segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16412: Notas de leitura (873): "O que a Censura cortou": notícias da Guiné, por José Pedro Castanheira (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Este livro de José Pedro Castanheira, que ainda é possível adquirir a um preço próximo de 11 euros, comprando três números do Expresso de 2013, permite-nos dimensionar quem eram os grandes alvos do exame prévio, a natureza dos corpos arbitrários, tantas vezes improcedentes e inconsequentes. É ridículo o que se cortou da biografia de Amílcar Cabral, até partir para a clandestinidade. O que Augusto de Carvalho escreveu sobre Spínola foi considerado incendiário, atirado para o balde; o abate e aviões nos céus da Guiné, assunto altamente controlado e nem a fotografia do capitão Peralta em julgamento escapou ao lápis azul.
Hoje são simples curiosidades de um mundo execrável que os mais novos não conhecem. É bom rever as imagens. Foi assim.

Um abraço do
Mário


Jornal Expresso, o que a censura cortou: notícias da Guiné

Beja Santos

O jornalista José Pedro Castanheira apresentou assim a génese deste livro surgido em 2009 e republicado pelo Expresso em forma de três cadernos em 2013:  
“Em Janeiro de 2008, comecei a escrever no Expresso uma coluna chamada ‘O que a Censura cortou’. A ideia era registar, semana após semana, os cortes efetuados pela Censura 35 anos antes. Foi uma das iniciativas tomadas para assinalar os 35 anos do semanário. O objetivo era não apenas revelar os efeitos da Censura no Expresso, mas tentar mostrar, a partir de um caso concreto e exemplar, o que ele significara no jornalismo português e na própria vida de uma nação. Uma compilação dos textos viria a ser editada em livro em Abril de 2009. Esta é uma reedição desse livro, que se julgou oportuna no âmbito das muitas iniciativas que serão realizadas ao longo de 2013 para comemorar os 40 anos do Expresso. Diferentemente do livro de 2009, este será dividido em três partes, oferecidas aos leitores juntamente com as edições do jornal de 19 e 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 2013”.

Esclareço o leitor que adquiri recentemente estes três números do Expresso, que ainda não estão esgotados, com o custo aproximado de 11 euros. Não vamos falar da Censura, vamos só exemplificar o que foi censurado no Expresso entre a sua data de lançamento, em 6 de Janeiro de 1973 e 25 de Abril de 1974, com notícias referentes à Guiné. Em 27 de Janeiro de 1973, o Expresso pretende abordar o assassinato de Amílcar Cabral. A Censura cortou na íntegra a biografia de Amílcar Cabral, o jornal protestou e a notícia veria a ser parcialmente autorizada. Na notícia davam-se informações totalmente inócuas, como é o caso de: “Praticando diversos desportos, pertenceu à equipa de futebol da Casa dos Estudantes do Império, que chegou a ganhar o campeonato popular de Lisboa. A sua habilidade mereceu-lhe dos colegas o cognome de ‘cabecinha de ouro’". Augusto Carvalho, a pretexto deste assassinato, vai a Bissau, traça um perfil do governador da Guiné, a Censura corta que se farta: “Foi geral a ideia que conseguimos escolher em meios muito próximos do general: que os governadores-gerais ser campeões dos movimentos de africanização enquadrada num contexto federativo do todo nacional, onde a língua seria o cimento a unir a diversidade de culturas que enriqueceriam uma pátria comum, espalhada pelos quatros cantos do universo” e a Censura revela-se inclemente quando o jornalista escreve: “Spínola é um demagogo (…) disse-nos um representante do PAIGC com quem conseguimos contactar em Bissau. Como é natural, Bissau está cheia de elementos da organização guerrilheira. Espiões e espiados ao mesmo tempo” e escrevia-se mais adiante a propósito de Aristides Pereira como o sucessor de Cabral à frente do PAIGC: “A formação portuguesa é comum a todos eles e todos insistem num ensino do português nas escolas do PAIGC como idioma de entendimento entre as diversas etnias”.


Em 6 de Outubro o Expresso pretende falar dos primeiros aviões abatidos na Guiné-Bissau, e cita a France Presse onde se dizia que o número de perdas em aeronaves ascendia a 25, desde Março. A notícia fora proibida pela Censura. E vem a seguir uma curiosidade: “Um atraso ou uma qualquer deficiência de comunicação levou a que fosse posta em página. Quando os responsáveis do semanário souberam da inclusão de uma notícia proibida, mandaram para a impressora e substituíram-na por uma breve acerca da visita a Bona do primeiro-ministro do Japão, Tanaka. A infração quase passaria despercebida não fosse a denúncia do matutino de ultradireita Época”.


Falando por mim, foi a ler o livro de José Pedro Castanheira que vi a fotografia do capitão Peralta, capturado na operação Jove. Peralta foi condenado a dez anos e um mês de prisão. O Expresso quis publicar na capa uma foto sua, a censura só autorizou a legenda.


Para Balsemão, se não fosse o 25 de Abril, o Expresso seria forçado a fechar, era totalmente impossível continuar a publicar num jornal que a Censura mutilava nos sucessivos exames. No final do ano de 1973, Marcello Rebelo de Sousa fazia o balanço do ano, levou 24 cortes, o que se dizia sobre o Ultramar era impensável, não se podia falar do Congresso dos Combatentes, nem dos oficiais que apoiavam Spínola, nem das homilias do Padre Mário, de Macieira de Lixa. Entrara-se num período tormentoso onde era totalmente proibido falar em aumentos de preços, greves, uma entrevista a Álvaro Cunhal, por exemplo. À guisa de conclusão escreve-se que das 58 edições o número de artigos que vieram da Censura pelo menos com uma mancha azul foi de 1584. Não deixa de ser revelador que em todas as edições do Expresso tenha havido pelo menos um texto cortado na íntegra. O recorde deu-se a 3 de Fevereiro de 1973, quando o carimbo ‘proibido’ foi usado 18 vezes. A grande história da semana era uma reportagem com o General Spínola em Bissau.

E uma última nota, digna de ponderação: “Nos seus primeiros 16 meses de vida – e pese embora a Censura – o jornal acompanhou, nos locais, tudo quanto demais importante se passava de interesse para Portugal e para os portugueses. Foi à Guiné quando Amílcar Cabral foi assassinado e acompanhou o comando sui generis de António de Spínola; esteve na zona de Wiriamu, para tentar fazer o rescaldo do famoso massacre; acompanhou Caetano na sua importante deslocação a Londres; trouxe reportagens de Angola e revelou a até então desconhecida e misteriosa Macau. Assistiu às grandes pelejas parlamentares dos deputados liberais, foi ao Congresso da Oposição em Aveiro, cobriu de forma exemplar as eleições para a Assembleia Nacional. No plano externo, assistiu às importantes eleições em França, enviou repórteres à África do Sul, Suazilândia e Japão, testemunhou o importante Consistório de cardeais no Vaticano, cobriu os primeiros dias da ditadura de Pinochet no Chile bem como o golpe dos coronéis na Grécia, acompanhou a instabilidade do franquismo. Muitas dessas grandes reportagens tiveram a mesma assinatura: Augusto de Carvalho, o grande repórter dos primeiros anos do Expresso e seguramente um dos grandes repórteres portugueses”.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16401: Notas de leitura (872): “Subsídios para o estudo da circuncisão entre os Balantas”, por James Pinto Bull (Mário Beja Santos)

11 comentários:

antonio graça de abreu disse...

Longe de mim defender a Censura ou o regime político de então. Basta consultar o meu processo na PIDE que seguia os meus passos desde Outubro de 1967. Ver Arquivo Nacional da Torre do Tombo, PIDE/DGS, Procº. 9175 C7 (2) – NT 7555.
Mas uma coisa é a execrável Censura Prévia, outras são as aldrabices que se escrevem, ou não são publicadas porque se diz que a censura não deixa. E depois circulam clandestinamente como verdades. Não sei se repararam que se anunciava então, como verdade, que o PAIGC tinha abatido três Fiats em Setembro de 1973 e um total de 25 aviões desde Março de 1973.Há gente que continua a acreditar nestas aldrabices. E a divulgá-las. Porque será que o Mário Beja Santos não se deu ao cuidado de fazer um pequeno comentário a estas notícias falsas? A verdade dos factos, a verdade da nossa História comum foram cinco aviões abatidos em Abril de 1973 mais um Fiat em Copá, Janeiro de 1974.
Esta a verdade da nossa guerra, não é para cada um sua verdade, não estamos a discutir a verdade do sexo dos anjos, não estamos a discutir pilas ou vulvas entre as perninhas mimosas dos rechonchudos anjos que voavam pintados na fuselagem dos Fiats, na traseira dos DOs e eram abatidos pelos impetuosos e viris mísseis Strela.

Abraço,

António Graça de Abreu

Carlos Vinhal disse...

Agora sim compreendo porque, estando eu em 1971 na esplanada do Café Império, vi a Praça com o mesmo nome repleta de Fiats G91 estacionados à sua volta. É que tendo nós tantos desses aviões, havia que os estacionar onde ainda houvesse espaço.
É na verdade lamentável publicar notícias nojentas a coberto de serem originárias da France Press. Jamais o PAIGC abateu 25 aviões portugueses na Guiné, nem em Setembro de 1973 foram abatidos 3.
Uma coisa é (era) combater a guerra colonial, outra é (era) mentir descaradamente para o efeito.
Ainda hoje se lembram e honram os "heróis" desse tempo, jornalistas que informavam conforme a ideologia que lhes pagava melhor.
Como se dizia então: A Bem da Nação.
Carlos Vinhal
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732
Guiné, 1970/72

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Temos uma grande tendência para ver a árvore e nunca a floresta. O que está aqui em causa é a censura (mais tarde, cinicamente rebatizada de "exame prévio", no consulado de Marcelo Caetano). Obviamente esteve mal o Expresso, na sua edição de 6 de Outubro de 1973, ao falar (tardiamente) nas aeronaves abatidas pelos Strela desde março e, sobretudo, ao citar a France Presse "onde se dizia que o número de perdas em aeronaves ascendia a 25, desde março"...

A nossa FAP (pobreta mas valente!) não devia ter ao todo muito mais aeronaves, em Bissalanca, em 1973, e hoje (!) sabemos que, felizmente, foram só 5 (cinco!) as aeronaves abatidas pelo IN... Mas isso não deve/não devia ser motivo de honra para ninguém. Se algum mérito cabe aos nossos camaradas da FAP (que foram uns heróis!), o grande desmérito vai para os (des)artilheiros do PAIGC.

O que me envergonha (e ainda me revolta) hoje é que é ter nascido em 1947, governado por um ditador, e ter passado quase 30 anos da minha vida debaixo de um regime de ditadura que teve na censura e na PIDE dois pilares fundamentais da sua longevidade e perversidade...

Hoje sei muito mais do que se passou, no mneu país, entre 1961 e 1974, do que no tempo em que fiz a tropa e a guerra (1968/71)... Roubaram-me quase trinta anos da minha vida (com os da Guiné a contar a dobrar!)...e não posso apresentar queixa a ninguém, muito menos em nenhum tribunal, nacional ou internacional...

Antº Rosinha disse...

Mais uma boa achega esta da censura.

Sem estas histórias também não ficava bem escrita a história da Guerra do Ultramar, que aqui pretendemos seja contada e bem esmiuçada.

Em guerra, em qualquer guerra, há censura, noticias e contra-noticias.

E neste caso concreto, devido ao nosso feitio lusitano em que estamos muitas vezes divididos no essencial, a censura funcionou muitas vezes em sentido contrário ao pretendido pelo governo de Salazar e de Marcelo Caetano.

Os boatos intencionais eram lançados com mais crédito entre o povo que estivesse atento, do que as notícias censuradas ou não.

Desde casos como a morte de Cabral que sempre e ainda hoje há muito ingénuo lusitano que aceita essa, da PIDE e Spínola serem os mandantes, lançada pelo PAIGC e Rússia e Cuba, também em Angola se "engolia" essa ideia como normal.

Afinal nem os guineenses querem dar essa primazia à gente.

Mas tudo porque a ideia da censura funcionava ao contrário, via-se mais tarde.

Até o caso do Santa Maria e Henrique Galvão, a censura funcionou ao contrário, em que Galvão ficou para o povo como o grande herói, quando não passou de segundo plano, o verdadeiro organizador e cabecilha foi um galego anti-franquista.

Por causa da censura, ampliávamos as coisas em sentido contrário e dava-se vazão a boatos preparados e espalhados em favor dos oposicionistas ao governo.

Sim porque se o jornalista do Expresso sabia, rádio France Internacional sabia, Rádio Praga, Rádio Moscovo, a voz da América, Rádio Tirana, todos sabiam em bom português e em bom brasileiro conforme o fuso horário, para que servia a censura?

Nem para o pároco da aldeia e seu presidente da junta servia, que nem luz eléctrica tinham para ligar o rádio nem a carreira chegava lá para levar o jornal.

Continua Beja Santos, mas de vez em quando contextualiza.

Por causa da censura, enfiou-se cada barrete a seguir ao 25 de Abril, que só de me lembrar de certas coisas até córo.

A censura acabou e o Último Tango em Paris ia correr sem «cortes», isto é, valia tudo.

A bicha para as matines e soires, ia do São Jorge até 100 metros para baixo.

Era com cara de parvos dos que estavam a sair que olhavam para a bicha dos que estavam comprando o bilhete e nem avisavam que a margarina do Marlon Brando não prestava, «que não vás nesse carreiro», mas fui também.

A censura fazia o que podia, mas como tudo em nós, nada foi muito rigoroso e perfeito.

«Caíram muitas no chão»

Era mais gato escondido com rabo de fora.





António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

A censura em tempo de guerra existe sempre e por motivos que são aceites por quase toda a gente.
No caso da censura em Portugal (1926-74) a caso é claramente patológico e podemos considerá-lo dividido em duas partes: uma até ao início da guerra (exclusivamente virada para o interior e procurando condicionar a opinião pública) e outra daí para a frente (incidindo sobre a opinião pública metropolitana à qual se adicionou uma censura com características de censura "de guerra". Nesta fase e nos últimos anos do regime, até podemos detectar um certo abrandamento da censura a nível interno. Era a tal abertura, conhecida como Primavera Marcelista.
Creio que o modo estúpido, irracional e muito mesquinho como foi exercida, quando incidindo na opinião pública metropolitana, até à morte do Salazar chegou a ser ridículo. E não faltam exemplos.
Contudo, a censura "de guerra" tem sempre um inimigo à sua altura: a propaganda levada a cabo pelo In (normalmente grosseira e facilmente desmontável) e a que as facções anti-guerra conduzem, normalmente como mais habilidade e repetindo uma parte da verdade a granel com a falsidade inerente à contra-propaganda.
Creio que um pouco de censo por parte das "autoridades", evitando excessos de rigor e procurando que as notícias que vinham a público não surgissem distorcidas, como todos conhecemos, teria sido bem mais "benéfica".
O caso que tem como base o texto do expresso só se justifica por inabilidade das "autoridades" e excessiva "agressividade" do jornalista.
Porém, estou de acordo com o Balsemão quando a firma que o "Espesso ou Espeto" seria encerrado se não se desse o 25ABR.

Um Ab.
António J. P. Costa

Manuel Luís Lomba disse...

Felicito o Mário pela sua persistente militância em nos comunicar coisas.
A censura tem menos dignidade que as notícias falsas; a praticada pelo Estado Novo reflecte a fossilização da mentalidade da Inquisição.
A censura só é justificável em contextos de guerra, casos de vida e de morte de pessoas e nações, e a de Marcelo Caetano poderia tê-lo laureado como democrata, se a circunscrevesse à área militar(no entanto muito mais digna que a praticada no PREC, de má memória) - nunca, jamais, a de liberdade de pensamento...
Boas férias, camaradas independentemente do montante das vossas reformas!
Manuel Luís Lomba

JD disse...

Olá Camaradas!
Não nos esqueçamos de que a maior "conquista" associada ao 25 de Abril, respeita à liberdade de imprensa e de expressão. Se calhar não é verdade.
De facto, os orgãos de comunicação social têm tido um importante papel na ocultação de informações de primordial interesse público. Por exemplo, quem sabe alguma coisa sobre o Tratado de Lisboa? Poucos, certamente muito poucos. E, no entanto, por via dele, as empresas nacionais passaram a ter escritórios na Holanda, no Luxemburgo ou na Irlanda, com um computador, para onde transferem as contas e os lucros em regime offshore. Desse modo pagam uma ridicularia de impostos, comparatrivamente com os que cada um de nós paga em sede de IRS, ou pelos impostos indirectos nas compras que fatalmente fazemos, do arroz, aos serviços de televisão, passando pelos passe de transportes, roupas e calçado, etc, etc.
Avida parece corre-nos bem, e parece uma representação de progresso relativamente ao tempo anterior. Porém, pagamos altíssimos impostos para suportarmos os desmandos governativos, situação que não se sente aliviar.
Anexo esta informação sobre a condição portuguesa no final de Maio de 2016, e tem como fontes o Banco de Portugal e o INE.
Dívida total reportada pelo BP em Maio de 2016:
Dívida Pública .................... 296.352.000.000 euros
Dívida das Empresas Privadas....... 260.354.000.000 euros
Dívida de Particulares ............ 144.179.000.000 euros
Total da Dívida Portuguesa ..... 700.885.000.000 euros
PIB em Dezembro de 2015............ 179.409.600.000 euros
Ora, disto não se ouve falar, nem se vê escrito nos orgãos de comunicação, que a situação tem vindo a agravar-se com a passagem dos anos, ao contrário da informação sobre as contratações de futebolistas e das vezes que o Ronaldo vai à casa de banho. Não acham que estamos perante casos de censura? Mas é que estamos, e são muitos mais, e sem a justificação da guerra.
Aliás, naquele tempo, Portugal metropolitano e ultramarino tinha reservas e capacidades financeiras, não só para investir e desenvolver, mas, também, para as despesas da guerra. Atente-se então nos sucessivos atentados que nos conduziram à perda da soberania: a incapacidade para tomarmos decisões sobre o que nos diz respeito.
E sobre a ditadura, temos hoje aquela que resulta da opressão exercida sobre os proprietários (quase todos os que têm casa, carro, contas) através desse instrumento infalível da desigual e injusta cobrança de impostos.
JD

JD disse...


Peço desculpa pela má apresentação do comentário anterior, que deve causar choques aos contabilistas da Tabanca.
Ainda sobre a censura: era assim tão má naquele tempo, e o Expresso publicava notícias desta índole? E o que dizer da existência de outros jornais oposicionistas, como o Comércio do Funchal, o Jornal do Fundão, o Notícias da Amadora e o Jornal da Pampilhosa? Para além da Vida Mundial, e da Análise Social, entre outros que não me lembro ou desconheço? Afinal, o regime seria bem mais tolerante do que esta "democracia" de fachada, que sobre os orgãos de informação exerce pressões diversas, de que destaco as que Sócrates exerceu sobre a TVI, e o rodopio de alguns profissionais que fazem reportagens ou editoriais incómodos.
Façam o favor de não defender o indefensável, apenas por uma questão de racionalidade, já que cada um, finalmente, toma do que quer, e os grupos económicos têm luxuosas clínicas para tratamento dos excessos. Enquanto houver ADSE ou congéneres.
Abraços fraternos
JD

Antº Rosinha disse...

JD, estamos a falar da censura de ontem, não de hoje.

A censura de ontem muitas vezes funcionava em sentido contrário, e hoje intencionalmente não se escreve toda a verdade sobre aquela censura.

Já alguma vez se publicou aqui algum dos discursos neste blogsfora, dos ministros do Estado Novo que eram chamados à pedra mensalmente na ONU?

Nem aqui nem no Expresso, porquê? No entanto tudo o que Amílcar Cabral escreveu e falou é publicado constantemente, que isto do Amílcar é imprescindível, mas aquilo também seria.

Seria muito útil serem publicados aqueles discursos que os embaixadores portugueses do Estado Novo atiravam à cara daquelas maiorias não alinhadas, e dos próprios europeus, na ONU durante a Guerra do Ultramar, em que Portugal, mensalmente era chamado à pedra.
Discursos que ninguém queria ouvir e deixavam o português a falar sozinho.
A Europa colonial já tinha abandonado Àfrica à exploração mundial, Portugal não, ia contra os «ventos da história»
Olha o que «os ventos» fizeram, trazem o resultado através do Mediterrâneo...a nado e através do arame farpado de Ceuta e Melila.

Hoje não há censura em Portugal, há intenções, opções e tal como ontem, enterramos muitas vezes a cabeça na areia para não olhar as coisas de frente.

Mas tenho que referir, que a censura do Estado Novo também escondia esses discursos aos olhos da turbamulta.

JD, um conselho que sou mais velho que tu e conselhos são de graça, se não, custavam dinheiro, «temos que nos aceitar tal como somos» não sejas muito exigente, tem paciência, se não ficas careca.

Cumprimentos.

Manuel Luís Lomba disse...

Diz-se que a propaganda é o maior inimigo do jornalismo. O Jefferson, um dos pais fundadores dos Estados Unidos, dizia que preferia um país sem governo que um país sem liberdade de imprensa, não obstante dever à imprensa a sua destruição pessoal e política. O mal não está na imprensa - está no carácter do seu empresários e dos seus profissionais.
Dos factos que mais impacto me causaram no período dessa fantochada que deu pelo acrónimo de PREC foram o da constatação de que alguns oficiais mais distintos na ortodoxia da aplicação do RDM, haverem-se distinguido como os mais vanguardistas do abandalhamento dos quarteis, idem para a maioria dos jornalistas veneradores do antigo regime; um, que conhecia desde os bancos da escola, disse-me com sinceridade: - Estamos ao lado de quem nos dá a ração de fava...
No nosso contexto de guerra, a aludida notícia do Expresso do abate de 25 aviões de combate pelo PAIGC não foi comunicação social - foi um delito de traição, em favorecimento do IN. O Expresso (o Balsemão ou o Marcelo e o Augusto) mereceram "apanhar", não só da Censura, mas especialmente da Justiça! Sendo pessoas bem informadas,sabiam que não só veiculavam uma notícia sem fiabilidade, em engrandecimento do IN, mas também denegriam o desempenho dos seus compatriotas soldados, nomeadamente os seus briosos pilav´s. A Base de Bissalanca nunca terá tido 25 meios aéreos operacionais, confirmação acessível a qualquer utente do aeroporto.Íamos tomar um café ao aeroporto, depois do toque de ordem, e a malta da FA, sempre fixe e sem preconceitos, franqueava-nos o acesso às placas, para satisfazermos a curiosidade por aqueles pássaros de ferro, que tanto amparo nos davam...
Mantenhas.
Manuel Luís Lomba

João Carlos Abreu dos Santos disse...

.... Manuel Luís de Araújo Lomba, prezado veterano que serviu como furriel miliciano na CCav703 (CTIG 1964-66),
confesso que não li nenhum dos comentários anteriores ao seu, e, do texto deste 'post', por desde há muito e bem conhecer as linhas de "pensamento" de JPC e de BS, apenas brevemente e na diagonal, tanto mais em vista do "acrisolado abrilismo" de qualquer daqueles indivíduos.
Mas li, com toda a atenção, e muito agrado, o seu "vol d'oiseau" sobre o tema exposto à apreciação dos visitantes deste blog (que, de há uns tempos para cá, deixei de consultar).
Subscrevo, na totalidade, sem qq reservas, pois é tb e desde há mais de quatro décadas o meu pensamento sobre a matéria, o seu atinado quanto substantivo puxão de orelhas, à ausência de seriedade analítica (para não dizer mais), do "jornalismo" – tendencioso qb –, para o qual as gerações do nosso pós-guerra ficaram guardadas.
Aceite os melhores cumprimentos, do
João Carlos Abreu dos Santos.