quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15146: Os nossos seres, saberes e lazeres (116): Un viaggio nel sud Italia (7): Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Assis ultrapassou todas as minhas expetativas. A cidade histórica posiciona-se inclinada para a Basílica do Santo, nesse longo e precioso declive há monumentos, museus e atrações que completam o sentido da peregrinação. Tudo ali converge, no entanto, para a santidade ímpar desse Francisco que em plena Idade Média fez da paz, da assistência e da solicitude o centro da sua vida e o seu legado espiritual. Correndo o risco de falta de pudor e de olhar vesgo para o que há de melhor na arte religiosa, penso que a basílica franciscana é o lugar de oração e de contemplação do divino mais espantoso da cristandade.
Aqui passei dois dias inesquecíveis e não hesito em dizer que estes lugares são inultrapassáveis.

Um abraço do
Mário


Un viaggio nel sud Italia (7)

Beja Santos

Em terra de S. Francisco, Assis é inexcedível




Era um encontro há muito aprazado, sem conexão direta com a eleição, em Março de 2013, do papa Francisco. Sempre ouvi dizer que Assis tem uma atmosfera muito especial, que tudo o que ali se respira é paz e amenidade e depois há Cimabue e Giotto, que nos fazem comover até às lágrimas. Cheguei a Assis mais como peregrino de que como turista, mas enfrentei os dois estatutos. Coisa rara, consegui dormitório frente à Basílica Papal de S. Francisco, abri as portadas, apanhei toda a limpidez do ar e o acolhimento da singela fachada medieval. Empolgado, percorri a Basílica horas a fio, as duas basílicas, a superior e inferior, a terceira imagem a esta se reporta. Francisco foi canonizado em 16 de Julho de 1228, as basílicas foram edificadas entre 1230 e 1239. Cerca de 1330 ficaram completamente decoradas por frescos dos pintores mais importantes do seu tempo, Cimabue e Giotto. Correndo o risco de parecer pesporrente, prefiro a basílica superior à Capela Sistina, esta religiosidade de Assis é-me mais tangível. Alguém lhe chamou “a mais bela casa de oração do mundo”, perfilam-se na nave histórias da vida do santo além de temas bíblicos da criação do mundo, Adão e Eva, factos evangélicos da infância e da vida pública de Cristo, é uma ternura irreprimível, as abóbadas azuladas agigantando as dimensões da igreja, tudo exalta Francisco o homem da paz, o companheiro dos pobres, o amigo da natureza, o irmão universal. E enquanto por ali se deambula é-se levado a pensar que o mundo medieval de Francisco muito pouco tinha a ver com as cruzadas, as guerras feudais, a intolerância religiosa. Estes grandes pintores cativam-nos com o Francisco que dialoga com Deus, com os homens, e que procurou viver em harmonia com todas as criaturas, até se é levado a pensar que esta era a visão querida por Deus na Criação.




Assim foi esta a primeira visita aos domínios que a cristandade reservou para glorificar a vida e obra de Francisco de Assis. Não há termo de comparação para a força que se levanta neste tempo com duas basílicas e a cripta onde estão os seus restos mortais. Não sei mesmo se está aqui o melhor de Cimabue e de Giotto, mas estes frescos têm um vigor intemporal, espelham o sentimento da paz perene. E agora vamos conhecer Assis fora da basílica.




Passeei-me pela Catedral de S. Rufino, um belíssimo espécime do românico da Úmbria, subo e desço ruas íngremes da Assis antiga, recheada de atrações, museus e exposições, detenho-me face ao edifício camarário, com o normal aproveitamento de um templo romano ali ao lado e não resisto a entrar numa farmácia dos velhos tempos, muito bem preservada, a menina prontamente consentiu que captasse esta imagem. Tem sido longa a viagem desde que sai de Tivoli, agora vou estirar os pés, ler um livro num café com esplanada, ouvir vozes, as badaladas que se evolam das torres sineiras. E encontrar um jantar condizente, apetece-me risoto, uma sopa minestra, talvez um esparguete com tomate. E dormir bem, para enfrentar um novo dia de peregrinação.



Fatal como o destino, dirijo-me à Basílica, revejo a parte inferior e subo para uma zona de claustro onde está o museu opulento e as lojas de vendas. Não perdi o museu nem a mostra fotográfica que se espalha pelos corredores dedicada aos arménios e à Arménia, bem gostaria de lá ir, procura nestas imagens entender a piedade cristã deste povo que vive numa área do tamanho do Piamonte, por ali passa o corredor caucasiano da Ásia Central onde se têm confrontado grandes impérios: Hititas e Babilónios, Gregos e Persas, Romanos e Cartagineses, Bizantinos e Seljúcidas, Russos e Otomanos, estão aqui imagens de monumentos únicos na Europa, uma mescla da arte romana, persa, grega e árabe, de arquitetura gótica singular, restos de mosteiros, paisagens, rostos da gente. Um povo que preservou miraculosamente a sua identidade.



Reservei a tarde para percorrer outros lugares que têm a ver com a vida de Francisco e da Ordem dos Franciscanos. Fui primeiro à Igreja de Santa Clara, depois ao estábulo onde nasceu Francisco, ao ermitério onde ele viveu e por fim a um lugar de extrema veneração, a Porziuncola, sob a qual se construiu uma basílica barroca, de gosto muito discutível, Santa Maria dos Anjos. Para termo de viagem, e antes de apanhar o autocarro que me trouxe a Assis, a Porziuncola, onde viveu Francisco quase até morrer, é um espaço de grande beleza e ternura, aqui apetece ficar em meditação horas a fio. E regresso a Assis, ao fim do dia viajo para Roma, amanhã será a despedida deste passeio que me deu tantas alegrias.

(Continua)

Texto e fotos: © Mário Beja Santos
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Nota do editor

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