terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15492: Inquérito 'on line' (23): cerca de 57% dos respondentes, num total de 81, admitem que já caíram (ou foram tentados a cair) no 'conto do vigário', uma ou mais vezes, e sobretudo na vida civil...


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O fur mil op esp José Casimiro Carvalho, contando o patacão... Não, não se pense que foi ganho ao jogo (vermelhinha, lerpa) ou através do "conto do vigário"... É dinheiro honesto (*), daquele que custava... "sangue, suor e lágrimas"... Mesmo assim, quem não conhecer o Zé Casimiro até pode (ou podia) ser levado  a pensar que   ele estava a contar o "conto do vigário" à sua querida mãezinha para justificar a guita gasta...  em Bissau & arredores:

"[Carta] Cumeré, 12/7/73: Querida mãezinha: São 400$00, porque não autorizam a mandar mais, e só ficamos aqui com 1000$. Ontem fui a Bissau, e almocei lá, comprei umas coisitas, ‘roncos’ assim como fios com uma figurinha para pôr ao pescoço, uma carteira de pele de jibóia (50$00, candonga); e tirei fotografias num fotógrafo, 3 x 100$00… Sem saber como foram co’ caraças 300$00, não se pode ir a Bissau, no mato ao menos o dinheiro chega." (...)

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


I. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "SIM, JÁ CAÍ (OU FUI TENTADO A CAIR) NO CONTO DO VIGÁRIO" (RESPOSTA MÚLTIPLA)


1/2. Sim, pelo menos uma vez, na vida civil (n=25) e/ou na vida militar (n=6) (Total: 34)
42,0%


3/4. Sim, mais do que uma vez, na vida civil (n=9) e/ou na vida militar (n=3)(Total: 12)
(14,8%)

 5. Não, nunca caí (ou fui tentado a cair) (n=28)
(34,6%)

6. Não sei / não me lembro (n=7)
(8,6%)

Votos apurados: 81
(100,0%)
Inquérito 'on line' fechado em  14/12/2015 | 6h39 (**)


II. Comentário do editor:

A peluda é mais propícia ao 'conto do vigário' do que a tropa: é o que se pode concluir desta breve inquirição junto dos nossos leitores... O que até se compreende: o controlo sobre os vigários é mais apertado, há o Regulamento de Disciplina Militar (RDM), etc., o que não quer dizer que dentro das quatro paredes de um caserna não possa haver otários e vigários ou vigários e otários (a ordem é perfeitamente arbitrária): um não existe sem o outro...Obrigado a todos/as que responderam.

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  28 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3370: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (6): O nosso querido patacão

3 comentários:

Henrique Cerqueira disse...

Eu estava a achar que este tema nada tinha a haver com a minha passagem pela Guiné.No entanto e já que falamos no conto do "Vigário"eu caí sim.E se atendermos a que caímos no "conto" porque está-mos de boa fé em relação á pessoa que nos irá vigarizar então aí já considero ROUBO. E se por acaso quem nos vigariza sabe que estamos fragilizados moral ou psicologicamente e o "vigarista" tem ainda a obrigação pelo cargo que ocupa de criar confiança no "vigarizado", eu aí sim confirmo que fui "BEM VIGARIZADO". E por quem?
Precisamente pelos responsáveis máximos da companhia que eu fui render no Biambe em 1972.
Já aqui contei esse episódio e até a talho de foice como uma estória divertida.Mas mesmo assim não deixou de ser uma vigarísse que na altura me deixou um pouco em maus lençois.E então qual foi a vigarísse?
No processo de rendição tocou-me a mim ser o primeiro responsável pela gestâo do Bar,pois que era uma norma que já vinha de trás (eu agora penso que foi tudo estudado para me vigarizarem) já que havia vagomestre na companhia.Então ao me entregarem os produtos existentes em armazém,o de maior quantidade era de caixas de latas de Compal. Então os Vígaros com a conivência do capitão e Sargentos colocaram um grande lote de caixas no fundo só com latas vazias e duas fiadas de caixas por cima com latas cheias.Escusado será dizer que devido à minha ignorância em vigarizar e também à minha boa fé em pessoas com cargos superiores na hierarquia militar à qual devia obediência eu fui assim ALTAMENTE VIGARIZADO.
Um abraço aos meus camaradas da companhia que rendi e restantes que me vigarizaram.
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

Obrigado, Henrique, pela tua história... Fiquei surpreendido, neste inquérito, pela baixa percentagem de "contos do vigário" na tropa... Mas muitos de nós temos histórias de pequenas/grandeas vigarices (e canalhices) para contar, como aquela que contaste...

Falta-nos o tempo, a pachorra, o engenho... Muitos de nós, que caímos (ou fomos tentados a cair) no conto do vigário, na tropa e na Guiné, dirão hoje: "O que lá vai, lá vai"... Percebo que o tema não tenha despertado o mesmo interesse de outros, anteriores... E a época não ajuda... Mas no fundo ninguém gosta de reconhecr que foi lorpa (ou passou por lorpa)... Muito menos na tropa... Éramos todos Adalbertos, xicos espertos... Abraço, boas festas! Luís

Henrique Cerqueira disse...

Amigo Luís
Antes de mais um abraço e votos de Boas Festas para ti e para toda a família.
Em relação ao tema das "Vigarisses"na tropa e complementando o teu comentário eu reconheço que será um pouco melindroso pois que seria necessário dar o nome aos "bois" tal como se diz na minha terra e penso que não será necessário agora passados estes anos todos e muito menos aqui no nosso blogue. Pois que considero este espaço tão sagrado que não merece ser "conspurcado"com algumas das nossas más experiências na altura. Já me serviu de lição quando contei aqui à tempos a minha passagem de Natal na Guiné e que foi muito mal recebida pelos intervenientes a quem eu muito ,mas muito sinceramente lhes desejo tudo de bom.
E depois naquela altura todos nós já ia-mos de certo modo preparados para a tropa para sermos mais ao menos "vigarizado" e até avisados que depois de "conquistada a nossa"velhice" se fosse necessário pagar da mesma moeda.Era a lei do desenrasca.Só que aí e no meu caso teria forçosamente de entrar a minha educação moral o que aconteceu.
Bom mais um abraço a todos os nossos camaradas tabanqueiros e boas festas para todos.
Henrique Cerqueira