domingo, 20 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15133: Fotos à procura de... uma legenda (61): uma negra entre a nobreza, o clero e o povo de Lisboa...


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4 > O Portugal do "antigo regime":  no altar-mor, o quadro com a família real, D. Maria I e o seu filho D. João VI entre a corte (do lado direito), e com  apresentação iconográfica de Lisboa e o seu povo (lado direito), vendo-se ao longe o Castelo de São Jorge.  Só uma dica: aqui viveu o D. João VI (1767-1826), depois do seu regresso do Brasil, e aqui morreu.

Na foto nº 3, chama-se a atenção  para o detalhe das três mulheres do povo,  um das quais uma espantosa negra, de olhar postado nas figuras régias... Um dos mais belos quadros da nossa pintura... Quem seria esta mulher de origem africana? Talvez uma guineense, descendente de escravos... Na realidade, Lisboa é e sempre foi , desde o séc. XV, uma cidade "africana"... [Henriques, Isabel de Castro; Leite, Pedro Pereira; e Fantasia, Ana (fotos) - Lisboa cidade africana:Percursos de Lugares de Memória. Lisboa: Marca d’ Água: Publicações e Projetos 1ª edição, Junho 2013  ISBN- 978-972-8750-17-6].  (*)


Lisboa > 12 de setembro de 2015  > Festival Todos 2015


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.


1. É um dos mais belos palácios de Lisboa... E a sua capela, particular, é monumento nacional... Muita da nossa história, dos séc. XVIII e XIX, passou por aqui.

Quem andou na Academia Militar tem obrigação de conhecer o paço e a capela...  E quem gosta de Lisboa, tem o dever de a conhecer e divulgar... 

Fui lá há dias, numa visita guiada, no âmbito do Festival Todos 2015. Quis partilhar com os nossos leitores a surpresa, que foi para mim, a visão deste quadro... de que só conhecia os retratos da nossa realeza...  Digam lá de que paço e capela estou a falar ? (**) (LG)

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Notas do editor

(*) Vd. também RIJO, Delminda - Os Escravos na Lisboa Joanina. [Em Linha]. Investigação desenvolvida no âmbito do projecto “Espaços urbanos: dinâmicas demográficas e sociais (séculos XVII-XX)”, com referência PTDC/HIS-HIS/099228/2008, co-financiado pelo orçamento do programa COMPETE – Programa Operacional Factores de Competitividade na sua componente FEDER e pelo orçamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia na sua componente OE. [Consult 20 de setembro de 2015]. Disponível em
http://www.ghp.ics.uminho.pt/eu/ficheiros%20de%20publica%C3%A7%C3%B5es/OS%20Escravos%20na%20Lisboa%20Joanina%20-%20Delminda%20Rijo.pdf


(...)  O escravo foi uma figura incontornável da Lisboa joanina. A amostragem utilizada, rica e vasta em informação, revelou-nos uma cidade com grande concentração de escravos, assimilados num intrincado de redes sociais com outros escravos, mas também com alforriados, livres e proprietários e seus familiares. 

Foram sobretudo negros e mulatos, nascidos em Lisboa em resultado da reprodução natural e da continuidade de Lisboa na rota dos navios negreiros, a maioria vindos da região de Angola e da Costa da Mina, muito embora os encontremos provenientes dos 4 cantos do mundo. Lisboa era ainda um mercado de grande absorção de escravos, mas já se avizinhavam grandes mudanças que levariam à abolição deste trato, pois em 1761 o Marquês de Pombal assinou a proibição de importação de escravos para o continente português e em 1773 a proibição de escravatura em Portugal Continental, só se extinguindo efectivamente em 1856. 

Sujeitos a muitas restrições e constrangimentos, encontramo-los enquadrados nas vivências de poderosos, na partilha do quotidiano alheio e a sofrer as vicissitudes dos mais desfavorecidos, nas ocupações, frequentemente as mais duras, com quem moravam paredes meias, a casar e a fundar por vezes extensas famílias, a baptizar os filhos, procurando neste acto estabelecer ou reforçar redes de solidariedade. Muito contribuiram para a ilegitimidade, sobretudo as mulheres. Perante a morte, procuraram a realização de qualquer bom cristão, com assistência e sacramentos e uma sepultura condigna, não obstante a sua cultura reprimida tenha ressurgido com exotismo e alegria sempre que a ocasião o propiciou, quer fosse num peditório, num círio ou na solenidade de uma procissão. Exímios na música e na dança, também o foram nas artes do oculto e adivinhação. 

A lealdade e os bons serviços puderam realizar o sonho da alforria e liberdade de muitos, nem sempre sinónimo de realização pessoal, significando por vezes o agravamento das condições de vida, sobretudo para os mais velhos. (...)


4 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Na foto 1 pensei ser Dona Maria Francisca Benedita Ana Isabel Josefa Antónia Lourença Inácia Gertrudes Rita Joana Rosa de Bragança, que além de ser irmã de D. Maria I, fundou o Lar de Runa, que está no post
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2010/01/guine-6374-p5734-ser-solidario-53-que.html

Luís Graça disse...

Zé: Obrigado pelo teu contributo... A figura central da realeza é. seguramente, a Dona Maria I, ladeada pelos seus filhos, com o herdeiro, futuro regente e rei Dom João VI à sua direita... O que eu quero é que identifiques a capela: não há muitas, em Portugal, classificadas como monumento nacional...

Tens mesmo que fazer, proximamente, uma visita à Academia Militar... Só a bibllioteca é um encanto: 150 mil livros, alguns preciosíssimos... LG

Luís Graça disse...

Zé: A tua Dona Maria Benedita, irmã (mais nova) e nora da rainha Dona Maria I deve ser a figura que se vê do lado direito, em segundo plano, depois da rainha e dos seus filhos... Já aqui tens nota histórico-artística sobre esta capela do paço da... Bemposta:


(...) "O Paço da Bemposta foi mandado edificar, no início do século XVIII, por D. Catarina, Rainha de Inglaterra, mulher de Carlos II e filha do monarca português D. João IV. Na verdade, a rainha-viúva havia regressado a Portugal em 1693, alguns anos depois da morte do marido, tendo residido em vários palácios de nobres da corte, como o palácio do Conde de Redondo, em Santa Marta, ou o palácio do Conde de Aveiras, em Belém.

"Desejando, porém, ter residência própria, D. Catarina adquiriu em 1701 as propriedades do sítio da Bemposta, já fora dos limites da capital na época, e contratou o arquitecto João Antunes para executar a traça do palácio e da respectiva capela, dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

"Depois da morte da rainha, em 1705, o paço foi transferido para a posse da Coroa, por vontade expressa da proprietária, e no reinado de D. João V, o monarca integrou-o na Casa do Infantado.

"O terramoto de 1755 danificou profundamente a estrutura do paço seiscentista, destruindo quase por completo a capela. Assim, foi designado para executar a reconstrução do conjunto Manuel Caetano de Sousa, arquitecto da Casa do Infantado. A capela, na realidade, acabou por ser construída de raiz, embora mantivesse o enquadramento primitivo, sendo considerada a obra "mais equilibrada e mais feliz" (ATAÍDE, 1975, p. 144) daquele que é considerado o último arquitecto barroco.

"De planta rectangular, o templo implanta-se perpendicularmente em relação ao paço, apresentando uma imponente fachada, precedida por grande escadaria, com vestíbulo preenchido por estátuas de mármore inseridas em nichos, representando Santa Isabel e São João Baptista, executadas por José de Almeida e Barros Laborão, da Escola de Mafra.

"O programa decorativo do espaço interior denuncia a influência de uma das maiores obras do barroco português, a Capela de São João Baptista, da Igreja de São Roque. Na Capela da Bemposta, copiam-se "com inigualável performance" os materiais raros e luxuosos da obra-prima do barroco joanino, modelando-os num gosto rococó tardio, repleto de cor, que se abre a manifestações já neoclássicas.

"Destacam-se as pinturas em trompe l'oeil de Pedro Alexandrino, que decoram a abóbada da nave e o tecto da capela-mor, e o grande painel que representa Nossa Senhora da Conceição, colocado no altar-mor, atribuído ao pintor italianio José Troni, sob o qual foi colocado um friso de retratos de elementos da família real, que terão sido executados pelo retratista irlandês Thomas Hickey.

"Catarina Oliveira | DIDA/IGESPAR, I.P./ 16 de Outubro de 2007"

Fonte: cortesia de

Patrimónion Cultural, Direção-Geral do Património Cultural

http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/70151

Luís Graça disse...

Mais umas achegas:

Esta pintura deve ser de c. 1793: "A pintura da cobertura da Capela do Santíssimo por Pedro Alexandrino de Carvalho e José António Narciso; os mesmos, em parceria com Manuel Macário, pintam os tetos da nave e capela-mor; pintura do teto da sacristia por Pedro Alexandrino de Carvalho"...

No altar-mor observa-se uma tela figurando a padroeira, da autoria do pintor italiano José Troni, à qual foi aposto em primeiro plano um friso de retratos de elementos da família real (D. Maria I, D. João VI, D. Carlota Joaquina), segundo alguns autores pelo pintor inglês F. Hickey. No tecto da capela-mor, uma pintura com moldura oval e tendo por tema a Virgem enquanto protectora do reino, é atribuída a Pedro Alexandrino de Carvalho (1730 - 18109...

Fonte:

Paço e Capela da Bemposta
IPA.00002443
Portugal, Lisboa, Lisboa, Arroios

SIPA - Sistema de Informação para o Patrim+ónio Arquitectónico

http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2443