quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17856: (De) Caras (96): os três antigos bravos comandantes de pelotão da Companhia de Milícias nº 17, de apelido Camará, o Quebá, o Sitafá e o Bacai, recordados no memorial aos mortos da CART 1525, Bissorã, 1966/67 (Rogério Freire / Adrião Mateus)


Foto nº 1 B


Foto nº 1 A



Foto nº 1 

Guiné > Região do Óio > Bissorã > CART 1525 > Galeria de Fotos >   "Os três Comandantes dos Pelotões de Milícia de Bissorã: Bacai Camará,  alferes de 2ª Linha Quebá Camará e Sitafá Camará  [, junto a armamento capturado ao inimigo em 3 de fevereiro de 1967 em Conjogude]


Foto (e legenda) : © Adrião Mateus  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].(Cortesia do sítio da CART 1525 > Galeria de Fotos, de que é administrador o nosso grã-tabanqueiro Rogério Freire)



1. Comentário do nosso camarada Rogério Freire (ex-alf mil, MA, CART 1525, "Os Falcõe", Bissorã, 1966/67) ao poste P17853 (*):

(...) O Quebá e o Citafá Camará eram comandantes de pelotão da milícia. Eram irmãos e ambos foram promovidos a alferes [de 2ª linha] durante a nossa Comissão. O Quebá veio com um prémio a Portugal.

O Quebá foi ferido com gravidade em combate por duas vezes durante a nossa comissão: a primeira em 5 de dezembro de 1966 na Operação Bissilão, ao Biambi; e e na segunda vez em 9 de junho de 1967 na Operação Bizarma, ao Tiligi.

Foram dois heróis a quem entregávamos as nossas vidas quando íamos para o mato ...e foram muitos milhares de portugueses que, ao longo do tempo em que eles estiveram ao serviço das NT, a eles se entregavam durante a noite pelas bolanhas fora a caminho do objetivo.

Triste ... Triste mesmo é que eu li no Diário de Notícias uns meses depois da saída das NT da Guiné (1974 ou 1975) que, tanto o Quebá como o Citafá, tinham sido fuzilados pelo PAIGC ... abandonados à sua sorte pela forma infeliz com que a descolonização foi efectuada.

Caro amigo ... sugiro uma visita ao nosso Historial (não sei se haverá outros documentos tão completos disponíveis na Internet) publicado no nosso site em www.cart1525.com. Lá encontrarás muita informação. Páginas 109/110 nº 4 - Valorização das Forças Nativas.

Quanto ao [José] Ramos ...

Pág. 35/36 do Historial: 7. Operação FURÃO II, QUERÉ, 21MAI66

RESULTADOS 
Memorial da CART 1525,
em Bissorã (*)

- Foram feitos 10 mortos confirmados ao IN, entre os quais se conta um natural de São Tomé, José Ramos, responsável pela base de BANCOLENE, o qual foi trazido para Bissorã. (...) (**)

2. Informação adicional que encontramos na legenda da foto nº 0015, do Adrião Mateus (ex-fur mil mec auto), publicada em CART 1525 > Galeria de Fotos:


(...) "Os 3 Comandantes dos Pelotões de Milícia de Bissorã: Bacai Camará,  alferes de 2ª Linha Quebá Camará e Sitafá Camará.

"Os dois últimos foram premiados com o prémio 'Governador da Guiné' por terem prestado serviços de extraordinária valia às nossas tropas, com exceptional valor e coragem com brilhantes actuações em combate, reveladores da sua alta determinação e patriotismo. Foram condecorados e vieram a Portugal em inícios de 1968 conhecer a capital da que consideravam a sua Pátria.

"Depois do 25 de Abril estes valorosos militares portugueses que consideravam Portugal a sua Pátria foram abandonados pelo governo português e foram assassinados pelas tropas do PAIGC, durante a governação do Presidente da Guiné Bissau Luís Cabral, sem qualquer julgamento ou meio de defesa, perante um pelotão de fuzilamento Cremos que os seus restos mortais foram depositados numa vala comum em Mansoa". (..)


3. Excerto do Historial da CART 1525, pág. 109/110 (com a devia vénia):

(...) VALORIZAÇÃO DAS FORÇAS  NATIVAS

(...) Aquando da nossa chegada a esta vila, viemos encontrar dois pelotões da Companhia de Milícia nº 17 e uma Companhia de Polícia Administrativa, constituída a 4 pelotões. A actividade destas forças era bem diversa e, assim, enquanto que a Milícia era empenhada em operações, encabeçando as colunas, à Polícia Administrativa era atribuído um papel secundário, saindo para o mato apenas integrada em colunas-auto, para colaborar nas picagens de estrada.

Dependia a Milícia da CCAÇ 1419, para todos os efeitos, ao passo que a Polícia Administrativa, como o nome indica, disciplinar e administrativamente estava subordinada à Administração, podendo contudo dispor-se dela operacionalmente, sempre que as circunstâncias o exigissem. Assim, desde a chegada da nossa CART até cerca do 10º mês de comissão, altura em que a CCAÇ  1419 foi para Mansabá, apenas podia haver um conhecimento relativo da verdadeira situação dessas forças nativas e das dificuldades ou problemas que poderiam ter.

Passou então o comando militar de Bissorã para a CART 1525 e, consequentemente, a dependência das referidas forças. A constituição das mesmas não foi alterada, não só por que vinha do antecedente, mas também porque, salvo algumas e poucas excepções, se provou que estava correcta. A Milícia continuou assim com Quebá Camará, no comando do pelotão nº 157 e Bacai Camará comandando o nº 158, estando a cargo de Citafá Camará e Landim Camará as funções de guias e informadores da NT.

(...) Mas, à medida que o tempo foi decorrendo, começaram a surgir outros problemas, da mais variada ordem. Estes, uma vez apresentados ao Comandante da CART 1525, mereceram sempre a melhor atenção e respeito, tentando dar-lhe a devida solução, dentro das suas possibilidades.

Os guias Citafá Camará e Landim Camará acusavam o peso dos anos e não podiam manter o mesmo ritmo em que até aí tinham sido utilizados e a Milícia, a começar nos seus comandantes, não tinha ainda visto premiado o seu valor, quer individual, quer colectivamente.

As numerosas operações que se seguiram reforçaram mais profundamente, no Comandante da CART [1525], o real mérito que as forças nativas possuíam e do qual já se tinha algum conhecimento. Com base nos relatórios dessas operaçõe surgiram as primeiras citações e o primeiro objectivo foi conseguido,  a promoção a alferes de 2ª linha de Quebá Camará e de Citafá Camará, na realidade, dentre todos, os mais merecedores, por tantos e tão relevantes serviços prestados. 

Estas duas promoções, que há muito haviam sido prometidas, mas sem que efectivamente se concretizassem, causaram natural júbilo, não só aos galardoados, mas também aos seus subordinados e à maioria da população nativa que muito os estima. 

Posteriormente foi ainda proposto, também para ser promovido a alferes de 2ª linha, o outro comandante de pelotão de Milícia, Bacai Camará. Seguiram-se propostas de Cruzes de Guerra para dois comandantes de secção de Milícia, Bacar Camará e Bajeba Jana e para o comandante de pelotão de Polícia Administrativa, Pedro Sambajuma. A culminar foram ainda propostas para o Prémio do Governador da Guiné,  deslocação à Metrópole os já referidos Quebá Camará e Citafá Camará.

 (...) Não foram, contudo, descurados outros problemas que se nos apresentavam, pelo que surgiram bastantes oportunidades de se ajudarem os elementos das forças nativas, conseguindo-se coberturas de zinco para as casas de alguns deles, emprestando-lhes dinheiro e arranjando-lhes alguns géneros alimentícios, nas alturas mais difíceis. Os processos para a concessão de subsídios aos feridos e incapacitados seguiram o seu curso normal, aguardando apenas o deferimento superior e aos mortos a nossa homenagem foi prestada com a inscrição do seu nome no monumento de reconhecimento a Bissorã, por nós erigido.

Quando se abandonou Bissorã e para mostrar o nosso incontestável reconhecimento e apreço pelas forças da Milícia local, foi por nós elaborada [uma] proposta de louvor que, mais tarde, veio a ser considerada pelos Comandos Superiores" (...)
____________



(**)  Último poste da série > 15 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17770: (De) Caras (97): O AVC na primeira pessoa e o processo de recuperação e reintegração (José Saúde)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís Graça 12 out 2017 21:09

Caros camaradas:

Infelizmente os primeiros anos da guerra estão ainda mal documentados... E há muitos silêncios, de parte a parte... Dos antigos combatentes do PAIGC não poderemos esperar muito mais, a não ser o "silêncio" dos poucos arquivos que existem... Reparem: o Arquivo Amílcar Cabral (ou o que resta dele...) tem duas ou três linhas sobre o "comandante José Ramos de Almeida" (que ninguém sabe quem é e que deve ter sido sepultado em Bissorã).

Da nossa parte, temos muito mais informação de arquivo, ms faltam-nos os testemunhos dos atores no terreno...Por exemplo, de quem esteve na Op Furão II: não sei se o Rogéio esteve...E depois o que se passou, a seguir à independência, em que os nossos camaradas guineenses foram tratados como "cães dos colonialistas"... já a guerra tinha acabado há muito para todos nós...

Não há relatos isentos, objetivos, imparciais, do período do terror revolucionário do Luís Cabral, assim como sabemos pouco da atuação das NT, das nossas milícias e da nossa polícia administrativa na era do Schulz...

Temos desconforto e pudor em falar de algumas ações de "contra-subversão" nos primeiros anos de guerra... Com os tips do PAIGC, deve passar-se o mesmo: apesar de tudo, houve "senhores da guerra" do PAIHC que foram logo julgados e executados no congresso de Cassacá em 1964...

Enfim, ainda podemos ir trocando umas ideias sobre estes tempos que foram duros para todos, para nós e para os guineenses, que estiveram de um lado e do outro... De qualquer modo, a regra de ouro do nosso blogue é: não somos juízes, muito menos em causa própria...

Um abraço para todos, Luís

Anónimo disse...


Rogerio Cardoso
12 out 2017 22:33

Caros Camaradas

Tanto o Quebá como o Citafá, em 1964 e 1965, eram os guias do nosso grupo "Lordes", grupo que fazia parte da Cart 643-Águias Negras. Foram os primeiros guias com ordem para levaram para a tabanca a sua G3, tal era a confiança que tínhamos neles.

Eram fantásticos, como combatentes, como camaradas e como leais.

Foram fuzilados como todos nós sabemos, devido ao abandono das nossas chefias, que no fim da guerra só quiseram safar o seu pelo.

Saudações
Rogério Cardoso

Anónimo disse...

jorge araujo
13 out 2017 00:26


Camaradas,

Vim a acompanhar este tema durante a viagem desde Portimāo. Cheguei agora a Lisboa (Almada)... Amanhã dou notícias... Creio ter elementos novos que podem, porventura, esclarecer os nomes grafados pelo PAIGC.

Boa Noite.

Jorge Araújo.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Camaradas:

Para todos os efeitos, houve uma "canibalização" do monumento aos mortos da CART 1525, inaugurado em 26/2/1966.

Registe-se aqui que, antes da CART 1525, "OS Falcões" (1966/67), passaram por Bissorã outras companhias, quase todas representadadas já no nosso blogue:

A CCAÇ 508 (Bissorã, Bissau, Bambadinca, Xime, 1963/65) terá sido a primeira. Logo 1 de agosto de 1963, assumiu a responsabilidade do subsector de Bissorã, então criado, com pelotões destacados em Barro, até 23 de dezembro de 1963 e Bigene, até 26 de dezembro de 1963, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 507 e, após remodelação dos sectores, no do BCAÇ 512. Em 26 de dezembro de 1963, passou a ter um pelotão destacado em Olossato.

A seguir virá a CART 643, do Rogério Cardoso (Mansabá, Bissorã, Bissau 1964/66)... Depois a CART 566, do José Augusto Miranda Ribeiro (Bissau, Bissorã, Olossato, Bissau) (1964/65)... A CART 730, do nosso João Parreira (1964/66) também passou por Bissorã (além de Bironque, Jumbembem e Farim)... E ainda temos a CCAÇ 816 (1965/67, Bissorã, Olossato, Mansoa), do Rui Suilva (que há muito não nos dá notícias...), a CCAÇ 1419 e a CCAÇ 1420, amnbas do BART 1857 (1965/67)...DA CCAÇ 1419 é, por exemplo, o Manuel Joaquim...

Todos estes camaradas trabalharam com a companhia de milícias nº 17... E devem ter, pelo menos, ouvido falar do tal José Ramos [de Almeida], comandante da base de Bancolene, e que na história da CART 1525 é dado como "natural de São Tomé", sendo um dos 10 mortos do IN, na Op Furão II, em 21 maio de 1966, na região de Queré (Encheia)... O corpo foi trazido para Bissorã, possivelmente por se tratar de um "grande ronco", na altura.

Talvez o Carlos Fortunato, profundo conhecedor de Bissorã e da sua gente, e onde tem muitos contactos (via ONG Ajuda Amiga e antigos miliatres da CCAÇ 13) nos possa esclarecer este "enigma" do memorial da CART 1525 em que, entre fevereiro de 2011 (vd. foto tiorada pelo José Gomes) e abril de 2017 (vd. foto tirada pelo Acílio Azevedo), alguém se lembrou de afixar uma placa, em pedra (mármore ?) com os 4 nomes, nenhum deles militares da CART 1525: os 3 comandantes de milícia de Bissorã, de apelido Camará, o Queba, o Citafá e o Bacai (, omite-se a informação de que foram fuzilados no tempo do Luís Cabral) e o nome do comandante da guerrilha, esse sim, morto pelas NT, ao tempo da CART 1525...

E, talvez mais estranho ainda, o memorial aparece pintado com as cores da Guiné-Bissau (vermelho, verde, amarelo)... Será um acto de "exorcismo" ? Um gesto de "reconciliação nacional" ? E de quem terá sido a iniciativa ?... LG

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Creio que o assunto terá de ser encarado assim:
- os monumentos que deixámos para trás ficaram na Guiné
- os guineenses fizeram deles o que quiseram e nós nada temos com isso.
Só nos resta ter uma opinião sobre o sucedido e, por favor, deixem-se de ser politicamente correctos. Se discordarmos, discordámos. Temos esse direito e nada nos obriga a sermos "compreensivos". Já basta o que basta!...
Por mim julgo que estamos em presença de uma boçalidade que vai para além da destruição do monumento das tropas salazaristas, colonialistas e lacaias do imperialismo.

Um Ab.
António J. P. Costa

Anónimo disse...

Carlos Fortunato
13 out 2017 14:51


Amigos e Camaradas

Não consigo dar o adequado esclarecimento sobre este caso do memorial da ART 1525, mas prometo que irei esclarecer, até porque em Março do próximo ano irei novamente a Bissorã.

Quando estive em Bissorã em Março/Abril de 2016, fui ver o memorial da 1525, mas tinham colocada uma banca de venda (feita em madeira) mesmo à sua frente e não consegui ver nada, como ficou escondido, provavelmente ficou mais exposto a ser vandalizado.

Sobre os antigos comandantes da milícia, o único que encontrei vivo foi o Joaquim Santiago, que era milícia em Bissorã, concretamente no Tiligi, o resto foi tudo morto.

Um alfa bravo para todos.

Carlos Fortunato

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

O comentário anterior vai no sentido do meu.
É preciso ser-se muito "pequenino" para ter as atitudes que acabamos de ler.
Enfim...

Um Ab.
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Tenho que emitir a opinião daquilo que vi e senti e pressenti sobre o assunto.

Ou seja, porque ficou mais ou menos tudo intocado e abandonado, ou aproveitado para qualquer utilidade das poucas coisas que restaram da presença das tropas que foram da metrópole para as ex-colónias?

Não sei se sabem que todos os quarteis de Bissau foram aproveitados na integra, e com os mesmos nomes:Artilharia, Força Aérea, Engenharia, etc,

Em Gabu, Catió, Cufar e noutros lugares ou para quarteis ou para armazens ou para moranças, fez-s algum aproveitamento, deixando tudo intocado até o pau da bandeira foi aproveitado.

Apenas as estátuas foram derrubadas, e porque foi Luís Cabral a ordenar, caso contrário ainda hoje estariam lá com capim à volta e criar musgo e verdete.

Para mim, reacionário, quase tanto como muitos velhos régulos que foram fuzilados, a apatia e o negativismo e a decepção que aquela "vitória" do PAIGC trouxe à Guiné foi tão grande, que toda a gente ficou anos e anos de braços caídos sem energia para fazer qualquer coisa daquelas lembranças coloniais, ou ao menos faze-las desaparecer de vez.

Até porque para fazer qualquer coisa monumental ou não, era preciso "patacon" e para isso os suecos, os soviéticos e cubanos, ou mesmo alguns kamaradas lusos, para essas coisas não havia peditório.

A muito custo lá foram as estátuas para o forte de Cacheu, talvez alguem da velha metrópole terá aguentado os custos.

Em Luanda porque havia dinheiro, foi destruir e fazer à maneira do MPLA, não à vontade dos angolanos ou de outros partidos.

Das pequenas recordações dos vários quarteis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de CAIUM, que já mis que uma vez apareceu em foto neste blog.

Anónimo disse...

Rui Silva
14 out 2017 14:31


Olá, Luís! Tudo bem contigo? Espero que sim!

Li o teu "mail" que muito me agradou, pois também por ali apareço. Bissorã aonde a 816 esteve de Maio a Outubro de 1965 e aonde fiz o meu batismo de fogo numa operação a Queré, embora o verdadeiro batismo tenha sido passados uns dias em Iracunda com 35 minutos de fogo intenso. Julgava que era ali o meu epílogo!

Abração, grande amigo, e estou a fazer conta de no próximo Convívio da Tabanca Grande poder-vos abraçar!!


Cumprimentos a tua esposa Maria Alice!!

Rui Silva