segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15488: Álbum fotográfico do Manuel Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68): estava em Bissau quando chegou, em visita oficial, o então presidente da república, alm Amércio Tomás, em fevereiro de 1968


Fotop nº 8 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Palácio do Governador > O presidente Américo Tomás, tendo à sua direita o ministro do ultramar, Silva Cunha, cumprimenta, um representante da comunidade local [, possivelmente o deputado Pinto Bull]


Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império e Palácio do Governador > A população da cidade, com cartazes com dizereres como "Viva Portugal", aguarda a chegada do "homem grande" de Lisboa, que acabava de desembarcar do N/M Funchal, vindo de Cabo Verde.



Foto nº 6 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império e Palácio do Governador >  Mais um aspeto da multidaão que se concentrou para dar as boas vindas ao presidente Américo Tomás


 Foto nº 2 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império >  As "forças vivas" da província, com os régulos à frente (1)


Foto nº 3Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império >  As "forças vivas" da província, com os régulos à frente (2)



Foto nº 5 Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 >  Visita do presidente da república > A criançada correndo atrás do cortejo automóvel

 Foto nº 7 > Guiné > Bissau > Feevereiro de 1968 > Praça do Império  >  Visita do presidente da República > Dançarinos balantas



Foto nº 4 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império  >  Visita do presidente da República >  Coro feminino fula



Foto nº 10 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Frente ao palácio do Governador...


Foto nº 9 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Frente ao palácio do Governador... Quando o cigarro, em cerimónias oficiais, não social e politicamente incorreto...


Guiné > Bissau > Praça do Império > Fevereiro de 1968 >  Palácio do Governo e Praça do Império >  Visita do presidente da República, alm Américo Tomás, acompanhado do Ministro do Ultramar, Silva Cunha. Era então governador da província e com-cehefe o gen Arnaldo Schulz, em final de mandato. O nosso camarada Manuel Coelho estava lá, de máquina em punha, em final de comissão. E quis partilhar connosco estas imagens que têm as leituras que cada um quiser dar.


Fotos: © Manuel Coelho (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; LG]


1. Fotos do álbum do Manuel [Caldeira] Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)].


O então presidente da república, alm Américo Tomás iniciou, em 2 de fevereiro de 1968,  uma visita oficial às "províncias ultramarinas" de Cabo Verde e da Guiné.

Chegou a Bissau, no N/M Funchal  e foi recebido, no palácio do governador e na praça do Império, a "sala de visitas" da capital, com as honras que lhe eram devidas. O Manuel Coelho, misturado na multidão e no grupo dos fotojornalistas que fizeram a cobertura do evento, registou, para a posteriudade, alguns aspetos da manifestação popular de boas vindas e de apoio. Não faltaram os régulos, fardados a rigor, bem como grupos de músicos e dançarinos que mostravam a diversidade étnica da Guiné (mulheres fulas, homens balantas)... Naturalmente, que o regime da época quis tirar os dividendos políticos (e até dipomáticos) do sucesso desta visita, reafirnando o "patriotismo dos guinéus" e o repúdio pelo terrorismo do PAIGC. A conjuntura político-militar era então delicada: Salazar ainda estaria no poder, até ao fatídico dia 3 de agosto de 1968, quando cairá da famigerada cadeira, no forte de Santo António, no Estoril, em período de férias. Portugal estava cada vez mais isolado no seio das Nações Unidas. E a herança (militar) de Schulz não era famosa. Seria substituída por Spínola, dentro de poucos meses.

Há, no sítio do Arquivo Histórico Ultramarino, mais de 1400 fotos desta visita [a Cabo Verde e à Guiné], da autoria do fotógrafo Firmino Marques da Costa, da Agência Geral do Ultramar. Podem ser visualizadas aqui

Nas  fotos relativas à Guiné podemos ver os cartazes de saudação do pessoal do porto de Bissau. A multidão encheu a praça do Império, empunhando cartazes de apoio à política ultramarina do Governo. No palácio recebeu os cumprimentos, entre outros,  de uma comitiva com a comunidade muçulmana. Noutra foto vemos Américo Tomás e Arnaldo Schulz recebendo as saudações dos clubes desportivos. Sabemos que houve  também missa e procissão, que partiu da catedral de Bissau, e onde se integrou o chefe de Estado. Enmfim, o cerimonial do costume, nestas visitas... Há também imagens de alguns locais no interior (por exemplo, Bafatá), se bem que as legendas sejam muito lacónicas e imprecisas.


2. O Manuel Coelho mandou-nos estas fotos há já alguns dias, e só as podemos publicar hoje por falta de tempo para as editar... Entretanto, no passado dia 9 recebemos a seguinte mensagem:
 Caros Editores do Blogue, enviei algumas fotos de quando Américo Tomás visitou a Guiné, mas
pensando melhor, e dado que ainda não foram publicadas no blogue, é melhor ficar sem efeito essa publicação,  pois dá uma certa aparência de louvor à mesma  visita, o que não é minha intenção.
No entanto ficam essas fotos em vosso poder para utilizarem como melhor entenderem.


Com amizade,
abraço, Manuel Coelho

A nossa resposta, de imediato,  foi a seguinte:

Manel, acuso a receção das fotos.. Obrigado, pela tua generosidade e gentileza... Vamos publicá-las, pois claro, têm muito interesse diocumental,,., A guerra já acabou, já não há mais propaganda, de um lado e do outro... Queremos agora recordar, compreender, explicar, dar a conhecer, divulgar... Fica descansado, faremos bom uso deste teu precioso material, e dando-te todos os créditos fotográficos... Um alfabravo fraterno. Luis.

Mais recentemente ele mandou-nos este recorte, digitalizado, de uma carta que deve ter mandado para a metrópole para os pais ou amigos,  com o seguinte teor:



Transcrição: 

"Cá [, em Bissau,] assisti à visita do sr. Presidente da República e tirei alguams fotos (poucas) em que aparaecde ele e os "Granjolas" e outras onde aparece o povo aglomerado em frente do Palácio do Governador. Tive de me misturar com aqueles profissionais dos jornais e rádios, lá consegui furar até eles, bastante  perto das entidades todas. Depois verão a reportagem".

6 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas
Nessa altura surgiu uma quadra sobre o acontecimento:

Levo a Guiné no coração,
A Gertrudes no beliche,
As prendas vão no porão,
Que cá ficar que se lixe.

A Malta é, de facto, terrível quando se trata de gozar com os acontecimentos.
Mas não creio que a visita presidencial tivesse tido grande impacto e popularidade entre os militares. Civis? Eram poucos (os metropolitanos) e os guineenses faziam o que eram levados a fazer.

Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Havia mais curiosidade e entusiasmo nestas recepções por parte dos africanos do que pelos metropolitanos colonos brancos e mulatos.

Estas fotos são fabulosas, elas falam, elas reflectem muitas coisas.

Embora tenha havido mobilização para juntar tantos régulos, havia da parte dos régulos muito entusiasmo, muitas esperanças, e muita fé principalmente numa imagem que tinham de Salazar, ou de quem viesse da Metrópole.

Passados mais de 20 anos, havia bandeiras portuguesas escondidas debaixo do chão.

Manuel Coelho não seria fotógrafo profissional mas parece, vejam o enquadramento dos fardados para a recepção e o povo apenas curioso, e a cara de expectativa das pessoas pretas.

As fotos retratam uma boa organização na segurança, pela PIDE.

Vejam na foto 2, dois calcinhas em primeiro plano, de mãos nos bolsos, um deles com relógio de pulso, nitidamente vigiavam, para mim aquilo era PIDE.

Não creio que fossem PAIGC.

Claro que eu vejo diferente de muita gente, porque eu sei que poucos presidentes de junta de freguesia em Portugal tinham mais fé em Salazar do que muitos velhos régulos africanos.

Mas esta recepção é uma amostra de recepções em Angola.

Marcelo Caetano teve uma recepção em Luanda de multidões na extensão de mais de 3 a 4 quilómetros, onde os brancos nem se atreveram a misturarem-se, até por precaução.

Só de Janelas e de longe é que se podia espreitar, tal o respeito que incutia ver aquelas multidões a dançar e a fazer coros nos idiomas indígenas.

Se houvesse barafunda não havia forças que resolvessem.

Os Régulos sabiam o que "não queriam".

Paciência, agora até a Gâmbia já é um Estado Islâmico.

Gostei imenso destas fotos.

Luís Graça disse...

Obrigado, Manuel, tens muito jeito para a fotografia... Davas um grande fotojornalista!... Adoro as fotos nº 9 e 10... São "bonecos" bem apanhados... A nº 9 merecia melhor resolução... A dos régulos, também está bem apanhada... Algumas "editei-as", procurando um melhor enquadramento...

Foi pena não teres na altura uma bom "zoom"... Era um luxo, nessa época...

Ainda bem que nos mandaste este material!... Algumas das melhores fotos que já aqui publicamos são tuas... Estou-me a lembrar a do "djubi" com uma G3 mais pesada do que ele, tirada em Madina do Boé... O "menino-soldado"...


http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2014/12/guine-6374-p14005-minha-maquina.html


Vê se rapas bem o teu baú... e descobres mais preciosidades destas...

Ainda fazes fotografia hoje ? ...

Um abraço. Bravo Foxtrot (Boas Festas). Luis

Luís Graça disse...

Tó Zé:

Sempre o espírito "galhofeiro" e "sarcástico" do português, aquém e além-mar, ontem e hoje... O Zé Povo, o Zé Povinho, anónimo, mal tratado, espezinhado... Mas a verdade é que as nossas elites passam, e o Zé esse continua, esse fica... Não sei até onde, quando e como, mas fica... A nossa história é também, e sobretudo a da grande capacidade de "resiliência" dos portugueses...

Não conhecia estes versos, são de antologia!... Vamos ter que fazer um poste para os enquadrar melhor e dar-lhes mais visibilidade... Eles passarão a fazer parte do nosso Cancioneiro da Guiné... Obrigado, Tó Zé, pela lembrança natalícia!... É uma verdadeira prenda para quem, como eu, adora a poesia a popular e aprecia o sentido de humor como um sinal superior de inteligência...


Levo a Guiné no coração,
A Gertrudes no beliche,
As prendas vão no porão,
Quem cá ficar que se lixe.

Vou publicar um intervenção, na Assembleia Nacional, do deputado guineense James Pinto Bull (193-1970), dias depois da viagem do presidente da República à Guiné e Cabo Verde...

Antº Rosinha disse...

Manuel Coelho, não és coelho de ficar na toca.

Nem na toca nem no armário.

Tabus ao fim de tantos anos?

Ainda existe muita inibição dos vários pontos de vista, porque a demagogia colonial foi muito pesada, mas a demagogia anti-colonial foi tão dominante e tão primária que se perdeu toda a noção da realidade.

Devemos pôr tudo cá para fora, tal como a vimos e deve haver por aí mais algumas fotos.

Cumprimentos



António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Embora não esteja na nossa "área de interesse", julgo eu creio conveniente fazer algumas considerações sobre o "Zé Povinho". Considero-o, a par da Maria da Fonte, uma personagem de cunho negativo. Criado (e muito bem) pelo Rafael Bordalo Pinheiro inserido numa corrente artística de critica social que percorria a Europa do tempo, o nosso Zé caracteriza-se pelo desrespeito pelos poderes constituídos e pelos políticos em geral. Curiosamente, deixa de fora e não ataca os "ricos" que nesse tempo teriam as características que sempre tiveram e continuarão a ter...
O Zé Povinho sofre a opressão com um estoicismo doentio e verdadeiramente bovino e isso não pode considerar-se positivo. Nunca se subleva. Termina sempre as suas actuações com o manguito o que não resolve nada até porque os ditos poderes e os políticos nem se dignam olhá-lo e continuam o seu caminho, como se nada se tivesse passado.
Porém, o Zé fica muito consolado com o seu acto. Se as suas avaliações da situação política e social são certeiras e inteligentes tudo se fica por ali. É provável que Raphael Bordalo Pinheiro não pudesse pôr o seu personagem a revoltar-se e a tomar atitudes de violência, mas assim o Zé Povinho acabou por se tornar - um tanto abusivamente - um símbolo de um país povoado de malcriados, estóicos, mas pouco actuantes...
O resto já sabemos.

Um Ab.
António J. P. Costa