quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19433 (D)outro lado do combate (42): A nova estrutura político-militar do PAIGC decidida no I Congresso, de Cassacá, em 17/2/1964: os líderes do 1º Corpo de Exército Popular (Jorge Araújo)


Fig 4

Citação: (s.d.), "O Secretário-Geral do PAIGC e Presidente da Assembleia Nacional Popular, Aristides Pereira, e o Ministro das Forças Armadas, Nino Vieira, passando em revista uma base da Frente. A fotógrafa Bruna Amico, de costas.", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_11290 (2019-1-18)



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp. / Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974): coeditor do nosso blogue






GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACÁ EM 17FEV'1964

- OS LIDERES DO 1.º CORPO DE EXÉRCITO POPULAR 





1.INTRODUÇÃO


Ainda que o conteúdo inicial da presente introdução nada tenha a ver com o título deste trabalho, ele servirá apenas para conceptualizar o quadro narrativo, e factual, que o precedeu.

Pretendo, deste modo, partilhar no fórum, uma vez mais, o que foi possível apurar no âmbito desta pequena investigação cruzada, onde foram seleccionados e utilizados alguns dos depoimentos julgados pertinentes existentes em cada um dos lados do conflito, e que dão corpo a esta minha primeira narrativa de 2019, abrindo-a a outros (novos) horizontes de análise.




Fig. 1

Por outro lado, é de relevar o património documental existente no Arquivo Histórico do ex-Banco Nacional Ultramarino, produzido pela Administração da Delegação da Guiné [Vd. Fig 1] e remetido para a sua Sede em Lisboa, sobre o qual o nosso camarada, incansável, Mário Beja Santos, nos tem presenteado com as suas «Notas de Leitura», tituladas «Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné», a quem agradecemos.


Como consequência desse seu trabalho de inegável mérito, o seu conteúdo tem captado a minha superior atenção, aproveitando esta oportunidade para o citar.


Estamos, então, perante informações que consideramos de elevado valor historiográfico para a compreensão do processo iniciado em 1961 a nível interno, com diversas acções subversivas, e que evoluíram para a confrontação bélica, preparada e estruturada além-fronteiras.





Figura 2 – Mapa da Guiné com as principais linhas de infiltração da guerrilha, em 1961/63 – infogravura publicada no P15795: «O início da guerra da Guiné (1961-1964)», de José Matos, historiador – Parte I (com a devida vénia).

O primeiro acto, a Norte, ocorreu em 20 de Julho de 1961, 5.ª feira, com um assalto à povoação de S. Domingos, em particular ao edifício onde estava instalado um pelotão da 1.ª CCAÇ (CCAÇ 3), "fazendo uso de terçados [espadas curtas e largas], armas de caça, espingardas e garrafas de gasolina. Cinco dias depois, outro grupo armado provoca danos materiais na estância turística da praia de Varela e ainda em Susana" - (P15795).

Seguiram-se, depois, novas acções subversivas, desta vez a Sul, com incursões armadas vindas da fronteira com a Guiné [-Conacri], actos registados durante o segundo semestre de 1962.

Como exemplo dessa subversão, refere-se o caso narrado pelo gerente do BNU onde escreve: "é nosso dever levar ao conhecimento da V. Exa que por volta das três da madrugada de ontem [25Jun'1962; 2.ª feira], pequenos grupos de indivíduos, que se supõe pertencerem ao PAIGC, atacaram a tiros de pistola em Catió a Administração do Concelho, a Central Eléctrica, o posto da PIDE e os CTT, cortando os fios telefónicos e atravessando árvores na estrada. Incendiaram também a jangada e três pequenos barcos que fazem a ligação de Bedanda para Catió. Entre Buba, Empada e Fulacunda, foram cortadas as comunicações telefónicas e destruídos alguns pontões feitos de paus de cibe" (P19291).
Como elemento de comparação, dá-se conta da versão escrita e assinada pelo Rui Djassi (Faincam, nome de guerra) [1938-1964], responsável do PAIGC [Zona 8] pelas acções supras, cujo conteúdo se transcreve:

"30.06.1962 [sábado] > Da última hora – EMPADA

Destruíram pontes no dia 27-28 [Junho'62], cortaram fios em grande quantidade. Há dificuldade [de] comunicação para vários pontos, entre os quais Bissira-Empada, Empada-Pam-Tchuma, Sacunda-Aidara.

No dia 28 [Junho] foi morto um comerciante europeu [Januário Simões, irmão de Manuel Simões, 1941-2014] que está [estava] ao serviço da PIDE.


Na mesma noite meteram fogo na casa do Anso Mara, também agente da PIDE.
Todos os professores catequistas daquela área foram presos sem motivo de justificação. Eis os nomes: Domingos Lopes; Mário Soares; Avelino Mendes Lopes; Bernardo Mango. E mais alguns camaradas. Agradecia mandar-me relógio para José Sanha.

ass: [Rui] Djassi (Faincam)"
Eis a reprodução do original [Fig 3]



Fig 3

Citação: (1962-1962), "Comunicados [Zona 8]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40585 (2019-1-18), com a devida vénia.

Fonte: CasaComum; Fundação Mário Siares. Pasta: 04620.104.055. 
Título: Comunicados [Zona 8].
Assunto: Comunicados assinados por Rui Djassi (Faincam): destruição de pontes e comunicações na região de Empada; ataque a agentes da PIDE; prisão de professores catequistas (entre os quais Bernardo Mango); ataque das tropas portuguesas à tabanca de Caur e à população.
Data: Quarta, 27 de Junho de 1962 - Quarta, 4 de Julho de 1962.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1960-1962 (interna).
Documentos anexos a 04620.104.054.
Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral.


2. A NOVA ESTRUTURA POLÍTICO-MILITAR DO PAIGC DECIDIDA NO I CONGRESSO DE CASSACA EM 17 DE FEVEREIRO DE 1964


Neste segundo ponto daremos conta da decisão tomada durante o I Congresso de Quadros do PAIGC realizado em Cassacá, entre 13 e 17 de Fevereiro de 1964, nomeadamente no âmbito político-militar, cujos elementos foram retirados de um documento manuscrito de Amílcar Cabral (1924-1973), localizado nos arquivos existentes na Casa Comum, Fundação Mário Soares, constituído por sete folhas, e que serão reproduzidas no fim deste trabalho.

De referir, ainda, que esta narrativa segue na "fita do tempo" uma outra relacionada com o envio de uma carta de Aristides Pereira (1923-2011) a 'Nino' Vieira (1939-2009), escrita igualmente em Cassacá, em 22 de Janeiro de 1964, um ano depois do ataque a Tite, informando-o da intenção de se realizar um encontro, ou seja, o "I Congresso" - P19335.[Fig 4, em cima]

Eis, então, o conteúdo das decisões tomadas.

23 de Junho de 1964 > Decisão

"O desenvolvimento da nossa luta armada exige que se tomem medidas urgentes e concretas tanto no plano político como militar. A VI Conferência de Quadros do Partido (I Congresso) tomou decisões importantes em relação a essas medidas, principalmente no que respeita à organização do Partido, as regiões libertadas, a criação das FARP, com o reforço das guerrilhas em todo o país, a criação do exército popular e a instalação das milícias populares.

Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo".


[O que terá acontecido a Rui Djassi (Faincam)?, uma vez que o seu nome deixou de constar na estrutura da «guerrilha», então aprovada, sendo substituído por Guerra Mendes [† em combate, em 09Mai'65, em N'Tuane (Antuane)], conforme pode ler-se no ponto 8.

A propósito de Rui Djassi, recupero o comentário do camarada Manuel Luís Lomba, feito no P13787, onde refere:

"O Rui Djassi era cobrador da Farmácia Lisboa, foi incorporado no Exército Português e desertou como furriel mil para ir com o Amílcar Cabral e mais 29 para a China, tirocinar "guerra revolucionária" e foi o 1.º a concluir tal formação. Residiu na estrada de Stª. Luzia e quando surgiu na guerra o pai ofereceu recompensa a quem o liquidasse. Foi o 1.º comandante de Quinara e terá sido o responsável do assassinato do irmão do Manuel Simões [, o Januário Simões], ora evocado por falecimento. Foi o comandante dos ataques a Tite, em Janeiro e Fevereiro de 1963, currículo que o terá safado das penas de morte decretadas por Amílcar no I Congresso de Cassacá,  na altura da Operação Tridente".
Alguém tem algo mais a acrescentar, relacionado com este mistério?].

O documento refere ainda:

"Nestas condições, todo o trabalho feito na zona 11 e nas outras regiões do país, está a ser prejudicado pela situação má em que se encontra a zona 8.

Por outro lado, a experiência feita no norte do país em que todas as zonas se encontram sob a chefia e responsabilidade dos camaradas Osvaldo Vieira e Chico Mendes (Té) mostra que é possível fazer o mesmo no sul, enquanto se prepara a nova fase da nossa luta. Quer dizer, todas as Zonas do Sul (11, 8 e 7) devem ficar sob a direcção centralizada dum pequeno número de responsáveis, directamente ligados ao Secretário-Geral do Partido. É portanto necessário fazer uma reorganização da direcção do Partido, da luta no sul do país, com a maior urgência possível.

Por isso, tomo as seguintes decisões, em nome da direcção do Partido.

I – Guerrilhas

1. Todas as zonas do sul do país (11, 8 e 7) ficam sob a chefia do camarada João Bernardo Vieira ('Nino'; Marga), membro do B.P. e actual chefe da região (zona 11). Ele dirige todos os responsáveis de zonas abaixo indicados.

2. O camarada "Nino" é assistido nas suas funções por um grupo de responsáveis constituído pelos seguintes camaradas: João Tomas Cabral, Arafam Mané, Guerra Mendes, Abdoulaye Barry e Constantino Teixeira.

3. O camarada João Tomas Cabral desempenhará junto do camarada Nino as funções de Comissário político para todo o sul do país. Ele deve trabalhar em inteira ligação com o camarada Nino.

4. O camarada Arafam Mané passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Catió-Cacine (antiga zona 11).

5. O camarada Guerra Mendes é nomeado primeiro responsável da região de guerrilha Fulacunda-Bolama (antiga zona 8).

6. O camarada Abdoulaye Barry passa a ser o primeiro responsável da região de guerrilha Xitole-Bafatá (antiga zona 7).

7. O camarada Constantino Teixeira tem a categoria de primeiro responsável da região de guerrilha e passa a fazer a ligação permanente entre as diversas regiões e o camarada Nino, com função de controlador para todo o sul do país.

8. Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry.

9. O camarada Nino deve passar as suas funções na Zona 11 ao camarada Arafam Mané. Deve, além disso, começar a dirigir todas as regiões do sul do país, para o que deve fazer as inspecções necessárias e tomar todas as medidas que julgar úteis para a melhoria da luta nessas regiões. A base do camarada Nino deve ficar instalada na região de Catió-Cacine, onde considerar mais conveniente para o bom cumprimento dos seus deveres.

10. O camarada Nino tem autoridade para escolher e nomear os diversos responsáveis dos sectores e bases da guerrilha dentro das regiões a sul do país. Pode igualmente destituir ou transferir todo e qualquer responsável, se isso for conveniente para o desenvolvimento da luta.

11. Sugiro no entanto a seguinte reorganização da direcção das guerrilhas nas diversas regiões e sectores:

a) Catió-Cacine (zona 11) – comissão regional da guerrilha – Arafam Mané, Saco Camará, Quade N'dami, Aguinaldo Noda,

Comissário político geral: Sadjo Bambo.

Responsável principal: Arafam Mané

Responsável do sector de Quitafine: Saco Camará 

Responsável do sector de Chão de Nalus e Como: Arafam Mané

Responsável do sector de Canframe: Aguinaldo Noda

Responsável do sector de Calbert (Tombali): Quade N'dami

- Os responsáveis das diversas bases e dos grupos de guerrilha devem ser indicados pelo camarada Nino.


b) Fulacunda-Bolama (zona 8) – comissão regional da guerrilha – Guerra Mendes, João Tomás, Madna na Isna, Bromejo e Cabiru Baldé

Comissário político geral: João Tomás

Responsável principal: Guerra Mendes

Responsável do sector de Quinara: Guerra Mendes

Responsável do sector de Bolama: Caetano Barbosa

Responsável do sector de Buba: Bromejo

Responsável do sector de Cubisseco: Madna Na Isna

Responsável do sector de Fulamore: Yafai Camará

Responsável do sector fronteira (Contabari): Cabiru Baldé

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha são indicados pelo camarada Guerra Mendes, com aprovação do camarada Nino [Vd. Fig 5].

c) Xitole-Bafatá (zona 7) – comissão regional da guerrilha – Abdulai Barry, Suleimane Djaló, Braima Camará, Tito Fernandes.

Comissário político geral: Tito Fernandes

Responsável principal: Abdulai Barry

Responsável do sector de Xitole: Braima Camará

Responsável do sector de Xime: Abdulai Barry

Responsável do sector de Saltinho e Caré: [?] [nome ilegível]

Responsável do sector de Bangacia: Suleimane Djaló

Responsável do sector de Bambadinca: Joãozinho Lopes

- Os responsáveis das bases e dos grupos de guerrilha devem ser escolhidos pelo camarada Abdulai Barry, com aprovação do camarada Nino."




Fig 5

Citação: (1965), "Desfile de um destacamento das FARP, comandadas por Nino Vieira", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43067 (2019-1-1)



II – Criação do 1.º Corpo do nosso Exército Popular


1. Deve-se criar imediatamente o 1.º Corpo do nosso Exército Popular no Sul do País, de acordo com as decisões do nosso Congresso. Nenhuma desculpa, razão ou argumento pode servir para retardar mais a criação do exército. Devemos criar as primeiras unidades do exército com os homens e o material de que podemos dispor neste momento, sem prejudicar grandemente a acção e o desenvolvimento das guerrilhas no sul do país. Temos no entanto que compreender que a criação do exército representará um reforço da nossa força e, portanto, permitirá indirectamente, o fortalecimento das nossas guerrilhas.

2. O camarada Nino deve empregar o melhor do seu esforço para a criação imediata do Exército no sul do país. Para isso deve ser devidamente ajustado com todos os camaradas responsáveis e militantes, que lhe darão a melhor colaboração. Terá, além disso, toda a assistência do Secretário-geral e da direcção do Partido.

3. Devem ser criadas imediatamente duas Subsecções do Exército, com os nomes de "Botchecol" (1.ª subsecção) e "Vitorino" (2.ª subsecção). A organização e a estrutura dessas unidades do Exército popular são descritas pormenorizadas em documento secreto, que segue para o camarada Nino.


4. Estas duas subsecções, com todos os Corpos do nosso Exército Popular, serão superiormente dirigidas pelo Comité Principal do Exército, o qual é subordinado ao Conselho de Guerra. No sul do país, as unidades criadas são directamente dirigidas por um comando-geral do sul e pelos responsáveis indicados pela direcção do Partido.

5. O comando-geral do sul é formado pelos seguintes camaradas:

Nino / Marga – comandante geral

Carlos Leal – comissário político geral

Umaro Djaló – comandante da subsecção

Saturnino Costa – comandante da subsecção

Na qualidade de comandante geral, o camarada Nino, com a colaboração do camarada Comissário Político geral, estuda e planeia, de acordo com o Secretário-geral, ou os seus representantes, todas as acções militares e políticas a realizar pelo exército no sul do país. Os camaradas das subsecções são responsáveis pela execução dos planos e a realização total das acções determinadas pelo comando, de acordo com a direcção do Partido.

6. A subsecção "Botchecol" tem os seguintes dirigentes:

Umaro Djaló – comandante

Humberto Gomes – 2.º comissário político

Gustavo Vieira – chefe dos grupos especializados


7. A subsecção "Vitorino [Costa] tem os seguintes dirigentes:

Manuel Saturnino Costa – comandante

Mamadu Alfa Djaló – 1.º comissário político

Ngalé Yala – 2.º comissário polític

Mário Silva – chefe dos grupos especializados

8. Os chefes de grupo e comissários políticos de grupos devem ser indicados pelo comando geral do Sul

Nota: Tudo isto deve ser feito completamente até ao dia 15 de Julho de 1964".


Segue-se a reprodução das sete folhas originais [Fig 6].











Citação: (1964), "Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso)", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42295 (2019-1-) (com a devida vénia)

Fonte: Casa Comum, Fundação Mário Soares.
Pasta: 07061.032.017.
Título: Decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (I Congresso). Assunto: Manuscrito de Amílcar Cabral das decisões da VI Conferência de Quadros do PAIGC (Congresso de Cassacá). Organização do PAIGC; a situação das regiões libertadas; a criação das FARP; a criação do Exército Popular e a instalação das milícias populares; problemas da Zona 8; guerrilha; criação do I Corpo do Exército Popular; organização e estrutura de uma Subsecção. Em anexo uma carta de Amílcar Cabral para Nino Vieira e uma folha de apontamentos.
Data: Terça, 23 de Junho de 1964.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral.


Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
22Jan2019.
______________

Nota do editor Jorge Araújo:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19335: (D)outro lado do combate (41): Carta de Aristides Pereira a 'Nino' Vieira, escrita em Cassacá, em 22 de janeiro de 1964 (Jorge Araújo)

19 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge: o Rui Djassi, um dos "generais" do Amílcar Cabral foi a segunda baixa grave, no PAIGC, depois do Vitorino Costa (junho/julho de 1962)... O Djassi morreu por alturas do Congresso de Cassacá, em fevereiro ou a seguir a fevereiro de 1964, ao fugir de um ataque das NT à base de Gampará, na região de Quínara... Morreu sem honra nem glória, ao que parece, afogado no orio, ao tentar fugir, na versão do comandante Bobo Keita...

Isso já deve constar por aí algures, no nosso blogue. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, valia a pena termos mais informação, detalhada, sobre o que se passou no Congresso de Cassacá, nomedamente sobre os "julgamentos revolucionários" dos "senhores da guerra", a sua condenação à morte e a sua execução...

Foram acusados de atos indignos, aos olhos de Amílcar Cabral: violência contra as populações, abuso de poder, crimes, etc. Creio que que o Luís Cabral, nas suas memórias, abordar esse tema tabu... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Recorde-se que o Rui Djassi fez parte da segunda leva de militantes do PAIGC que foram enviados para a China, no 2.º semestre de 1960, para formação político-militar como futuros comandantes.

Rui Djassi fazia parte destes 10 futuros destacados dirigentes do PAIGC, hoje todos desaparecidos, uns em combate outros na "voragem da revolução" (com exceção de Manuel Saturnino da Costa)… Aqui vão, mais uma vez os seus nomes, por ordem alfabética:

(i) Constantino dos Santos Teixeira (“Tchutchu Axon”);

(ii) Francisco Mendes (“Tchico Tê”) (1939-1978); (oficialmente terá morrido de acidente na estrada Bafatá-Bambadinca; mas também há ainda suspeitas de assassinato, em 7/6/1978; foi primeiro ministro e chefe de Estado):

(iii) Domingos Ramos (morto, em combate, em Madina do Boé, em 11 de Novembro de 1966); tem nome de rua em Bissau; foi camarada do nosso Mário Dias no 1ºº curso de sargentos milicianos realizado na Guiné;

(iv) Hilário Rodrigues “Loló” (, comissário político, morreu em 1968, num bombardeamento da FAP, no Enxalé);

(v) João Bernardo “Nino” Vieira (1939-2009) (natural de Bissau; ex-Presidente da República);

(vi) Manuel Saturnino da Costa [será 1º ministro entre 1994 e 1997, num dos piores governos do PAIGC, na opinião do nosso saudoso Pepito (1949-2014); ainda é vivo];

(vii) Pedro Ramos (fuzilado em 1977, às ordens de ‘Nino’ Vieira, ao que parece, no âmbito do chamado "caso 17 de Outubro"); era irmão do Domingos Ramos;

(viii) Rui Djassi (comandante da base de Gampará, n aregião de Quínara, morreu por volta de fevereiro de 1964, por afogamento na sequência de um ataque das tropas portuguesas); tem nome de rua em Bissau;

(ix) Osvaldo Vieira (1938-1974; morreu, por doença, em 1974, num hospital da ex-URSS, e com a terrível suspeita de ter estar implicado na conjura contra Amílcar Cabral; ironicamente repousam os dois, lado a lado, na Amura); era também conhecido como "Ambrósio Djassi" (nome de guerra); tem nome de rua em Bissau; o aeroporto internacional também ostenta o seu nome;

(x) Vitorino Costa (morto, numa emboscada n o 2º semestre de 1962, antes do início oficial da guerra, por um grupo da CCAÇ 153 / BCAÇ 237, comandado pelo Cap Inf José Curto; a sua cabeça foi levada para Tite, como "ronco"; era irmão de Manuel Saturnino da Costa: e terá sido o primeiro revés de Amílcar Cabral, no plano militar); tem nome de rua em Bissau;

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Bobo Keitra diz no seu "livro de memórias" (Norberto Tavers de Carvlaho - DE campo em campo: Conversas com o caomandante Bobo Keita,edição de autor, Porto, 2011, pp- 237/238:

"Parte V - Guerrilheiros caídos no campo da honra (....)

Rui Djassi


Ruio Djassi comandava toda a zona de Quínara. Tinha a sua base em Gampará. Cheguei a passar por aí quando íamos para o Congresso de Cassacá em 1964.

Na altura, pela maneira como se comportavam na base, notava-se logo que em situação de emergência, havia um perigo certo. Só quem não tivesse nenhuma noção de estratégia e de defesa poderia aceitar aquela situação. Os camaradas procediam a rituais animistas, cantando, dansando,bebendo o vinho do cibe [palmeira].

A base vivia num constante ambiente de frenesim. Foi assim que foram surpreendidos pela tropa portuguesa. Os tugas lançaram então a ofensiva. Escolheram um momento onde o rio estava na sua fase de plena enchente. O rio separava a base duma grande mata que se situava do outro lado da base. DE forma que , quando houve o ataque, apanhados de surpresa, muitos camaradas tentaram ganhar o rio para atravessar e porem-se a salvo na outra margem.

O Rui Djassi tentou os mesmos gestos mas acabou pro morrer afogado no rio. O seu corpo desapareceu nas águas desse rio e nunca mais foi encontrado. Isto aconteceu pouco depois da realização do Congresso de Cassacá, que teve lugar em fevereiro de 1964".

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sobre o Congresso de Cassacá, de 13 a 17 de fevereiro de 1963, vd. também o depoimento do comandante Bobo Cassacá, pp. 94-97.

Interessante o que ele conta sobre José Sanhá, um dos senhores da guerra que foi acusado no Congresso, o único que soube fazer a sua autocrítica, foi destituído de funções (enquanto que outros foram condenados à morte e fuzilados)... e conseguiu realibilitar-se e, inclusive, a voltar a ganhar os galões de comandante... Terá sido um temível "sniper" do PAIGC: aproximava-se dos postos de sentinela dos quartéis e destacamentos das NT, estudava os hábitos de rendição e depois no dia seguinte eliminava a sentinela...

Alguém sabe de casos de vítimas de "atiradores especiais" como este José Sanhá ?

Outra questão: porque é que o Rui Djassi não foi a Cassacá ? Já estaria desaparecido (,leia-se, morrido por afogammento) ? Quem é que, das NT, desencadeou o ataque à base de Gampará, donde resuktaram a morte do Rui Djassi e seguramente de mais guerrilheiros ?

Acho que já falámos aqui deste ataque em tempos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Rui Djassi, que não foi a Cassacá. ficou "mal na fotografia" e foi destituída de responsável da antiga zona 8 (que a ser Fulacunda-Bolama):

(...) "Todos os responsáveis e militantes do Partido sabem que a zona 8 sofre ainda as graves consequências duma direcção que não esteve à altura das suas responsabilidades e ainda da acção nefasta e dos erros cometidos por alguns responsáveis dessa zona. Depois do nosso Congresso, os camaradas Arafam Mané e Guerra Mendes, encarregados de melhorar urgentemente a situação da zona 8, fizeram, juntamente com outros camaradas, o melhor que puderam para cumprir a palavra de ordem do Partido. Mas esses camaradas mesmos são os primeiros a reconhecer que as coisas não vão muito bem na "zona 8", onde a situação é agravada pelo desaparecimento do responsável Rui Djassi, cujo paradeiro ninguém conhece, embora seja certo que está vivo". (...)

Além do mais,

(...) "8. Os ex-responsáveis de zonas, camaradas Rui Djassi (Faincam) e Domingos Ramos (João Cá) devem vir imediatamente ter com o Secretário-Geral do Partido, passando as suas funções respectivamente a Guerra Mendes e Abdoulaye Barry." (...)


O Domingos Ramos também estava mal em maus lençóis... LG

Anónimo disse...

Camarada Jorge Araújo.
O que posso mais dizer, depois do que o Luís já disse, para mim tudo isto é novo, e vou seguindo com muita atenção as tuas belas exposições que são históricas, embora, e porque não sou politicamente correcto, posso dizer que não me agrada muito ter conhecimento desta parte do outro lado do combate. História sim, mas custa a engolir.
O que me chama mais a atenção são duas coisas.
1 - O Comandante 'Nino' Vieira, pelo que vejo estava em boa forma física, era por nós conhecido como o maior terrorista, mas são tempos passados, e que não podemos esquecer.
Pessoalmente, e não deixo de o mencionar mais uma vez, estive por 3 vezes no seu Gabinete Presidencial, já ele Presidente da Republica da Guiné Bissau, em conversações sobre projectos em curso, e porque ia, eu e outro, com a 'cunha' do seu Cônsul no Porto, e tutor dos seus filhos a estudar num colégio cá da minha cidade, passávamos à frente daquela malta toda da sala de espera para reuniões lá deles.
Ele estava já meio velho, cansado e acabado, mas bem instalado, ainda lhe falei que andei por lá entre 67-69, mas não deu importância a isso. Depois, no curso das nossas conversações, parece ter havido uma intentona contra ele, isto é o seu Governo, então manda fuzilar vários militares, entre eles o seu ajudante de campo, brigadeiro Fulano de tal? um dos nossos parceiros do nosso projecto económico, isto em Junho de 1985. Face a isto, todos nós em bloco desistimos do projecto e tudo acabou em nada. Até o seu Cônsul, foi o primeiro a desistir do assunto.
Depois como se sabe, teve um fim trágico, não sei se merecia um fim destes, acho que o Luis Cabral, o assassino em massa nos nossos ex-camaradas 'Comandos africanos' foi o pior deles todos, mas ainda teve a sua vida facilitada cá em Portugal, e à nossa custa viveu bem.
2 - O segundo comentário, e à laia de brincadeira, desculpem lá os mais puritanos, mas a fotografa Bruna, não era nada de desperdiçar, pelas suas curvas, acho que não deve ter sido só fotografa, ou será?

Os meus parabéns por estes trabalhos que eu nunca os faria, por isso amigo Araújo mereces o apreço de todos os camaradas da Guiné, e a história fica a dever-te muito, por isto e muito mais.

Sinceros cumprimentos e
Ab, Virgilio Teixeira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Queria dizer: tal como no nosso caso, também houve erros de casting na hierarquia político militar do PAIGC. O Rui Djassi deve ter sido um deve ter sido um deles. Mas o Amilcar Cabral não tinha m

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Errata:

Sobre o Congresso de Cassacá, de 13 a 17 de fevereiro de 1963, vd. também o depoimento do comandante Bobo KEITA [e não Cassacá] pp. 94-97.

Interessante o que ele conta sobre José Sanhá (...)

Antº Rosinha disse...

Estes postes de Jorge Araujo, e este em particular dão-nos ideia da capacidade de organização de Amilcar Cabral.

Se as coisas não lhe correram pelo melhor, pessoalmente falando, seria, pode dizer-se, foi porque teria dado algumas «passadas maiores que a perna».

Mas essa capacidade de organização dele (e dos caboverdeanos)é que levou à desistência da nossa luta em todas as frentes, Angola e Moçambique.

Sem dúvida que os caboverdeanos (e o fenómeno da mestiçagem em geral) foram uma elite portuguesa em África, durante 499 anos.

Um dia alguns viraram-se contra nós, e foi o fim.

Tantos anos que colaboraram connosco e nos ajudavam a abrir os olhos por aqueles ares tropicais, e agora isolam-se na cova da moura, interagem pouco.



Tabanca Grande Luís Graça disse...

Virgílio, a fotojornalista Bruna Polimeni, italiana (nome artístico, junto das fileiras do PAIGC, "Bruna Amica") foi, o que se costuma, um "valor acrescentado" para o Amílcar Cabral e o seu partido...

Algumas das melhores fotos do Arquivo Amílcar Cabral são dela. E temos que respeitar o seu trabalho, independentemente das suas simpatias políticas, foi (e é) uma grande profissional... Hoje as suas fotos são documentos para a História...

Infelizmente, do "nosso lado", não tivemos nem um desgraçado de um fotocine para documentar o "nosso sangue, suor e lágrimas" no TO da Guiné !!!... Para a nossa hierarquia político-militar, quanto menos se falasse daquela "maldita guerra", melhor!!!...

Aqui fica um apontamento sobe a Bruna Polimeni:


Fundação Amílcar Cabral
18 de janeiro de 2018 ·

https://www.facebook.com/323710220743/posts/conhe%C3%A7a-bruna-polimeni-fotojornalista-italiana-ela-que-%C3%A9-por-muitos-considerada-/10156995575850744/

Conheça Bruna Polimeni, fotojornalista italiana, ela que é, por muitos, considerada a detentora do melhor acervo fotográfico da luta de libertação para a independência de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. São dela as fotos mais icónicas de Amílcar Cabral, que conheceu na Conferência de Cartum em 1969.

Visitou por diversas vezes a Guiné-Bissau para documentar a luta de libertação nacional, tendo assistido à proclamação unilateral da independência daquele país a 24 de Setembro de 1973. O seu trabalho foi decisivo para dar visibilidade internacional e credibilidade à luta contra a dominação colonial liderada por Amílcar Cabral.

Bruna Polimeni foi condecorada pelo Governo de Cabo Verde com a Medalha Amílcar Cabral, em 2006, pelos relevantes serviços prestados à causa da libertação nacional.

Algumas das fotografias que compõem o seu acervo estão expostas na Sala-Museu Amílcar Cabral, na Sede da Fundação Amílcar Cabral, na cidade da Praia.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mais umas notas biográficas sobre a fotojornalista italiana Bruna Polimeni, nascida em 1934:



(...) Bruna Polimeni nasce a Genova il 14 luglio 1934; studia, lavora e vive a Genova fino all'inizio degli anni Sessanta. Nel 1962 si trasferisce a Roma e lavora in diversi giornali facendo esperienza come grafica e fotografa.

Dal 1969 inizia a interessarsi alla lotta di liberazione nelle colonie portoghesi e partecipa (nel gennaio), come fotografo inviato da «Mondo operaio», alla Conferenza internazionale di Khartoum (avendo occasione di incontrare i leaders dei movimenti di liberazione: Amílcar Cabral, Agostino Neto, Eduardo Mondane, et al.), indetta a sostegno dei popoli delle colonie portoghesi. Invia le fotografie della Conferenza ai dirigenti del movimento di liberazione della Guinea Bissau e Capo Verde, iniziando delle relazioni tutt'ora in corso.

Nel 1970, in occasione della Conferenza di solidarietà con i popoli delle colonie portoghesi (di Roma), incontra nuovamente Cabral. In quella stessa occasione si decide un suo primo viaggio nei territori già liberati nella Guinea Bissau, allo scopo di documentare la nascita del nuovo Stato e la suo organizzazione amministrativa e diffonderne le immagini.

In quel viaggio (1971) e in altri successivi, ha il privilegio di accompagnare Cabral nelle sue visite all'interno del territorio liberato. Visita la Scuola politico-militare, la Scuola Pilota e documenta il Cc del Paigc svoltosi a Bokè (Conakry).

In Italia, segue con continui reportage i principali fatti e personaggi della vita pubblica del paese, in particolare nella politica e nel sociale. Promuove la pubblicazione di una cospicua raccolta fotografica di testate di giornali italiani pubblicati in tutto il mondo, dove si era diretta l'emigrazione di lavoratori ed esuli politici italiani dal XIX secolo in poi.

Polimeni è inviata, come unico fotografo italiano, a documentare la proclamazione unilaterale di indipendenza della Guinea Bissau, avvenuta il 24 set. 1973 a Madina do Boe (Cabral era stato assassinato a Conakry il 20 gen. dello stesso anno).

Anche dopo l'indipendenza di Capo Verde (1975) ha continuato a seguire le vicende politico-amministrative del paese; nell'ottobre 1978 è invitata a Capo Verde per documentare i lavori di rimboschimento atti a fermare il fenomeno di desertificazione, nonché le opere volte a salvaguardare il territorio e a incentivare la produzione agricola.

In occasione del Simposio internazionale tenutosi a Praia (Capo Verde) nel gennario 1983, per commemorare il decimo anniversario della morte di Cabral, oltre a documentare le celebrazioni, organizza una mostra fotografica dedicata all'eroe nazionale.

Nel 2006, in riconoscimento del lavoro svolto durante la lotta di liberazione per l'indipendenza della Guuinea Bissau e Capo verde, viene insignita dal governo di Capo Verde della medaglia Amílcar Cabral, la più alta decorazione civile di quel paese.

Attualmente continua a collaborare a numerose iniziative editoriali, mettendo a disposizione il proprio archivio fotografico. (...)

http://www.censimento.fotografia.italia.it/fondi/bruna-polimeni-fondo/

Antº Rosinha disse...

Houve uma grande apetência da parte de muitos italianos (igreja, PCI...?)de ocuparem o espaço deixado por Portugal após as independências nas diversas colónias portuguesas.

Vi na Guiné e já sabiamos que em Moçambique tiveram os missionários italianos e muitos jornalistas um papel político muito activo durante a luta e após a independência ligados ao lado da FRelimo.

Davam a sensação que teriam uma vocação muito natural, para nos substituir.

Em Angola nem tanto, faltava pedalada a muita gente, mas após a independência houve uma intensa actividade de cooperantes italianos, a substituir a fuga dos retornados.

A motivação: tal como uns entusiastas portugueses voluntários cooperantes que avançaram para as ex-colónias a seguir ao 25 de Abril, foram "ajudar este povo, coitados".

Alguns ainda andarão por lá, meio perdidos.

Quem parece que tomou emenda foram os suecos.



Anónimo disse...

Apesar de todo o seu CV, a Bruna parece que só lá chegou em 1969, talvez finais, já eu tinha saído, nunca nos cruzamos por aí...
Como Italiana, e como diz o Rosinha, eles e outros povos, queriam ajudar a por os Tugas de lá para fora, para irem ocupar e nosso lugarzinho, não acredito em ajuda desinteressada, tudo na vida se faz por dinheiro ou por outras vias para lá chegar, ao vil metal, por isso não dou nenhuma importância a estes feitos de gente que ajudou a perdermos todo o nosso Império, que agora é dos outros povos. Sou muito pouco politicamente correcto, às vezes nem sei porque escrevo sobre isto. Talvez porque dou algum valor aos nossos camaradas que se dedicam a este trabalho monstruoso, de contar a nossa história cheia de buracos.

Não vou alinhar nunca com o outro lado, eu sou como os burros, tenho duas palas e só vejo em frente, paciência, foi assim que me fiz, e agora não vou mudar.

O acervo fotográfico da nossa Bruna, que devia ser bem paga para isso, que deixe lá ficar na Fundação do Amílcar Cabral, não sou eu que lá vou ver.

Nunca tivemos o tal fotocine para deixar à posteridade imagens verdadeiras de uma guerra, a nossa guerra com todos os defeitos e virtudes.
Aparece por vezes umas fotos de uns pirados como eu, para ver o lado mais soft da nossa presença na Guiné.

De qualquer modo, e independentemente das virtudes da nossa Bruna como fotografa e amiga dos guerrilheiros do PAIGC, eu até gosto do nome, e em italiano, e em italiana melhor ainda, lembro-me logo da Bruna Lombardi e outras, como estava a dizer não deixa de ser uma 'Boa peça de caça', ou não acham isso?

Virgilio Teixeira



Antº Rosinha disse...

Estás a ver mal o filme, Virgílio Teixeira, foi e é de gritos, a «ajuda» desses italianos e outros europeus, visto aos olhos de hoje, àqueles povos.

Quando hoje vemos os italianos, de "cabelos em pé" desesperados com a invasão dos africanos nas costas da sicília em botes e a nado, olham para os naufragos como se fossem leprosos ou coisa pior, com o primeiro ministro italiano a empurrá-los para longe, devemos escrever a história bem completa de um lado e do outro.

Atenção Virgílio, a Europa vai pagar as asneiras, mas esta asneira das independências talqualmente aconteceram, foi a pior de todas as asneiras,que nós não queriamos, «isoladamente», orgulhosamente sós.

A Europa que aguente, e as Brunas que leiam a história.

Vergílio, deixa contar toda a história, na integra.

Valdemar Silva disse...

Virgílio.
'...a Bruna… pelas curvas.. não era só fotógrafa...'
'...a Bruna, que deveria ter sido bem paga para isso...'

Palavra de honra, não se trato de puritanos trata-se de tanos.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

A história pode ser contada, não há nenhum mal nisso, eu é que vejo as coisas de um ângulo diferente, e pessoalmente, e com todo o mérito que reconheço dos relatos do Jorge Araújo, para mim, nesta idade, não vou fazer nenhum doutoramento sobre a História da Guiné.
Lamento não estar de acordo com todos, e muitos estarem em desacordo comigo, mas muitos pensam o mesmo, só que não o demonstram.
A Bruna para mim continua a ser o mesmo que já relatei, sem mais 'valor acrescentado'.

Valdemar Silva disse...

Vá lá, vá lá, podia muito bem ser 'esperta foi ela', só que neste caso seria prestigiante e mais mundano e a Bruna lá se safava só como fotógrafa.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Esqueci de assinar o comentário de hoje, o primeiro, «sem mais valor acrescentado».

Fica aqui a emenda, contudo acho que todos compreendem que o comentário à meu.

Virgilio Teixeira