segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15291: Vídeos da guerra (12): "A ternura dos 20 anos", de Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, ex-fur mil cav, CCAV 8353 (Cumeré, Bula, Pete, Ilondé, Bissau, 1973/74): uma emocionante e emocionada homenagem aos seus camaradas mortos e feridos, há 42 anos, no "batismo de fogo", em 5/5/1973, em Bula, em que "deixei de ser eu" (sic)


Vídeo (11' 29'') do Armando Ferreira, nosso grã-tabanqueiro nº 704, disponível no You Tube > Armando Ferreira.





Foto nº 1 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 2 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 3 > O fur mil at cav Armando Ferreira e mais furrieis na classe turística do navio que os levou, em março de 1973, até à Guiné

Foto nº 4 > O fur mil at cav Armando Ferreira



Foto nº 5 > P fut mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, morto em combate em 5/5/1973, mês e meio depois da companhia ter chegado ao TO da Guiné. Era um dos amigos chegados do Armando Ferreira: andaram juntos desde o primeiro dia, na recruta e especiliadade em Santarém, na EPC



Foto nº 5 > O fur mil at cav Armando Ferreira


Foto nº 6 > O fur mil at cav Armando Ferreira e camaradas


Foto nº 7 > Foto sem legenda...[Segundo o "olho clínico" do nosso amigo Cherno Baldé, esta foto deve deve ter sido "tirada entre junho a agosto de 1974, no período de euforia do pós-25A74, nela estão elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC"... Não se sabe o local.]

Fotos: © Armando Ferreira (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

1. O Armando Ferreira, natural de Alpiarça, escultor de profissão, foi fur mil cav, CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete (1973/74). 

Esta companhia não pertenceu ao BCAV 8320/72, era independente. Foi mobilizada pelo RC 3. Partiu para a Guiné em 16/3/1973 e regressou a 29/8/1974 (17 meses de comissão). Esteve em Bula, Pete, Ilondé e Bissau. Cmdt: cap mil cav António Mota Calado

Veio  substituir a mítica companhia do cap cav Salgueiro Maia, a CCAV 3420 (Bula, 1971/73).  Neste vídeo, de mais de 11 minutos, o Armando faz um emocionado e emociante relato do historial da sua companhia, declamando em "voz off" um dramático e longo texto poético,  a que deu significativamente o título "A ternura dos 20 anos"... 

O vídeo foi colocado no You Tube,  42 anos depois do "batismo de fogo" do Armando e dos seus camaradas, a trágica emboscada que a companhia sofreu em 5/5/1973, na região de Bula,  de que resultaram as 17 primeiras baixas da companhia, das quais 4 mortos:

(i) fur mil cav Serafim de Jesus Lopes Fortuna, natural da Madalena, Vila Nova de Gaia, e que era um dos seus grandes amigos;

(ii) 1º cabo at cav José João Marques Agostinho, natural de Reguengo Grande, Lourinhã;

(iii) Sold at cav João Luís Pereira dos Santos, natural de Brejos da Moita, Alhos Vedros, Moita; e

(iv) Sold at cav Quintino Batalha Cartaxo, natural de Castelo, Sesimbra.

Mais tarde, em 4/11/1973, da mesma companhia morrerá, também em combate, Madaíl Baptista, natural de Carvalhais, Ponte de Vagos, Vagos. (Dados do portal Ultramar TerraWeb).

As fotos acima reproduzidas foram recuperadas do vídeo.  Espero que o Armando nos ceda cópias das originais, com maior resolução (**).

Esta CCAV 8353 tem um um blogue em construção, editado pelo Nuno Esteves. Até
a data da entrada do Armando Ferreira na nossa Tabanca Grande não tínhamos qualquer referência a esta subunidade. Temos alguns camaradas do tempo do Armando, e do BCAV 8320/72, que estiveram em Bula como o Fernando Súcio, o Leonel Olhero ou o José Alberto Leal Pinto.

Não confundir este BCAV 8320/72 com o BCAV 8320/73, a que pertenceu por exemplo  o Nelson Henriques Cerveira (fur mil enf, CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974).

O BCAV 8320/72 foi mobilizado pelo RC 3, partiu para o TO da Guiné em 21/7/1972 e regressou a 25/8/1974. Esteve em Bula, sendo comandado pelo ten cor cav Alfredo Alves Ferreira da Cunha. Era composto,  para além da CCS, pelas seguintes unidades de quadrícula: 1ª C/BCAV 8320/72 (Bula, Pete, Nhamate e Bissau); 2ª BCAV 8320/72 (Bula, Nhamate); e 3ª C/BCAV 8320/72 (Bula, BIssorã, Catió, Pete).






Guiné > região de Cacheu > Bula > CCS/BCAÇ 8320/72 (Bula, 1972/74) > Casa dos geradores > O fur mil Olhero vendo os estragos causados por um míssil. O Leonel Olhero, ex-fur mil cav, e nosso grã-tabanqueiro, pertencia ao EREC 3432 (Panhard), 1971/73.

Foto: © Leonel Olhero (2012). Todos os direitos reservados [Edição: CV]


2. Enquanto artista plástico,  e nomeadamente escultor, o nosso camarada Armando Ferreira tem participado em diversas exposições individuais e colectivas: Lisboa, Porto, Faro, Monsaraz,Torres Novas,  Alpiarça.  Está representado com obras em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Itália e Holanda. É também autor de cartazes, cenários interiores e exteriores para várias sessões comemorativas: festivais da canção infantil, encontros musicais, ilustração de livros infantis e designers for books. Tem diversas entrevistas, críticas e apreciações por nomes ligados á arte, publicadas em revistas, jornais nacionais, televisão e em várias obras literárias (Portugal e Espanha). (LG)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15287: Tabanca Grande (475): Armando Ferreira, ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353 (Cumeré, Bula e Pete, 1973/74)

(**) Último poste da série > 31 de outubro de  2012 > Guiné 63/74 - P10600: Vídeos da guerra (11): Sete anos no bacalhau em alternativa aos dois anos no ultramar: o filme A Outra Guerra (Portugal, 2010, 48')

13 comentários:

Cherno Baldé disse...

Caro Luis e amigos,

A foto n.7 deve ter sido tirada entre Junho a Agosto de 1974, no periodo de euforia do pos 25A74, nela estao elementos da guerrilha e jovens simpatizantes do PAIGC.

Sobre este periodo de transicao escrevi no Poste (P6864 - A mudanca das bandeiras em Fajonquito em 1974) de 17/08/10 o seguinte:

"Pela forma como os recebiam e se congratulavam, trocando pequenos presentes e “lembranças”, os soldados portugueses pareciam muito mais satisfeitos com o fim da guerra do que os guerrilheiros. Talvez pela primeira vez na história dos conflitos armados, um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante."

Com um abraco amigo,

Cherno AB

Luís Graça disse...

Mail acabdo de enviado pelo correio interno da Tabanca Grande:

Camaradas:


Os "periquitos", a malta que "fechou" a guerra, e que nalguns casos nem chegou a completar os tradicionais 21/22 meses da comissão no TO da Guiné, também estão a chegar ao nosso blogue, à nossa Tabanca Grande...

É malta já nascida em 1950, que se está a agora a reformar e a arrumar as "botas" e o "sótão das memórias", a começar pelas da guerra... É o caso, por exemplo, do nosso último grã-tabanqueiro, o membro nº 704 da nossa Tabanca Grande, o Armando Ferreira, ribatejano...

Não tínhamos até agora qualquer referência à sua CCAV 8353, que chegou à Guiné em meados de março de 1973... E depois de um mês de IAO, no Cumeré, foi para Bula. A 5/5/1973 teve logo o seu brutal batismo de fogo...

O Armando mandou-nos agora um vídeo, a pretexto dos 42 anos passados sobre esse dia.. É um grito de alma, a que ele chamou, com amarga ironia, "a ternura dos 20 anos"... Um grito de alma não é uma opinião, é uma amálgama contraditória de sentimentos e emoções, neste caso recalcados ou esquecidos estes anos todos...

Gostava que arranjassem um poucochinho de tempo para visionar este video, de 11 minutos e tal... E que o comentassem!...

O Armando é um homem de grande de sensibilidade, habituado a transformar ideias e emoções em obras de arte... É escultor.

Infelizmente, o nº de comentários no nosso blogue tem vindo a diminuir. O nosso servidor, o Blogger, criou agora um sistema de filtros que é irritante e aborrecido para quem quer comentar um poste... O objetivo é bem intencionado: é o de impedir os "robôs" de massacrarem o nosso blogue com SPAM, publicidade comercial e outras coisas indesejáveis e até perigosas...

Muitos dos nós, leitores, ao fim destes anos todos, também já estamos cansados... 12 anos de blogue são 6 comissões na Guiné, pelo menos!... Não há cristão, por muito santo, que aguente... (Só o Carlos Vinhal, que eu nem sei se é cristão e muito menos santo, temos de perguntar à Dina!).

Mas o Armando, como todos os novos que chegam à Tabanca Grande, merece uma palavarinha de saudação, empatia, camaradagem... O poste aqui está pronto a ser clicado, acedido, lido e comentado:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/10/guine-6374-p15291-videos-da-guerra-12.html

Um xicoração fraterno para todos/as. Luís Graça, em nome pessoal e dos demais editores, colaboradores permanentes e do resto do Tabancal.

Luís Graça disse...

... Por lapso,no mail original troquei Bula por Buba... Gralha irritante mas que se desculpa com as pressas de quem vem a casa, a correr, para almoçar...

Mas que me desculpe o Armando Ferreira e todos os camaradas que passaram por Bula, uns, por Buba, outros... È verdade que são dois topónimos que se confundem com alguma facilidade... Afinal, a diferença é a consoanate do meio (l ou d)... LG

José Botelho Colaço disse...

Gostei, adorei grande Armando Ferreira é mais um dos nossos ilustres erúditos tabanqueiros.
Um abraço
Colaço.

Unknown disse...

Benvindo camarada. Parece-me que foi marcado a fogo Há 42 anos.
Um abraço
José melo

Tony Levezinho disse...

Inevitável não nos revermos em muitas das passagens do texto declamado.
No entanto, perdoem-me a franqueza, o tom demasiado teatral da declamação, a querer imitar um Ary ou um Mário Viegas, belisca a sinceridade do contexto do estado de alma que levou o seu autor a sentir a necessidade de dar a conhecer o seu grito.
Não dexa por isso, em meu entender, de ser mais um contributo para a história coletiva de um Portugal colonial em agonia, ainda que, aqui e ali, possamos ter visões diferentes do pesadelo em que todos os combatentes se viram envolvidos.
Saúdo o Aramando Ferreira com um abraço, extensivo a todos os camaradas.
Tony Levezinho

Anónimo disse...

José Sousa PInto
26 out 2015 18:15

Camaradas

Visionei o vídeo do Armando Ferreira.

Respeito o sentimento que ele exteriorizou, mas depois dos meus 27 meses passados no teatro de operações e já casado com 4 filhos, deixei em algum momento, de sentir que cumpria uma missão Patriótica, para bem de Portugal e sobretudo para bem das populações autóctones,( neste caso da Guiné), pelo que, de forma alguma, me revejo nessas palavras.
Já voltei à Guiné por 3 vezes para participar em estudos de projectos para o desenvolvimento daquela Terra.

Encontrei-me 2 vezes com o Presidente Nino, antes da sua morte e falamos do que eu fiz como militar de Portugal e do que eu pensava à cerca do que teria sido melhor para a Guiné. Compreendemos anbosas situações e fizemos amizade.

Não dou, de todo. como perdido o tempo que permaneci na Guiné, apesar do atraso que isso me provocou no arranque da minha vida profissional e foi muito, mas valeu a pena por Portugal.

As maiores felicidades e muita saúde para todos os Camaradas, Tambanqueiros , ou não.

Sousa Pinto

Mário Vasconcelos disse...

Ao Armando Ferreira, militar no teatro de operações da Guiné e ao cidadão português que transporta a raça que cumpre e sofre, endereço a minha saudação de amizade.
Sendo a escultura uma arte representativa de relevos, ela vive-se aqui na ilustração de sentimentos e vivências passadas, mas nunca esquecidas. Um clamor pessoal que a todos envolve.
Um abraço sentido, que abarca todos os camaradas.

Antº Rosinha disse...

O Cherno Baldé é que nos topa.

O Cherno quer dizer muitas outras coisas, mas o que vai dizendo já não é pouco.

Tem que ser devagarinho, não é Cherno?

"um dos beligerantes que, para todos os efeitos, tinha perdido a guerra, parecia estar feliz por não ter vencido. Era compreensível mas nem por isso deixava de ser intrigante."


A. Murta disse...

Tem toda a razão o Cherno Baldé quando diz que um dos beligerantes parecia estar feliz.

Mas está completamente enganado quando diz que "parecia estar feliz por não ter vencido". Não, camarada Cherno, não era por não ter vencido, (que disparate!), era por ter sobrevivido àquela guerra, por não ter sido dilacerado por ela e, razão não menos importante, saber que podia regressar a casa e à Pátria, coisa que, até ao fim das hostilidades, nunca teve como certo.

De passagem refiro que a fotografia nº 3 deste poste foi tirada no Uíge, dado que é referida a partida em 16-03-1973. Eu também vinha nele e devo-me ter cruzado com o Armando Ferreira, mas os nossos destinos tiveram rumos diferentes após a chegada à Guiné no dia 22-03-1973: em fui direitinho a Bolama com o meu BCAÇ 4513 e o Armando foi para o Cumeré com a sua CCAV 8353.
Aproveito para lhe dar as boas vindas e um grande abraço de "periquito" para "periquito", com a certeza de que os "periquitos" já não irão mais para o mato, mas que a "velhice" pode ir no Bissau quando quiser...

Abraço para todos
A. Murta.

Anónimo disse...

Amigo e camarada Armando Ferreira!
Um texto tem que ser interpretado e ganha qualidade e força a partir de quem o faz com a alma e a garra que tu imprimiste à leitura das tuas palavras. Quero mandar-te um forte abraço de solidariedade e fraternidade, extensivo a todos os que sentiram na pele e na alma as agruras dum tempo que jamais esqueceremos.

Eduardo Estrela (Ex, Fur. Mil. da C Caç. 14)

Unknown disse...

Esse dia 5 de maio de 1973 permaneci todo o dia em capunga assisti á chegada dos nossos camaradas vitimas dessa maldita guerra, chegaram reforços paraquedistas a capunga ,quando os misseis começaram a cair em bula ,a nossa primeira refeição foi em pete após termos transportados os nossos camaradas que regressaram dessa operação .
Fernando Súcio soldado condutor do batalhão- 8320.






fercorte.ferramentas@gmail.com disse...

Amigo Amando, vi aqui a tua fotografia e lembrei-me de ti.
Eu era furriel miliciano da CCS do BatCavª 8320/72, por isso convivemos na mesma messe do quartel de Bula.
Lembro-me perfeitamente dos militares da tua companhia que faleceram em combate numa operação que fizeram na terrível mata do Choquemone. Aquele mês de maio de 1973 foi horrível.
Estive até de serviço na capela do quartel onde jaziam 7 militares, 4 brancos e 3 negros (milícias). Entre eles encontrava-se o teu companheiro fur. mil. Fortuna. Eu tomei conhecimento porque alguém comentou "...até o furriel Fortuna morreu!...."
Confesso que não me lembro da cara dele. Quando me "tocou" o serviço eu evitava olhar para o rosto daqueles infelizes que tombara em combate.
Felicidades
João António Ferreira