GACA 3 - Companhia de Instrução
1. Em mensagem do dia 2 de Fevereiro de 2017, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos do seu começo nas fileiras no Exército Português.
Tudo começou a 9 de Janeiro de 1967
A cidade de Espinho era detentora de uma unidade militar denominada Grupo de Artilharia Contra Aeronaves, (GACA3) unidade na qual me apresentei para começar a cumprir o serviço militar, ficando adstrito à 1.ª companhia.
Na minha passagem pelo GACA3, ficou na minha memória um episódio entre mim e um Tenente, por uma suposta falta de respeito, segundo ele por não fazer a continência que lhe era devida, onde mostrou todo o "poder" dos galões que usava, obrigando-me a fazer flexões sobre uma poça de água, ficando eu todo encharcado, pois chovia imenso nesse dia, e sem farda para continuar a instrução já que tinha utilizado a outra durante a manhã, que estava molhada e a secar. O dito oficial ainda não estava satisfeito com o castigo aplicado e, vai daí cortou-me o fim-de-semana, o que me provocou uma certa revolta interior.
Mas, com atitude deste oficial, comecei a aprender o que era a imposição do serviço militar obrigatório e tudo o que lhe estava subjacente, porque queiramos ou não, havia oficiais naquela época que abusavam da patente para enxovalhar e espezinhar o seu semelhante, dando assim prazer ao seu ego.
Abel Santos no GACA 3, é o terceiro a partir da direita na fila de baixo.
Abel Santos no RAP 2, é o primeiro à direita.
Passado o tempo de recruta, fui colocado no Regimento de Artilharia Pesada 2, ao tempo sediado em Vila Nova de Gaia, onde me apresentei a 28 de Abril de 1967, para me especializar em atirador, sendo colocado na 3.ª companhia - 3.º pelotão.
Durante o tempo passado no RAP2 analisei que as chefias tinham uma postura diferente em relação aos seus subordinados, em relação ao que se passou comigo no GACA3, talvez por serem milicianos, ou tinham mandado às malvas a educação nacionalista. O que sei, é que souberam reunir à sua volta aqueles rapazes incutindo nas suas mentes o sentido da amizade e solidariedade, construindo assim uma família de grande fervor castrense.
O Batalhão que estava a ser formado, do qual não me recordo do número, foi mobilizado para Angola, tendo eu ficado no RAP2, e adstrito à Companhia de Comandos e Serviços (CCS) até ser mobilizado para a Guiné. Apesar da instrução ministrada durante a especialidade ser dura, não dando tréguas ao pessoal, mas que aproveitei ao máximo, pois mais tarde usufrui dessa preparação na frente de combate.
No dia 20 de Junho de 1967 estando eu na formatura para o almoço, o comandante da CCS, Tenente Campos, convocou-me para uma reunião no seu gabinete pelas 14 horas, o que me levou a ficar desconfiado que algo se estava a passar, e coloquei a pergunta; estou mobilizado? Respondendo com um gesto de cabeça que sim, e após insistência minha me diz que o meu destino era a Guiné.
A cidade de Penafiel no distrito do Porto era ao tempo detentora de uma unidade militar denominada Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, (RAL5) na qual me apresentei, ido do RAP2, no dia 21 de Junho de 1967, sendo colocado na CART 1742 “ Os Panteras” sob o comando do saudoso capitão Álvaro Lereno Cohen.
Antigo RAL 5 de Penafiel
Chegado a Penafiel, a CART já lá não se encontrava, estando a aguardar embarque no Regimento de Infantaria n.º 6 na cidade do Porto, para onde me dirigi, apresentando-me a 22 de Junho, sendo incorporado no 4.º grupo de combate - 3.ª secção do Alferes Magalhães.
Caros camaradas, assim foi o meu começo nas fileiras do Exército Português, ao qual ainda hoje me orgulho de ter pertencido.
Abel Santos
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16643: Estórias avulsas (86): O velho problema da falta de meios nas Transmissões (José Luís Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista, 2ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974)
3 comentários:
Caro Abel
Gostei de ler.
Passar ao papel (à escrita) essas memórias faz-nos bem.
Ajuda a perceber melhor o nosso percurso de vida e permite a outros reverem-se, ou não, no que se escreve.
Tenho para mim que este teu relato, em vez de se enquadrar em "Estórias avulso", ficava melhor num tema que foi iniciado, teve algum desenvolvimento mas que depois esmoreceu (talvez porque o título não era 'amigável') e que era qualquer coisa do género de "a terra (ou quartel) que mais amei ou odiei".
No fundo, e nunca falei disso aos Editores, do que me penitencio, seria muito mais apelativo tentar evocar aqui as diferentes experiências pelas quais passámos nos diferentes Quartéis que percorremos durante o nosso percurso militar (inicialmente durante as formações na "Metrópole" e depois, talvez, também, pelos diversos locais da Guiné), sem falar de "amores e ódios", embora se perceba o sentido que se quis dar ao assunto.
É só uma opinião...
Hélder Sousa
Hélder: Tema difícil de abordar e creio que não é esse o espírito do blogue que foi gerado para criar amizades e não clivagens.
Um abraço.
Olá amigo Colaço
Pois concordo contigo quanto ao facto de se pretenderem criar amizades e não clivagens.
Foi esse o meu entendimento quando escrevi que o tema não era "amigável".
Por isso acho que acabou por definhar.
Mas há ainda certamente muitas recordações das nossas passagens pelos locais dos diversos aquartelamentos do nosso percurso militar que podem (e devem) ser trazidas à luz.
Eu, por exemplo, fiz a recruta em Santarém. Disso escrevi o que me foi possível lembrar (haverá algum outro episódio que 'escapou') e entrou nessa tal série do "amor e ódio"...
Depois disso tenho passagens por Lisboa (BT), por Tancos (EPE), depois Lisboa (só para fazer os testes de classificação), depois Porto, novamente Lisboa (Adidos) e finalmente a Guiné (Bissau, Piche, Bissau).
Sobre todos e cada um desses locais tenho recordações.
Hélder Sousa
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