domingo, 20 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19421: Blogpoesia (604): "Escuridão da mente", "As voltas da vida" e "Regressar a Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Escuridão da mente

Há momentos em que a mente se abate na escuridão.
Nem uma réstea luz.
É a noite cega e erma.
Sensação de quem se perdeu no bosque ao voltar para casa.

Desfalecimento e desânimo.
Nos prostamos no chão de qualquer jeito.
Buscando recuperar as forças.
Um pesadelo.
Só o despertar nos livra.

Estonteados.
Que diferença.
Entre a noite e o fulgor do dia.
Que alívio!
Afinal, não acabou o mundo.

Foi assim a minha noite.
Porquê?...

Berlim, 16 de Janeiro de 2019
9h50m
Jlmg

********************

As voltas da vida

Tantas passadas na senda dum futuro com êxito.
De casa para a escola.
O lápis e o ponteiro. A tabuada.
Tantas cópias. Linhas duplas.
E ditados com dificuldades.

Os calhamaços de história antiga.
Geografia e biologia,
Matemática até doer.

O primeiro emprego.
O aprender a viver com todos.
Para vencer na vida.

Ser alguém. Deixar bom rasto.
Sonhar. Dar boa sombra.
Saber sofrer.
Sem magoar ninguém.

Subir aos cumes.
Divisar ao longe.
Escolher caminhos,
Com boa bússola.

Desafiar a sorte.
Sem arriscar viver.
Saborear a vida.
Respeitando a morte.

Entregar-se todo.
Não olhar para trás.
Poupar as forças
Para que no fim não faltem.

Se assim for, valeu a pena.

Berlim, 17 de Janeiro de 2019
13h15m
Jlmg

********************

Regressar a Lisboa

Descer o Tejo e deixar Lisboa.
Atravessar o indefinido
para cumprir o dever da Pátria,
nas terras africanas.
Sentir a incerteza dum regresso como possível.
Sensações dolorosas na força da juventude.
Quando o futuro tem a dimensões para lá do horizonte.
Foram as imagens frequentes. 
Barcos abarrotados de juventude, durante uma dúzia de anos, num vaivém constante e doloroso.
Um mar de lenços cobrindo o cais de Alcântara na despedida e nas chegadas.

Jamais esqueço aquela manhã de Agosto,
deixando o mar, para subir o Tejo.
A nova ponte. A torre de Belém.
As colinas de Lisboa à nossa espera.
Aquele regresso tão desejado que se cumpriu finalmente.
Inesquecível...

Ouvindo Carlos Paredes

Berlim, 19 de Janeiro de 2019
9h35m
Jlmg
____________

Nota do editor

Último poste da série de de 13 de Janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19400: Blogpoesia (603): "Revolução dos cravos", "Sementes de lusitanidade" e "O Arco do Triunfo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Joaquim, em poesia, em prosa, em música,em imagens, é sempre bom recordar esse regresso à pátria amada... Quem veio de avião, já no tempos dos TAM, não teve estas emoções: a aproximação de terra, a costa, o estuário do Tejo, o Bugio, a ponte, o Cristo Rei, Lisboa e as suas 7 colinas... Parabéns... E com o Carlos Paredes, os "Verdes Anos" (1967), ainda fica melhor... o teu poema. LG

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Obrigado, Luís Graça. Sensação única, inesquecível a da nossa chegada.

Um grande abraço.

Joaquim