Forte abraço.
E siga a Artilharia (que na Guiné estava parada)
VP
Ex-soldado de Artilharia
PS - Conforme solicitado pelo nosso editor-chefe, segue em anexo foto atual.
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 23 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14510: (De)caras (20): Tenho dois filhos na casa dos 30 e tal anos e nenhum me perguntou se tive medo... Nem mesmo depois da oferta do livro da Catarina Gomes... Parei na página 12 a leitura do livro... Talvez mude de opinião, se um chegar a ler o livro... (João Silva, ex- furriel atirador mil inf, CCaç 12, Bambadinca e Xime, 1973)
Último poste da série > 23 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14510: (De)caras (20): Tenho dois filhos na casa dos 30 e tal anos e nenhum me perguntou se tive medo... Nem mesmo depois da oferta do livro da Catarina Gomes... Parei na página 12 a leitura do livro... Talvez mude de opinião, se um chegar a ler o livro... (João Silva, ex- furriel atirador mil inf, CCaç 12, Bambadinca e Xime, 1973)
3 comentários:
Concordo em pleno com o camarada Artilheiro,Vasco Pires.
Um dos motivos de sermos mal amados é por não sairmos dos arames, e por os
pelotões de Artilharia serem formados
por nativos que quer queiramos ou não
eram vistos de lado pelos camaradas da Metrópole.
Quanto ao fogo amigo na maioria dos casos não passaram de sustos, pois as granadas rebentavam muito perto das n/tropas visto o IN estar uns metros mais à frente. Não podemos esquecer que às vezes os elementos de tiro eram fornecidos pelos cmdt da Compª.
e similares. Estive em Cameconde/Cacine, Piche, Bigene Pelundo/Bachile e Binar.A nossa unidade BAC1/GAC7 Tinha normas(NEP) própias de funcionamento.Abraço. José Diniz C.S.Faro (ex-Fur Milº de Artª) Guiné 67/68.
Amigo Vasco Pires;
Quando estive em Buba entre Março de 1971 e Setembro de 1972, sobretudo nos meses secos da época quente, quase diariamente ouvia a artilharia do PAIGC a atacar os nossos quartéis sobretudo os mais próximos da Guiné-Conacri e a nossa artilharia em resposta a procurar atingi-los e cala-los. Muitas vezes terei ouvido o ribombar dos obuses que tu comandavas e sei também um pouco pela experiência de Buba que nessas horas de ataques de armas pesadas, os heróis, aqueles que se expunham mais ao perigo eram os artilheiros, fossem soldados, cabos, alferes ou furriéis.
Todos os outros operacionais ou não, corriam para a protecção das valas e dos abrigos.
Vós artilheiros constituindo pelotões independentes, não pertencendo a uma família grande, como a companhia ou ainda maior batalhão constituída ainda no continente, que muitas vezes pouco entendiam da vossa arma e dos cálculos e estudos que exigia e não pensavam nos vossos riscos quando respondíeis à artilharia inimiga.
Eu que fui em rendição individual compreendo bastante a tua queixa pois para criar bons laços de convívio e camaradagem era útil e conveniente estar na formação dessas organizações militares. Como noutros tipos de organizações humanas os fundadores têm sempre outra consideração, outro respeito e camaradagem entre os seu pares.
Quanto ao "fogo amigo" acho que exageras, se bem me lembro, só se falou num caso, neste blogue e acho que não se deu como provado. Entre as outra armas também ouve alguns acidentes por causa do fogo amigo podes crer
Camarada Vasco Pires, não desistas deste convívio alargado, pois tu tens uma voz única e inconfundivel.
Um grande abraço
Francisco Baptista
"À lá ber"....
Primeiro, acho interessante (re)conhecer o camarada Vasco Pires "ao vivo e a cores" e 'quase de corpo inteiro' já que, por estar longe, muito longe, é mais difícil encontrar aquando dos Encontros anuais onde fazemos a devida 'prova de vida'.
Depois, para dizer que tenho apreço pelas suas intervenções, quase sempre pautadas de grande rigor e pelo que acrescenta de saber e conhecimento.
Também aprecio a forma como aborda as questões difíceis, as ditas 'fracturantes', com serenidade e espírito de colaboração.
Defende empenhadamente a 'sua dama' a Artilharia. Tudo bem, acho que cada um de nós faz gosto em valorizar aquilo que conhece, aquilo em que se empenhou. Eu, por exemplo, acho que as Transmissões foram cruciais e considero que sem elas teriam havido muito mais situações complicadas e mais graves. Isto não será de estranhar pois sempre todos dependem de todos e todas as funções e especialidades tiveram o seu papel.
Não vejo portanto motivo para se dar grande importância a algumas 'bicadas' que aqui e ali se vão dando, alimentando as rivalidades, o que se em devida dose até tem piada, se forem extremadas podem dar origem a consequências graves como aquelas que por lá ocorreram e de que alguns foram testemunhas e os outros ouviram falar, como as célebres 'desavenças' entre "especiais"...
Então, como complemento, devo dizer que não vejo a menorização da Artilharia no conjunto dos textos que por aqui têm passado. Uma ou outra coisa, mas não acho que se possa concluir essa situação de "mal-amada". E depois, as referências às suas situações particulares, como as que o José Dinis Faro adianta, são mais que suficientes para se compreender a incompreensão que possa por vezes aparecer, ou melhor, transparecer, de algumas opiniões.
Finalmente, secundando o que escreve o Francisco Baptista, apelo também ao Vasco Pires (este apelido "Pires" tem vindo a assentar raízes fortes no Blogue...) para que persista na vigilância das incorrecções que possam aparecer, que continue a defender a dama e que nos dê o gosto de o continuar a ler, com a enorme vantagem (pelo menos nestes tempos) de escrever e olhar de longe, não só com o distanciamento que os km proporcionam mas também com uma diferente carga emocional, protegida por essa distância.
Abraço
Hélder S.
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