segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19424: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte III: Angola, 1962: o ano em que o Exército tem mais baixas mortais em combate (121) depois do ano de 1961 (126), naquele teatro de operações. Utilização das primeiras minas A/P e A/C.


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca)  > Estrada Finete-Missirá > 1969 > O Fur Mil Reis (à esquerda) e o Alf Mil Carlão (à direita), do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 vistoriando os restos da viatura (Unimog 404) em que seguia o Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uma mina anticarro, no dia 16 de Outubro de 1969, por volta das 18h00, na zona de Canturé (entre Finete e Missirá: vd. carta de Bambadinca, de 1/50.000).

A primeira mina A/C, na guerra colonial, foi utilizada em Angola, em 12 de junho de 1962.

Foto do arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guerra Colonial > Cronologia > Angola > 1962

1962-01-15

Portugal abandona a Assembleia-Geral da ONU, em virtude do debate sobre Angola.

1962 -01 -30


Assembleia Geral da ONU: resolução reprovando a repressão e a ação armada de Portugal contra  povo angolano; reafirmação do direito à autodeterminação e independência dos angolanos.

1962-03-03

A UPA reivindica, em Leopoldville, a prisão e a execução de um destacamento do MPLA, comandado por Ferreira (cerca de 20 hiomens), que se infiltrara em dezembro de 1962 na região de Nambuangongo. Presidente: Holden Roberto.

1962-03-23

O Governo Português recusa a visita do Comité dos Sete da ONU aos territórios sob administração portuguesa.

1962-03-27

Formação da FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola, a partir da UPA e do PDA - Partido Democrático de Angola.

1962-04-05

Formação do GRAE - Governo Revolucionário de Angola no Exílio, por iniciativa da FNLA.

1962-04-07
Criação da 1ª Companhia de Fuzileiros.

1962-04-27

Aprovação do Código do Trabalho Rural para o Ultramar, ou seja, a primeira lei de trabalho livre. Tentativa de resposta às acusões de colonialismo por parte da ONU. Criados também os primeiros tribunais do trabalho no Ultramar.

1962-06-01

Inauguração oficial da Base Aérea 9, em Luanda. 

1962-06-06

Primeira mina A/P [antipessoal], utilizada na guerra colonial, na estrada Zala-Vila Pimpa, norte de Angola.

1962-06-12

Primeira mina A/C[anticarro], utilizada na guerra colonial, na pista da povoação do Bembe, em Angola.


1962-06-23

Despenha-se , no Vale do Loge, Angola, um caça bombardeiro F-84, Thunderjet, da FAP.

1962-06-25

Criação do Centro de Instrução 21 (CI 21), em Zemba,  para formar as primeiras unidades de comandos.

1962-06-30

Agostinho Neto foge de Portugal, juntamente com a mulher e dois filhos, e ainda com Vasco Cabral, dirigente do PAIGC, com a ajuda do PCP - Partido Comunista Português. No final do ano, em Leopoldville, será eleito presidente do MPLA.

1962-07-01

Condenação, em Luanda, dos escritores António Jacinto, António Cardoso e José Graça (Luandino Vieira) a 14 anos de prisão por 'actividades contra a segurança exterior do Estado'.

1962-08-10

Fuga para Paris dos dirigentes da FUA - Frente de Unidade Angola, que estavam com residência fixa em Lisboa.

1962-08-13

Início da construção do mito de Spínola, com o sucesso da Op Nun'Alvares, realizada pelo BCAV 345, de que ele era o comandante.

1962-08-15

Criação dos Estudos Gerais [Universidade] de Angola e Moçambique, levando a um conflito de competências do Ministro do Ultramar, Adriano Moreira, e o general Venâncio Deslandes, governador e comandante-chefe de Angola. Em choque, duas conceções diferentes sobre o futuro do território.

1962-09-24

Demissão de Venâncio Deslandes, substituído por Silvino Silvério Marques (como governador-geral) e Holbeche Fio (como comandante-chefe).

1962-10.18

Primeiro heliassalto na guerra colonial (16 paraquedistas em 4 helis Alouette II): Op  Três Mosqueteiros, na região de Caluca, a sul de São Salvador do Congo.

1962-10-23

Primeiras notícias, não confirmadas,  sobre a possível abertura da Frente Leste, por parte da UPA, podendo afetar a atividade da Diamang e o caminho de ferro de Benguela.

1962-1-15

Carta de Viriato Cruz aos militantes do MPLA, manifestando-se contra Agostinho Neto.

1962-12-01

Início do I Congresso do MPLA em Leopoldville. Neto substitui Viriato. Mário de Andrade na vice-presidência.

1962-12-04

Adriano Moreira perde a confiança pessoal e política de Salazar, que o substitui na pasta do Ultramar. Remodelação do Governo.

1962-12-17

Início da Op Roda Viva a região de Quicabo. Morre o furriel Szabo, filho de uma antiga glória do futebol húngaro e português. A notícia teve grande impacto emcoional em Angola e na Metrópole.

1962-12-31

Total dos efetivos do Exército nos 3 teatros de operações: 61 847, sendo 44 925 em Angola (dos quais 33 760, de origem metropolitana. 

No ano de 1962, morreram em combate, em Angola, 121 militares, o segundo ano com mais baixas em Angola durante toda a guerra (depois de 1961). 

Fonte: Adapt de  Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso - Os Anos da Guerra Colonial, vol. 3 - 1962:  optar pela guerra. Lisboa: Quidnovi, 2009.


____________

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

As minas, A/P e A/C, mais as armadilhas, foram alguns dos nossos grandes pesadelos no mato e nas picadas... NO meu tempo, ainda 1969, só havia, no leste, uma estrada "alcatroada", onde a malta podia acelerar e respirar fundo: não havias minas nem emboscadas... Era uma autêntica autoestrada, o famoso troço Bambadinca-Bafatá... Era o nosso dia de glória, ir a Bafatá, ir à "civilização"|... LG

Antº Rosinha disse...

Angola tem (na wikipédia) 1 246 700 Klm2, a Guiné tem 36 125 km².

A área habitada pelos bakongos, norte de Angola, que a UPA de Holden Roberto mobilizou em 1961, tem uma área aproximada grosseiramente medida no Google Earth um rectangulo a norte do paralelo de Luanda, de 400x300 klm=120 000 km², ou seja só a UPA dominava uma etnia com uma área de quase 4 vezes a Guiné-Bissau, ainda podemos incluir Cabinda.

Dava de facto para formarem eles sozinhos um país razoável, e era apenas neles que pensavam quando iniciaram aquele terrorismo em 1961.

Para aquela gente, tudo o que não era bakongo era gente inferior e de terras pobres.

Não havia ali nenhum sentimento nacionalista angolano.

Nunca se deixou de trabalhar e desenvolver Angola sem qualquer restrição, e sem proteção militar especial, fora dessa região bakongo, durante os treze anos de guerra.

E mesmo em 1962 foi feita a apanha completa do café, nessa região, das maiores produtoras mundiais do café especial que aquela terra produzia.

Produzia, porque agora os angolanos se querem tomar bom café e em abundância, importam-no.

Mas em guerras deste género quem é moderado, perde sempre. Mas abandonar Angola a quem? Sair de Angola só mesmo sendo empurrados à força, pelo mundo inteiro.

Fernando de Sousa Ribeiro disse...

A UPA começou por se chamar UPNA (União dos Povos do Norte de Angola). Só depois se passou a chamar UPA e mais tarde FNLA, com a alegada fusão da UPA com um outro insignificante movimento. Segundo leituras que fiz há muitos anos, a UPNA terá surgido como um movimento de apoio a um dos pretendentes ao trono do Reino do Congo e tinha como objetivo reconstituir este antigo reino, que além de incluir os distritos (agora chamados províncias) de Cabinda, Zaire e Uíge, em Angola, incluía parte do antigo Congo Belga (a província do Baixo Congo), parte do antigo Congo Francês e ainda parte do Gabão. Isto no mínimo, pois nos seus tempos áureos o Reino do Congo abrangia também a região dos Dembos (municípios de Nambuangongo e Quibaxe, no norte da atual província do Bengo) e chegava a incluir a Ilha de Luanda, mas só a Ilha. (A parte continental da atual cidade de Luanda pertencia a um outro reino, chamado Ndongo, cujo soberano usava o título Ngola, o qual deu origem ao nome Angola.) Por todas estas razões, é corrente associar a UPA/FNLA ao grupo étnico Bakongo, mas quero lembrar que os naturais da Ilha de Luanda (chamados Muxiluandas) e as populações dos Dembos não falam quicongo, mas sim quimbundo. Apesar de pertencerem a um grupo étnico diferente, uma parte dos habitantes dos Dembos também apoiou a UPA/FNLA. A parte restante (situada a sul de Nambuangongo) apoiou o MPLA.

Na cronologia referida neste post há uma referência a Zemba, que foi onde eu estive colocado na primeira metade da minha comissão. Zemba só foi conquistada pelas tropas portuguesas em 1962 e logo nesse ano as chefias militares acharam por bem criar os Comandos (ainda sem este nome) lá mesmo em Zemba, que se tornou um centro de instrução desta nova força, assim como sede de um batalhão de caçadores. Pouco tempo depois, como Zemba era demasiado isolada e perigosa, o centro de instrução dos Comandos foi transferido para a Quibala Norte e, por fim, para os arredores de Luanda. O CIC destinava-se a formar as unidades de Comandos que iriam atuar nos teatros de guerra de Angola e de Moçambique. Mais tarde, foi criado um centro de instrução em Montepuez, no norte de Moçambique, que passou a formar os Comandos que atuaram nesta outra antiga Província Ultramarina.

Na zona de Zemba tinha havido várias fazendas de café. Todos os brancos que lá viviam foram massacrados pela UPA, à exceção de uma família, que foi avisada um dia antes e se pôs em fuga para Luanda. Assim, todas as fazendas de Zemba ficaram abandonadas, incluindo a da família que escapou, que não voltou a pôr lá os pés. A atividade económica em toda aquela zona tornou-se, portanto, absolutamente nula. O interesse de Zemba era exclusivamente militar. A "civilização" ficava na vila de Quibaxe (a histórica capital dos Dembos), a cerca de 100 km por picada sujeita a emboscadas.

Fernando de Sousa Ribeiro, alf. mil., C.Caç. 3535, B.Caç. 3880, Norte de Angola, 1972-1974

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... citando: «P19424: Guerra colonial - cronologia(s) - Parte III: Angola, 1962: o ano em que o Exército tem mais baixas mortais em combate (121) depois do ano de 1961 (126), naquele teatro de operações. Utilização das primeiras minas A/P e A/C.»

Não é verdade.

Concretizando, factualmente:

1.- As primeiras baixas mortais verificadas no Exército Português no decurso da «guerra colonial», em consequência de deflagrações de minas IN, antipessoal e/ou anticarro, de modo algum ocorreram «em Angola no ano de 1962».
a) Angola, sábado 12Ago1961, itinerário Muxaluando>Mucondo, durante emboscada montada por diminuto bando da UPA a 2km do Quicunzo, o soldado JOÃO RODRIGUES MARTINS, integrado numa secção apeada da CCac105, morre vitimado por deflagração de mina a/p;
b) Goa, sábado 09Dez1961, quando um pelotão do ERec4 prosseguia a marcha em patrulha-auto na área de Buptal (a sul de Goa), pelas 08:00 nas imediações da Ponte Pissonoi, os soldados FERNANDO JOSÉ MOURA DAS NEVES COSTA e MANUEL FRANCISCO SARDINHA MEXIA morrem vitimados pela deflagração de mina a/c;
c) Goa, 2ªfeira 18Dez1961, quando em patrullhamento nocturno o 3º pelotão do ERec2 se deslocava junto à fronteira nor-nordeste de Goa, pelas 04:40 perto da Ponte Bicholim o soldado MÁRIO BERNARDINO DOS SANTOS morre vitimado pela deflagração de mina a/c.

2.- Baixas mortais das NF, em combate (incluindo PSP e guias das NT):
a) Ano de 1961, Angola - 177 (cento e setenta e sete);
b) Ano de 1962, Angola - 123 (cento e vinte e três).

Sendo certo que quaisquer "contabilidades" são o que são e que as "estatísticas" servem para o que e a quem servem, ficam acima demonstradas as, digamos, "imprecisões" do 'leed' deste 'post', cuja mencionada "fonte", aliás, desde sempre me mereceu baixa credibilidade.

Concluindo:
Tal como nem tudo que luz é ouro, nem tudo quanto vem à net é fixe...

Os Mortos não se Defendem. Pelo que, os sobrevivos mantêm, a todo o tempo, o dever de Honrar a veracidade histórica, qb isenta de ideologias e subliminar endoutrinação.

Cordiais cumprimentos.